Acabou…
simplesmente. Foi nesta certeza que me fui tentando mentalizar, a cada todos os
dias, depois do último confronto com Ruben.
Tinha forças
suficientes capazes de me fazerem aguentar o dia, capazes de me fazerem
enfrentá-lo e seguir com a minha vida da melhor maneira que conseguia, mas com
a chegada da noite vinha também aquela solidão, o meu mundo agora reduzido
somente a mim, desmoronava e tudo parecia estar errado. As saudades que sentia
dele eram mais fortes do que tudo e acabavam, de uma maneira ou de outra, por
vir rebentar em meu peito e então eu chorava, chorava muito horas a fio até o
cansaço e exaustão me vencerem por completo e levarem consigo, e apenas por
alguns momentos, todo o meu pesar. E para ocupar minimamente esse vazio que ele
tinha deixado na minha vida inteirei-me da minha agenda apertada para aquele
Verão e entreguei-me unicamente ao trabalho… Era para ele que vivia e foi por
ele que marquei presença num lugar e noutro do país antecipando a minha jornada
a algumas cidades da Europa.
Mas foi
difícil, não vou mentir… Foi difícil para mim aceitar aquela nova realidade,
pois em parte fora por minha culpa – porque alguém tinha de ter culpa – de que
a minha relação com Ruben tenha chegado a este fim, mas agora era já tarde
demais para voltar atrás e escrever um novo começo.
- Bom dia,
avó linda! – saudei com um sorriso nos lábios ao atravessar as portas da sala
de estar para me juntar a ela na primeira refeição do dia
- Bom dia,
meu amor! – despoletei-lhe um beijo carinhoso no topo da cabeça ao cruzar a
cabeceira da mesa e puxei uma cadeira para também me sentar e tomar o
pequeno-almoço – Já de pé? Contava que ainda ficasses a dormir mais umas
horinhas… Dei conta de ontem teres chegado tarde…
- Pois mas já
não tinha muito sono, e para além disso ainda tenho de ir tratar de alguns
assuntos antes do voo desta tarde. – argumentei, relembrando sucintamente os
meus planos traçados para aquela manhã, agora que a poeira parecia ter
assentado minimamente, e estendi um guardanapo de pano sob o meu colo
- Ainda ontem
chegaste do Porto e hoje já estás pronta para ir para Madrid… Dessa maneira
vais ficar esgotada num instante, filha! – relembrou num relance os últimos
dias que eu tinha vivido agitadamente, e que só por isso agradecia a Deus por
tal me manter ocupada o suficiente para não me isolar no meu canto… algo que
infelizmente eu ainda tendia a fazer
- É o meu
trabalho, avó, e até ao final do Verão vai ser assim. – disse solenemente, e do
centro da mesa alcancei a caixa de cereais de frutos vermelhos que iria
adicionar à minha taça alagada com uma pródiga camada de iogurte natural
caseiro, para uma nutrição rica em fibras – Mas com o começo da faculdade
prometo abrandar o ritmo, pelo menos já não vou andar a correr de um lado para
o outro!
- Tu vê lá,
Joana! Não andas a dormir nada de jeito e já nem te vejo a alimentar em
condições…
- Não se
preocupe, avó, eu sei tomar conta de mim… Já não sou nenhuma bebé! – evidenciei
com um sorriso no rosto e levemente passei os dedos nas costas da sua mão que
ela mantinha sobreposta à mesa, de maneira a tranquilizar aquela sua
preocupação natural de segunda mãe – Então e o avô? Já saiu? – inquiri ao notar
a ausência da figura imponente e masculina daquela casa, que se bem conhecia já
teria ido tomar domínio do negócio da família
- Já, já
saiu… Até parece que não sabes como é o teu avô… Gosta de ser sempre o primeiro
a entrar e o último a sair daquele hotel!
- Ele é que
não abranda o ritmo nem por nada, não sei onde é que vai buscar tanta energia!
- Nem eu sei,
minha filha, nem eu sei… - aquela sua interjeição a que eu tinha dado início,
fizeram rebentar em nós suaves e breves gargalhadas… das primeiras que eu dava
em dias
- É verdade,
avó, há uma coisa que tenho andado para lhe dizer… Queria ter falado consigo há
mais tempo mas como ainda não tinha tido oportunidade, e visto que estamos a
ter agora este tempinho…
- Claro,
minha filha, diz… - ela deu um curto trago do seu café fumegante e preparou-se
inteiramente para me ouvir
- Lembra-se
de eu lhe eu ter dito quando vim aqui para casa, que esta era uma situação
temporária, que logo que conseguisse voltar a instalar-me em Lisboa e resolver
algumas burocracias, ia viver por minha conta… Lembra-se disso, não lembra, avó?
- Sim,
lembro… Mas porquê, estás a pensar em mudar-te? Sabes que podes ficar aqui o
tempo que quiseres e precisares, sempre te disse isso e a minha intenção
mantém-se desde então! – proferiu afavelmente, assegurando-me do porto de
abrigo que eu sempre iria ter
- Eu sei,
avó, mas sinto que já é altura de dar este passo! Já assentei, as coisas estão
calmas, a minha vida está estável… - enunciei niveladamente, mas referindo-me
apenas – omitindo portanto à minha avó – ao lado financeiro e profissional da
minha vida, já que o meu lado sentimental estava resumido a destroços – Penso
que assim que voltar de Londres esteja em condições para começar logo com a
mudança!
- Vejo que
estás decidida e já tens tudo pensado… – ela mostrou-se um sorriso triste,
talvez por, em meses desde que cheguei, ter de me deixar voar para fora do seu
ninho – Mas e já sabes para onde vais? Vais arrendar um apartamento?
- Hum, hum,
não… Nada disso! – neguei rapidamente, pois os meus projectos eram outros –
Estive a pensar e vou voltar para a casa onde sempre vivi… Vou voltar para a
casa dos meus pais!
Da maneira
como olhou para mim deu-me a entender claramente que ficara surpreendida com a
tomada da minha decisão, não seria de esperar que eu estivesse disposta a
voltar à casa que me viu crescer… Não depois de todas as recordações que esta
guardava e, talvez, mantinha ainda vivas.
- Tens a
certeza que é isso que queres fazer…? Ficar naquela casa?
- Claro,
claro que tenho! Foi lá que eu cresci, é lá que eu tenho as minhas raízes… Não
faz sentido deixar a casa ao abandono só porque os tempos mudaram e as
circunstâncias agora são outras… As últimas lembranças que eu tenho dela podem
não ser as melhores, mas fui muito feliz lá e quero tentar recuperar isso!
- Se a tua
vontade é essa, então a casa é tua! O teu pai nunca mais lá entrou desde que se
foi embora e inclusive já falou com o teu avô em querer vendê-la, mas visto que
queres lá ficar…
- Quero, avó,
é lá que eu quero ficar! – gracejei, anuindo qualquer outra hipótese em
instalar-me num outro lugar que não aquele
- Pronto
então! – aquela sua interjeição foi o encerrar de um assunto que não voltaria a
ser contestado – A casa continua em óptimas condições, de vez em quando a Maria
tem ido até lá para não estar muito tempo fechada e dar um jeitinho… Lavar o
chão, limpar o pó, abrir as janelas para arejar um pouco… Quanto a arrumações
não tens de te preocupar!
- Pronto, mas
talvez dê um jeito na decoração… Mudar algumas coisas!
- Isso já é
contigo, faz como achares melhor… – ela sorriu-me carinhosamente e eu retribuí
o mesmo sorriso de volta
- Bem… É
melhor então eu ir andando, que ainda tenho umas coisas para fazer e está a
fazer-se tarde! – olhei rapidamente o meu relógio de pulso e verificando o
ligeiro aperto das horas, acabei de beber apressadamente os restantes três
goles do meu sumo e depois de limpar os lábios ao guardanapo, levantei-me e
voltei a recostar a cadeira à mesa
- Senta-te
mais um pouco, Joana… Termina pelo menos o teu pequeno-almoço antes de ires…
Mal tocaste na comida, filha! – uma vez mais a sua carga de responsabilidade
que tinha sobre mim alterou-a com a luzinha vermelha da minha saúde e
bem-estar, e isso reflectiu-se no seu pedido, que eu indubitavelmente não dei
relevância
- Até logo,
avozinha! – dei-lhe um beijinho na bochecha, que eu esperei vir a ser a melhor
recompensa pela minha desobediência à sua vontade, e quando alcancei a minha
mala que tinha deixado pousada sob o pequeno móvel, saí direccionada até ao meu
carro, que me iria levar numa viagem de pouco mais de uma hora
***
Encorajei-me
com um suspiro depois de trancar as portas do jeep e começar a caminhar, pois
sabia quer iria precisar de ter calma e um pouco de fôlego para o momento que
se seguia e o qual eu própria decidiria enfrentar, movida não por obrigação mas
por precisar de fazê-lo, pois só assim iria conseguir aliviar o peso dos meus
ombros e o transtorno da minha alma, para ter um pouco mais de paz.
- Joana… - a
figura, para mim muito saudosa, da mãe de Ruben, prostrou-se passivamente na
minha frente quando veio abrir a porta da sua casa e, inesperadamente, me
encontrou a mim no lugar de uma visita não aguardada
- Olá, Dona
Anabela! – saudei simplesmente, sem saber o que melhor poderia dizer
- Oh minha
filha! – os seus olhos brilharam quando tiveram a certeza absoluta que
era eu, e não demorou nada até aos nossos corpos se abraçarem,
extravasando o sentimento quase maternal de que partilhávamos
Confesso que
me surpreendeu aquela hospitalidade e carinho, pois cheguei até a recear a sua
atitude quando me visse, por algo que o Ruben lhe pudesse ter dito no que
respeita o fim da nossa relação, e o quanto ela poderia ter tomado partido
contra mim. Mas isso, ao contrário do que eu vinha preparada para contar, não
aconteceu… A mãe de Ruben ladeava-me num abraço aconchegante, sem qualquer
antipatia, certamente feliz por eu estar ali.
- Como estás?
Não imaginas como fico contente de te ver… – as suas mãos delicadas consolaram
o meu rosto e naturalmente os meus olhos rasaram em lágrimas, que por muita
força de vontade não eu não deixei que se precipitassem
- Vim vê-la,
falar consigo… Tinha que vir!
- Então vem,
minha filha, entra… - ela tomou rapidamente controlo da situação e abrindo
espaço junto à ombreira da porta, deu-me carta branca para ingressar na sua casa
- Com
licença… - pedi num aceno cordial, não absolvendo da boa educação e num simples
e instintivo gesto mirei toda a sala de estar e as restantes divisões que se
anexavam em meu redor, deslindando o que a minha memória me levara a esquecer
nos três anos que se passaram
- Bela, eu
tenho de ir… Já está quase na hora da minha aula! – de repente surgiu uma voz,
uma voz feminina que não me era totalmente indiferente e que cheguei mesmo a
descodificar sem quaisquer dificuldades logo depois
- Paula? –
detive-me por instantes quando o meu olhar pousou na zona dos sofás, que era
então ocupada pelo espectro de alguém que me era muito bem conhecido
- Joana, és
tu? – ela olhou-me num rompante misericordioso e inesperado, de quem não
acreditava no que vi-a
- Oh Paulinha!
– o meu coração amoleceu num sorriso de emoção, por ao fim de tanto tempo
voltar a encontrar a guarida de uma amiga com quem perdera contacto desde a
minha partida – a namorada de Mauro
- Oh, és
mesmo tu! – fui eu que tomei iniciativa e lancei-me calmamente até ela em
alguns pares de passos para a abraçar – Meu Deus, há quanto tempo!
- É verdade,
Paulinha… Há quanto tempo, que saudades! – partilhámos dois beijinhos na face e
depois predispusemo-nos à mirada uma da outra, para que nos pudéssemos observar
mutuamente
- Mudaste
tanto… Estás cada vez mais bonita! – a sua mão palmeou suavemente a minha face
e um sorriso meigo foi compartilhado entre nós
- Se falarmos
em mudanças temos que falar de ti! – ela gargalhou no segundo que descobriu ao que
eu me referia e eu vi-me tentada a acompanha, ao olharmos as duas a sua barriga
que tinha sofrido uma drástica alteração – Está linda, nunca pensei que já
estivesse tão grande…
- Nunca
pensaste? – talvez a minha escolha de palavras não tivesse sido a melhor e por
isso ela tenha ficado ligeiramente confusa
- Sim… O… -
fui apanhada no meu próprio deslize e arrependi-me no mesmo instante em que o
suscitei, mas não tinha como emendá-lo – … O Ruben já me tinha falado da tua
gravidez… - lembro-me perfeitamente de ele ter mencionado mais que uma vez na
da gravidez da cunhada, em
São Francisco, referindo-se também ao bebé que estava para
nascer – e o motivo o qual me fizera mostrar um sorriso triste – como “o nosso
sobrinho”
- O Ruben
contou-te… - se tentou disfarçar, não conseguiu, pois eu vi bem o olhar de pena
que ela trocou com a Dona Anabela, mas que eu parti do início em não dar muita
importância… a última coisa que queria é que tivessem pena de mim
- Fico muito
feliz por vocês, espero que venha perfeitinho e com muita saúde! – senti-me
tentada a tocar na barriguinha dela que anunciava claramente as últimas semanas
da gestação, mas contive-me, não queria causar nenhum constrangimento a mim e
muito menos a ela
- Há-de vir,
se Deus quiser! Vai ser recebido com todo o amor do mundo.
- Tenho a
certeza que sim… E Deus há-de querer, Paulinha. – disse-lhe com tanta
sinceridade quanto lhe desejava o melhor, para aquela que deve ser a fase mais
bela e incrivelmente especial na vida de qualquer mulher… a maternidade
- Bem, vocês
devem querer conversar e eu também tenho de ir… Bela, obrigada pelo
pequeno-almoço e pela companhia, eu telefone-lhe depois, está bem?
- Paula, se é
por minha causa não tens de ir já… Eu posso voltar noutra altura!
- Não, não é
nada disso… - ela apressou-se a negar a minha infundada suposição,
tranquilizando-me com um sorriso ameno e prosseguiu com um explicação que
contudo, eu não pedi – Mais daqui a pouco tenho uma aula de preparação para o
parto e não me quero atrasar!
- Logo à
noite estou a contar contigo e com o Mauro para o jantar… - proferiu a Dona
Anabela, prezando sempre a aproximação e aconchego daqueles que amava
- Claro, pode
contar connosco que estaremos cá! – ela consentiu num cordial aceno com a
cabeça para logo depois voltar a dirigir-se a mim, antecipando uma despedida –
Gostei muito de te ver, Joana! Entretanto se não nos voltarmos a encontrar
antes do meu parto, encontramo-nos depois… Independentemente de tudo quero que
conheças o Gabriel!
Gabriel… Iria
chamar-se assim o mais aguardado membro do clã Amorim.
Ela acariciou
a sua barriga e sorriu-me num gesto luzente de gratidão. Quando nos voltámos
abraçar, inconstantes de um reencontro incerto, senti os olhos da Dona Anabela
pregoados a nós… Tal como eu e Paula, e se bem a conhecia, ela deveria estar
também emocionada com aquele momento e com as resultantes circunstâncias que o
compunham.
Elas
caminharam até à porta, eu deixei-me permanecer e segui-as simplesmente com o
olhar… Acenei a Paula uma última vez e esperei que a mãe de Ruben voltasse para
junto de mim para ter-mos então uma conversa que estava destinada a acontecer,
e a qual somente me poderia voltar a dar alguma paz de espírito.
- Então, Dona
Anabela… Como é que está? – comecei logo por dizer assim que nos sentámos no
sofá da sua sala, pois não pensara em iniciar um dialogo que não fosse daquela
maneira
- Eu cá
estou, minha filha… Uns dias melhor, outros nem por isso… É como Deus quer! -
um sorriso abrasador e um olhar bondoso que eu sabia reconhecer nela, ameigaram
a sua figura maternal e permitiu que os nossos laços afectivos voltassem a ser
reconstruídos – Mas e tu? Eu quero saber de ti… Como é que tens andado, o que
tens feito?
- Eu tenho
andado cheia de trabalho, que felizmente não me tem faltado e vai dando para me
manter ocupada… - isso era sem dúvida a grande vantagem que eu tirava da minha
agenda preenchida, pois as horas lotadas que passava a fazer aquilo que mais
gostava, eram o suficiente para manter a minha cabeça livre de pensamentos
desalmados
- Hum, mas
isso é óptimo!
- É, é de
facto! E a propósito disso tenho voo pela hora do almoço para Madrid, vou estar
quinze diazinhos fora e por isso quis vir até aqui antes de ir…
- Fico um
pouquinho mais contente, sabendo que te vais distraindo aqui e ali, e pelo
sucesso profissional que estas a ter, mas como estás? Estás bem?
- Sim, estou…
Não trago o maior sorriso do mundo na cara, como gostava, mas sim, estou bem. –
aquela minha tristeza permanente não tinha um botão para desligar, como é
óbvio, mas sempre que a situação o pedia eu esforçava-me por compor o melhor
sorriso e disfarçar o meu lado mais atormentado… embora esse esforço nem sempre
resultasse
- Ora, eu
ando cá há mais tempo que tu, és quase como uma filha para mim e conheço-te
melhor do que aquilo que tu pensas… Sabes que não precisas de me esconder nada,
o Ruben não está aqui para nos ouvir…
O simples mas
doloroso facto de ela ter assestado à tona da conversa o nome do filho, o nome
do homem que eu amava, foi como se setas me tivessem sido lançadas aos joelhos e
eu perdera assim as forças de sustento das minhas pernas, e dei graças
silenciosamente por estar sentada naquele momento, porém a seta lançada ao meu
coração, essa, não tinha remédio possível capaz de me libertar daquela dor que
me causara.
Senti-me quebrar,
dispersar do verdadeiro motivo que me levara ali e conseguir pensar apenas na
ausência de Ruben e o quanto ela me consumia por dentro, me fragilizava e fazia
vacilar a cada passo findado da longa caminhada da minha vida.
- Está a ser
difícil seguir com a minha vida sem o Ruben, é verdade e não o nego, mas
infelizmente não há mais nada que eu possa fazer quanto a isso…
- Talvez
haja, baixar os braços e desistir é que não é a solução… - ela tentou acender
um rastilho de esperança para o reatar da relação, mas ao que parecia esta já
não tinha pólvora para arder
- Não fui eu
que desisti, Dona Anabela… Fiz o que podia e mesmo assim não foi o suficiente.
- Ouve,
Joana, eu não sei o que se passou para vocês chegarem ao fim do que em tão
pouco tempo tinha recomeçado… O Ruben pensa que o deixaste e… - temi que ela
começasse com um vale de injúrias em minha oposição, apesar de acreditar que
não seria capaz de o fazer, mas mesmo assim sobrepus as minhas palavras às suas
- Eu sei, eu
sei perfeitamente o que Ruben pensa e foi exactamente por isso que eu vim até
aqui falar com a senhora… Eu não queria que ficasse apenas com uma versão da
história e tirasse uma ideia errada de mim e do que aconteceu para eu ter
estado tantos dias sem dar quaisquer notícias, principalmente sem ter dito nada
ao Ruben…
- Eu não
preciso que me digas nada, que me dês justificações do que aconteceu, até
porque isso é um assunto que só a vós diz respeito, mas basta-me olhar para ti
para saber que não farias isso ao meu filho… Os teus olhos não te deixam mentir!
- Parece que
os meus olhos ao Ruben já não dizem nada… - indaguei num murmúrio desfalecido,
a sua mão delicada voltou a conhecer a pele do meu rosto, e pela primeira vez
senti os seus dedos despenderem sobre a minha face as lágrimas que
silenciosamente tomaram vantagem de mim
- Tu sabes como
ele é, minha filha… Ele teve medo de ficar sem ti outra vez, pensava que te
tinha perdido tal como há três anos… - antes que aquela conversa começasse a
tomar caminhos acidentados pela aquela sua última interjeição, que ela terá
feito com certeza sem a intenção de me ferir, procurei esclarecer de imediato
as actuais circunstâncias, que em nada se assemelhavam às ocorridas no passado
- Eu só o
deixei nessa altura porque fui forçada a fazê-lo e a Dona Anabela sabe isso!
Por vontade própria nunca o faria, e muito menos agora! – relembrei
sucintamente e deixei-me choramingar, contrapondo a exaltação que seria suposto
eu entrever pelo desalento que me magoava
- Porque é
que vocês não tentam de novo? Porque é que não conversam outra vez, agora que
os ânimos já estão mais calmos…
- Não, Dona
Anabela… Ele não está disposto a ouvir-me e sinceramente eu não estou disposta
a voltar a rebaixar-me para ele. Por muito que me custe dizê-lo, acho que agora já é um bocadinho tarde… para nós.
- No que toca
ao amor, nunca é tarde demais para lutar e ser-se feliz…
- O Ruben não
confia mais em mim, foi ele mesmo que mo disse, e quando não há confiança no
amor, então eu não sei de que serve lutar… - a minha voz tremeu de retaliação
por ter sido obrigada a proferir as palavras que o meu coração entristecia
sentir
- Custa-me
tanto ver-vos assim, ainda para mais sabendo que gostam um do outro, que se amam… Não mereciam estar a
passar por tudo isto, quando já tiveram que passar por tanto… Ficaram tanto
tempo longe um do outro para agora, depois de conseguirem colocar o passado de
parte, voltarem a seguir caminhos diferentes…
- Se o
passado nos fez seguir caminhos diferentes, talvez não devêssemos ter voltado a
juntá-los. – talvez aquele, no meio de toda a história, fosse o facto mais
verdadeiro que eu primeiro não quis ver mas que por si só se tinha tornado
bastante evidente
- Quem me dera ter as palavras certas para te dizer, meu amor, mas não tenho… - sob o seu
colo as suas mãos acolheram a minha como um sinal de lamento, guarnecido de um
ar pesaroso o qual o olhar de Dona Anabela ilustrou na perfeição
- Agora… Bem,
agora resta-me erguer a cabeça e seguir enfrente, esquecer tudo o que me faz
mal…
- Com isso
queres dizer que vais esquecer o Ruben? – a mãe dele olhou-me de um jeito e de
uma maneira que só ela sabia, como se me lê-se, como se visse o meu verdadeiro
interior e nele tudo o que de mais secreto guardava… podia adivinhar ela querer
ouvir de mim uma segura negação, contudo eu não poderia mentir a mim mesma
- Para seguir
com a minha vida não posso estar presa a ele, à memória dele, isso mais tarde
ou mais cedo acabaria por me deitar ainda mais abaixo, acabaria por me arrasar…
Tenho de pelo menos tentar esquecê-lo e recordar apenas que ele já foi o melhor
de mim.
- Tens a
certeza que é isso que queres fazer? – a minha resposta seria irremissível e
não tardou a chegar
- Não, não é
isto que quero fazer, mas tenho alternativa?
A pergunta
imposta por mim ficou interminavelmente suspensa entre nós, aguardando uma
réplica que até ao final daquele nosso encontrou nunca chegara a ser dada, por
muita pena não somente minha.
Por entre as
lágrimas que ainda me banhavam o rosto mergulhando-o em profunda apatia,
libertei um sorriso triste ao voltar olhá-la, o sorriso mais triste que tinha e encolhi
levemente os meus ombros… assoberbados pela dor de uma perda que não tinha
reparação possível.
***
- ¿Usted va a
querer algo? – ouvi a hospedeira de bordo perguntar, numa simpatia e
disponibilidade que por vezes chegavam a tocar os extremos da etiqueta que lhe
era exigida pela companhia
Não lhe
respondi no instante em que ela me dera oportunidade para falar e deixei que
fosse Pedro e o meu segurança Alexandre, a fazê-lo primeiro.
Permaneci
sossegada no meu canto a enxergar pela pequena janela do meu lado esquerdo, o
crepúsculo da noite que assentara há somente umas horas. Passara os últimos
cerca de dez dias em Madrid e agora, sobrevoando mais uma vez os céus,
preparava-me para conhecer as Terras
de sua Majestade e abraçar
pela primeira vez a incomparável e encantadora cidade de Londres, e queimar
assim a última fornada da semana de trabalho que me esperava.
Já estava
mais calma, ainda que pouco, o tempo ajudara-me não a curar as feridas – pois
tão cedo essas não iriam cicatrizar –, mas ajudaram-me porém a saber lidar com
a dor que estas me proporcionavam sempre que os meus dedos não receavam em
calcá-las, ao relembrar-me do que não devia. Como tal também já não chorava a
toda a hora quando me deixava ir abaixo e perdia a vontade de tudo, e foi por
muito apoio do Pedro e de todas as pessoas fantásticas que conheci nos dias
passados, que aprendi a reconstruir um sorriso lindo e confiante na cara e
encarar cada dia como se fosse o último.
- Joana, a
senhora está a perguntar se queres alguma coisa…? – a mão do meu melhor amigo e
agente tocou a minha perna ao chamar-me com insistência pela aquela que já era
a segunda vez, de maneira a recolher a minha atenção que naquele momento estava
em todo o lado menos ali – Joana!
- Hum? Ah…
Não… No, yo no quero nada, gracias. – acordei em fim daquele transe sinóptico e
interceptei a hospedeira loira de lábios pintados de um vermelho exagerado, e
mostrei-lhe um sorriso que forcei apenas pela minha educação
- Voy
entonces traer sus peticiones. – proferiu num tom agradável de voz,
dirigindo-se aos rapazes e com um sorriso cortês voltou a deixar-nos – Com su
licencia…
- E tu, oh
chocinha… Não dizes nada? – Pedro meteu-se comigo, num timbre e atitude
proeminente em me ver mais animada do que eu estava – Desde que entrámos no
avião que não abres a boca…
- O que
queres que eu diga? – perquiri com um sorriso que tinha tanto de recatado como
de desafiador
- Tu é que
sabes… Mas pensava que te iria ver mais entusiasmada, afinal sempre quiseste
conhecer Londres! – ele tinha razão, viajar até à capital do Reino Unido sempre
fora um dos objectivos que planeava concretizar e o que noutra altura me
deixaria radiante, agora pouco me importava
- Mas eu
estou entusiasmada…
- Hum, hum…
Vê-se! Por dentro estás a rebentar de alegria e só não te pões a saltar em cima
do banco de tanto entusiasmo, porque não seria esteticamente correcto fazê-lo! –
ele ironizou cada palavrinha e mesmo que tivesse lutado contra isso não
consegui deixar de soltar duas breves gargalhadas que eclodiram em meu peito
pelo seu jeito engraçado e espontâneo de ser
Recompus-me
no meu cantinho do banco e encostei a cabeça ao ombro de Pedro, fechando os
olhos em seguida para tentar descansar na escassa hora que restava antes de
voltar a pisar terra firme. Um arrepio aconchegante percorreu-me a espinha
expandindo-se por cada membro quando senti os seus lábios cuidadosos
despoletarem no topo da minha cabeça, a doçura e tranquilidade de um beijo, que
me permitiu relaxar no mesmo segundo sem mais hesitações.
- Tens de ser
forte e ultrapassar isso, pequena… - proferiu com a voz dissipada num sussurro
que apenas eu pude ouvir, e que foi soprado até ao interior do meu ainda
fragilizado coração
- Eu sei… -
ciciei no mesmo tom, sabendo perfeitamente ao que ele se referia e o motivo o
qual ainda mexia muito comigo, na verdade mais daquilo que devia e eu queria –
Mas é tão difícil…
Era difícil
de facto, depois de tudo ter de colocar uma pedra sobre o assunto e esquecer,
contudo vivera os meus últimos dias e iria continuar a viver demovida por uma
certeza eminente que eu mesma criara e a qual não iria quebrar: seguir com a minha vida em frente
sem olhar para trás…
Olá, meninas! :)
Aqui fica mais um capítulo da história!
Espero que gostem e deixem-me os vossos comentários, eles são um incentivo e uma motivação enorme para a continuação da escrita.
Beijinhos,
Joana :)
Aiiiiiiiiiiiiii tadinha da Joana :/ que grande camelo me saiu o Ruben lool
ResponderEliminarVá quero o próximo :P
Adoro!!!!
Bjs
Fantastico quero o proximo.bjs
ResponderEliminarOh my god... quero mais!!!
ResponderEliminarAdoro!!!
Beijo
Adriana
Eu juro que se apanhasse o Rúben dava-lhe um valente par de estalos, porque é mesmo o que ele tá a merecer. Quando ele quiser ouvir a verdade vai-se arrepender tanto de ter sido uma autêntica besta, porque não há outro nome para lhe chamar.
ResponderEliminarA Joaninha tá magoada, tá em cacos, e vai ser difícil juntar esses cacos todos, só uma pessoa a pode ajudar, mas essa pessoa não quer porque é casmurro e teimoso como um burro. Acho que já chega de ofender o rapaz, opah! mas ele merece, é mais forte do que eu.
Gostei da atitude da Joana em ter ido falar com a Bela, ela conhece o filho que tem, deu-lhe bons conselhos, mas não é fácil todos dizerem que acreditam nela depois de ouvirem as razões que a levaram a não viajar com ele, e a pessoa que ela mais queria que acreditasse nem a quer ouvir, dói, é claro que dói, mas a Joaninha é forte e o parvalhão (pronto já tou outra vez a ofender o rapaz) do Ruben ainda vai abrir os olhinhos, só espero que não seja tarde.
Eu quero muito o próximo, mas quero principalmente que eles se entendam , que tenham aqueles encontros imediatos a que tu já nos habituaste.
Continua
Beijocas
Fernanda
Fantástico...
ResponderEliminarQuero mais... Tou super curiosa para ver o próximo...
Continua... Cada vez tá melhor....
Bem... nem sei o que dizer.
ResponderEliminarIsto está a deixar-me crazy :p
O Ruben continua a ser parvo, precisa de um abre olhos é o que é!!
é que já irrita tanta casmurrice e teimosia, caramba.
A Joana, tadinha, ta a sofrer tanto :(
Resolve a vida destes dois... poe-os felizes :) :) vá lá!!
Beijinhos
Lisa