Com o rosto
dominado por uma palidez de desmaio, apaguei o cigarro sob o cinzeiro que
encontrei sobre a mesinha redonda do alpendre.
Vi o Ruben
caminhar até ao sopé trazendo a menina no seu colo e subiu o pequeno lanço de
escadas, aproximando-se vagarosamente sem perder em momento algum, contacto
visual comigo. Inesperadamente ele travou o seu percurso que o iria levar até
ao interior da casa e somente ficou ali, a ver-me, a enxergar-me, a olhar-lhe
com um desprezo altivo e uma mágoa que eu consiga tocar e que me ardia por
dentro, queimando-me os pulmões e deixando o meu coração em cinzas.
- Desculpa… -
pedi-lhe com os olhos contornados de lágrimas, num timbre de voz melindroso que
me falhara das cordas vocais
Despi-me
perante ele ao assumir que tinha falhado, mas nem assim ele ponderou mostrar-me
alguma piedade. Pensava que queria ouvir-me, que queria obsorver uma explicação
pelo tempo da minha ausência… mas estava enganada. Ruben não procurava ali
saber o que quer que fosse, muito menos saber de mim, e depois de me lançar um
último olhar que chegara quase a atingir a arrogância, fustigou-se pela porta
de entrada levando Sofia consigo a deixá-la olhar para trás e procurar-me,
naturalmente confusa com um momento que não compreendera.
Senti-me
diminuir, ficar pequenininha com o seu menosprezo como se entre nós não
houvesse mais nada a dizer. Procurei apoio ao sentar-me no degrau superior das
escadas, cheguei os joelhos ao peito e deixei-me chorar… Só conseguia chorar.
- Joana… - a
sempre meiga e carinhosa voz de Adriana surgiu nas minhas costas, talvez
tivesse vindo ter comigo pela chegada de Ruben e a minha conseguinte demora em
voltar a juntar-me ao grupo – Oh pequenina… - apercebendo-se do meu estado só
por ter dado conta do meu soluçar, ela veio sentar-se a meu lado e abraçou-me,
colocando a minha cabeça sobre o seu ombro
- Ai,
Adriana… - soltei num desabafar recatado, de quem carregava muita dor no peito
- O que é que
aconteceu? O que é que ele te disse?
- Nada… Não
me disse absolutamente nada e foi isso que me magoou… Receber aquele desprezo,
aquela indiferença do homem que eu amo e perdi! – proferi numa só rajada antes
que voltasse a soluçar pelo processo do ciclo ventilatório
- Tem calma,
vá… Respira!
- Acabou,
Adriana, acabou mesmo… - nunca pensara em puder vir a dizê-lo, mas aquela era a
verdade e por muito que me tivesse destroçado tê-la proferido em voz alta e com
todas as letrinhas, eu não podia fechar os olhos às sequelas deixadas e fingir
que os últimos dias não aconteceram
Após ela ter
vencido a minha resistência passiva em voltar ao jardim das traseiras, pois
para mim seria uma luta constante ter que enfrentá-lo durante as próximas
horas, seguimos as duas para o jantar, depois de me recompor minimamente a fim
de ninguém estranhar a minha súbita apatia.
Um pouco mais
das duas horas seguintes foram inteiramente dispensadas no jantar elogiado por
todos que Brenda preparou, mas que eu mal provei pela minha falta de apetite.
Apensar dos
nossos lugares se distanciarem confortavelmente não pude deixar de reparar no
esforço que Ruben fazia para evitar que os nossos olhares se encontrassem assim
como evitava também entrar nas conversas para as quais eu era chamada.
Apeteceu-me por muitas vezes levantar-me da mesa e ir para um canto do jardim
desvairar-me novamente em lágrimas mas não tinha outra alternativa se não a de
continuar a conter-me, tapar a boca e fechar os olhos do coração.
- O que tens
mami? – a pequena Sofia que tomara aconchego no meu colo depois da refeição,
apercebeu-se melhor que ninguém das feições desalentadas do meu rosto
- Nada, meu
amor, não tenho nada… – menti o melhor que pude, mas a sua perspicácia de
criança conseguia ser bem mais forte do que conversa de escapatória que nós
adultos usávamos para fugir às perguntas as quais não queriamos responder com
sinceridade
- Nada não,
alguma coisa deves ter para estares com esses olhinhos… - os seus deditos
tocaram as minhas faces e senti-os escaldarem sobre a minha pele
- Estou só um
bocadinho cansada, amor…
- Também
estás t’iste, num estás? Podes falar comigo, mami… Eu estou aqui pa tudo. – ela
esforçou-se por dar uma entoação séria ao seu discurso, tal como uma menina
crescida, e aqueles que ainda estavam reunidos à mesa e atentos à nossa
conversa, não se contiveram em breves gargalhadas enquanto que eu apenas lhe
sorri amavelmente por todo o seu carinho e compreensão que valorizei muito
- Larga de
meter o narizinho na vida da sua madrinha, moleca! – alertou-a a sua mãe, aviso
o qual Sofia não deu sequer importância e eu desvalorizei, dizendo a Brenda que
estava tudo bem com um simples e modesto sorriso que lhe dirigi
- Sabes o que
é que o papi me diz shempre que eu estou t’iste? – o simples facto de
mencioná-lo na conversa despertou a sua atenção e a partir daquele instante
Ruben ficou mais atento a nós
- Não,
pequenina… O que é que o padrinho te diz?
- Ele diz que
temos de tirar de nós os nossos maus sentimentos, enrolá-los numa bola gigante
e chutá-la com muita força até à lua… E então essa bola levará tudo aquilo que
te faz chorar e tu irás… Tu irás sentir-te melhor!
Acho que
aquele conselho, que sabiamente Ruben criara para a nossa pequena afilhada
conseguir compreender melhor e afastar as suas tristezas, foi motivo suficiente
para que os nossos olhares chocassem por segundos que a mim mais me pareceram
horas, contudo não chegara perto de ser tempo suficiente para que os nossos
corações falassem um com o outro e chegassem a um entendimento.
Se aquele era
realmente um bom conselho para crianças, porque não poder funcionar com os mais
crescidos? Será que se ele formasse uma bola com todas as suas mágoas e
ressentimentos por mim, e a chutasse para a lua, se iria sentir melhor? Iria
perceber que estava a ser injusto, perceber que minha ausência não passara de
uma tremenda adversidade e assim voltar para mim…
- Você ainda
não viu seus presentes, guria… Quer abri-los não? – dei graças a Deus por
Luisão ter falado e quebrar assim o gelo, pois começara a instalar-se um clima
um quanto pesado provocado por mim e por Ruben, levando a que todos se
começassem a aperceber da situação travada entre nós
- Quero,
papá… Quero! – ela ficou entusiasmada com a sua nova tarefa e isso pareceu distraí-la
para desligar a sua atenção da nossa conversa que acabara por não ser terminada
– Vou abri-los agora!
- Então podes
já começar pelo o meu! – disse-lhe convictamente, peguei na minha mala e dentro
dela procurei por um envelope que depois de achá-lo, entreguei nas mãos da
minha pequenina que continuava ainda no meu colo
- O que é
mami?
- Abre e vê…
- sorri, afastando-lhe a franjinha da frente dos olhos e vi bem a sua surpresa
ao desvendar o meu presente para si, que eu tinha a certeza que ela iria adorar
Dentro do
envelope trouxera três bilhetes para a entrada no paraíso de qualquer criança…
A Disneyland Resort Paris. Uma passagem para criança e as outras duas para
adultos, com estadia em hotel parisiense incluída para aquela que seria uma viagem
familiar de Verão.
- Como… Como
é que tu shabias que eu queria ir à Disney? – os seus olhos arregalaram-se para
mim e brilharam de alegria, mas a sua surpresa era evidente
- Digamos que
foi um passarinho que me disse… - respondi, piscando discretamente o olho a
Brenda que me tinha revelado nas nossas últimas conversas, o sonho de infância
que Sofia já havia partilhado com os pais
- Então e tu,
oh padrinho lindo… Não trouxeste nada para a tua afilhada? – Fábio meteu-se com
Ruben espicaçando-o, visto que ele permanecera meio aluado no momento da minha
oferta à menina
- Ah… Pois, a
prenda… - por algum motivo que à partida nos foi desconhecido, Ruben ficou
atrapalhado e sem saber ao certo o que dizer, pois reparei que tinha guardado
algo dentro do bolso traseiro dos seus calções-bermudas
- Upa, upa… O
que é que nós temos aqui? – mais uma vez foi Fábio a fazer das suas,
vangloriando-se com também um envelope que lhe sacara do bolso, e tal como eu
também ele tinha dado conta que Ruben o tivera entre as suas mãos e por alguma
razão voltou a guardá-lo
- Ei, puto,
tá quieto… Dá cá isso! – ordenou-lhe e todos nós estranhámos aquela sua reacção
- Mas o que é
que será que tu aqui escondes, ãh? – ele continuou a deter o envelope dobrado
nas suas mãos, e depois de ter conseguido escapar às tentativas que Ruben
fizera para lho tirar, Fábio abriu-o e mais tarde deu-nos a conhecer o seu
conteúdo – Oh Sofiazinha, a mim parece-me que tu és uma miúda cheia de sorte!
- Po’quê? –
ela perguntou na sua curiosidade habitual
- Porque
ganhaste não uma mas sim duas viagens à Disneylândia! – ele aproximou-se a nós
duas mostrando-nos os bilhetes – Parece que mesmo sem querer, os teus padrinhos
deram certinho com a mesma prenda… Sintonia não lhes faltou!
- Fábio… - rosnou
Ruben, certamente e ao contrário dos nossos amigos que assistiam a tudo aquilo
levemente divertidos, ele não estava a achar piada àquelas provocações
- Não
precisas de ficar envergonhado, mano… - ele não perdeu uma oportunidade para se
meter de novo com Ruben, que então ficara visivelmente acanhado com nossa
“sintonia” – Vocês são os padrinhos, sabem das coisas que a miúda gosta, não há
mal nenhum em terem tido pontaria para o mesmo presente… A Sofia é que fica a
ganhar no meio disto tudo! É ou não é, pequenita?
Ela apenas
reagiu com um sorriso rasgado de felicidade extrema e batendo ritmadamente as
palminhas, como se lhe tivesse saído a sorte grande… E saiu, de facto.
- Mamã, papá…
Podemos ir lá as duas vezes? Podemos, podemos?
- Os bilhetes
têm datas diferentes… - referenciou Fábio, comparando os meus bilhetes com os
de Ruben
- Não sei,
meu anjo… Isso vai depender do nosso trabalho, podemos não conseguir
disponibilidade pra esses dias todos… - disse Brenda, acentuando a pesada carga
horária tanto do seu emprego como do de Luisão
- Se os teus
papás só puderem fazer uma viagem, eu sei bem quem podia ir contigo na outra…
- Tu, queres
ver… - insinuou Ruben rapidamente
- Não, oh
ciumento… Eu estava mais a pensar em ti e na Joana!
- Sim, Fábio,
claro… - ele riu-se e depois ironizou, e de certa forma aquela sua atitude
magoou-me
- Não,
pad’inho, ele tem razão… Uma vez vou com os meus papás e na outra vou com
vocês! – a menina saltou do meu colo para ir para o de Ruben
- Eu não vejo
porque não… Se vocês quiserem ir com ela, por nós tudo bem, né meu amô? -
consentiu o Luisão, tendo sido apoiado por Brenda
- Claro, ué!
Afinal a oferta foi vossa, acho mais que merecido tirarem uns dias pra vocês e
irem também!
Nem eu nem
Ruben dissemos o que fosse para confirmar ou desmentir a nossa ida, na verdade
nem foi preciso, pois mesmo sem nos dar-mos a esse trabalho eles próprios
fizeram o favor de traçar planos para nós, como se não tivéssemos se quer poder
de escolha ou decisão naquele assunto.
- Então e o
resto das prendas, Sofiazinha? Não me digas que só por teres recebido a melhor
delas todas já não queres saber das nossas… - Adriana interveio, num jeito
inofenciso e brincalhão
- O resto das
p’endas levei-as pró meu quarto… Eu vou lá buscá-las!
- Deixa-te
estar, princesa, a madrinha vai lá. – encontrei naquela situação uma
oportunidade perfeita para me afastar um pouco daquele ambiente e respirar um
novo ar… um ar só meu
Parei
primeiro no alpendre coisa de cinco minutinhos para fumar outro cigarro… Não
que quisesse propriamente fazê-lo mas a tensão e ansiedade que acumulei durante
todo o jantar, não me deixaram outra margem de refúgio se não a de me vingar
naquele acto puramente consumista.
Depois
alcancei o interior da casa e com um andar notavelmente mais calmo e subtil,
subi até ao piso superior onde sabia se situarem os quartos, entre eles o de
Sofia.
Caminhei
entre o corredor e foi ao atravessá-lo quase por completo que comecei a sentir
o soalho de madeira que revestia o chão, flutuar debaixo dos meus pés… Alguém
caminhava atrás de mim usando-se de passadas pesadas de alguém frustrado, diria
mesmo, que queimavam distância e se aproximavam de mim mas não me atrevi a
olhar, pois quem me seguia fizera questão que eu soubesse da sua identidade nos
segundos seguintes.
- Mas o que
é… O que é que estás a fazer? Larga-me! – ele apareceu repentinamente do meu
lado direito, e aplicando uma força que classificaria mesmo como sendo bruta,
agarrou-me no braço e continuando a andar, arrastou-me consigo – Solta-me,
estás a magoar-me!
- Primeiro
vamos ter uma conversinha… Só nós os dois! – falou friamente sem me olhar e só
me voltou a soltar quando entrámos ao acaso pela porta de um quarto,
fechando-me lá consigo
***
(Ruben)
Vi-a sair disparada
mal tivera oportunidade para fazê-lo, e não muito na intenção de efectivamente
fazer um favor e ir buscar as prendas da Sofia, mas sim porque queria fugir,
queria fugir daquele lugar e de mim porque era uma cobarde e não conseguia
permanecer imparcial a um confronto quando os problemas pendiam para o seu
lado.
- E então,
vamos a mais um cartada? Aviso já que quero a desforra! – ouvi o Fábio lançar
um desafio geral, dirigindo-se mais propriamente a Luisão
- Se for pra
fazer você perder de novo… Aí eu topo! – Luisão gozou na cara dele, dando um
toque de cotovelo no braço de Javi, o seu parceiro de jogo
- Não não,
perder não… Eu vou dispensar aqui o caracoleta e deixar isto pra quem sabe! –
ele desemaranhou os caracóis do topo da cabeça do David o que originou uma
pequena guerra de socos inofensivos e empurrões entre os dois, mas acabaram por
se controlar – Ruben, tu jogas comigo, mano! Vamos dar um bailinho a estes
gajos! – ele lançou-me a proposta e eu apenas lhe acenei, nem dizendo que sim
nem que não
- Não acha
que já é hora? – David falou-me num tom baixo e moderado quando voltou a tomar
o seu lugar e se sentou ao meu lado
- Hora de
quê? – inquiri simplesmente e dei um gole da minha cerveja
- Não se faça
de desentendido, pô! Ficarem nesse impasse não tem jeito nenhum! Você devia ir
falar com ela… Resolver esse lance!
- Não há nada
para resolver, David! A Joana deixou bem clara a nossa situação quando resolveu
deixar-me pela segunda vez, portanto…
- Sabe que
por vezes nem tudo o que parece ser, o é realmente… Acho que devia pensar
nisso!
Aquela
conversa do David, que ainda por cima tinha como base a defesa da Joana, estava
a tirar-me do sério… Como se ele não soubesse o que eu tinha passado nos
últimos dias, como se ele não soubesse o quanto tinha sido difícil para mim
acalmar aquela dor, e agora estava ali… A fazer-me reconsiderar a minha
dignidade e atestá-la com um confronto, cara a cara, olhos nos olhos, com a
mulher que contra a minha vontade ainda amava tanto e a mesma que me deixara
uma vez mais na corda bamba daquele amor.
- Queres que
eu vá falar com ela, não é? Eu vou, eu vou. Mas então digo-te que não vai ser
uma conversa nada agradável… Ela pode não vir a gostar daquilo que tenho para
lhe dizer! – disse-lhe, completando os meus lábios com um sorriso de tirania
- Toma
atenção ao que diz e ao que faz, não se atreva a magoar ela, manz… Tô só
avisando! – ele agarrou-me o braço logo me levantei, mas depressa o fiz soltar-me
quando o olhei e sacudi a sua mão, para então seguir as pisadas da Joana
- Ei, Ruben!
– a clamação de Fábio fez-me olhar para trás quando já tinha percorrido metade
do jardim – Então? Onde vais? Pensava que íamos jogar…
- Eu vou… Eu
volto já! – dei uma resposta muito rápida e desapareci da vista de todos ao entrar
em casa
O cheiro
quase manipulador do seu perfume aos meus sentidos, que pairava no ar junto à
escadaria, deu-me a indicação necessária de onde a poderia encontrar. Subi os
degraus em três ou quatro lances saltando alguns escalões e encontrei-a, ainda
a percorrer o corredor superior… Não reponderei o motivo pelo qual estava ali,
por um só segundo, e frustradamente precipitei-me até ela, agarrei-a com força
pelo braço e só a soltei quando fechei a porta do quarto para onde a tinha
levado, pronto a exigir dela respostas a dúvidas que ficaram por esclarecer.
Não iria ser
fácil, não iria ser nada fácil ter aquele confronto pois cada vez que a olhava
só tinha vontade de a beijar e nunca mais deixá-la ficar longe de mim, mas
esses eram impulsos que eu tinha de esconder e sobretudo controlar…
- Deixa-me
passar, Ruben… Eu quero sair.
- Não, nem
penses… Tu não vais a lado nenhum! – recusei sem pensar duas vezes o pedido que
me fizera calmamente, colocando-me entre ela e a porta, que não a deixaria
atravessar se fosse para fugir de novo
- O que é que
pretendes com isto? O que é que queres?
- O que é que
eu quero?! Só podes estar a brincar… Parece-me óbvio, não?
- Não, a mim
não me parece que seja óbvio! Porque com esse teu comportamento de alguém completamente
frustrado, com esse tom de voz e a maneira como olhas para mim agora e como
olhaste durante todo o jantar, eu não sei o que queres… Se ouvir-me ou
julgar-me… - não me admirava a capacidade que ela tinha em desvendar-me, porque
a verdade é que conseguia conhecer-me melhor do que eu próprio me conhecia a
mim
- Eu só quero
que me digas porquê! Porque é que me mentiste, porque é que me deixaste! –
exigi num sopro forte que me abandonou os pulmões, e que com ele levou toda a
calma e bom senso que eu iria precisar
- Eu não te
deixei… - ela ia continuar a farsa mas eu impus-me às suas explicações
engendradas
- Gostas de
me ver sofrer, de me ver cair e bater bem no fundo, é isso não é? Só pode ser
isso, não encontro outra explicação para me teres deixado outra vez e me teres
tratado como se eu fosse um qualquer…
- Já disse
que não te deixei, Ruben! Eu não te deixei! – vociferou bem alto para que eu
pudesse ouvir claramente, mas eu não queria ouvir… não queria ouvir – Perdi o
nosso voo e na mesma altura o Pedro apareceu lá para ir buscar-me… Estive estes
dias em Punta Cana a gravar uma
publicidade televisiva, uma proposta de última hora que me caiu em cima e não
pude recusar! Eu tinha um contrato assinado, Ruben… Foi por isso que não vim
mais cedo!
- E estás à
espera que eu acredite em ti? Depois de tudo esperas mesmo que eu acredite
naquilo que dizes?
- Não
acreditas? – perguntou, olhando-me com uma esperança sem fim
- O que é que
tu achas? – perquiri prontamente e caminhei para o seu lado oposto – Estás uma
semana sem dizeres nada, eu super preocupado contigo por não saber nada de ti e
agora apareces com uma desculpa do tamanho do mundo, à espera que eu caia
nela?! Por favor, Joana, não sou assim tão parvo!
- Pelos
vistos és! Caso contrário não duvidavas de mim… A minha palavra chegava-te!
- Pois
chegava, mas a tua palavra deixou de ter relevância para mim a partir do
momento em que decidiste estragar tudo quando me abandonaste! – falei com uma
raiva enorme, que não consegui controlar – Portanto, quanto à pergunta que
fizeste se eu acreditava ou não em ti… A resposta é claramente um não.
- Mas eu
estou a dizer-te a verdade, caramba! Será assim tão difícil conseguires
compreender isso?!
- Acho,
sinceramente acho muito difícil, ora pensa comigo: Primeiro, não sei se te
lembras, tivemos aquela pequena discussão quando eu te pedi que fugíssemos
juntos e uns dias depois, naquele agendado para o nosso regresso, tu perdes o
avião e ficas uma semana sem dizeres absolutamente nada! – enumerei cronologicamente
sem medo de a ferir ou susceptibilizar, estava apenas a constatar factos
- Eu já te
expliquei porquê! O que é que queres que eu te diga mais para que acredites em
mim? Diz-me, por favor, porque eu já não sei! – os seus olhos mudaram de cor e
encheram-se de lágrimas, que mais cedo ou mais tarde iriam ceder nos trilhos do
seu rosto
- Nada, não
precisas de me dizer mais nada! Mesmo que eu faça um esforço, mesmo que eu
tente, a mágoa que me fazes sentir é demasiado grande para que consiga
acreditar em ti…
- Mas foram
coincidências, Ruben… Eu perdi o telemóvel uns dias antes do voo e não tinha
como te contactar, perdi o avião por um contratempo… Foram meras coincidências
que causaram isto tudo!
- Depois de
tudo isto, dizes que foram coincidências? Coincidências, Joana?! – o meu timbre
elevou-se superficialmente sob a catapulta daquela discussão que se adivinhava
longa, e creio que tivesse sido esse meu sobressalto que levara o seu corpo a
tremer – Pois eu digo-te que não foram as coincidências que causaram isto, foi
a tua cobardia, e é por causa dessa cobardia que nunca chegámos nem nunca
iremos chegar a lado nenhum! Para mim não existem maiores clarividências que
estas de que fugiste de nós, com a mesma cobardia de há três anos!
- Eu não
acredito que estás a dizer uma coisa dessas… - a sua voz perdeu brutalmente
intensidade e as lágrimas não tardaram em escorrer-lhe pelos olhos
- Digo-te
mais, até! Se eu não estivesse aqui agora, nós provavelmente nem estaríamos a
ter esta conversa porque muito provavelmente tu nem te irias dar ao trabalho em
me procurar!
- Como podes
dizer isso? Eu procurei-te sim, aliás, foi a primeira coisa que fiz quando
cheguei a Lisboa! – afirmou com uma certeza inquebrável na voz, mas mais uma
vez não eu não lhe quis dar ouvidos
- O quê? – um
riso desconfortável de ironia apoderou-se de todas as minhas feições – Como é
que tu ainda tens o discernimento de mentir dessa maneira? Está claro que não
me procuraste, caso contrário não era a ter esta discussão que estaríamos a
fazer agora…
- Então
aparece que agora está tudo mais claro… - ela viu a minha cara de constatação e
foi por isso que continuou – Ai tu não sabes? O Mauro não te contou?
- O Mauro? O
que é que o meu irmão tem a ver com isto?
- Pelos
vistos tem tudo… - enxugou friamente as lágrimas mas nem por isso aquela
situação a deixava de magoar… a cada minuto um pouco mais – O teu mano não te
contou que eu fui ao Algarve no fim-de-semana passado para falar contigo? Não
te contou que eu e ele estivemos juntos lá? E também não te contou que ele me
pediu, expressamente, para te deixar seguir com a tua vida, sem mim, e nunca
mais te procurar? Com que então ele não contou nada disso… (!)
- Isso… Isso
não é verdade! – virei-lhe as costas e recusei-me a confiar em cada palavra,
por muito que preferisse não fazê-lo
- Não é
verdade? Tens a certeza? – senti-a caminhar amedrontadamente até a mim, e sabia
que o facto de tê-la novamente tão perto, a respirar exactamente o mesmo ar que
eu, iria fazer-me vacilar, mas eu não podia deixar isso acontecer, não podia.
- Se fosse
verdade ele ter-me-ia contado, ele sabe o quanto és… O quanto eras importante
para mim, sabe que eras a minha maior prioridade! O Mauro nunca me iria
esconder uma coisa dessas!
- Pelos
vistos escondeu, Ruben… Mas ouve, por mim tudo bem se preferires cair no erro
de achares que eu te estou a mentir, mais uma vez, e acreditares no silêncio do
Mauro… Afinal ele é teu irmão, e eu não passo de uma mentirosa cobarde que te
abandonou pela segunda vez! – a imponência de sarcasmo que ela utilizou para
arguir as minhas acusações, apertou-me o peito de uma maneira tão angustiante
que eu nunca teria sido capaz de imaginar… até àquele momento
- Seja como
for, eu não acredito que o meu irmão tenha sido capaz de me omitir esse
episódio, mas vou fingir que sim, por dois minutos vou fingir que sim e
pergunto-te: O que é que mudou? – finalmente voltei-me para ela, e o meu
coração ficou apertado no seu canto, ao constatar o seu silêncio súbito e ver
que novas lágrimas tinham então tomado novamente conta do seu rosto de anjo, do
anjo que eu gostava de chamar de meu… – Exactamente… Não mudou nada! Vais
dizer-me o quê? Que o Mauro te apontou uma arma à cabeça e preferiste fazer o
que ele te disse do que ires ter comigo para resolvermos tudo e ficarmos bem?
Poupa-me, Joana!
- Não, não
foi o Mauro que me fez mudar de ideias, não foi ele que me fez desistir de ir
falar contigo…
- Não foi?
Foi quem, então?
- Foi a Inês!
– respondeu rapidamente, fazendo-me congelar
- A Inês?!
Porquê a Inês?
- Eu vi-vos
na discoteca… Cheios de cumplicidade, de sorrisos, olhares…
- Ei, podes
parar por aí… Que raio de insinuação é essa? – depressa me enchi de raiva e
impaciência, não me agradava aquela evolução de raciocínios, tal como não me
agradava o rumo que aquela nossa disputa estava a levar
- Não é
insinuação nenhuma… Estou apenas a dizer o que vi!
- Pois a mim
parece-me que viste mal! – argumentei a meu favor, se o que ela dizia ter visto
era realmente verdade, então naquela noite eu não deveria estar no meu perfeito
estado de sanidade, pelos copos que já devia ter bebido a mais – Se tu, mesmo
depois do que vivemos em São Francisco , e mesmo
depois de tudo o que vivemos antes, pensaste que eu e a Inês… Então tu não me
conheces mesmo!
- O que é que
queres que eu te diga? No momento eu não sabia o que havia de pensar… O Mauro
disse-me aquelas coisas e depois vi-vos lá juntos. O que é que querias que eu
fizesse?
- QUERIA QUE
FICASSES COMIGO! – gritei num sopro de desesperança bem na frente dela, um
rugido tão forte que pôde dissipar-se por todo o andar superior da casa –
Queria que me amasses até ao fim das nossas vidas, queria que cumprisses todas
as promessas que fizemos um ao outro, queria tudo aquilo que hoje já não posso
ter!
- Mas tu
podes ter… Tu podes ter-me, simplesmente não me queres mais. – ela estava tão
indefesa, tão frágil, e eu já não me sentia capaz o suficiente para protegê-la
Ficámos a
olhar um para o outro à espera que alguém tomasse uma nova reacção… Eu tremia,
todo o meu ser pendia para ela, para a mulher da minha vida, para a mulher que
eu queria que fosse a mãe dos meus filhos, e aquela tentação era irresistível…
Mas de novo aquela sensação de abandono passou por mim e regelou-me o
sentimento.
- Penso que
agora já seja tarde demais… – disse-lhe num tom incrivelmente moderado, e os
meus olhos raiaram-se de um vermelho que me fazia querer chorar muito, mas
graças ao meu orgulho não o fiz
A Joana
olhou-me, desta vez com uma mágoa, uma desilusão que eu não soube
desmistificar. Afastou-se de mim e aproximou-se da porta, tomando a maçaneta na
sua mão para se ir embora e deixar-me ali, envolto nos meus fantasmas.
- Isso mesmo,
foge! Sempre fugiste e passarás o resto da tua vida a fugir!
- Não dá mesmo
para conversar contigo! – ela mirou-me de relance uma última vez e depois saiu,
deixando para trás somente o estrondo da porta a bater
Os remorsos
não tardaram em soquear-me o estômago, gritarem aos meus ouvidos, e por isso, e
só por isso fui atrás dela… Ainda havia muita coisa para ser dita e não podia
deixar que virasse costas e se fosse embora daquela maneira, apesar de ter
consciência de eu próprio ter contribuído para isso.
- Joana!
Joana, espera… Volta aqui! Joana! – chamei-a enquanto atravessava todo o
corredor num passo apressado, mas ela ia a correr e conseguia ouvi-la chorar…
ao assomar-me ao cimo da escadaria vi-a atravessar a porta para o exterior o
mais depressa que conseguiu, não me dando mais tempo para o que quer que fosse
– Merda! – pontapeei com força o gradeamento das escadas, levei as minhas mãos
à cabeça e agitei-as freneticamente no cabelo, começava a desesperar e não
sabia mais o que fazer
***
(Joana)
O Ruben
magoara-me de todas as maneiras possíveis, atirando o meu coração para o meio
da rua e enxovalhando-me sem um pingo de compaixão. Não quis continuar ali com
ele e vim-me embora, bati a porta com força e desci as escadas tão depressa que
ainda não sei como não caí. Ainda o senti vir atrás de mim e implorar-me que
não partisse, mas parti… Antes de voltar ao jardim enxuguei o rescaldo de
lágrimas que me esfriava a pele e recompus-me o melhor que pude para ir
despedir-me de todos.
- Amor,
então? – Adriana veio ter comigo mal me viu, notando o meu ar devastado, que no
entanto eu tentava esconder
- Vou-me
embora, Adriana, a minha noite já chegou ao fim…
- O que é que
aconteceu? – ela lançou-me um olhar preocupado de alto a baixo, mas eu não
estava disposta a falar… não ali e não naquele momento
- Depois
falamos, está bem? Não consigo ficar aqui mais um minuto! – mostrei-lhe um
sorriso pequenino e dei-lhe um beijo na bochecha carregado de carinho e
gratidão
- Falamos
mesmo! – ouvi-a dizer já quando me dirigia à mesa onde todos confraternizavam
animadamente entre conversas paralelas
- Brenda, Lu,
vou indo… Obrigada pelo serão, estava tudo óptimo!
- Oh já? Fica
mais um pouquinho, ainda é cedo… - ele expressou bem a sua vontade em eu ficar,
ao contrário da minha que era muito pouca… quase nenhuma na verdade
- Fica, meu
anjo… A gente ainda nem partiu o bolo do niver! – referiu Brenda tristemente
pela minha retirada antecipada, apoiando o pedido do marido
- Eu gostava
muito mas tenho mesmo de ir… Desculpem! – lamentei, sem me alongar em
explicações – Por favor diz à Sofia que eu não pude mesmo ficar para lhe cantar
os parabéns e dá-me um beijinho meu muito grande!
- Claro, meu
anjo, pode ficar sossegada que eu dou pra ela! – fiquei um pouquinho mais leve
pelo amparo dela por não ter oportunidade de me despedir da minha afilhada,
visto que não estava junto a nós e ao percorrer a mesa num relance os meus
olhos estacaram nos de David, que me olhava expectante por provavelmente saber
com quem estive e somente lhe mostrei um sorriso triste e um pequeno encolher
de ombros que foi o suficiente para ele compreender – Boa noite a todos!
Despedi-me de
um modo geral que foi correspondido por todos os meus amigos, peguei na minha
mala e assim que virei costas aquela vontade enorme de chorar regressou.
Cortei
novamente caminho pelo interior da casa para alcançar o alpendre de entrada mas
arrependi-me no mesmo instante em que o pisei… Encontrei Ruben encostado ao
pilar da vedação, provavelmente à minha espera mas decidi por bem ignorá-lo…
Não iria suportar outra discussão.
Enchi os meus
pulmões de ar esperando receber algum alento e precipitei-me ao pequeno lanço
de escadas que acabou por me levar à calçada que percorri no centro do jardim.
Mas enganei-me redondamente se em algum segundo pensei que tinha superado
aquela prova de fogo.
- Isso, vai!
Vira as costas a tudo e a todos… Vai, foge! É o melhor que sabes fazer, não é?
Fugir… - de novo as suas recriminações atacaram-me já quando me aproximava do
portão, e não foi minha vontade ficar-lhes indiferente
- Realmente
tens razão no me disseste há pouco… Eu não te conheço mesmo! – falei-lhe com
algum rancor e voltei-me de frente para ele, vendo-o descer vagarosamente os
três de degraus para a calçada – Como é que és capaz de me tratar dessa
maneira?
- Costuma-se
dizer que as pessoas só têm aquilo que merecem…
-
Sinceramente, Ruben! Eu… Eu odeio-te!
Tomei manobra
do puxador maciço do portão e a lacrimejar saí em direcção ao passeio onde
junto ao qual tinha estacionado o meu jeep.
Pensei que
tinha então chegado o fim, do tudo ou do nada, o fim de um conflito de valores,
de uma disputa de palavras amargas entre nós, pensei que tivesse chegado o
nosso fim! Mas confesso que nunca pensei no momento que se seguiu…
- O que é que
disseste? – ele viera atrás de mim e detivera-se na entrada à beira do portão,
interrompendo-me a caminhada no passeio penodal para enxergá-lo mais uma vez –
Repete, Joana! O que é que tu disseste!? – ordenou com uma pose altamente
sisuda e autoritária
- Disse que
te odiava… - é óbvio e eu tinha plena noção disso, que estava a falar da boca
para fora, que não sentia nada daquilo, muito pelo contrário até, mas tinha a
cabeça quente, a ferver… não me dei conta da medida das palavras – Já ouviste
bem agora, Ruben? Eu odeio-te! – posto isto voltei a seguir o meu rumo e com um
premir de botão das chaves, destranquei o carro… só queria sair dali
Foi então ao
olhar acima do ombro que o vi caminhar furiosamente até mim, movido por uma
exaltação penetrante que me roubou o ar. Pegou em mim fazendo-me praticamente tirar
os pés do chão e jogou-me violentamente contra o meu carro, esborrachando-me
entre a porta de condutor e o seu corpo.
Ele era
vitimado de uma respiração brusca e nervosa, ao contrário da minha que
permanecia suspensa, enquanto o meu coração padecia estacado pela surpresa e
emoção sem forças para se desafogar.
- Tu não me
odeias, ouviste bem? Não voltes a dizer isso quando eu sei muito bem aquilo que
ainda te une a mim! – proferiu como se fosse o dono da razão, apoiando a sua
certeza ao comprimir ainda mais o seu corpo contra o meu, obrigando-me a conter
o fôlego
Comecei aos
poucos a perder a força nas pernas e só me mantive em pé porque permanecia
completamente colada a Ruben. Ficámos então perdidos num silêncio que não nos
incomodou nem um pouco, enquanto eu tentava inutilmente não me afogar nos olhos
dele, que me fixavam num jeito quase asfixiante como duas imensas luas novas. E
de repente parece que tudo mudou, embora que apenas por alguns momentos…
Pareceu-me vê-lo desfazer-se da armadura que o ajudava a lutar contra nós e o
seu comportamento sofreu uma trágica mudança, ele mudou para regressar ao Ruben
que sempre conheci, e numa nova atitude sua voltei a encontrar a razão porque
continuava tão apaixonada por ele.
- Em que é
que estás a pensar? – ele falou muito baixinho, permitindo que a pontinha do
seu nariz rosasse levemente na minha
- Estou a
pensar no quão bom e oportuno seria, se me pedisses para fugir contigo agora… -
respondi num murmúrio tremelicado de ingenuidade e paixão
Ele não disse
absolutamente nada, porque a verdade é que nem era preciso. A sua mão acariciou
levemente a minha face e seu nariz passeou pelo meu pescoço, momento em que
consegui sentir o seu bafejar inquietado arrepiar a minha pele,
desconcertando-me profundamente. Depois voltou a olhar-me nos olhos como se
partilhássemos o mesmo pensamento do que iríamos fazer a seguir… E exactamente
no mesmo instante, no mesmo segundo, os nossos lábios precipitaram-se ao centro
e procuraram o toque um do outro, há muito esperado, há muito ansiado. As suas
mãos seguraram o meu rosto, para garantir que eu não fugiria dos seus braços e
tudo culminou no envolvimento em segredo das nossas línguas, que mataram as
saudades que foram preenchendo o vazio dos últimos dias, e oh, que saudades…
Foi tão bom!
Tudo naquele
beijo era Ruben… Uma inigualável frustração que o fazia afundar os dedos na
minha cintura, apertando-a com força; uma insegurança e um temor que
proporcionaram às nossas línguas um dançado violento e docemente delirante que
nos envolveu numa entrega tão profunda como há muito não me lembrava.
Mas de
repente tudo aquilo conheceu o seu desfecho… O seu corpo deixou de fazer
pressão contra o meu, as suas mãos fugiram debaixo da minha blusa, e a sua
língua desenlaçou-se da minha assim como as nossas bocas que se afastaram
apenas por vontade dele. Tentei voltar a beijá-lo mas o seu rosto recuou e o
seu indicador selou os meus lábios.
- Eu não
consigo… Desculpa mas eu não consigo… - foram estas as suas palavras que
ditaram o começo do fim
Olhei-o
confusa, com o coração a bater a mil e uma incerteza sufocante que não me
deixava pensar direito e encontrar uma explicação àquele seu comportamento que
eu estava longe, muito longe de imaginar.
- Estes
últimos dias não me saem da cabeça, e não consigo parar de pensar no que me
voltaste a fazer… Por mais que me esforce eu não consigo voltar a confiar em
ti, Joana… E não sei se algum dia conseguirei verdadeiramente.
Um, dois,
três socos lançados ao meu abdómen e um revirar do estômago que encontrou o seu
avesso. Acho que aquela foi a pior sensação do mundo, a sensação do meu coração
a quebrar-se em milhões de pedacinhos irreparáveis.
Quis gritar
com ele, quis perguntar-lhe porquê, quis implorar-lhe que não fizesse aquilo,
mas o fim foi uma situação incontornável e eu não fiz nada mais do que manter o
meu silêncio e esperar para ver o que aconteceria a seguir.
Esse momento,
porém contra a minha vontade, não tardou em chegar… Vi-o pressionar o puxador e
abrir a porta do meu carro, esperando que eu entrasse.
- Acho que o
melhor é ires embora… - pediu-me segurando a porta, sem ter sequer a coragem de
me olhar dentro dos olhos
- É o melhor?
É o melhor para quem, Ruben? – perguntei num fio de voz, aguardando por uma
nova atitude dele, uma atitude que apagasse as suas últimas palavras e
reescrevesse a última parte do novo capítulo da nossa história, mas não recebi
mais nada da sua parte senão insensibilidade e o fel de desistência
- É o melhor…
para todos. – ciciou por fim ao embate dos nossos olhares
Não insisti,
não resisti mais. Estava cansada de lutar contra o imbatível. Recusei-me a
novas palavras que levariam a novas conversas, conversas que não nos levariam a
lado nenhum e passei à sua frente, tomei o lugar privilegiado do meu carro e fechei
a porta rapidamente logo que entrei, evitando que fosse ele a fazê-lo por mim.
Ainda tivemos tempo de nos olharmos, vacilantes, pelo vidro, contudo nada mais
foi acrescentado… Estávamos ambos magoados, ambos a sofrer, mas quando tínhamos
tudo, foi ele próprio quem não quis por fim àquela dor e por isso mesmo eu já
não fazia mais nada ali.
Antes que
rebentasse num choro liguei o carro e fazendo um esforço enorme para não voltar
a olhá-lo – pois sabia que da próxima vez que o fizesse, os meus olhos iriam
tomar outra atitude –, saí do estacionamento e arranquei a uma velocidade
superior da que eu estava habituada.
Agora estando
no meu perímetro de segurança não pude evitar e lancei uma mirada ao
retrovisor, onde acabei por conseguir enxergá-lo… lá ao fundo, imobilizado no
meio da estrada a ver-me partir. Tal como já previra as lágrimas subiram até
aos meus olhos e enturvaram-nos por completo… Não sabia para onde estava a ir,
que rumo tinha tomado, e sem uma visão clara sobre a estrada anoitecida, tornava-se
cada vez mais difícil e perigoso conduzir. Tentei não deixar fugir o volante
das minhas mãos, tentei não perder o controlo, mas a vontade de chorar era cada
vez maior e estava a levar a melhor de mim. Era noite cerrada e podia dizer que
jornadeava praticamente sozinha, sem companheiros de estrada, mas nem sempre
foi assim… Ia de tal maneira perdida em pensamentos que devia ter deixado com a
pessoa que ficara para trás, tão imersa no ex-líbris da minha própria dor, que
nem dera conta de ter quebrado a lei e interposto a via contrária… As luzes
fortes de um outro carro que seguia na minha direcção quase me cegaram e só no
segundo em que ouvi a soada da buzina que caí em mim, fiz uma manobra repentina
com o volante e um desvio rápido que me obrigou a parar o carro numa valeta à
berma da estrada.
- Onde é que
tens a cabeça? Só fazes asneira! Só fazes asneira! – repreendi a mim mesma,
batendo frustradamente com as palmas das mãos no volante… não ganhara para o
susto
Tinha o
coração mais acelerado do que nunca, as lágrimas voltaram percorrer a pique o
meu rosto mas desta vez sem retorno nem vista a um cessar.
Solucei
torpidamente como uma criança ao recordar o recente momento que travara com
Ruben e acho que nunca desejara tanto desaparecer da face da terra como até
então. Sentia-me arrasada, humilhada e nada que estivesse para vir conseguiria
apagar aquela angústia e sofrimento de que estava a ser vitimada.
- Acabou…
acabou… - repeti num silvar derradeiro de um amor que me dera a vontade de
viver e que agora, desfeito, voltara a tirá-la de mim… chorei muito ali sozinha
até não ter mais forças para continuar a fazê-lo, embebida numa esperança sem
fim que aos poucos me abandonava
Olá,
meninas! :)
Aqui vos
deixo um novo capítulo da história!
Espero que
gostem e deixem-me os vossos comentários, eles são um incentivo e uma motivação
enorme para a continuação da escrita.
Beijinhos,
Joana :)
Adorei.Tadinha da joana o ruben foi mesmo mauzinho.Quero o proximo.bjs
ResponderEliminarÉs ruim... fazes as leitoras sofrerem lool isto lá é forma de terminar um capítulo, pior ainda fazes a Joana sofrer lol olha que o Ruben também é cá um parvo que vou-te contar loool
ResponderEliminarAgora já sabes... preciso do próximo :P
Beijcoas
Que mau que o Ruben foi. Tá magoado, ok, mas acho que quer continuar a pensar que ela o deixou inves de te-la compreendido. :/ Quer dizer, o bruto (gosto mto dele mas tou chateada) defendeu-a com unhas e dentes quando diziam que ela o tinha deixado e agora que ela voltou faz-lhe isto??!
ResponderEliminarfixe fixe foi o presente da sofia :)
que pontaria ahahah e sim concordo com a a viagem com os padrinhos.
beijinhos e abre os olhinhos ao Ru!
Como eu adoro isto! Juro, está perfeito ! chorei tanto valha me nossa, publica depressa pff!
ResponderEliminarass: alexandra
Em primeiro lugar peço desculpa por não ter comentado os últimos capítulos, mas vou fazê-lo agora.
ResponderEliminarA Joaninha meteu-se numa bela embrolhada, e como ela disse ao Rúben foram as coincidências que os separaram, compreendo a parte dele, realmente é difícil de acreditar, ele tá magoado, e tudo o que ela lhe disser ele não vai acreditar, mas até o David a ouviu, porque é que ele não faz um esforço, em vez de a julgar? O mano dele também não ajudou nada, e pode ser que ele agora lhe vá perguntar o porquê dele não ter contado nada da ida da Joana ao Algarve, só espero que ele não invente.
Adorei este capítulo, adorei a festa de anos, a Sofia é uma espertalhona, e topou que se passava algo com a sua mami, e é também uma sortuda, recebeu a mesma prenda a dobrar (como o desbocado do Fábio disse até na prenda os padrinhos estão em sintonia), e eu iria adorar que eles fossem os três a Paris.
Mas o que me tocou mesmo, foi o confronto do Rúben com a Joana, primeiro só um olhar, e depois quando ele foi atrás dela, eu só quero ver a reação dele quando souber o porquê dela não ter voltado com ele para Lisboa. Este final assustou-me e levou-me ás lágrimas, primeiro porque o Rúben não aguentou que a Joana lhe dissesse que o odiava e depois com o quase acidente que a Joana ia tendo, ai se lhe acontece alguma coisa... Agora chegou a hora de eu te dizer que quero que eles façam as pazes, se fosse em Paris na cidade do Amor, melhor ainda. Pensa nisso com carinho, e adorei, continua.
Beijos
Fernanda
Quero mais, mais e mais!!!! Proibido parar
ResponderEliminarAdoro, adoro.
Beijo
Adriana
ADOREI ! QUE VENHA O PROXIMO. BJ
ResponderEliminarAmei Joana como sempre! espero que as pazes estejam para breve :)
ResponderEliminarcontinua!
Fantástico...
ResponderEliminarQuero mais... Tou super curiosa para ver o próximo...
Continua... Cada vez tá melhor....
Fantástico...
ResponderEliminarQuero mais... Tou super curiosa para ver o próximo...
Continua... Cada vez tá melhor....