(Ruben)
Pensei no
que poderia fazer para me aproximar, que estratégia usar para entrar de
mansinho no mundo deles, e de repente uma ideia surgiu… Nada de especial,
apenas uma mera casualidade, mas com certeza que seria eficaz.
Jornadeei
entre outras tantas mesas que permaneciam ocupadas, e passei de propósito nas
costas da Joana, e foi aí que a minha jogada foi lançada… simples e
incontornável.
- Desculpa,
podes chegar a cadeira um pouco para a frente, para eu passar? – inquiri-lhe
sem deixar que ela me tivesse visto antes, mantendo-me retido num curto espaço
que separava duas mesas, espaço o qual eu não tinha como passar se ela não
fizesse o que lhe pedira
- Ruben… -
deve-me ter reconhecido pela voz, essa de certo que fora a única razão para ela
olhar para trás e me encontrar tão facilmente como eu desejava
Joana olhou
para mim e sorriu timidamente, não sei se pela surpresa de me ver ou pelo
constrangimento que lhe poderia causar à frente do seu novo namorado, que por
educação e tal como ela, se levantou a seguir.
- Joana…!
Olá… - fingindo que só naquela altura a estava a ver, também os meus lábios se
contraíram num sorriso, somente oferecido a ela, pois este foi-se desvanecendo
tenuemente ao olhar para ele – Por aqui? Que coincidência… - “Que coincidência? Que coincidência!? Uau,
Ruben, que inteligente… não sabias ter dito nada melhor?” – Já há algum
tempo que não nos víamos… Vieste passear, foi? – perguntei, tentando formar
assunto que prolongasse a conversa, e não evitei lançar um olhar despojado na
cara dele
- Ah… Sim,
vim… Agora com a faculdade tenho que aproveitar todos os furinhos que tenho
para relaxar um pouco.
- Fazes bem…
É bom ver-te! – “e é bom que comeces a
dizer alguma coisa de jeito e tires esse sorriso parvo da cara, antes que ela
desconfie da ‘coincidência’ ” – Ah… Eu estou cá com a Inês, ela quis vir às
compras e eu vim tomar um café a fazer tempo para ela chegar. – a segurar o
tabuleiro apenas com uma mão, a outra remexeu nervosamente os cabelos do topo
da cabeça… não que tivesse que justificar a minha ida ali, mas continuava a
querer prolongar aquele momento o mais que pudesse
- Hum… E
como é que estás…? Estás bem? – perguntou-me afavelmente, na sua educação e
simpatia do costume, fazendo-me querer que a última vez que estivéramos juntos
era já passado para si e não havia mais ressentimentos, um episódio que por ela
já tinha sido esquecido, morto e enterrado, e que por nós era o assunto
proibido que não voltaria a ser tocado
- Sim, estou…
E tu? – parece que agora os papéis tinham sido invertidos… ela parecia estar
bem melhor do que eu, rejuvenescida da maior desilusão que lhe poderia ter
dado, e eu estava lá em baixo, bem no fundinho a pagar a minha própria factura
- Estou bem
também… Muito atarefada com as aulas e com alguns trabalhos que entretanto vão
surgindo, mas sim, estou bem. – falou calmamente e sem deixar que a voz lhe
quebrasse uma única vez, mas eu conhecia-a tão bem que consegui vê-la tentar
alçar uma fortaleza em redor da sua postura de mulher inquebrável que já não
era a primeira vez que lha distinguia pelas situações em que se sentia menos
confortável, como imaginava ser aquela, e aquela situação encobriu-se por uma
ténue névoa de silêncio, que felizmente foi soprada e arrastada para longe
alguns instantes depois – Queres sentar-te connosco enquanto esperas pela Inês
ou…? – sim, era mesmo aquilo que eu esperava e queria… “yes!”
- Eu não
quero incomodar… - induzi logo depois, para proteger o meu pequeno disfarce,
não querendo parecer intrometido
- Não, nada
disso… Não incomodas nada. Senta-te e bebe o teu café antes que fique frio. –
pediu-me e eu apenas lhe agradeci num aceno cordial da cabeça encimado por um
novo sorriso, mas antes de me sentar e juntar-me a eles, uma outra coisa teria
de ser feita primeiro
- E… Não nos
vais apresentar? – sugeri ingenuamente, referindo-me ao seu companheiro que
ainda não se havia pronunciado uma única vez
- Ah… Claro
que vou, claro… Desculpem! – ficando visivelmente atrapalhada, Joana seguiu com
as apresentações – William, é o Ruben… Ruben, é o William, um amigo meu de Nova
Iorque que está cá a passar uns dias. – um amigo, dizia ela… um amigo!
- Prazer, eu
sou… Eu sou um amigo e o futuro afilhado de casamento da Joana. – não lhe ia
dizer que era o ex-namorado dela, essas eram águas passadas que não voltariam a
dobrar pelos mesmos moinhos, e causar desconforto e criar um ambiente pesado
entre nós, era algo que eu não queria fazer
- Eu sei
quem és… Prazer em conhecer-te pessoalmente. – as nossas mãos cumprimentaram-se
num abano breve no ar, sentindo-o apertar-ma com uma firmeza correcta que
apoiava a sua insinuação, o que me levou a crer que eu estava em desvantagem
ali… ele sabia mais de mim do que eu sabia dele
Mas… Claro!
Como é possível eu não me ter lembrado antes? Era natural a cara dele não me
ser estranha, e não só daquelas paragens… Eu já o tinha visto antes, há uns
meses atrás, em São
Francisco ! Era de lá que o conhecia. Recordo-me de o ver no
corredor do hotel ao pé da Joana, e daí eu ter-lhe perguntado mais tarde por
ele. William era o ex-namoradinho de Nova Iorque, aquele que ela dizia ser
agora “um grande amigo”… Sim, amigo,
claro… está-se mesmo a ver!
O facto de
lembrar que eles já tinham partilhado muito mais que a amizade, e que agora
estavam ali, de volta juntos, despertou-me para uma sensação que eu já não
sentia há algum tempo… Algo fez crescer em mim uma cólera ténue e quase
inexpressiva que me fez sentir ameaçado… E eu conhecia aquela sensação,
conhecia muito bem até… Ciúmes? Não. Não. Ah… Talvez. Ok, não queria ter de
admiti-lo, mas o que estava a sentir eram definitivamente ciúmes… muitos
ciúmes.
- Então,
William… Estás cá a passar uns dias, é? – apelando à descontracção e
informalidade entre nós, meti conversa com ele enquanto bebericava o meu café
- Sim… Já há
alguns anos que não vinha cá e resolvi tirar umas férias para matar saudades de
casa, e da Joana também… - ele olhou-a cúmplice, o que só me deu vontade de…
nem sei de quê
- Mas és de
cá? Como é que foste para Nova Iorque?
- Foi há
pouco mais de cinco anos… A sede de advogados do meu pai mudou-se para lá e eu
e a minha mãe fomos com ele, entretanto fizemos vida lá e deixámos de vir a
Portugal com tanta frequência. – pois, mas agora ele tinha uma boa razão para
vir cá mais vezes, um motivo perfeito que preferia mil vezes que ele não
tivesse
- E posso
perguntar como é que vocês se conheceram? – sabia que já estava a entrar em
terreno perigoso de areias movediças, e só esperava não me afundar nelas pelo
rumo da conversa que eu mesmo estava a dirigir, porém William não mostrou
problemas em me responder
- A mãe da
Joana e o meu pai eram colegas, e foi através deles que nos conhecemos… Para
além disso frequentámos a mesma faculdade.
- Hum… E a
partir daí ficaram muito próximos, dá para ver… - insinuei num tom leve de
ironia, que penso ter sido discreto o suficiente para eles não terem notado
- É… Acho
que simpatizámos logo um com o outro na nossa primeira conversa, então…
- E essa
amizade chegou alguma vez a evoluir?
- E que tal
se falasses agora de ti, Ruben? – impedindo-o de responder à última questão que
coloquei, a Joana apanhou-me totalmente desprevenido na sua intervenção, que me
deixou sem saber o que dizer
- Falar… de
mim? – engoli a seco, quando notei que a minha própria jogada de repente tinha
sido virada contra mim
- Sim. – ela
sorriu num jeito de claro desafio e sobre a mesa vi-a cruzar os braços – O Will
já te falou um pouco sobre ele, porque é que não lhe contas alguma coisa sobre
ti? Tenho a certeza que ele também gostava de saber…
- Pois, eu…
Bem, eu… - na procura de palavras que acabariam por nunca chegar, dei graças a
Deus por o meu telemóvel ter vibrado no bolso naquele exacto momento,
indicando-me uma chamada recebida que me fez fugir à situação que eu não tinha
como enfrentar, por uma unha negra… pedi-lhes licença e atendi ali mesmo – Diz,
amor… - falei quando vi que era Inês, e não evitei olhar de relance Joana, que
tive a plena certeza pela sua expressão facial, ela ter ficado incomodada pela
maneira como atendi o telefonema
- Já fiz as
compras, amor… Onde estás?
- Estou numa
mesa junto ao café, consegues ver-me mal entrares na restauração… - informei,
não tirando os olhos dela, que mesmo estando a fixar outro ponto que não era o
meu rosto, eu sabia estar atenta à conversa – … Se for preciso eu faço-te
sinal.
- Está bem,
então eu vou já ter contigo… Até já, beijinho. – após uma troca rápida de
palavras ela despediu-se e eu fiz o mesmo
- Até já. –
desliguei a chamada com um sorriso que acolhi apenas no intuito de a fazer
vê-lo, e voltei a guardar o telemóvel no bolso
- Era a
Inês? – embora soubesse muito bem que se tratava da Inês, ela não se conteve
em perguntar, o que de certo modo até me deu algum gozo pois afinal, nem tudo
entre nós eram águas passadas, como eu chegara a pensar
- Sim, era…
Ela já vem aí.
Desde então
o tempo que correu pela espera da Inês, foi nada mais do que preenchido pelo silêncio.
Nem um nem o outro voltaram a pronunciar-se para dizer o que fosse, e sem eu
também saber o que dizer, acabei de beber o meu café e arremeti-me ao conforto
do silêncio que tapou as nossas vozes mas não os nossos olhares, e o meu
perdeu-se por minutos pelo mais belo rosto que eu alguma vez vira, recordando-me
da delicadeza e perfeição de cada traço adornado.
Meu Deus,
como ela era linda, e mesmo ali tão perto, sentada bem na minha frente,
obriguei-me a esconder a tentação de voltar a tocar-lhe… As suas mãos, o seu
rosto, o cabelo, os lábios, o corpo… Quanto mais a olhava, mais o desejo de
querê-la para mim, aumentava, e maior era o meu esforço em resistir-lhe.
- Aqui estou
eu! – a chegada da Inês nas minhas costas, fez-me desviar repentinamente o
olhar que mantinha discretamente preso a cada gesto e movimento de Joana, para
depois remontá-lo sob a figura da minha futura mulher – Não sabia que estavas
com a Joana, amor…
- É… Nós
encontrámo-nos aqui e ela convidou-me para sentar…. – vi-as sorrirem uma à
outra e a cumprimentarem-se seguidamente com dois beijos no rosto, e apesar de
terem tentado disfarçar, deu para sentir alguma tensão entre elas
- Eu a ti
acho que não conheço… - completamente alheia à timidez que não tinha, Inês
dirigiu-se a William, a fim de também o cumprimentar e estabelecer ela mesma um
apresentação entre os dois – Eu sou a Inês, a noiva do Ruben…
- Prazer em
conhecer, sou o William, sou…
- É o
namorado da Joana! – enunciei numa só expiração, sem pensar duas vezes e sem
saber bem porque o fiz
- O quê?
Não, nós não… - a Joana tentou interpor-se mas foi Inês, que apoiada pelo meu
dito, roubou para ela a sua vez de falar
- Namorado?
Que bom… Porque não o levas ao casamento? Gostava que nos conhecêssemos melhor.
- Não, mas o
William não é o meu namorado, ele é só meu amigo e está cá de passagem… Este
fim-de-semana ele vai voltar para Nova Iorque. – explicou tão claramente quanto
conseguiu, desfazendo o mal entendido que eu próprio tinha suscitado…
precipitadamente
Não era
namorado… Eu ouvi bem, não ouvi? Eles não namoravam? Então ela não tinha
ninguém, ela não tinha seguido em frente, não se voltara a apaixonar por outro
homem…
Não sei como
consegui engolir um sorriso que queria tanto mostrar, é verdade que se
estávamos separados a culpa era única e exclusivamente minha, e que eu queria
apenas a felicidade dela independentemente da longevidade que esta estivesse da
minha, mas fiquei tão contente por saber que ela ainda não tinha encontrado
ninguém, que por instante até me senti um pouco egoísta mas incrivelmente bem.
- Oh, que
pena… - manifestou-se Inês ao tomar o lugar do meu lado
- Desculpem,
eu pensei que… - apresentando-me redimido pelo desconforto que ali poderia ter
causado, apressei-me a perdoar a minha imprudência, que no final de contas me
oferecera um alívio enorme por estar errada – Bem, não são namorados mas já
foram…
- A sério?
- Sim, mas
agora somos só grandes amigos. – respondeu William a Inês, afastando todas as
dúvidas que pudessem ainda existir quanto à relação actual deles
- E o que é
que aconteceu?
- Ruben… -
pela minha intromissão e curiosidade inconveniente, Joana advertiu-me,
esperando que eu acabasse com aquela conversa o quanto antes por esta estar
certamente a incomodá-la
- Joana,
está tudo bem… Estamos só a conversar. – mostrando-se mais calmo e disponível
para continuar a responder, ele esclareceu-me quanto àquilo que eu mais
procurava saber… embora continuasse a
ter noção de que aquele assunto não tinha mais nada a ver comigo, a partir do
momento em que decidi fazer a maior asneira da minha vida, e deixá-la – Nós
chegámos a namorar durante algum tempo mas depois apercebemo-nos que não era
aquilo que queríamos. Tínhamos uma amizade bonita e forte, tal como temos
agora, somos como irmãos e percebemos que ao entrarmos noutra relação só
estávamos a misturar as coisas…
- O que não
é para ser, não será… Não é? – inquiri, abrindo a garrafa de água que tinha
trazido juntamente com o café, e sorri-lhes mesmo antes de dar o primeiro gole
- E com isto
tudo, ainda bem que te vejo, Joana. – talvez para dissipar o segundo sentido e
a ideia que involuntariamente eu atribuíra à minha última interjeição, e que me
esforcei para que ninguém para além de mim, entendesse, ouvi a Inês mudar de
assunto
- Ai sim? –
mostrando-se mais surpreendia do que eu pelo comentário, a Joana entrou
prudentemente na conversa dela
- Sim.
Queria tratar contigo alguns pormenores do casamento… Como madrinha do noivo
tens de estar a par de algumas coisas. – falou no seu entusiasmo do costume,
sempre que se referia ao nosso “grande dia” – Já tens o teu vestido?
- Não, ainda
não está pronto, tenho-o num estilista mas em princípio para a semana já posso
ir buscá-lo.
- Óptimo,
depois se não te importares gostava de vê-lo… Tenho que me redigir pela paleta
de cores que vamos usar e gostava que me desses uma pequena ajuda na decoração,
sei que tens jeito para isso, e já que com o Ruben eu não posso decidir nada
porque ele não tem o mínimo de gosto para estas coisas.
- Claro, é
quando tu quiseres… - ao contrário do que eu cheguei a pensar, ela
disponibilizou-se inteiramente para a ajudar, o que significava que
provavelmente tínhamos um novo encontro marcado para bem mais cedo do que
esperávamos
- Então
talvez seja melhor um dia destes passares lá por casa, almoçavas ou jantavas
connosco e davas-me uma mãozinha, se não te importares.
- Vocês já
estão a viver juntos? – impondo ali uma pergunta que não estava planeada ser
feita, a Joana conseguiu recolher toda a minha atenção para ela, quando me
desprendi um pouco da conversa delas e me concentrei nas mensagens que começara
a trocar pelo telemóvel com o meu irmão
- Sim,
estamos no apartamento do Ruben, mas só por enquanto… Quando voltarmos da
lua-de-mel começamos a procurar casa.
- Que bom. –
ela mostrou um sorriso sem qualquer cor, e eu vi no olhar dela que tinha ficado
desconcertantemente entristecida, conhecê-la como a palma da minha mão, tal
como ela me conhecia tão bem a mim, permitia-me distinguir-lhe em pequeninos
detalhes e expressões que ela fazia e que ninguém era capaz de descodificar, a
não ser eu, e deu para ver muito bem que na contracção dos seus ombros e cerrar
ligeiro de pálpebras, que ela tinha ficado ligeiramente ciumenta
Na nossa
relação, fui sempre eu quem teve mais ciúmes… Era o mais ciumento de nós os
dois e ai de outro homem que ousasse aproximar-se com segundas intenções ou
olhar com outros olhos, a minha menina. Até quando não tinha motivos suficientes
que o justificassem eu era ciumento com ela, o que posso dizer? Era mais forte
do que eu.
Lembrei-me
de algumas discussões palermas que tivemos à custa disso e da melhor forma como
elas acabavam, de todas as zangas que nos faziam voltar costas e da maneira
como esquecíamos o orgulho e lhes púnhamos um fim… Discutirmos recompensava com
algo maior: as pazes. Era sempre tão bom quando fazíamos as pazes, e só por isso
já valia um pouquinho a pena arreliarmo-nos de vez em quando um com o outro.
Tudo era pretexto para nos conhecermos melhor… Os momentos mais felizes, os
menos felizes, as brincadeiras, as confissões que não partilhávamos com mais
ninguém, os pequenos defeitos que só eu lhe conhecia e faziam dela a minha
namorada.
- Do que é
que te estás a rir, amor?
- Ãh? Nada…
- apanhando-me a sorrir por aqueles pensamentos que ainda vagueavam na minha
cabeça, tentei disfarçar – … estava só a pensar numas coisas.
- E nós?
Vamos embora? – promulgou Joana, numa pergunta unicamente dirigida a William
- Se
quiseres ir…
- Já vão? –
entrevi numa só vez enquanto já os vi-a levantarem-se, não queria ter que
deixar de vê-la agora... tão rápido
- Sim, ainda
tenho umas coisas da faculdade para fazer e já está a ficar tarde…
- Foi um
prazer conhecer-vos… Até a um dia destes. – William despediu-se de nós, sem ter
como antever um novo reencontro
- Prazer em
conhecer-te também… William, não é?
- É sim.
- Se no
final do ano voltares cá a Portugal, fala com a Joana e vai também ao
casamento, gostávamos de te voltar a ver. – gostávamos? que não falasse por
mim, o meu gosto em voltar a vê-lo não era nada acrescido, muito menos se fosse
ao lado da Joana
- Muito
obrigado, se vier lá estarei… Boa tarde. – tal como ele a Joana também se
despediu em palavras e com um leve sorriso que eu pude jurar ser quebradiço
Quando
contornaram caminho para a saída, vi-o chegá-la mais para si, contornar os
ombros dela com um braço e beijar-lhe cuidadosamente o topo da cabeça. Ele
tinha-a segura na sua alçada e eu invejei-o por não ser eu a estar no seu
lugar… um lugar privilegiado que eu jamais voltaria a ter.
***
(Joana)
Voltar a ver
o Ruben apenas serviu para duas coisas: recordar a dor e a mágoa que ainda
sentia por tê-lo perdido, e ter a mais plena certeza de que ainda o amava.
Se ele me
tivesse encontrado sozinha, estou certa de que não aguentaria, a muralha que
andara a construir em redor dos sentimentos que tinham gravado o nome dele,
depressa se desmoronaria com uma palavra sua, com um olhar seu… Mas felizmente
William estava a meu lado não me permitindo vacilar por um momento que fosse.
Se magoou voltar a estar com ele e ter de manter aquela distância entre nós?
Claro que magoou, mas mais nada poderia fazer-me sentir pior, e dali para a
frente a minha vida só poderia melhorar, o tempo constituía uma ajuda preciosa
que aos poucos me mostrava o outro lado de viver… Sem o Ruben.
- Estás bem?
– procurou assegurar-se William, ao entrarmos no elevador para descermos até às
garagens
- Sim,
estou… Obrigada. – consenti com um sorriso ameno, benfeitor do momento
anteriormente vivido e ultrapassado… quase
- Não
estavas à espera de o ver, pois não?
- Não, não
estava nada à espera… Sabia que mais tarde ou mais cedo um reencontro seria
inevitável, mas não agora… Ainda não estava preparada.
- Eu sei,
basta olhar para ti para perceber que esta situação te deixou em baixo… Ainda o
amas, não amas?
- Amo, amo-o
muito. – a minha voz proferiu o que o meu coração temia tanto em demonstrar,
sabendo ele que guardava um sentimento que tinha tanto de grandioso como de
errado – Nunca pensei que doesse e custasse tanto, esquecer uma pessoa.
- Não é uma
pessoa qualquer… Custa sempre esquecer quem amamos. – ele puxou-me mais para
si, mantendo-me sobre o amparo do seu braço que me acolhia, abonando o seu
apoio incondicional enquanto estivesse perto de mim e me pudesse proteger –
Reparaste no clima que ia entre vocês antes da Inês chegar?
- Que clima?
– perquiri, quando saímos do elevador e tomámos caminho no piso das garagens
- Joana, por
favor, não me digas que não reparaste! – ele travou repentinamente a nossa
marcha e colocou-se à minha frente – Ele não tirava os olhos de ti!
- Ai sim? E
então? – tal como devia fazer, não quis dar importância ao que ele tinha dito,
até porque era um tremendo disparate
- E então?!
Isso significa alguma coisa, não achas?
- Não, não
significa absolutamente nada… O que eu acho é que interpretaste muito mal o que
viste, Will!
- Será? – as
suas sobrancelhas contraíram-se num único movimento desdenhoso que só serviu
para causar mais incertezas em mim – Eu vi muito bem a maneira como ele olhava
para ti, como te observava cuidadosamente, aliás, só um cego é que não vi-a! Já
para não falar do ataque de ciúmes…
- O quê? Mas
que disparate estás para aí a dizer? – achando-o completamente senil pelas
evidências excessivas a que se referia, mostrei despreocupadamente a minha
indignação por estar a ouvir aquele discurso… um absurdo
- Joana, não
é nenhum disparate, e desculpa se com isto te estou a dar algum tipo de
esperanças, mas a verdade é que o Ruben marcou muito bem a sua posição, deixou
bem claro aquilo que sentia em relação a ti e à vossa situação…
- E que é…?
– perscrutei, dando-lhe permissão para se esclarecer devidamente, apenas para
não deixar o assunto que ele próprio iniciara, em pontas soltas
- Tu viste!
A enxurrada de perguntas que ele fez sobre nós, meu Deus, ele fez-nos o
interrogatório todo… Como nos tínhamos conhecido, o estado da nossa relação,
tudo! E a expressão dele, bem… Podia ler-lhe nos olhos e nos punhos uma vontade
nítida de me pegar pelo colarinho e me atirar contra uma parede!
- Ok, agora
estás a exagerar! – era o que eu queria acreditar, que o que ele dizia era de
facto um exagero, pois se entrasse na conversa dele e lhe desse ouvidos,
facilmente ele me persuadiria e faria vacilar perante um amor que eu queria
tanto mas tanto esquecer
- Achas?
Achas mesmo que estou a exagerar? Tu conhece-lo melhor do que eu…
- Pois,
exactamente, eu conheço o Ruben melhor do que tu e… - antes que contradissesse
as clarividências que ele insistia e que eu mesmo sabendo que tinham um fundo
de verdade, ignorava a todo o custo, ele quebrou o meu discurso
- Então,
Joana… Não preciso de dizer mais nada! Lá no fundo tu sabes que o que eu digo é
verdade, apenas queres fechar os olhos a isso, e sinceramente eu não te censuro
porque só estás a evitar sofrer mais, mas a mim pareceu-me que ele ainda não te
esqueceu…
E eu não o
tinha esquecido a ele, e para falar a verdade temia a porção de tempo que
levaria para fazê-lo, isto para não por em causa a incerteza se algum dia o
esqueceria completamente.
A minha
cabeça começou à roda e em milionésimas de segundo senti-me totalmente perdida ali
como uma pequena agulha num palheiro. Quando retomei o andamento e passei na
frente de William, senti uma lágrima ameaçar a linha de água do meu olho, mas
impedi rapidamente de se precipitar, limpando-a com a falange do meu indicador,
e de repente aquela vulnerabilidade e nostalgia de que eu andara a fugir,
regressou com toda a força e fúria.
- Já não sei
onde deixei a porcaria do carro! – praguejei num tom de voz incrivelmente
austero, enquanto deixava embater pesadamente os saltos altos contra o piso,
olhando em todas as direcções
- Joana,
espera… Tem um pouco de calma. – dando uma leve corridinha para me apanhar,
voltei a dar pela presença de Will que seguia nas minhas costas e entretanto se
juntou a mim lado a lado – Queres que leve eu o carro? – apercebendo-se de que
eu estava demasiado nervosa para conseguir pegar no volante, ele ofereceu-se
para conduzir e levar-nos a casa, o que não tinha como lhe recusar… se pudesse
não lhe daria essa tarefa, mas sentia-me tão sem forças que não consegui
dar-lhe um não
- Por favor…
- concordei num fio de voz, voltando a abrandar o passo para começar então a
procurar pelas chaves e pelo ticket do parquímetro, dentro da minha mala
- Bolas,
tenho que voltar lá dentro… - inesperadamente, e enquanto ainda remexia o
interior da mala, a voz inconfundível de Inês perfurou a atmosfera que eu era
ainda envolvida e com a deslocação do meu queixo que se ergueu, o meu olhar
embateu na figura de um veículo posicionado somente a uns metros de mim, o qual
eu fazia a distinção perfeitamente bem e que pertencia a Ruben… conheci-o pela
matrícula
- Então? –
depois foi a voz dele que ouvi e toda eu petrifiquei, ao perceber que eles
caminhavam nas nossas costas e se aproximavam cada vez mais
- Esqueci-me
de trazer uma coisa que a minha mãe me pediu para lhe levar, tenho que ir
comprá-la num instante…
- Queres que
eu vá contigo?
- Não, não é
preciso… Espera-me no carro, eu não demoro. – quando acabei de ouvi-la e sem
mesmo olhar para trás, dei conta de ela se voltar a afastar para retomar aos
interiores do Centro Comercial, e aí aumentei o ritmo da minha procura, pois o
meu coração ressentiu a aproximação perigosa do seu verdadeiro dono, que
continuou a caminhar na direcção do seu carro que me tinha por demasiado perto
- Joana? –
oh não… oh não, ele reconheceu-me até de costas e chamou por mim, o que é que
ainda queria? as minhas mãos começaram a tremer exasperadamente mas pude
suspirar de alívio ao encontrar finalmente o que procurava para poder sair dali
- Eu vou
pagar o parquímetro! – retirando-me o ticket da mão, vi William a lançar uma
rápida olhadela que imaginei atingir o perfil de Ruben e preparou-se para me
deixar sozinha
- Não, Will,
não te vás embora… – implorei-lhe num sussurro desesperador, ao colocar a
hipótese de travar mais um momento com Ruben, agora só nós dois e desta vez sem
ninguém a apoiar-me – Não me deixes aqui, por favor!
- Joana! –
ele voltou a chamar por mim e senti-o cada vez mais perto, mas não consegui
rodar o pescoço para trás e olhá-lo, simplesmente não consegui
- Vou dar uma volta para encontrar o carro e espero-te lá… Até já! – com um sorriso ele
deu-me um beijo na face e iniciou de novo uma corrida que o fez desaparecer
entre outros carros… eu sabia porque é que ele estava a fazer aquilo, eu sabia,
mas preferia que não o tivesse feito, deixar-me ali à mercê da confusão dos
meus sentimentos bem como daquele por quem eu os detinha, poderia ser fatal
- Não me
ouviste chamar-te…? – e lá estava ele, de novo perto de mim, como se um enorme
íman nos obrigasse a manter-nos perto um do outro
- Ah… Sim,
ouvi, desculpa… - sem saber o que mais podia dizer, mostrei um sorriso frouxo
que rapidamente me denunciou a falta de atitude
- Tenho uma
coisa para te dizer que me esqueci de te contar há pouco… - também nos seus
lábios um sorriso surgiu, e tomando manobra de visão total sobre o corpo dele,
vi-o recolher ambas as mãos nos bolsos traseiros das suas jeans, que devo
dizer, lhe assentavam nas pernas perfeitamente bem
- Diz,
então… - permiti, contudo receando no meu âmago o que poderia ouvir
- O meu
sobrinho, o Gabriel… Ele já nasceu. – anunciou, alargando a curva dos lábios
para uma amostra de felicidade maior
- A sério? O
Gabriel já nasceu? – aquela onda de alegria pela então boa-nova, arrastou-me a
mim também, deixando-me os olhos a brilhar pela enorme felicidade que os
recentes pais e a restante família deveriam estar a sentir
- Hum, hum!
Nasceu na semana passada…
- E correu
tudo bem? A Paula e o bebé estão bem?
- Estão
óptimos… Felizmente correu tudo bem, sem complicações. – muito naturalmente ele
começou a caminhar na direcção do seu carro, e não sei bem porquê eu
acompanhei-o, enquanto ladeados um pelo outro dávamos prosseguimento à conversa
que então iniciáramos, e pelo meio não evitávamos em olhar-nos brevemente
- Que bom,
parabéns! – não pude deixar de felicitá-lo, afinal tratava-se do seu sobrinho…
aquele que deveria ser nosso, mas o destino não o quis assim
- Devias
vê-lo, é um rapagão lindo… E tem traços meus, indiscutivelmente!
- Estou a
ver que estás um tio babado…
- Nota-se muito?
- Hum… Só um
bocadinho. – não sei como tive a capacidade de fazê-lo, mas brinquei com a
situação, e ambos nos deixámos rir
Devagar devagarinho,
estávamos a conseguir ter uma conversa apazigua, sem mágoas nem ressentimentos,
apenas nós a comportarmo-nos como dois adultos que tinham um passado muito
forte em comum e que agora confrontados, aprendiam a lidar com ele da melhor
forma possível.
Quando
chegámos junto do carro dele, deixámo-nos ficar, a razão dizia-me para me
despedir e ir embora, mas o coração pedia-me para ficar só mais um pouco. Um
silêncio mórbido meteu-se no meio de nós, e ainda que tivéssemos tentado esconder,
a falta de assunto estava a deixar-nos ligeiramente envergonhados… Como se nos
tivéssemos acabado de conhecer e não havia nenhum tema em trivial que
sustentasse aquele nosso contacto, mas este acabou por chegar ao fim de algum
tempo, e por parte dele.
- Joana… -
notei alguma hesitação na sua voz, algo que me queria dizer mas faltava-lhe a
coragem, penso eu
- Sim? –
tentando dar-lhe o impulso que provavelmente ele estaria a precisar para
continuar, mostrei-me disposta a ouvi-lo
- Ah… Sobre
aquela noite, eu queria pedir-te muita desculpa por…
- Ruben,
não… - ali estava a parte difícil, aquela pela qual eu temia por eventualmente poder
ser recolhida a um diálogo e a uma posterior discussão, mas ela acabou por
chegar e eu não queria ter que alongá-la por muito, pelas razões óbvias –
Esquece, não te preocupes com isso, a sério…
- Mas eu não
agi bem contigo e eu sei que voltei a magoar-te…
- Se eu me
voltei a magoar, foi porque eu deixei. – e pronto, foi daquela maneira que
principiamos a conversa mais difícil da minha vida
- Eu não
tinha o direito de fazer uma coisa daquelas, e eu juro-te que não foi com a
intenção de nos envolvermos, que te procurei… - eu acreditava nele, tinha a
sinceridade escrita nos seus olhos – Tudo o que eu te disse naquele bilhete, eu
queria tê-lo dito olhos nos olhos, foi por essa razão que eu fui a tua casa,
mas quando te vi…
- Temos
mesmo que falar sobre isto, Ruben? – intervim numa inquirição de puro
desalento, apenas para evitar a suscitação de novas amarguras entre nós
- Temos… Se
não falarmos sobre isto eu acho que vou sufocar.
- Mas… - o
seu toque arrepiou-me da cabeça aos pés, impedindo-me de continuar a falar, a
sua mão tocou suavemente a minha face e toda uma mescla de sentires enrolou-me
numa onda enorme deixando que quase me afogasse nela
- Olha para
mim, Joana… Olha para mim… - ele aproximou-se devagarinho, e vi-lhe um olhar
tão triste que ilustrava claramente o seu estado de espírito – Odeias-me?
- Ruben, não
digas isso… - tentei desviar o meu olhar do seu, mas novamente o seu toque não
mo permitiu
- Eu preciso
de saber… Odeias-me pelo que te fiz? Pelo idiota que fui?
- Já passou,
vamos deixar as coisas assim.
- Eu não
consigo… - um tom profundo e sentido arrastou-se até aos meus ouvidos, enquanto
os nossos corpos se rendiam inconscientemente a uma aproximação demasiado
arriscada - Eu fecho os olhos e oiço a tua voz, vejo-te a ti, vejo a maneira
como te magoei… Eu não merecia o teu amor e tu não merecias estar a passar por
isto.
- As coisas
são como são, não há nada que agora possamos fazer senão seguir cada um com a
sua vida e recordarmos apenas o que de bom ficou entre nós…
- Recordar
as coisas boas magoa mais…
- E recordar
as más vai acabar por corroer a felicidade que vivemos. – proferi numa certeza
inconveniente, fazendo o meu olhar viandar pelas garagens que se encontravam praticamente
desabitadas pela presença humana – Tu agora estás a construir uma nova
felicidade e eu só quero o teu bem.
- Tu eras o
meu bem… O mais preciso de todos.
- Mas deixei
de ser…
- Por minha
culpa, eu sei… - por um impulso que eu tomei, os nossos olhares voltaram a
tocar-se e de repente, bem ali na minha frente, eu vi o Ruben… o meu Ruben que
finalmente estava de volta, o Ruben por quem me apaixonei desde o primeiro
momento – Desde o início que nós merecíamos ficar juntos…
- A vida não
quis assim…
A vida não
quis assim e restava-nos saber lidar com isso. Se havia algo que não poderia
ser mudado, era o passado, que ilícito por um enorme pedregulho impedia-nos de
demovê-lo ou alterá-lo para edificarmos um novo presente, um presente melhor,
onde nós juntos pudéssemos construir os nossos planos que perfilhámos para uma
vida a dois.
E tal como o
passado não podia ser remexido, as palavras que foram ditas não podiam ser
mudadas, os actos e os discursos de rompimento não podiam ser esquecidos, as
lágrimas derramadas não podiam cursar os seus caminhos de retorno e o nosso
amor já não podia ser vivido.
- Pede-me
para deixar a Inês e eu deixo… - com o rosto bem perto do meu, ele apanhou-me
completamente desarmada, pronunciando algo que nunca deveria ter dito em voz
alta e muito menos a deveria ter equacionado em pensamentos, um pedido que
tinha em vista uma recusa incontornável – Basta que me peças…
- Não, não…
Ruben, não faças isso, por favor. – num sussurro trémulo, impedi-o
imediatamente de dar continuação àquele tema totalmente descabido e
desproporcional, remoto a uma conversa secreta, só nossa, que mais ninguém
deveria ouvir – Nem tu, nem a Inês, nem as pessoas que apoiam o vosso
relacionamento merecem aquilo que me estás a pedir… Eu não vou fazê-lo.
- Mas o meu
coração está com outra pessoa… Ele está contigo, Joana, esteve sempre!
- Percebeste
isso tarde demais, agora é tarde demais para nós… Vais ter de dar o teu coração
à Inês, é ela a tua noiva, é ela a tua futura mulher!
- A minha
mulher eras tu! Tu já eras a minha mulher… - pronunciou também num murmuro que
nos obrigava a manter-nos muito perto para nos conseguirmos ouvir, e não sei
dizer se aquela sua declaração me enalteceu o coração por ouvir o que eu mais
queria, ou se o magoou ainda mais por ter a certeza que aquela frase foi
conjugada no tempo certo: o passado que ficava lá atrás… bem longe e quase
intocável
- Não digas
isso, as coisas entre nós já estão difíceis de lidar que chegue… Ao dizeres
isso só as pioras ainda mais.
- Mas eu só
estou a dizer a verdade, Joana…
- Acho que
devias guardar a verdade para ti, eu não tenho que ouvi-la… Já foi tempo, agora
não é mais.
- Então o
que é que eu faço? – o desespero de estar sem rumo começou a tomar conta dele, e
implorava-me para que dissesse alguma coisa, para que fizesse alguma coisa, mas
duvidei de ser eu a puder ajudá-lo
As lágrimas
retomaram à nascente dos meus olhos, fazendo-me descair escassamente a cabeça e
cerrar as pálpebras naquele instante, para obrigá-las a recuar e não cair. Eu
já imaginava que aquela conversa não iria ser fácil de se ter, mas nunca àquele
ponto, mesmo sem se aperceber, mesmo sem intenção, Ruben estava a colocar-me
entre a espada e a parede e quanto mais ele falava mais o meu espaço de
segurança se encurtava, deixando-me à margem de descambar por completo… Mas
sabia que não podia descambar para braços dele pois estes acolhiam outra
pessoa, e eu não podia reclamar o lugar que já não me pertencia, mas que Ruben
me queria voltar dar e dizia ser meu por direito.
Mas não, eu
estava decidida que nada mais entre nós iria acontecer, tudo iria ficar
exactamente como fora deixado e como ele mesmo decidira ao destinar o seu
futuro ao lado de outra mulher, mulher essa que ele já não tinha tanta certeza
de o fazer feliz e por isso, e só por isso, prestei-lhe o conselho mais sincero
que lhe poderia dar, embora que este pudesse vir a magoar outras pessoas.
- Se afinal
chegares à conclusão que não é isto que queres, se a tua única opção é deixares
a Inês, se não és feliz com ela, então deixa-a… Mas se isso acontecer, eu
peço-te uma coisa… Não a deixes por minha causa.
- Mas porquê?
Tu és a única razão… - a sua expressão suplicante fez-me contorcer de
melancolia pelas adversidades que tínhamos sido obrigados a viver, e as quais
não nos queriam ver juntos – Eu sei, eu sei que cometi contigo um erro
tremendo… cometi connosco, eu sei disso, mas será que vou ter que pagar por ele
durante toda a vida?
- Eu não te
estou a pedir que sejas infeliz, Ruben, apenas não podes ser feliz comigo, só
isso… Não podemos ser felizes juntos!
- Quem
disse?! Já não há lugar para segundas oportunidades, é isso?
- Nós
tivemos uma segunda, uma terceira oportunidade e para quê? Já olhaste bem para
nós? Já viste onde essas oportunidades nos levaram? Olha onde estamos agora… -
os meus braços condolentes de desânimo, ergueram-se ao lado do meu corpo para
evidenciar a pleonasmo da nossa história, que trazia sempre o mesmo desfecho
Ele ficou
ainda mais desconcertado do que já estava e com as mãos irrequietas a
desembrenhar-lhe o cabelo, começou a andar em pequenos círculos, num vai e vem
apoquentado pelo que fazer a seguir.
Aquela
conversa tinha uma única finalidade e finalmente percebi… Ruben queria voltar
para mim, ele estava disposto a deixar tudo para trás, estava disposto a deixar
a Inês para ficar comigo, procurava pelo meu perdão e pelo amor que ainda lhe
tinha para começarmos de novo, e é claro que era aquilo que eu mais queria, era
claro que eu queria voltar para junto do homem que mais amava no mundo, mas o
querer tornou-se numa coisa tão banal que não era mais o suficiente para me
fazer tomar uma decisão tão importante como era aquela. Por mais que difícil e
custoso que fosse estar a abdicar daquele amor, agora era eu que não estava
mais disposta a lutar por ele, já tinha doído que chegasse e o medo de me
voltar a magoar era muito superior… Agora era tarde para nós, a nossa vez já
tinha passado, e foi pena que não tivéssemos olhado para ela com mais atenção
ao ponto de a agarrar-mos e nunca mais a deixarmos ir.
- Posso ao
menos continuar a ver-te? – quando ficou mais calmo, ele voltou a aproximar-se
a mim e segurou as minhas mãos nas suas, a fazer-me um novo pedido para o qual
eu dei o meu silêncio profundo, de olhar estacado no chão – Joana, responde-me…
Posso continuar a ver-te?
- Eu não
posso… Se te continuar a ver nunca irei conseguir refazer a minha vida.
- E eu nunca
te deixarei… - um novo múrmuro dolente foi disperso entre os seus lábios, e num
impulso por ele tomado o seu rosto achegou-se tanto ao meu que os nossos
narizes e as nossas testas se tocaram, obrigando-nos a manter o tom baixo de
voz e a fechar os olhos, enquanto a troca de palavras continuava
- E o que é
que acontece se eu encontrar outra pessoa?
- Fico
ciumento. – respondeu seguramente, permitindo que um rasgo de orvalho
preenchesse os seus olhos quando os voltou a abrir, que então e tal como os meus,
se encheram de lágrimas – Se eu pudesse mudava tanta coisa, tanta asneira que
fiz…
- O passado
não podes mudar… - referi em concordância com a mais pura realidade, e essa
prendia-nos ali
As nossas
testas não voltaram a separar-se e para prolongar ainda mais o momento, os
nossos olhos tornaram cerrar-se numa palpitação conjunta dos nossos corações. O
desejo de unirmos os nossos lábios era tão grande que conseguíamos até
tocar-lhe, mas um beijo nosso não voltaria a ser colmatado, sabíamos que era
errado fazê-lo, embora fosse o que mais queríamos.
- Amas-me? –
perguntei-lhe num sopro conturbado que se deixou embater na superfície dos seus
lábios, que não voltariam a conhecer o caminho até aos meus
- Irei
amar-te sempre. – aquela resposta fez-me cair em mim, fez-me despertar novas comoções
e deixar à mostra o meu lado apaixonado que ele detinha totalmente – Não
chores, não aguento ver-te chorar… - solicitou quando nos voltámos a olhar, e
os seus dedos recorreram ao instinto de me enxugar o rosto pelas lágrimas que o
contornavam
- Tu também
estás a chorar… - evidenciei vendo que não era apenas eu que me estava a deixar
levar pela emoção… os olhos de Ruben também choravam, ele todo chorava, tanto
por dentro como por fora, e quando caí na tentação de lhe tocar as faces, os
seus lábios caíram na tentação de beijar os meus dedos quando estes se
detiveram nos contornos da sua boca
- Estou a
perder o amor da minha vida para sempre, é natural que chore por ele…
- Ai, Ruben…
Abraça-me, abraça-me… - pedi quando não consegui aguentar mais e as lágrimas se
intensificaram, caindo numa catadupa irreversível
Os seus
braços contornaram o meu corpo mal ele ouviu o meu pedido, puxou-me para si com
uma veracidade tremenda, fazendo-nos abraçar num aperto tão forte e desmedido
que tinha deixado de ser possível distinguir-se o começo e o fim dos nossos
corpos de tão unidos que estavam.
A minha face
acostou-se ao seu peito enquanto a sua cabeça ficou afundada na dobra do meu
pescoço. Precisávamos daquilo tanto quanto precisávamos de respirar, e
voltarmo-nos a separar era uma vontade que nenhum de nós partilhava.
- Detesto
magoar-te… - a sua voz saiu abafada, e um arrepio percorreu-me a nuca por
sentir a sua respiração forçada embater na minha pele
- Então
porque é que o fizeste?
- Porque fui
egoísta. Pensei que fosse ser mais feliz com ela…
- Mas não
vais ser… Vais sentir a minha falta. Nenhuma outra mulher te amará tanto como
eu te amo.
- Eu sei… - ele
apertou-me com mais força para si, e senti toda a sua frustração por ter-me
perdido, domar-lhe todo o corpo – Porque é que o amor só não chega?
Eu não tive
que responder-lhe à pergunta, ele sabia a resposta.
O silêncio tomou
as rédeas e apoderou-se então dos alicerces que sustinham a conversa e esta
findou-se simplesmente, onde mais nada havia para ser acrescentado… Poderia não
ter sido tudo dito, mas nenhumas mais palavras tinham a capacidade de enxergar
no que ia nos nossos corações se não meros actos e gestos como aquele, que se
deixavam falar por si. Senti-lo tão perto, sentir o calor do seu corpo, sentir
o cheiro do seu perfume, quase me fez render aos caprichos do amor, mas fui
mais forte que isso.
Mantendo-me
amarrada em si, o peito dele sacudia-se em soluços do choro que não cessara e
ao mesmo tempo que uma das suas mãos tomou o carinho de me afagar os cabelos,
as minhas lágrimas mais controladas que as dele, continuaram a cair e a
molhar-lhe o peito onde eu permanecia a escutar a arritmia descontrolada do seu
coração padecente, até ter algo mais para escutar.
- Ruben… - a
voz despertadora de Inês, soou a alguns metros de nós, fazendo o nosso sonho
ser perfurado pela realidade
Ao contrário
do que seria esperado, a presença dela não nos sobressaltou por demasia e a
prova disso foi que levámos ainda alguns segundos para correspondermos à
obrigação de nos soltarmos. Os nossos corpos afastaram-se, lentamente como não
o querendo fazer e ambos a olhámos, estatuada também ela a olhar para nós, com
a clara expressão de que alguém lhe devia explicar o que estava acontecer ali…
E o que estava a acontecer era uma coisa simples de ser explicada, até… Nada
mais do que uma história de amor a conhecer o seu final menos feliz.
Minhas queridas, mais um capítulo! :)
Espero que gostem e deixem-me as vossas opiniões, são muito importantes!
Um grande beijinho,
Joana
Tou sem reação com este capitulo....
ResponderEliminarAI... Tantas emoções!!
ResponderEliminaristo cada vez está melhor, adorei a ciumeira do Ruben, mas AMEI a conversa no estacionamento! Amei.
O Ruben vai desistir do casamento, eu sei que vai!! Ele tem de desistir!
A Inês bem que pode perceber que está a mais depois do que viu.
Gostei que o Will tivesse os deixado sozinhos :) Esperto!!
Beijinhos
Lisandra
Agora é que me matas-te... está de cortar...
ResponderEliminarJá chorei... valhe-me o santo... tinhas de acabar o capitulo???
Publica mais por favor.
Adoro, adoro.
Beijos.
Céus está demais... impossivel não ficar viciada.
ResponderEliminarPublica rápido por favor.
Beijo
Adriana
Adorei este capítulo... o que será que acontece agora :O
ResponderEliminaresperando ansiosamente pelo próximo!!!
Mas quando é que o Rúben tem uma atitude de homem e assume as coisas por ele, sem desculpas? Dizer à Joana que se ela lhe pedir ele deixa a outra? É preciso ter lata, fez a burrada que fez e agora precisa de uma desculpa? Não consegue simplesmente chegar ao pé da Inês e dizer-lhe " não posso casar contigo porque não é de ti que eu gosto, eu amo outra pessoa e tu mereces alguém que te faça feliz e essa pessoa não sou eu", isso sim era de homem.
ResponderEliminarA conversa deles no estacionamento foi repleta de emoções, o William teve bem quando deixou a Joana sozinha com o Ruben, bendita a hora em que a Inês teve que voltar atrás. Estes dois se não fossem tão casmurros podiam estar juntos, mas não eles gostam de ir sempre pelo caminho mais difícil. Não acredito na última frase do capítulo, porque para mim a história de amor deles tá muito longe de conhecer o fim.
Adorei, claro que gostava de os ver juntos, mas para isso preciso de mais capítulos, porque isto é viciante.
Beijocas
Fernanda
Espero que publiques rapido. Estou cheiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiia de saudades
ResponderEliminarOlha tenho muita coisa a dizer, primeiro, não há palavras para este capitulo. Venho todos os dias de manhã ver se publicaste.
ResponderEliminarNão sabes a alegria que me dá quando escreves, porque consegues-me envolver na história de uma maneira que apenas nos meus livros favoritos acontece, choro com as personagens, sorrio com eles, tudo com elas.
Obrigada por escreveres e espero que nunca desistas, teria um desgosto porque a tua forma de escrever é arte. Espero que tenhas percebido o quanto adoro os teus capitulos e te tenha motivado.
Beijos,
Alexandra (e Rute)
SOCORRO!!!!!
ResponderEliminarAi, meu coração. É muito pra ele...
Comecei lendo o capítulo rindo, sim rindo do Ruben, do que ele fez para se aproximar e dos seus ciúmes - muito fofinho haha *-* - O episódio na mesa foi quase cômico, tirando a parte em que ele atendeu a Inês ''Diz, amor''?? Bleeeeeeeh -,-
Mas o estacionamento... meu Deus... quando acho que você não pode mais me surpreender... se não existe perfeição isso aqui está muito perto dela. Chorei, ai como chorei. lool
Mas agora quero saber como esse dia vai terminar... a Inês poderia se tocar de uma vez, não? Pelo amor -.- hahaha, continua, please!!
Beijinhos :*
Gabi
Continua, sim? Ansiosa pelo próximo... xD
ResponderEliminarOHH MEU DEUSSS!!!!
ResponderEliminarperfeitoooooooo *.*
continua!
beijos
Para quando o proximo capitulo?? Isto está bom demais!!
ResponderEliminarBeijinhos
magnífico!!! omg!!! ta emocionantd!!!! vi o teu site hj num blog d uma mga e agra smplesmente devorei tds os teus capitlos! e ja li o novo e pocha vida, sou tua nova fã!
ResponderEliminarbj
ju