- Querida, já chegaste…
Que bom! – arrancando-me daquele transe sinóptico, a minha avó levantou-se
contornando a secretária onde à qual estivera sentada, e veio receber-me com um
abraço caloroso, que no entanto e infelizmente não foi caloroso o suficiente
para me fundir do regelo daquele cenário – Ainda bem que estás aqui, olha só
quem veio fazer-nos uma visita…
- Inês… Ruben… - proferi
entrecortadamente e num murmuro trépido de uma emoção que ainda não conhecia
mas que já estava a sentir, engolindo o maior sapo do mundo ao olhá-los ali
sentados… um ao lado do outro
Olhei Inês com alguma
pujança e deparei-me com a mesma mulher que há meses atrás vivia uma relação plena
e aparentemente duradoura com Ruben… Tinha a mesma confiança, a mesma postura
robusta e segura como se ninguém fosse capaz de a deitar a baixo, o mesmo
orgulho em estar ao lado dele, e esse facto roubava-me simplesmente o folgo.
Não tinha a mais pequena
ideia do que eles queriam, o que faziam nem o que pretendiam dali, e para ser
sincera e falar honestamente, tinha um medo terrível em vir a descobrir… Como
se uma novidade esmagadora estivesse para me ser revelada, uma novidade que
ainda me iria magoar demasiado e me iria fazer sofrer mais do que eu imaginava ser possível, e no final de contas… os meus pressentimentos não estavam muito
longe da verdade.
- Olá, Joana… Que bom
ver-te! – Inês foi a primeira dos dois a cumprimentar-me, embora que o tivesse
feito apenas por palavras, levantando-se de maneira a colocar os nossos olhos
ao mesmo nível, e o mesmo fez Ruben, que acompanhando-lhe o mesmo movimento,
ergueu-se da cadeira que ocupava, movido por um acto intransigente de
cavalheirismo e educação
- Inês… Como estás? –
aquela questão não procurava necessariamente uma respostas, tentei ao máximo
manter-me imparcial às demasiadas emoções daquele momento e silenciar as vozes
da minha cabeça que me perguntavam o que estava a acontecer ali, e dirigi a
ambos o sorriso mais teatral que o meu pouco jeito para representar conseguiu
Ruben, por outro lado,
preferiu permanecer calado, acenando-me com um movimento de cabeça cordial e
invulgarmente cínico, e um rasgo de lábios inseguro… Sim, inseguro e
desconfortável também, conhecê-lo como conhecia permitia-me distinguir o
significado e intenção de cada gesto e sinal seu, que poderia muito bem ser
comum e passar despercebido aos olhares despreocupados de qualquer pessoa, mas
não ao meu, o da mulher que ainda o amava tanto.
- O Ruben e a Inês vieram
cá entregar-nos um convite… - o timbre doce e quase curandeiro aos meus
dissabores, da minha segunda mãe, voltou a preencher aquela ausência de
palavras entre nós
A porta de saída estava
tão próxima de mim – a três passos, se tanto –, que se tornara uma tentação
voltar a transpô-la, porém não o fiz… Os meus pés estavam colados ao chão e eu não os
conseguia mover nem um centímetro noutra direcção, como se de alguma maneira
aquele fosse um sinal pressagiado de que eu estava destinada a ter que encarar
aquele martírio.
- Um convite? –
perquiri com o coração aos saltos,
procurando resposta nos olhos da minha querida avó, mas foi Inês que disseminou
o temível anuncio pela sua boca
- Sim… O convite do meu
casamento com o Ruben.
“… do meu casamento com o
Ruben.”? Foi isso que ela disse? “… do meu casamento com o Ruben.”?! Não… Não,
não, não! Podia ser tudo menos verdade, eu não devia ter ouvido bem.
Mas, meu Deus… A Inês
estava certa, absolutamente certa, a sua pose inabalável não deixava margens
para criar dúvidas. Não era brincadeira nenhuma, não era nenhuma piadinha de
mau gosto, caso contrário qual seria o motivo de eles os dois estarem ali…
juntos? Como se tivessem voltado a ser um… casal(!) Sim! Era isso que eles eram
agora, um casal! E só o simples esforço de sozinha ter chegado a essa triste
conclusão, causou-me a sensação de um punhal a rasgar o meu peito… A lamina
fria e afiada cortar a minha pele… Queria soltar todo o ar que tinha acumulado
nos pulmões durante demasiado tempo e não conseguia, queria fugir sem saber
para onde.
Como é que ele pôde,
depois de tudo o que passámos juntos… Como? Como é que ele pôde desocupar-me tão
rapidamente do seu coração e voltar a ocupá-lo com outra pessoa, se eu nem a
mais pequena intenção tive de olhar para outro homem! Sentia a cabeça numa roda
viva pelas milhentas questão que coloquei ao mesmo segundo a mim mesma… E no
meio daquilo tudo nem sei bem como tive tanto estofo para continuar a enfrentar
aquele momento, ao invés de sair disparada dali e rebentar num choro doloroso
de ter e de se ouvir.
- Vão casar? Mas vocês
não… Vocês não tinham cancelado o noivado há uns meses? – questionei num
impulso trémulo pela comoção excessiva acumulada nas minhas veias, não queria
tê-lo feito, não daquela maneira incestuosa e um quanto evasiva, mas o que fora
dito não podia ser retirado
- Sim… Tínhamos, de
facto, mas este tempo todo que estivemos separados deu para pormos as ideias no
lugar, assentarmos, ver o que cada um queria e o que queríamos os dois… -
depois de um pequeno discurso como aquele, Inês lançou-lhe acima do ombro um
olhar completamente deslumbrado, que apontava a uma reconciliação muito
desejada com o seu amor… agora mais
dela do que meu
- …E o que nós queremos é
ficar juntos, construir a nossa família. – apoiando-a com toda a convicção,
falou Ruben, fazendo embater o seu peito nas costas da sua proclamada noiva,
firmando-se ao enlace dos seus braços em torno dela, um simples gesto que me
magoou tortuosamente, feito apenas no intuito de me ser mostrado que o meu
lugar já havia sido substituído
- É tão bom de se ver um
casal assim… Tão jovem e já com planos tão firmes para o futuro… - muito ao
contrário de mim, a minha avó parecia-me encantada com todo aquele cenário,
completamente alheia à minha dor e sofrimento por estar a fazer parte dele –
Não concordas, meu amor?
- Sim, é… É muito bom de
ver… - a minha boca encheu-se do maior disparate que tinha proferido desde os
últimos tempos e devido à carga anormal de força interior, contive-me ali em não
deixar cair nenhuma lágrima, para proferir depois a mentira mais impiedosa da
minha felicitação – Os meus parabéns… Desejo-vos as maiores felicidades!
- Obrigada, Joana… Nós
gostávamos muito de te ver a ti e aos teus avós no casamento… Está marcado para o
final deste ano. – bradou num tom leve, com um sorriso lindo e perfeitamente
alinhado no rosto
Tinha sido a gota de água, não dava para aguentar
mais… Tinha de sair dali para não desfalecer em lágrimas naquele chão, era
urgente.
Eu era humana, tentava
ser forte e por vezes até conseguia, mas não era de ferro e já tinha ouvido que
chegasse, não estava disposta a torturar-me ainda mais com aquela imagem feliz que a mim só me fazia mal a cada
minuto que continuava a assisti-la… A panorâmica era demasiado sombria para ser
tolerável.
- Hum, hum… Eu vou só lá
fora, deixei a pessoa que me veio trazer, à espera, e é melhor… Bem, é melhor
ir despedir-me dela. Com licença. – mentir era a única solução para me retirar
e não deixar especulações no ar, portanto dirigi-me à saída e antecipei-me à
fuga, mas algo me impediu de fazê-la no mesmo segundo
- Joana… - aquela voz,
aquela persuasível voz que voltara a pronunciar-se para dizer o meu nome,
travou-me quando segurei o puxador da porta no interior da minha mão, a um
passo de cruzá-la, e aguardei solenemente para ouvir o que ele tinha para me
dizer – Depois gostava de falar contigo. – os nossos olhares encontraram-se em
casualidade e o seu pedido causou-me uma estranheza comum que contudo não ousei
questionar, estava demasiado fragilizada para fazê-lo
Logo que fechei a porta
atrás de mim, permiti a mim mesma voltar a respirar, desprender-me daquele
sufoco que me bloqueara um destemido ataque de choro há instantes atrás, e que
agora me era permitido ter, mas num outro sítio… um pouco mais longe dali.
Com a palma da minha mão
tapei a boca e entre os dedos apertei o nariz, esforçando-me a conter as
lágrimas só mais um pouco, quando os meus olhos já se contraíam para soltar
cada gota, por vontade própria.
Foi sob os meus pés
altamente vacilantes que cortei caminho entre a sala de estar e tomei
trajectória até à cozinha, um lugar razoavelmente próximo e que eu tinha em
mente sossegado, onde podia ir desanuviar as minhas mais recentes mágoas.
Quando entrei fui
impulsionada até um dos móveis costado ao lava-loiças, e foi ao pousar as mãos
no seu estrado, que transferi total peso do meu tronco para os braços ao deixar
tombar a cabeça para a frente e desvanecer-me por fim num rol de lágrimas que
correram umas seguidas às outras, pelas minhas faces robustas pela falta de cor
que lhes sumira.
- Menina Joana? – a minha
desatenção não me permitiu discernir a presença de alguém quando entrara no
local de trabalho de uma das servidoras daquela casa, e ao olhar vagamente
acima do ombro, dei por Rosa, que sobre a mesa de pedra de granito, preparava o
jantar
Apressei-me a enxugar do
meu semblante todos os vestígios que denunciavam o meu estado abrupto de
devastação, e com uma simples e rápida corrida de dedos limpei as lágrimas que
caíam em caduca até alcançarem a moradia dos meus lábios selados.
- A menina está bem? –
vi-a largar os legumes que preparava para a sopa, secar as mãos ao seu avental
e tomar passos ao meu encontro, de quem não sabia ao certo o que se estava a
passar comigo
- Eu estou bem, Rosa… Não
se preocupe, obrigada. – assim que voltei o meu corpo para o dela, e detentora
de uma voz abatida pela prosperidade de um choro mais assente, preocupei-me em
sossegá-la rapidamente antes que fizesse daquilo uma tempestade em um copo de
água
- Oh menina, olhe para
si, olhe para essa sua carinha… Está tão pálida, valha-me Deus! – as suas mãos
colhidas pelos anos de trabalho, tocaram as minhas faces tão delicadamente que
quase as senti conseguirem carregar a dor incumbida por detrás do meu vulto
– Até me faz querer que viu algum
fantasma! – vi dois, na verdade –
apeteceu-me dizer-lhe, mas seria melhor compactuar com o silêncio
- Isto não é nada,
querida Rosa, já passa! – menosprezei o meu desespero, pois ninguém seria capaz
de patenteá-lo para além de mim, só que a Rosa não passou totalmente despercebido
- Venha cá… Sente-se
aqui, antes que me caia redonda no chão… - apoiando-me num dos seus braços, ela
levou-me até à mesa e puxou-me uma cadeira onde acabei por me sentar, também as
minhas pernas não estavam a conseguir lidar com aquela pressão – Vou
preparar-lhe um chazinho para ver se fica mais calma e volta a ganhar alguma
corzinha.
Não refutei, não discuti
com ela. Sabia que não valeria a pena pois jamais a minha vontade, fosse ela
qual fosse, sairia por cima da sua numa situação como aquela. Restou-me esperar
um pouco até vê-la trazer para a minha beira uma caneca de chá de camomila que
era remexida por uma colher de açúcar, que por sua vez agitada provocava um
tilintar ensurdecedor aos meus ouvidos, na peça de loiça.
- Vá, beba tudo, e sopre
que ainda está quente.
- Obrigada. –
agradeci-lhe num sussurro, retendo a chávena escaldante entre as minhas mãos
Quis fazer-lhe a vontade
e beber o chá que ela preparara especialmente para mim. Soprei algumas vezes
antes de sorver a bebida de plantas medicinais que se dizia serem calmantes,
mas a mim pouco ou mesmo nada resultou esse efeito. Quanto mais eu tentava
reter o choro mais depressa me lembrava que algures naquela casa ainda
permaneciam as duas figuras que vieram derrocar a minha felicidade passageira
com a boa nova que tinham vindo enunciar, para mal de mim.
Ao fim de meia caneca
vazia, não consegui beber mais, parecia que no topo da minha garganta um nó
cego tinha sedado a passagem de ar e passou-me a custar tanto a engolir como a
respirar.
Embora me tenha dado o
meu espaço, algo que silenciosamente lhe agradeci, dei muitas vezes com Rosa a
olhar para mim num laivo de apoquentação por me ver naquele estado. Sabia que
não era a ideia que ela tinha de mim… Uma rapariga alegre, bem-disposta, com
alegria de viver, mas não era essa rapariga que estava ali naquele momento,
sentada à mesa a bebericar chá ao mesmo tempo que chorava como uma criança
perdida e desesperada por voltar a ser encontrada.
- Oh minha querida Joana,
parte-me o coração vê-la assim… - a preocupada cozinheira arredou-se do fogão
para ir para junto de mim, afagar as minhas mãos na sua e prestar-me, o melhor
quê pode, algum conforto – O que é que se passa? A menina não está nada bem.
- Pois não, Rosa, não
estou… Estou mal, aliás, está tudo mal… Tudo! – proferi à beira do desespero,
uma afirmação que me doía no peito e que só fez com que a corrida de lágrimas
se intensificasse pelas metas do meu rosto
- Venha cá… Pronto,
pronto. – cuidando de mim como se eu ainda fosse a sua pequena, como em tempos chegara a cuidar-me, puxou delicadamente a minha cabeça ao seu ombro para que
aí me pudesse embalar e desafogar toda aquela minha dor que parecia não ter um
fim
- Está tudo mal, tudo
mal… - continuei a dizer, em murmúrios dispersos e interpolados com o soluçar
serpenteado do fundo da minha alma
***
Só voltei a sair da
cozinha quando consegui ficar mais calma e as lágrimas cessaram, podia ficar a
chorar durante horas, mas temia que o teria que fazer mais tarde, pois pela
minha frente ainda teria um difícil desafio de barreiras para superar e etapas de
constrangimento para as quais teria de dar a cara… Como se eu não estivesse à
margem de tudo aquilo, como se estivesse do outro lado da moldura, para não
falar da conversa com Ruben que ficara prometida.
- Já se está a fazer
tarde, porque não ficam connosco para jantar? – podia estar ainda no meu
perímetro de segurança, a alguns metros do centro do hall onde eles
permaneciam, mas consegui ouvir nitidamente a minha avó a convencê-los a
prolongar aquela visita por mais umas horas – O Caetano deve estar a chegar, e
teria muita pena se não vos visse…
- Nós agradecemos o seu
convite, Sofia, mas talvez seja melhor ficar para uma próxima… - Inês falou
pela vontade dos dois, com o máximo cuidado e educação, que a minha avó lhe
conhecia desde os tempos em que eu e ela éramos ainda melhores amigas
- Nós não queremos
incomodar.
- Oh, que disparate,
Ruben… Não incomodam nada! – fechei os olhos no mesmo segundo em que ouvira as
últimas palavras e abrandei a passada, sem deixar que ainda ninguém me visse –
Leonardo! – o mordomo que por sinal andava por perto, foi chamado para junto
deles, e eu já podia adivinhar o que a minha avó tinha para lhe dizer – Diz à
Maria para pôr mais dois pratos na mesa, o Ruben e a Inês ficam para o jantar.
- Com certeza, minha
senhora, vou já tratar disso! – acatando como sempre as instruções com rectidão,
Leonardo retirou-se com o acordamento de uma pequena cortesia e tomou o mesmo
caminho que o meu, mas viandando na direcção oposta
Passámos lado a lado e o
tempo que o fizemos foi suficientemente duradouro para que no silêncio
albergado dos nossos olhos, fossem proferidas mil e uma palavras entre nós.
Reparei que ele me lançara um contemplar subjugado de uma pena e compaixão,
como que adivinhando por toda a humilhação e atrocidade que eu estaria a passar,
ele que era e fora desde sempre o guardião dos meus sentimentos secretos
noutros tempos, por Ruben, e da relação de um pouco mais de um ano que nos
esforçámos por manter o mais discreta e reservada possível, aos olhos e bocas
dos que viviam as suas vidas do lado de fora do nosso quadro.
- Joana, filha… - quando
por fim me juntei de novo a eles, a minha avó recebeu-me expressando a
inquietação da minha demora prolongada
- Desculpem a demora,
passei pela cozinha para beber um copo de água e acabei por ficar à conversa
com a Rosa. – não tinha por obrigação fazê-lo, mas justifiquei-me na mesma, não
podendo deixar de omitir alguns pormenores chave
- O Ruben e a Inês vão
ficar connosco para o jantar! – referiu num sorriso radiante pela sua vontade
cumprida, especulando erradamente a minha abstenção à mais recente notícia
- Ai sim? Que bom! –
fingi da melhor forma a surpresa do que já sabia e que em nada me comovia ou
agradava, pois quanto mais rápido os visse sair pela porta, melhor seria para
mim para que sozinha me começasse acostumar à dor de ter sido trocada, contudo
tive de manter a minha máscara e continuar a agir como se nada naquela situação
me incomodasse
- Conheces a tua avó… A
ela é impossível de dizer que não! – transfigurando um humor elegante, Inês
levou-os a rir tenuemente em prol da sua suscitação, e eu vi-me forçada a
acompanhá-los apenas para não me excluir daquela atmosfera
- Estás bem, minha filha?
– talvez porque a ela fosse mais difícil de enganar, e talvez porque o meu
sorriso não tivesse sido confortavelmente convincente, a minha avó apanhou-me
numa pergunta armadilha mas para a qual eu tinha a resposta adequada
- Estou, estou bem…
Porque é que pergunta?
- Não sei, pareces-me que
estás aqui e ao mesmo tempo noutro lugar… Pareces diferente desde há pouco.
- Não, avó, é impressão
sua… - desmenti e olhei consequentemente Ruben nos olhos, para nele apoiar a
minha impostura seguinte – Eu estou óptima!
Acho que nunca fora tão
doloroso de sentir, ocultar o meu verdadeiro estado de espírito e a minha aura,
que agora se encontrava enegrecida por uma verdade inconveniente que me
perturbava de todos os jeitos possíveis.
Naquele simples sinal a
minha intenção passou apenas por mostrar a Ruben que conseguia ser mais forte e
resistente do que ele poderia pensar, e que não me deixaria ir abaixo pelo
simples facto de ele ter conseguido seguir com a sua vida e eu não, pelo menos
gostava de acreditar daquela maneira… Mas ambos sabíamos que ali quem estava a
ser enganada era eu e somente eu… É claro que me iria abaixo por vê-lo nos
braços de outra mulher, é claro que me iria abaixo por ver que o tinha perdido…
para sempre.
***
- Amor, podes passar-me a
jarra de água, por favor? – pediu carinhosamente ao seu lado oposto onde ele se
achava sentado, vendo-o mais propício a alcançar a jarra próxima do seu prato a
sensivelmente dois palmos
- Toma… - de forma
igualmente cuidada, Ruben aprovara-lhe o pedido ao aproximara-lhe o jarro do rápido alcance
dela, esticando habilmente o braço sobre a mesa
- Obrigada. –
vislumbrei-os num relance comedido e enjoado, enquanto do meu prato debicava a
comida com o garfo que não tinha qualquer vontade de levar à boca
Reunidos à mesa da sala
de jantar, estávamos predispostos em lugares estrategicamente colocados, com o
meu avô a ocupar a cabeceira, como era costume, eu e a Inês sentadas a uma
lateral da mesa e o Ruben a acompanhar a minha avó na lateral oposta.
Iniciáramos a refeição acerca de vinte minutos e obviamente o que a dominara na sua maioria, fora a mais recente
declaração do casamento, que parecia ter caído nas graças de todos naquela
casa, menos nas minhas.
Quanto a mim não me
restara outra opção senão a de manter o sangue frio durante todo o decorrer do
jantar e engolir alguns sapos, uns deles bem grandes.
- Então e para quando
está marcado o grande dia? – inquiriu o meu querido avô, sorvendo um gole do
seu copo de vinho que tomava unicamente às refeições
- Em Dezembro, no dia
vinte e dois… Conseguimos remarcar a data que tínhamos escolhido da primeira
vez. – respondeu ela, com um sorriso imensamente belo que fazia luzir os seus
lábios sempre que tinha o prazer de tocar no assunto
- É daqui a quatro meses,
portanto… - não levantando os olhos do meu prato, relatei com uma certa audácia
as contas que mentalmente fizera, prescrevendo dissimuladamente aos que me
entendessem, a dúvida que então pairou no ar do quão repentina poderia ter sido
a decisão deles, principalmente pela parte do Ruben
- Sim, quatro meses… Mais
dia, menos dia. – notei, pela jeito como falara, que Inês ficara um tanto ou
quanto desconfortável com o meu comentário
- E a cerimónia, vai ser
onde?
- Quanto à cerimónia nós
colocámos de parte a ideia de ser numa igreja… - começou por responder Ruben, à
questão desta vez colocada pela minha avó – Como a casa da minha mãe é
suficientemente grande e espaçosa, decidimos fazer a cerimónia no jardim e o
copo-d’água também.
- Achamos que é melhor
fazermos uma coisa simples e reservada, sem grandes confusões, apenas para
amigos mais próximos e família.
- Espera-se é que não
chova nesse dia, não é? Com o Inverno nunca se sabe… - comentei sem qualquer
malícia, mas com uma pitada inegável de ironia e cinismo que me permitia
continuar sentada à mesa e lutar interiormente com o que era sujeita a ouvir –
Não seria propriamente agradável os convidados ficarem encharcados e o
copo-d’água arruinado.
- Caso chova nesse dia,
casamos noutro sítio qualquer, o clima não será impedimento nenhum! – Inês
mostrou subtilmente as suas garras, protegendo aquilo que mais queria, e a
partir daquele momento uma lividez de tensão entre nós foi levantada, que penso
todos terem sentido
- Claro que não! –
concordei imediatamente, no ensaio de um sorriso amistoso – Até porque quando
queremos muito uma coisa, não desistimos com facilidade, lutamos por ela,
independentemente das adversidades. – acrescentei, atribuindo um segundo
sentido às minhas sentenças, que apenas duas pessoas naquela mesa poderiam
compreender… eu e o Ruben
Entrecortei um olhar
cúmplice com ele, que por descuido nosso foi perceptivo a Inês, e penso que
tenha sido esse o impulso de que ela estava à espera de ver chegar, para trazer
à conversa um tsunami de novas emoções… pelo menos para mim.
- Amor, não querias falar
com a Joana?
- Sim, Ruben, é verdade… -
alheia ao que ainda estava para vir, insisti em um acordo que fora quase
esquecido, mas que Inês fez questão de lembrar – O que é que tens para me
dizer, afinal?
- É mais para te
perguntar… - corrigiu-me ela, antecipando-se a Ruben, mas continuando a reter
um temperamento e uma atitude correcta e irrepreensível que em nada a
comprometia
- Sim, bem… Ah… - a
partir desse instante ele ficou notavelmente mais acanhado e nervoso para a sua
escolha de palavras, o que naturalmente começou a deixar-me nervosa também…
pousou os talheres no prato, bebeu um gole do seu copo de água e focou-se em mim… unicamente em mim
- Então, Ruben… Não vais
dizer nada? – vendo-o com alguma falta de reacção que o impedia de falar,
entrepus-me, esperando dar-lhe o impulso necessário para não me deixar mais
naquela incógnita tortuosa e impasse
- Tu deves saber, ou
melhor, supor, que é o David que vai ser o meu padrinho de casamento… Já nos
conhecemos há anos, ele é o meu melhor amigo, é natural…
- Sim, claro, tal como
suponho que pelas mesmas razões a tua madrinha seja a Adriana…
- Pois, lá está… Ah… A
Adriana não vai ser a minha madrinha…
- Não? Porque não? –
estranhei não ser Adriana a estar a seu lado no altar, como seria de esperar
por todos, mas também estava cada vez mais confusa onde aquele assunto nos iria levar
- A questão é, – e eu falei
com a Inês e ela é da mesma opinião –, que talvez tu… Talvez pudesses ser tu a
minha madrinha de casamento.
A sensação que tive
assemelhou-se à de uma bomba a explodir entre as minhas mãos. Explodiu,
simplesmente… Sem relógio, sem contagem decrescente, sem fios que eu pudesse
cortar. A bomba explodiu e todos ficaram a ver-me encurralada no meio dos destroços.
Não sei especificar o que
senti senão mais do que uma mágoa grotesca, uma humilhação atroz e uma dor
acutilante no coração quando o sangue que me corria nas veias gelou. Um
silêncio apavorante pulverizou cada canto da sala e numa questão de segundos
tinha todas as atenções recaídas em mim, a dos meus avós incluída, pois esperavam
de mim uma resposta próspera, que no entanto eu não tinha para dar.
- Eu…? Tua madrinha? – falei
quando finalmente a voz remontou às minhas cortas vocais, que ficara ausente
pela emoção tempo demais
Vi-o acenar com a cabeça,
formalizando assim o pedido que me fizera e o qual aguardava por um
consentimento da minha parte.
As lágrimas voltaram a formar-se e pude senti-las a picarem atrás das pálpebras, mas obriguei-as a
recuar… A situação tinha tomado outras proporções, proporções que tornavam a
história do casamento em algo muito mais real e muito mais sério do que eu
poderia ter imaginado, e um pesadelo aterrador impedia-me de acordar.
Não sabia porque razão
estaria ele a fazer aquilo, se para me magoar, se para se vingar, para me
humilhar… Só sabia que me sentia ridicularizada na frente de todos, pequena,
pequenina como uma formiga, a ser espezinhada pelos (des)acertos da vida.
- Então, Joana, não vais
dizer nada? – o meu avô quebrou a rígida camada de gelo que me envolvia… eles
aguardavam na expectativa de me ouvir
- Eu não sei… Eu não sei
o que dizer… - a voz saiu-me desinquietantemente fraca, para piorar a falta da
minha resposta
- Diz que sim… – sugeriu
ele, a única réplica que queria ouvir
- Talvez devas pensar
melhor na tua escolha, Ruben, eu não acho que seja a pessoa indicada para esse
lugar.
- Não vejo mais ninguém
que seja senão tu. – o argumento suscitado e indiscutível de Ruben, levou-me
mais uma vez as lágrimas aos olhos, pelo conteúdo tão cruel e sem sabor que
embebia
- Desculpem meter-me, mas
filha, se o Ruben te está a pedir isto é porque com certeza ele acha que és a
pessoa mais indicada… - como eu já poderia calcular, a minha avó saiu em defesa
dele, apoiando-o e fazendo-me vacilar perante a decisão
- A tua avó tem razão,
Joana… - claro, e a Inês que não concordasse
- Então talvez seja o
Ruben que esteja enganado! – bradei impensadamente, mas sem me arrepender por
um instante o que dissera, ao ponto de desejar retirá-lo
- Não… Eu sei aquilo que
quero, e por isso fazia questão que fosses tu a acompanhar o David… Queria que
fosses tu a minha madrinha. – aquela sua insistência passiva abalava-me por
dentro, destroçava-me mas tinha que continuar a guardar tudo para mim
- Desculpa, mas eu não
tenho nenhuma resposta para te dar agora, Ruben… Eu vou ter que pensar
primeiro.
- Pensar? O que há para
pensar? – interrogou-me a noiva,
ligeiramente confusa pela minha – à partida sem motivo – hesitação, mas da minha
boca mais nenhuma palavra referente àquele assunto se voltou a ouvir
Queria tanto chorar,
tanto. Sentia-me sufocada ali, enclausurada numa teia tecida para o meu
aprisionamento e tinha que sair, tinha que me libertar… Tinha que me levantar,
virar costas e ir embora, não dava mais fingir que não doía, porque a verdade é
que doía muito e eu não estava a aguentar com aquela carga, aquele peso em cima
dos meus ombros.
- Desculpem, eu sei que
vai parecer uma falta de educação, mas eu vou subir para o meu quarto… Estou
cansada da viagem e tenho mesmo de ir dormir. – antes de me levantar, optei por
me justificar logo, antes que a minha saída fosse mal compreendia
- Já, minha querida? – o
meu avô queria que eu ficasse mais um pouco, mas não podia fazer-lhe a vontade
- Sim, avô… Peço desculpa
a todos mas estou mesmo muito cansada. – limpei os lábios ao guardanapo que me
revestira o colo desde então, puxei a cadeira para trás e despedi-me numa
saudação geral quando me ergui – Boa noite!
Não consegui ser
sentimentalmente imparcial ao ponto de me despedir de Ruben e Inês em
particular, nem tampouco de os voltar a felicitar pelo casamento… Da minha
parte o jantar já tinha chegado ao fim e saí então da sala, sem a mínima
intenção de voltar a entrar lá naquele dia.
Quase sem forças para me
sustentar nas pernas, e já com o choro a intensificar-se a cada movimento a que me obrigava, subi a escadaria amolecendo os passos. Vim-me embora porque não
aguenta mais os risos constantes em conversas que me desagradavam, vê-los rir
de felicidade, sim porque eles estavam felizes… ter de ouvir, ouvir, e calar,
quando a maior vontade que tinha era jorrar um copo de água na cara do Ruben e
não ter mais que olhar para ele… ele que tivera a distinta proeza de me magoar
como nunca outra pessoa me magoara até então.
Entrei no meu quarto,
totalmente solitário, e a coisa mais racional e coerente que fiz foi a de jogar
o meu corpo sobre a cama e chorar… chorar…
- Como é que pude ter
sido tão burra? Como? – praguejei numa retórica a mim mesma, ao relembrar que
naquela tarde ao entrar em casa, chegara estupidamente a pôr em questão o
milagre de uma possível reconciliação com o homem que me roubara o coração e o
desfizera em pedaços
As lágrimas continuavam a
correr-me a pique pelas faces e morriam ao chapinharem silenciosamente na
almofada de cabeceira, que sem outra alternativa acolhia os meus desabafos
lamuriosos da infelicidade amorosa da minha vida.
Entretanto, e somente ao
fim alguns minutos, apercebi-me de um barulho no corredor, o destranco de algo
que acabara por se abrir, e foi aí que temida a estar a ser observada, acalmei
o soluçar, estanquei o choro o melhor que me era permitido e delicadamente
voltei o meu corpo na direcção da porta.
- O que é que estás aqui
a fazer? – perguntei de rajada, quando à ombreira da porta distingui a figura
inesperada e muito pouco bem-vinda de Ruben
- Pensei que fosse aqui a
casa de banho… Pelos vistos enganei-me! – preferiu com destreza e engenho,
provavelmente fora aquela a desculpa que dera para que em segredo viesse
procurar-me, sim, porque eu sabia que a única razão de ele estar ali era eu
- Pois, pois enganaste… -
limpei a humidade do meu fácies às mãos, e ergui-me do colchão num impulso forçado
– Por isso se fazes o favor, poupa-me e sai.
- Precisamos de falar.
- Não, não precisamos…
Nós não temos rigorosamente mais nada para dizer um ao outro!
- Eu tenho. –
contradisse-me, recolhendo ao mesmo tempo as mãos nos bolsos das suas jeans,
para ganhar o alento de se aproximar ao centro do quarto
- Mas eu não te quero
ouvir… Não consigo nem quero ter de olhar para ti agora.
- Vais ter que fazer um
esforço. – disse num tom e postura inquebrável, em confronto com a minha,
derradeira a vacilar sempre um pouco mais
- O que é que queres de
mim, Ruben? Sinceramente… Ainda não te chega? Ainda não me humilhaste o
suficiente? – numa contestação imoderada pela minha vulnerabilidade, estampei
de imediato as suas intenções perante aquele novo confronto
- Eu não vim aqui para te
humilhar…
- Vieste para quê, então?
- Eu não gostei da tua
atitude ao jantar!
- Desculpa? – a minha
sobrancelha ergueu-se num arco perfeito, tal foi a admiração ao ouvir o
seu reparo – Vieste até aqui para me dizeres que não gostaste da minha atitude…
ao jantar?!
- Exactamente! Não gostei
da tua impertinência, não gostei da maneira de como algumas vezes falaste para
a Inês, e muito menos gostei do escárnio que usaste no assunto do meu
casamento! – enumerou pausada e certeiramente, lançando-me um cartuxo de
acusação como se eu fosse a má da fita, a culpada naquela história toda
- Ai sim? E agora o que
pensas fazer, hum? – os meus braços trémulos, não hesitaram em cruzar-se na
frente do peito, de alguma maneira como um escudo protector – Vais pôr-me de
castigo e tirar-me a televisão durante uma semana, é? – uma vez mais vi-me
forçada a dar uso ao sarcasmo no intento de sair imponente a mais ataques da
sua parte, mas era muito mais difícil que isso
- Não comeces!
- Mas tu querias que eu
fizesse o quê? Diz-me lá… Ficava a ouvir-vos falar sobre os planos para um
futuro a dois, a agir como se tivessem voltado a ser o casal mais feliz do
mundo depois de uma reconciliação, e querias que eu fizesse o quê? Que ficasse
a aplaudir-vos?
- Ouve uma coisa, Joana…
- Não, ouve tu uma coisa!
Ouve tu! – o meu indicador ergueu-se impetuosamente no ar e apontou numa só
direcção… não sei onde arranjei ânimo para que um timbre profundamente elevado
da minha voz se sobrepusesse à dele e o silenciasse, mas a verdade é que o fiz
– Como é que foste capaz? Um mês, Ruben… Estamos separados há um mês e agora
vais casar…?
- A vida pode dar muitas
voltas numa só fracção de segundo…
- Parece que a tua deu
voltas a mais. – ripostei inconsolavelmente triste, por me sentir a ser traída
pela pessoa que mais amava no mundo inteiro
- Olha uma coisa, Joana,
o meu casamento não está aqui em causa, nem tampouco serve de discussão! –
agitando a cabeça levemente, ele fez questão de deixar aquilo bem claro
- Tu estás a voltar ao
mesmo Ruben… O mesmo Ruben que conheci quando voltei para Portugal. – acusei
com extrema lamentação, com uma voz desvanecida pelo reconhecimento das
atitudes e personalidade, que revi no velho Ruben nos nossos primeiros
confrontos ao fim de três anos – Estás frio, insensível…
- Se te lembras disso
então também te deves lembrar da razão que me levou a ser assim… - começou por
dizer, e quando a minha expressão francamente dolorosa se revelou ainda mais,
ele decidiu esclarecer-me rapidamente – Ainda estava demasiado magoado por me
teres deixado, e ao que parece até agora, a história manteve-se fiel ao
passado…
- Então é a isso que isto
tudo se resume… Uma vingança por eu te ter deixado outra vez!
- Não, isto não é nenhuma
vingança. Não estou a fazê-lo por ti, faço-o unicamente por mim!
- Tem vezes que parece que não… Parece que tudo isto é só para me fazeres sofrer, tal como
eu te fiz sofrer a ti.
- Mas não é! – o seu tom
levemente exaltado, fez com que todo o meu corpo se contraísse num único
movimento – Eu preciso de assentar, Joana, preciso de estabilidade na minha
vida, e eu sei que a Inês me pode dar essa estabilidade.
- Não precisas de casar
com ela para isso… - revelei sofregamente, de olhos esbugalhados pelas lágrimas
que os corrompiam
- Eu e a Inês estivemos
juntos durante dois anos, sabemos o que é o melhor para cada um e para a nossa
relação… O casamento é um passo que já estávamos preparados para dar antes, é o
impulso que precisamos para construirmos família. – ele foi tão claro, tão
convicto no discurso que milimetricamente ensaiou, que não pareceu ter a mínima
duvida quanto àquilo que dizia querer, e foi isso que mais me doeu entender
- Lembro-me de me teres
dito que querias construir família comigo, que querias filhos meus… Afinal não passou
tudo de uma grande mentira? – questionei, sentindo dentro do meu peito o
desespero do meu coração padecente, que continuava a bater apenas por uma
questão de sobrevivência
- Nada daquilo que vivi
contigo foi uma mentira, mas também nada dura para sempre… nem mesmo nós.
- O que queres dizer com
isso? – contestei, contudo estava atemorizada para ouvir a sua riposta
- Nada demais… Apenas
gosto de pensar que talvez nós, a nossa relação, não estava destinada para ser,
não tinha guardado nenhum futuro pela frente… - encolheu os ombros num movimento
muito rápido enquanto continuava fixado em mim e eu desejei que ele parasse de
falar, não sei se iria aguentar ouvir o que ele ainda tinha para dizer – Depois
de tantos obstáculos entre nós, das separações, de tanto sofrimento, talvez o
que tivemos não passou de um meio para chegarmos a outro fim…
- Outro fim? Eu pensava
que era disto que o amor era feito… Que fortalecia com as dificuldades… -
expliquei, tentando conservar as melhores recordações que ficaram de nós
- As nossas dificuldades
foram demasiadas, Joana, e chegou uma altura em que já não dava para lutar
mais… Resta-nos viver com isso.
Ele tinha desistido, ele
desistira completamente de mim, de nós… Atirou a toalha ao chão e foi sentar-se
no banco, ainda o jogo não tinha acabado. A partir daquele momento aquele amor
que ainda sentia por ele, passou a oferecer-me murros na barriga em vez de
borboletas, e nunca imaginara o quão angustiante seria ficar sozinha,
abandonada com o coração nas mãos.
- Podes querer casar com
a Inês, mas tu sabes tão bem quanto eu que ela não vai conseguir fazer-te feliz
para sempre. – ciciei com o rosto inundado de lágrimas que ele vi-a correr mas
que já não tinha vontade em enxugar como fazia dantes
- Desde que não me faça
infeliz…
- Ruben… Ruben, olha para
mim… - movida por um acto de pura irreflexão e unicamente comandada pelos
instintos, precipitei-me na direcção dele, anulando a distância entre nós e
procurando por um esclarecimento fulcral que decidiria tudo – Olha-me nos olhos
e diz-me que não me amas mais…
- Joana, não querias
dificultar ainda mais as coisas… - pediu-me numa voz trémula que me
impressionou, tão ou mais trémula que provavelmente o seu coração naquele
momento, mas fê-lo sem cair no erro fatal de me olhar, tinha a certeza que ele não era capaz de me mentir se me olhasse fundo nos olhos
- Olha para mim e diz
que já não me amas, que já não me queres, que não me desejas… Diz! – implorei
ao deter o seu rosto entre as minhas mãos pequenas e vacilantes, e
inevitavelmente duas lágrimas gordas deslizaram pelas minhas faces regelas pela
humidade que as banhava
- Entre nós não há mais
história, não há mais romance, Joana… Acabou tudo, acabou! – professou
calmamente, algo que me queria fazer acreditar, mas eu sabia que ele não sentia
nada daquilo, eu sabia, e o facto de o ter dito enquanto mantinha o olhar
vagante perdido pelos cantos do quarto, só o comprovou
- Podes dizer o que
quiseres, mas quando o fazes sem me olhares nos olhos…
- O que eu tinha para te
dizer, já disse, portanto é melhor eu voltar para baixo antes que comecem a
estranhar a minha demora.
Ruben afastou
delicadamente as minhas mãos do seu rosto, com as suas, e tomou ordem da
distância que voltou a separar-nos, deixando no ar uma incerteza impertinente,
rumou até à porta do meu quarto disposto a atravessá-la e nunca mais voltar.
Não sei bem porque o fiz,
mas travei-o antes que ele detivesse a maçaneta e a rodasse na sua mão,
dispondo-me a algo que eu nunca pensara vir a fazer na minha vida.
- Queres mesmo que seja
eu a tua madrinha de casamento? – limpei friamente todas as lágrimas e notei
todo o seu corpo ficar imóvel, certamente atingido pelo pasmo do minha
inquisição, que eu jamais pensara em vir a proferir
- Porquê? Estás a pensar
em aceitar? – promulgou-me quando se voltou na minha direcção, aguardando
meramente por um sinal meu
- Já aceitei… Se é isso
que queres, podes contar comigo.
- Tens a certeza do que
me estás a dizer? Não quero que voltes com a tua palavra atrás.
- Não te preocupes, isso
não vai acontecer… - respirei fundo tentando manter o controlo interior, tal
como queria controlar a situação – Vou ter muito gosto em ir a esse casamento,
só para ver com os meus próprios olhos e assegurar-me que nunca te esquecerás
desse dia.
- Óptimo, ainda bem! –
ele mostrou um sorriso ligeiro que em muito se sobrepôs ao meu, que não esbocei
em momento algum
Queria deixar de amá-lo,
queria e estava decidida a arrancá-lo do meu coração com muita força, de
maneira a que doesse dessa vez e depois não doesse mais. Aceitar fazer parte do
quadro daquele venturoso casamento, seria a valorosa prova dos nove, que eu
iria atestar para provar a mim mesma, e principalmente para provar a Ruben,
que até lá eu iria ser capaz de esquecê-lo, nem que para isso tivesse de me expor a um esforço desumano, mas eu ia conseguir… eu ia conseguir.
- Adeus, Joana! – foram
as suas últimas palavras antes de o ver partir, olhou-me naquela que seria a
última vez durante os próximos tempos, virou costas e saiu, simplesmente
Descolei os pés do chão e
corri celeremente até à porta que fechei com força exactamente no segundo em
que ele a transpôs.
Colocado aquele ponto
final fui arrastada novamente para as masmorras do choro, que fez correrem-me
pelo rosto as lágrimas, que aprisionei dentro de mim, a uma velocidade
inqualificável e desesperante.
Dei somente dois passos
em diante, mas sucumbida a força das minhas pernas, foi-me renegado o meu
próprio sustento e caí de joelhos ao chão. O meu corpo estava arrasado, a minha
alma vazia e o meu coração cheio de nada… Ali sentada sobre as minhas pernas
dobradas, deixei-me chorar perdidamente, mas estivesse o que ainda estivesse
para vir, prometi a mim mesma uma coisa… Aquela era indiscutivelmente a última
vez que eu chorava por ele.
Queridas leitoras, venho trazer-vos um capítulo novo! :)
Espero que gostem e continuem a deixar os vossos comentários.
Um beijinho grande,
Joana :)
É que nem sei o que dizer... e olha que sei muita coisa sobre estes dois :P... lool
ResponderEliminarA sério o Ruben está a ser um autêntico estúpido e masoquista, sim masoquista porque caso contrário não faria tal coisa, porque no fundo tudo isto o magoa também lool
Quero tanto o próximo...
Beijocas e não me deixes a desesperar :P
Ai eu n acredito :( nao acredito q fizeste isto :/
ResponderEliminarPor favor escreve um novo capitulo e diz q isto n passou de um pesadelo!
A serio, casar? ? Com a ines? E a joana madrinha de casamento, mas o ruben ta completamente burro? Mas o q vai na cabeca dele? Como e q ele vai casar e diz a joana q a historia deless nao era para ser?!
Neste momento odeio o ruben, odeio ainda mais a ines e admiro a Joana, que Mulher!! Gostei da atitude dela, se e madrinha que ele quer que seja e isso q ela vai ser, adorei :)
Foi um capitulo triste mas adorei!
Sinceramente queria q isto n passasse de um terrivel pesadelo!
Beijinhos
Coitada da joana o Ruben esta a ser mesmo mau.
ResponderEliminarQuero o proximo rapido.bjs
Fantástico...
ResponderEliminarQuero mais... Tou super curiosa para ver o próximo...
Continua... Cada vez tá melhor....
Eu nem acredito no que acabei de ler, mas que raio deu na cabeça do rapaz????
ResponderEliminarNão posso acreditar no que li... quero mais!!!!
Beijo
chorei tanto, opah isto que mude mas ta lindo :')
ResponderEliminarÉ oficial, eu, Fernanda Maria odeio este Rúben, só me apetece chamar-lhe nomes que de bonitos garanto-te não teem nada.
ResponderEliminarSe fosse possível a minha vontade era pegar na Joaninha ao colo e dar-lhe muitos miminhos, que é o que ela precisa neste momento, ter ao lado dela pessoas que a compreendam e a apoiem, porque o que esta besta (nem consigo chamá-lo pelo nome dele) fez não se faz a ninguém.
É preciso ter lata levar a outra (que agora anda armada em rainha) a casa dos avós da Joana para os convidar para um casamento que todos sabemos é de fachada porque não é da Inês que ele gosta e ainda ter a pouca vergonha de a convidar para ser sua madrinha de casamento, se isto não é humilhação é o quê? Quer castigá-la, porque coitadinho foi "abandonado" outra vez, porque burro como ele é não quer ouvir as razões dela, então agora tem que a castigar de todas as maneiras.
Ai que raiva, agora é que eu lhe ia ao focinho. Desculpa a minha brutalidade, juro que é só garganta, é uma forma de desabafar, o que quer dizer que a culpa (no bom sentido) é tua, com o que escreves e a forma como escreves e descreves as situações provocas em mim estes sentimentos.
Amei o capítulo, mais uma vez levaste-me ás lágrimas, mas acho que a Joana fez bem em aceitar o convite para madrinha, vai ser duro, mas lá, vai ter quem esteja do lado dela, incluindo o padrinho, acho que o Ruben não estava à espera que ela aceitasse, mas ela fez bem, ela quer ver ele fazer a maior burrada da vida dele, quer vê-lo enterrar-se até ao pescoço, porque com esta atitude de menino mimado que faz birra quando as coisas não lhe correm como quer, ele vai conseguir magoar três pessoas ao mesmo tempo, 1º a Joana, por todas as razões que já sabemos, 2º a Inês porque ele não gosta dela e com esta atitude além de a estar a enganar vai magoá-la quando as coisas derem para o torto e em 3º lugar o próprio Rúben, que por ser um casmurro vai casar com uma pessoa que ele não ama só para magoar a Joana, e não adianta ele vir com desculpas que já tinham uma relação de 2 anos e tal,é só conversa da boca para fora. No final isto vai acabar mal, já presenciei uma situação destas e não foi nada bonito.
O meu comentário hoje já vai um bocadinho grande, isto tudo para te dizer que adorei, quero muito mas mesmo muito ler o próximo, porque agora que o senhor vai casar eu quero ver como fica a história da viagem com a afilhada.
Continua
Beijocas
Fernanda
A sério amei este capítulo mas faz chorar qualquer um ! adoro o facto de que agora postes mais frequentemente, é muito bom mesmo, parabéns e continua ! bjs
ResponderEliminarcontinua a publicar porque é fantástico parabéns ! Posta o mais rápido que puderes bjssssssss
ResponderEliminarNão. Ai, eu não creio. Não acredito disso O.o
ResponderEliminarÉ que não tenho nem palavras para descrever esse capítulo... ainda estou que nem o gif acima... escandalizada. Como o Ruben foi capaz?? E pronto, lá se foram todas as minhas fichas a favor dele, acabou mesmo. A Joana não merecia essa humilhação, não merecia. E essa Inês... grrrr, ela pode não ser ''a culpada'' de tudo, mas... percebi hoje o porquê que nunca fui com a cara dela, e fim u__u lol
Curiosíssima para saber o que vai acontecer agora que a Joana decidiu arrancá-lo do seu coração... :c
Mais, please. Beijinhos.
Gabi :*
Ele ou é burro ou come merda as colheres (e desculpem os termos)
ResponderEliminarEles está a ser sem duvida a pessoa mais insensível do mundo e a Joana não merecia passar por isto, não merecia tal humilhação e desprezo por parte dele!
Eles amam-se mutuamente, um amor genuíno, e ele é assim com ela...
E a Inês enerva-me e sobre ela mais não digo xD
O próximo rapidamente, que agora estou ansiosa!
Besos, Débora*
ai meu deus eu não acredito :o
ResponderEliminaro que o Rúben fez não faz sentido! coitada da Joana...
continua!