O doce mês de Agosto
cessara-se em dias rápidos que voaram no calendário a uma velocidade furiosa,
levando a tomada de uma nova jornada que conhecera o seu início nos primeiros
dias de Setembro. Escusado será dizer que pelas adversidades óbvias não fui na
viagem a Paris com a minha afilhada e com o Ruben, e como a faculdade se tendia
cada vez mais a aproximar a um ritmo implacável, despendi a minha última e
sagrada semana de férias longe do sol da Caparica e hospedei-me em terras de nuestros hermanos, na belíssima
Barcelona, onde num retiro pude tirar o máximo proveito das regalias do
descanso e enriquecimento cultural, que trouxe na bagageira comigo no regresso
à minha Lisboa. E como um verdadeiro retiro assim o exige, isolei-me e não fiz
uso de qualquer aparelho electrónico, incluindo o meu telemóvel, que mantive
desligado durante toda a semana… Quem quisesse falar comigo teria de deixar
mensagem no voicemail ou então no meu atendedor de chamadas do telefone de
casa.
Quanto aos problemas do
coração, bem… eles permaneciam no mesmo lugar, é verdade, mas eu estava sem
dúvida mais recomposta, mais serena, e sobretudo mais confiante em trazer a
cabeça erguida para não deixar fugir a oportunidade de olhar as coisas boas que
a vida tinha para me oferecer, sem propensão a relembrar com tanta frequência o
que me havia sido retirado.
- Em casa… Finalmente… -
perjurei num suspiro de alívio, recém-chegada do aeroporto depois de quase duas
horas retida num trânsito colossal, que instalara um panorama de autêntica
desordem por um acidente provocado na estrada em que o meu táxi seguia
Coloquei a mala de viagem
junto ao móvel de entrada e fiz uso da pequena taça para onde lancei as chaves.
Sentia-me completamente estoirada e na minha cabeça apenas a ideia de tomar um
duche fresco e ir descansar logo a seguir, se aprimorava, mas quando tomei
compasso de subida até ao piso superior para rumar ao meu quarto, reparei na
luzinha intermitente do atendedor de chamadas que avisava o guardo de uma ou
mais mensagens de voz deixadas durante a minha ausência, e por isso adiei só por
uns instantinhos os meus afazeres e tomei pose do pequeno aparelho que
manuseei.
“Tem quatro novas
mensagens. – logo
a seguir ao bip ouvi a típica voz feminina anunciante – Primeira mensagem recebida dia 31 de Agosto às 16 horas e 31 minutos:
Joana, olá! Daqui fala o Nuno Baltazar… Querida, gostava de falar contigo sobre
um desfile que vou fazer em Portimão… Eu sei que deves ter outros compromissos
e ainda para mais agora com a típica agitação de mais um ano de faculdade, mas
agradecia imenso que quando pudesses me ligasses, ou então aparecesses aqui no
estúdio. Depois diz algo… Um beijo!”
Provavelmente era já
tarde para lhe ligar ou marcar com encontro em prol do assunto que ele queria
travar comigo, somente agora poderia fazê-lo para me desculpar por não ter dado
notícias mais cedo, mas isso também era algo que deixaria para fazer mais tarde
e por isso continuei a ouvir as mensagens e passei de imediato para a seguinte.
“Segunda mensagem, recebida dia 6 de Setembro às 12 horas e
17 minutos: Hey, meia-leca! Sou eu, o Pedro… o teu melhor amigo, sabes? Ah! E o
melhor agente do mundo também! E não estou a dizer isto para me gabar… sabes
bem que é verdade, portanto! – era incrível o sentido de humor daquele rapaz,
a sua alegria e boa-disposição acima da média… sempre a fazer piadinha, sempre
a tentar fazer-me rir – Adiante, gostava
de ter notícias tuas, mas claro… só se for possível! Isto agora vai-se de
férias uma semana, corta-se o contacto com os amigos e arrivederci(!) Parece
que temos de ter uma conversinha muito séria… Quando chegares dá sinais de
vida! Ok, já estou a falar de mais… Então é isso, adeus!”
“Terceira mensagem recebida dia 6 de Setembro às 18 horas e
30 minutos: Hello, hello, beauty! É o William! Já há algum tempo que não
falamos… Como estás? Tentei ligar-te para o telemóvel mas esteve sempre
desligado, gostava de ter notícias tuas, miúda! Então eu liguei porque queria
muito falar contigo, estou a pensar em ir passar alguns dias aí a Portugal para
matar saudades e precisava mesmo de falar contigo sobre a minha ida… Quando
puderes diz-me alguma coisa, ok? Um beijo, miúda, fica bem!
Um novo bip seguiu-se anunciando a última mensagem.
“Quarta mensagem, recebida hoje às 9 horas e 54 minutos: Olá
Joaninha, é a Bárbara! Sei que tens estado de férias em Barcelona, mas logo
quando voltares gostava de falar contigo… Estou a organizar um jantar entre o
nosso grupo de meninas do liceu, já algum tempo que não estamos juntas e
raramente nos vemos por estar cada uma em sua universidade, por isso achei uma
boa ideia preparar este encontro e fazermos um programinha só de mulheres…
Liga-me assim que ouvires esta mensagem, sim? Um beijinho grande!”
Bárbara era uma antiga
colega dos tempos do meu secundário e uma amiga muito querida que mantinha
próxima ainda nos dias de hoje. Por uma eventualidade do destino
reencontrámo-nos na mesma faculdade aquando o meu regresso definitivo à
capital, inclusivamente fazíamos algumas cadeiras que os nossos cursos tinham
em comum, facto esse que contribuiu para não voltarmos a perder o contacto uma
da outra.
Fiquei contente e devo
dizer que bastante entusiasmada com o telefonema dela, tinha já muitas saudades
das minhas meninas e agora com algumas a viver longe, tinha-se tornado difícil
vermo-nos… Algo que estaria para mudar com um encontro engendrado ao qual eu
não podia deixar de ir.
Deixando as respostas às
outras mensagens em stand-by, peguei
no telefone para marcar o número da Bárbara, e enquanto do outro lado da linha
ouvia chamar, encaminhei-me até à sala de estar onde ao canto do sofá fiz o meu
pousio.
- Estou sim? – estando
por largos segundos suspensa, sem resposta do outro lado, e quando já pensava
que a chamada ia ser perdida acabando por ir parar ao voicemail, a voz suave de
Bárbara ressoou ao auscultador
- Oi, Bá! – saudei
simples e meigamente, e um sorriso abriu instantaneamente caminho entre os meus
lábios
- Jojo, és tu? Ai, ainda
bem que ligaste! Que bom! – ela ficou notavelmente feliz por me ouvir e o seu
entusiasmo ressalteador acabou por completar o meu
- Acabei de ouvir a
mensagem que me deixaste…
- Então já voltaste das
tuas férias!
- Sim, cheguei há pouco a
casa. – assertivei, levando o meu olhar a percorrer os recantos silenciados da
sala, enquanto na minha cabeça revia a agitação de tarefas que tinha pela
frente com a chegada do meu penúltimo ano de faculdade, dentro de pouquíssimos
dias
- Óptimo, isso quer dizer
que ainda tens tempo de te preparares para o nosso jantar… - Bárbara falou
calmamente, como se eu já estivesse a contar com os planos para aquela noite,
planos esses que eu não esperava que fossem propostos para tão cedo e tão em
cima da hora
- O quê? Mas é hoje?
- Sim. Já falei com elas
e vai ter mesmo que ser hoje… Desculpa se é apertado para ti, mas a Bia e a
Matilde voltam amanhã para Coimbra e a Carolina regressa a Aveiro ainda esta
noite, já sabes que com o regresso das aulas aí à porta…
- Sim, claro, eu percebo!
Mas então diz-me… Onde e a que horas? – inquiri, disponibilizando-me
inteiramente, julgando ter tempo ainda de sobra para o encontro
- É naquele restaurante
italiano onde fomos almoçar há uns tempos… às nove e meia! Depois talvez dêmos
um saltinho a uma discoteca das redondezas com boa música para dançarmos um
bocadinho… Parece-te bem?
- Sim, para mim está
óptimo! – concordei de imediato, vendo que no relógio tinha um intervalo de
duas horas para me preparar e sair de casa – Encontramo-nos no bar do
restaurante?
- Sim, pode ser! – o seu
tom foi denunciante e pude adivinhar-lhe um sorriso imensamente rasgado no
rosto naquele exacto instante
- Então está combinado!
- Está combinadíssimo,
princesa!
- Pronto, eu vou então
arranjar-me para não chegar atrasada! – se havia coisa que eu detestava era a
falta de pontualidade, no sentido geral mas especialmente comigo também, aliás,
preferia ser eu a ter de esperar pelas pessoas do que fazê-las esperar por mim
- E eu vou telefonar às
meninas a acertar as horas e o ponto de encontro…
- Está bem, amor… Às nove
e meia no italiano.
- Certíssimo, lá nos
encontramos!
- Então, até já… Beijinho
princesa! – despedi-me com um sorriso saudosista
- Um beijinho também para
ti, amor… Até já! – o sinal na linha seguiu-se intermitente dando por findada a
nossa conversa
Aquele jantar iria
certamente fazer-me bem… Sair, espairecer, rever pessoas que foram muito
importantes para mim em determinada fase do clico da minha vida, e deitar, nem
que fosse apenas por uma noite, todos os problemas, tormentos e preocupações
para trás das costas. Era tempo de pensar em mim, de cuidar de mim e finalmente
estava mais do que disposta a fazê-lo.
Voltei a lançar uma
simples mirada ao relógio de parede para me orientar nas horas e sem grandes
demoras tomei caminho até ao andar superior da casa, onde entre as quatro
paredes da casa de banho me embrenhei nas malhas de um banho fresco e
relaxante, que levei adiante em dez minutos. Enxuguei o corpo, vesti a parte
debaixo da langerie e por cima um roupão de linho negro, e voltei a enveredar
pelo quarto, para escolher um conjunto de roupa e ser o mais breve possível a
preparar-me… Teria sido de facto um bom esforço se não tivessem tocado à
campainha e destabilizado o meu canto. Olhei a minha figura num simples
relance que se encontrava inalterável aquando saída da casa de banho, e fui
assim mesmo até à porta.
- Já vai, já vai! –
proferi num tom forçosamente alto, pela insistência fosse de quem fosse do
outro lado da porta, enquanto percorria o corredor superior para me precipitar
às escadas, descê-las aos saltinhos e alcançar a entrada
Sem ter a necessidade de
olhar pelo óculo, rodei a maçaneta na minha mão e abri a porta… a pior atitude
que poderia ter tomado. Diante dos meus olhos a figura extremamente saudosa,
porém de quem eu não esperaria voltar a ver – não tão cedo e não ali –
prostou-se à minha frontaria, esperando que o recebesse no meu pequeno mundo…
agora só meu.
Fiquei sem palavras, não
havia nada ali que eu pudesse dizer-lhe e a preencher esse silêncio os seus
actos falaram por nós. Ele tinha um ar misterioso que há muito tempo não lhe
vi-a, a sua boca que eu não sabia se sorria ou se estava a conter a vontade de
fazê-lo, um olhar enigmático que me percorreu o corpo indiscretamente, como se
estivesse a desfrutar do que vi-a, levando-me a ficar constrangida entre
aqueles pequenos trajes e ao meu coração a bater que nem um louco, por voltar a
ficar exposto para quem o magoara.
Ele permaneceu parado a
olhar para mim e somente para mim, não me desviando do seu foco por um segundo…
Queria por um fim àquele
tormento, e tentei, ao voltar a fechar a porta sem uma única palavra ser
proferida entre nós, mas ele não deixou… Colocou instintivamente o pé a barrar
o trinco e com uma força extra que empregou nas mãos voltou a abri-la, forçando
a sua entrada na minha casa.
- É assim que recebes as
tuas visitas? – a voz quente e embriagante de Ruben, voltou a soar aos meus
ouvidos após algumas semanas demarcadas pelo seu silêncio, mas eu não quebrei
ao ouvi-la, não podia fazê-lo
- As visitas indesejadas,
sim! – retorqui sem impasses, tentando impor alguma formalidade entre nós que
no entanto ele quebrou em meia dúzia de gestos e actos
- Posso entrar? – apesar
da pergunta colocada, ele já havia passado o limite da entrada e pelo próprio
pé começou a redescobrir os cantos à casa que já conhecia, enveredou pelo
corredor principal para virar à esquerda e entrar na sala de estar
- Acabaste de o fazer… -
completei numa reprimenda que ele já não ouviu, voltei a fechar a porta e segui
atrás, procurando por explicações que me mereciam ser dadas – O que é que tu
estás aqui a fazer? – logo que voltei a retomar o contacto visual entre nós, na
frente do meu peito cruzei os braços, predispondo-me a enfrentar a situação e
não vacilar com ela
- Eu? – tomando uma
atitude que eu lhe desconhecia, ele entrou num jogo perigoso de poder e sedução
e queria levar-me consigo, mas eu não podia deixar-me ir… simplesmente não
podia – Eu vim ver-te! Trouxe vinho para acompanhar o jantar! – proferiu com
uma rectidão e domínio inquebrável a traçar-lhe a conduta da voz, pousando a
garrafa de vinho branco que trouxera, sob a mesinha de apoio ao centro
- O quê? Só podes estar a
brincar… - achando-o com um descaramento descomunal, ironizei um sorriso de
quem estava prestes a ser apanhada numa armadilha… não sei se de dolência ou de
saudade – Mas qual jantar?
- Passei por aqui para
conversarmos um pouco, já há algum tempo que não nos vemos… Acho que um jantar
ficava bem para… descontrairmos um pouco. – fazendo-se em sua casa, tomou lugar
ao centro do sofá de três lugares e acomodou-se relaxadamente – Estás sozinha,
não estás?
- Isto é algum tipo de
brincadeira? É que se for eu não estou a achar piada nenhuma… Não tens mais
ninguém para ires torturar?
- Por acaso tenho, mas
escolhi-te a ti! – deu uma resposta muito rápida e sorriu
- Ok, Ruben, já chega…
Vai-te embora. – pedi atempadamente, antes que a calma entre nós fosse perdida
e o cenário até então pacífico, desmoronasse para um que não seria bonito de se
ver
- Queres que me vá
embora? Mas ainda agora cheguei… - a sério que não lhe conhecia aquela faceta…
estava ali, sentado no sofá da minha casa, completamente sereno, como se
tivesse sido anestesiado por uma poção do esquecimento e adormecido sobre tudo
o que se passara entre nós, sobre tudo o que nos acontecera… estava ali com a
maior descontração do mundo, só ainda não sabia que intenções trazia escondidas
por detrás dela
- Estou a pedir-te
educadamente, Ruben… Vai-te embora, por favor!
- E eu estou a recusar
educadamente o teu pedido, Joana! – ele mostrou um sorriso ligeiro porém
glorioso, como se estivesse a controlar toda a situação – Pensei que agora que
estamos sozinhos, podíamos falar um pouco, sem discussões, sem ressentimentos…
- Pois mas pensaste mal,
eu já tenho planos para hoje… Aliás, tenho que me ir arranjar antes que chegue
atrasada, portanto, se fazes o favor…
- Desmarcas! – a sua
resposta foi tão rápida e breve que nem deu para eu percebe-la em condições
- Desculpa?
- Desmarcas tudo o que
tens combinado… Hoje os teus planos cruzam-se com os meus. – a forma como ele
falou foi tão intensa, tão profunda, que senti cada pequena vibração ascender a
minha espinha levando-me a arrepiar por completo
- A Inês sabe que estás
aqui? – inquiri, mesmo retendo para mim a remota opinião de que ela não fazia a
menor ideia que o noivo ali estava… comigo, caso contrário a situação mudava de
figura
- O que é que acontece se eu disser que não? – os seus ombros encolheram-se desprendidamente, e eu
limitava-me a ficar cada vez mais impressionada com o que estava a acontecer
- Ruben, sai! – voltei a
exigir, esperando que desta vez ele respeitasse o meu lado, que com o avançar
moroso de tudo aquilo, ficava coerentemente comprometido
- Obriga-me! – atirou em
jeito de desafio, que eu não iria obviamente levar a cabo
- Ouve, eu já não tenho
idade nem paciência para estes joguinhos, portanto se quiseres brincar sugiro
que procures outra pessoa… A tua noiva, por exemplo! A porta fica ali! –
esforcei-me por responder com o máximo de frieza e vigor, lançando o meu
indicador à porta de saída… não iria permitir qualquer aproximação entre nós,
por mais inofensiva que pudesse parecer
- Joana, vê se entendes
uma coisa, eu vim cá para falar contigo e não vou sair desta casa enquanto não
o fizer, ponto final.
- Mas eu não quero falar
contigo, será que ainda não percebeste?
- Então lamento mas vais
ter que levar comigo… eu não vou a lado nenhum! – cruzou uma perna sobre a
outra e estendendo os braços totalmente sobre o encosto do sofá, fincou bem a
sua posição, sabia que quando ele metia uma ideia na cabeça se tornava um alvo
muito difícil de abater, mas no final um de nós teria de ceder, eram estas a
consequências do jogo ditado por ele
- Tu por acaso andaste a
beber antes de vires para cá? – embora da redundância e perspicuidade da minha
pergunta, para a qual a resposta era claramente negativa, por um momento achei
que Ruben não estava completamente consciente das problemáticas que poderia
suscitar por estar ali comigo… isolados do resto do mundo
- Eu? Não… Acho que nunca
estive tão sóbrio! – e eu acho que nunca ele me parecera tão certo do que dizia
como naquele instante, como se de alguma forma me estivesse a dar um sinal de
que não haveria outro lugar no mundo onde devesse estar senão ali
- Ruben, sai… Vai-te
embora! É a última vez que te peço… Eu não quero arranjar problemas, nem a ti
nem a mim.
- E eu volto a dizer: Não
saio daqui enquanto não conversarmos decentemente, é a minha única condição. –
aquela sua insistência exaustiva, começava morosamente a tirar-me do sério e de
alguma maneira, ainda não sabia como, teria de agir antes que a situação
tomasse um caminho sem retorno
- Queres conversar
decentemente? Olha que assim de repente não estou a ver nenhum assunto que
tenhamos em comum para discutir, a não ser claro, que tenhas vindo até aqui na
tua condição de afilhado, afinal vou ser a tua madrinha, não é?
- Joana, por favor…
- Por favor, digo eu! Eu
não quero que haja mais nenhuma ligação entre nós que possa levar outras
pessoas a pensar coisas erradas se souberem que estivemos juntos… A melhor
coisa que temos a fazer é voltarmo-nos a ver apenas no teu casamento… Até lá o
melhor é continuarmos a manter a distância. – julgando ter encerrado ali o
problema, delimitei as linhas em nosso redor que não deveríamos pisar para não
invadirmos o espaço um do outro, o que evidentemente poderia acarretar algum
desconforto para nós
- Porque é que me estás a
pedir isso? Qual é que é o teu problema?
- O meu problema? – o meu
rosto declarou uma expressão de evidência incontestável, que depois veio a ser
apoiada nas minhas palavras que eu jamais poderia remexer para a sua tese – Tu
és o meu problema, Ruben… Tu!
- Odeias-me assim tanto,
é? – inquiriu de olhar trémulo, que se guiou pelo meu enquanto se erguia do
sofá e a passo por passo tomava proximidade de mim, uma proximidade perigosa
que inculpava e comprometia as linhas que eu havia já traçado, de forma a
quebrar o nosso ponto de ligação, que não voltaria a unir-se
- Eu? Não… Claro que não!
– aquela minha mania de me defender por detrás do sarcasmo… como se ainda
esperançasse sair menos magoada atacando com essa arma que era a única que
tinha à mão, mas por momentos gostava de pensar que sim – Claro que eu não te
odeio, eu odeio-me a mim e sabes porquê?
Porque fui eu que desisti da pessoa que dizia ser o amor da minha vida, sou eu
que agora estou comprometida e feliz ao lado de outro homem, não é?!
- Joana, espera… Ouve-me!
– ele caiu no maior erro que poderia cometer, o mais fatal de todos que poderia
dar início ao nosso ponto de ruptura… a sua mão pegou a minha levemente,
quebrado a barreira do contacto físico que mantivéramos erguida durante tanto
tempo… demasiado, e tão discretamente como as nossas mãos se uniram, do mesmo
jeito se separaram, assim que ele viu nos meus olhos o desconforto que me
estava a causar – Eu sei que fui uma besta, que te magoei muito mas…
- Sai daqui… Se ainda
tens um pingo de bom senso como eu sei que ainda tens, vais esquecer o que te
trouxe aqui, vais respeitar a minha vontade e vais-te embora sem dizeres
absolutamente mais nada. – não queria as desculpas dele, não queria o
arrependimento dele, muito menos explicações que remediariam coisa nenhuma, e antes
que as lágrimas que já me contornavam os olhos, cedessem pelos caminhos do meu
rosto, vi-me forçada a exigir a sua saída da minha casa, e principalmente da
minha vida
- Eu não quero ir… - o
murmúrio trémulo dele quase me fez ceder, quase, levando Ruben a não dar-me
ouvidos, algo que francamente já não me surpreendia, e permaneceu na minha
frente à espera de me ver tomar alguma atitude, que no entanto não demorou em
chegar
- É assim que vai ser,
não é? Então deixa-te estar… Faço um favor a mim mesma e saio eu!
- O quê? Joana, espera…
Onde vais?
Sabendo o quanto ainda o
amava, eu não podia continuar ali, não podia continuar a castigar-me daquela
maneira, fazia-me mal… Estar sem ele era mau, era péssimo, mas estar com ele ainda para mais naquelas circunstâncias,
conseguia ser ainda pior. Não dei qualquer importância ao facto de estar apenas
em meia langerie e roupão, dei meia volta e rodei o meu corpo no sentido da
saída, que eu pretendia alcançar o mais rápido possível para sair daquele
sufoco demasiadamente doloroso. Porém, Ruben voltou a barrar-me com novos
obstáculos, a tentar reter-me na sua jogada, na sua manipulação… Continuou a
puxar os cordões da minha paciência e tentar levar-me ao limite máximo do
suportável.
Em passadas rápidas vi-o
rasgar passagem ao meu lado para cruzar à minha frente e obstruir-me a saída,
que eu não iria transpor, não segundo a sua vontade.
- Perdeste alguma coisa
aqui? – indagou tentando armar-se em engraçadinho logo assim que alcançou a
porta, colocando-se entre mim e ela
- Perdi… Perdi a vontade
de ficar a olhar para ti.
- Tens bom remédio, fecha
os olhos… Mas garanto-te que não vais a lado nenhum!
- Porque tu não queres?
- Porque eu não deixo!
- Deixas sim… Enquanto
estiveres na minha casa vais respeitar o que eu te digo, por isso, sai da
frente!
- Passa por cima! Eu não
dou nem um passo.
- Estás a querer
provocar-me?
- Estou a conseguir?
- Ruben… - coloquei-o sob
aviso, que ele mais uma vez ignorou e veio a desrespeitar
- Queres sair não queres?
Olha só… - por um descuido meu que nem calculara, ele apanhou as chaves da
porta e rodando-as na fechadura, trancou-me lá dentro consigo
- Ruben, o que é que
estás a fazer? Ruben! Dá-me as chaves! – exigi num sopro pesado, estendendo a
minha mão na frente do seu peito
- Quais chaves? Estas
chaves? – ele exibiu-as sob a palma da sua mão, e antes que eu conseguisse a
oportunidade de alcançá-las, ele voltou a cerrá-la e escondeu-as posteriormente
– Vem buscá-las! – desafiou num sorriso de puro desdém ao resguardar as chaves
no bolso traseiro das suas jeans
- Ai, estás a deixar-me
doida!
- Por mim? – ele era
perito em fazer-me perder a noção do real, e de novo aquele sorriso que já se
tinha tornado a sua imagem de marca, voltou a emergir à tona do seu rosto,
fazendo-me apaixonar de novo na curva dos seus lábios
- Cala a boca, Ruben!
Cala a boca! – obriguei, começando a ficar totalmente fora de mim pelas suas
intervenções rápidas que facilmente me deixavam sem resposta
- Obriga-me! – atestou,
fechando o sorriso que há pouco ilustrara para colar praticamente os seus olhos
aos meus, num abeiramento que me fez conter a respiração
Ele nunca deveria ter
dito aquilo, nunca deveria ter-me posto à prova daquela maneira, pois o facto
de me sentir encurralada fez-me perder o pouco controlo que ainda me restava e
libertar os meus instintos num impulso que prometera a mim mesma nunca mais
voltar a ter… mas tive, e beijei-o. Coloquei o seu rosto, por barbear, entre as
minhas mãos hesitantes, e precipitei os meus lábios aos dele, num toque ousado
que a mim me aqueceu o peito e me deixou os joelhos a tremer, e a ele sem
reacção, apesar de o ter sentido corresponder tenuemente mas apenas no segundo
a seguir.
- Desculpa, isto não
devia ter acontecido… Desculpa. – afastei-me logo que voltei a cair em mim, num
pedido de desculpas que mereciam ser dadas, pois tinha passado o risco que eu
mesma impusera entre nós, e não me poderia sentir mais ridícula e envergonhada
perante ele com a minha atitude
- Só há uma coisa que eu
não desculpo… - por instantes ele ficou completamente absorto, petrificado com
o que tinha acontecido, mas depois tomou de novo uma reacção que eu nunca
esperara ver-lhe – Não desculpo o facto de teres parado… - numa impulsão que eu
não esperava de todo, vi-o avançar e senti as suas mãos atacarem a minha
cintura, atirando-me com ele de encontro à parede que tínhamos mais próxima
- Não, isto não pode
voltar a acontecer… - senti o seu corpo empurrar o meu, a esborrachá-lo contra
a parede, fazendo-me perder as forças e suster novamente o ar nos meus pulmões
- Foste tu que me
beijaste… - evidenciou num sorriso recatado, dando impulso para que o diálogo
que se seguiu fosse proferido inteiramente em murmúrios dispersos pelas nossas
bocas que resistiam impacientemente a um novo encontro
- Foi um erro, um
deslize…
- Um deslize ou saudade?
– a pontinha do seu nariz percorreu o meu e num arrepio perplexo senti a sua
mão abrir passagem entre o meu roupão e tocar-me a barriga
- O qu… O que é que estás
a fazer? – a minha voz estremeceu mais do que nunca, estando os nossos rostos a
tocarem-se sucessivamente por iniciativa dele, fazendo-me sentir dar o passo
que restava para lhe cair nos braços… aos braços do homem da minha vida
- A perder a cabeça, acho
eu… - os seus lábios quentes roubaram um beijo aos meus, que não esteve em meu
perfeito juízo recusar, mas cheguei a recear que ele voltasse a fazer-me o
mesmo que fez no aniversário da nossa pequena Sofia
- Acho que é melhor
controlares-te, Ruben…
- Está difícil…
- Não te esqueças que és
comprometido, devias fazer um esforço… antes que cometas alguma loucura…
- Louco eu já estou… - a
sua citação fez-me fechar os olhos, na esperança que se não visse isso me
tornaria invisível, me faria deixar de sentir, mas eu continuava a sentir tudo,
até a humidade do meu pescoço que foi percorrido com beijos… só ele conhecia
aquela minha fraqueza, só ele sabia como aquele toque poderia fazer-me vacilar,
e soube usá-lo irremediavelmente bem contra mim
- Ruben, pára… Nós não
podemos. – as minhas mãos tocaram-lhe o peito, mas não foi impedimento nenhum
para ele… tentei a todo o custo, com todas as minhas forças resistir, mas
tornava-se cada vez mais impossível continuar a fazê-lo
- Shiu, não digas nada…
- Isto está tão errado,
tão errado…
- Eu sei… Mas não dá para
aguentar mais… – os seus olhos fixaram os meus ternamente, como duas imensas
luas novas que espelharam apenas o começo da nossa noite
- Porque é que tinhas de
aparecer agora? Eu estava a tentar esquecer-te…
- E estavas a conseguir?
- Estava a fazer um
esforço. – reforcei a minha posição, cada vez mais debilitada entre os braços
dele que não me dariam fuga possível, mas também eu já não queria fugir
- Pena esse esforço não
ter dado certo, não é?
- É… é uma pena… -
proferi em palavras soltas o que o desejo me ditara, e quebrei ao sentir a sua
língua abrir passagem entre os meus lábios, que eu não pude continuar a manter
selados por mais tempo
Por mais que tivesse
tentado lutar contra aquilo, já tínhamos vencido o mínimo de limites que nos
eram exigidos, e era tarde demais para voltarmos atrás… Era impossível pararmos
agora. O encontro adjacente das nossas línguas deu largas ao desejo que
embriagávamos, envolvendo-se exaustivamente dando pujança aos prazeres carnais
que não tínhamos como continuar a negar.
Uma espessa camada de
névoa toldou-nos a razão e esquecemo-nos por completo a distinção do certo e do
errado. Tinha plena consciência que não deveria arriscar, que não deveria
deixar-me levar pela voz do coração, mas esta gritava tão alto que eu não pude
ficar-lhe indiferente, porém, ainda que não quisesse parar, a muito custo tive
de interromper o beijo.
- E se alguém descobre? –
coloquei em questão, num murmúrio melindroso que embateu nos lábios dele, ainda
encostados aos meus, numa dúvida que fazia daquele acto puro de rendição, um
crime que não nos inquietávamos em estar a cometer
Um novo beijo. Por entre
um sorriso delirante, Ruben fez surgir um novo beijo desconcertantemente
rebelde e provocador que dissipou todas as minhas dúvidas. Beijou-me como se
não houvesse mais amanhã, como se o mundo tivesse deixado de existir lá fora…
nada mais importava, nada mais interessava se não nós dois, a vivermos aquele
momento, a vivermos um para o outro. As nossas línguas voltaram a encontrar-se
e percorreram juntas os cantos das nossas bocas que já conhecíamos de cor, os
nossos corpos abraçaram-se num aperto forte e aconchegante, fazendo-me desejar
que aquele momento não tivesse um fim próspero e destinado a acontecer.
Foi uma questão de
segundos até sentir as suas mãos segurarem as minhas coxas, puxando-me para si
para me tomar no seu colo, pegando-me com uma facilidade tremenda.
- Porque é que nós só
estamos bem a fazer-nos mal? – a sua vez de falar chegou traída pela falta de
folgo que havia sido sucumbido aquando do nosso último beijo e sorrir-lhe foi
inevitável – Porque é que és totalmente… completamente… e irremediavelmente…
irresistível? – proferiu num sorriso colmatado de safadeza, para repuxar o meu
lábio inferior entre os seus dentes, logo em seguida
- E porque é que tu és
completamente… totalmente… e irremediavelmente… detestável? – sussurrei de
volta, totalmente rendida aos carinhos dele dos quais eu já tinha tantas,
tantas saudades
- Não gostas…? Hum…? – o
seu murmúrio disperso ao meu ouvido fez-me tremer nos seus braços,
provocando-me uma sensação de calor interior como já não sentia há muito, e
sinceramente eu não queria que aquela sensação desaparecesse
Voltei a puxá-lo para mim
ao cruzar as mãos na nuca dele, sendo esta a minha vez de ser eu a beijá-lo,
por própria vontade, por próprio querer… era o que eu mais queria. Quando o
senti apertar-me mais forte para me levar consigo para onde quisesse, reforcei
o meu apoio rodeando totalmente a sua cintura com as minhas pernas, e só me
voltou a pousar quando com a mão que tinha livre desviou alguns dos objectos
que ocupavam a base do móvel de entrada que me fez ocupar a um canto, e sem
nunca os nossos corpos caírem na eventualidade de voltarem a desgrudar um do
outro.
A partir daí os nossos
tons de voz mudaram para mais baixos, meigos e secretos, o diálogo entre nós
passou a ser outro, as frases tornaram-se mais curtas e rápidas pela pressa que
tínhamos em voltar a beijar-nos.
- Tenho de ligar à
Bárbara… - aproveitei os pouquíssimos segundos de desencontro dos nossos lábios
para expressar o dever que teria de ser feito, desmarcando os planos que tinha
para aquela noite e dar lugar a outros radicalmente inesperados, e com o braço
esticado tentei chegar ao telefone
- Não, ligas depois… -
contradisse-me Ruben num timbre mimado, de quem não queria suspender nem
abdicar daquele momento
- Mas eu preciso avisá-la
que não vou poder ir ao jantar…
- Não, tudo o que tu
precisas está aqui. – sem nunca perder o contacto com os meus lábios, que eram
carinhosamente afagados pelos seus, a sua mão percorreu-me lentamente o braço,
tomou controlo do meu pulso e fez-me pousar novamente o telefone no suporte
- És tão convencido… e
egoísta também!
- Pois sou! Quero-te só
para mim! – com um puxão forte que ele forçou nas minhas coxas, soltei um
pequenino e indeclinável grito, pelo impacto remoto e tentador dos nossos
corpos que se grudaram instantaneamente
Ruben beijou-me mais
louco do que nunca, ainda os nossos lábios não se tinham encontrado, já as
nossas línguas faziam a procura urgente uma da outra, e ao se encontrarem de
novo, não rescindiram forças de se voltarem a separar. O meu controlo, nunca tão
frágil com até então, estava a cair em desfalque pela tentação profunda que me
invadia, tanto a mim como a ele, que eu sentia querer tanto aquilo como eu. Não
dava para aguentar, não dava para resistir, era fatal e estávamos os dois
rendidos aos prazeres e encantos que redescobríamos numa nova busca pelo amor
que nos unia, unia-nos e a prova estava ali mesmo, a ser testada por nós.
As suas mãos começaram a
percorrer-me o corpo descontroladamente, tal como as minhas, que correram ao
instinto de querer retirar-lhe a t-shirt e retirei mesmo, quando os meus dedos
se prenderam nas bainhas e ele compactuou comigo ao elevar os braços para que
fosse eu a despir-lha. Estávamos a jogar um jogo tão perigo, mas tão bom e
pediamos mais e mais… Sabíamos que ia acontecer e não havia nada que pudesse
alterar isso.
Quando ele não resistiu
em iniciar uma brincadeira de mordidelas sucessivas no delinear do meu pescoço,
as suas mãos tomaram outras andanças e fustigaram-se entre a abertura do meu
roupão… subiram a minha barriga e só pararam no meu peito, que ele acariciou em
investidas suaves e deleitantes, que me fizeram suspirar no embate de mais um
beijo.
- Leva-me para o quarto…
- pedi-lhe numa confissão impensada junto do ouvido dele, e posso jurar que o
senti tremer… e não foi de certo pelas minhas mãos geladas tocarem a sua
barriga escaldante e tonificada, a razão era só uma e foi outra
Ele interrompeu as
carícias por instantes e fitou-me na incerteza de ter ouvido claramente a minha
maior vontade. Os seus olhos mergulharam nos meus com um brilho invulgar e
arrepiante, que fez o meu coraçãozinho apaixonado extravasar numa arritmia
arrebatada e enlouquecida que fazia o sangue escaldado que me corria nas veias,
cursar novos caminhos que aumentaram a frequência da minha respiração. Fiquei
hesitante e um quanto embaraçada nos primeiros momentos por me ter exposto e
confessado daquela maneira, não estava certo fazê-lo, continuava ciente disso,
mas aquilo era amor, era amor de todas as formas e feitios e eu não queria abrir
mão dele.
Só sosseguei quando
distingui por entre o silêncio, um sorriso majestoso inundar as profundezas dos
seus lábios, que se apressaram a ir novamente ao encontro dos meus, facultando
um encaixe perfeito e urgente, e beijar-me com um fulgor que eu não lhe
conhecia, com um carinho, com uma saudade, oh… E nesse instante eu tive a mais
plena certeza… Ele ia ter-me, eu ia ser dele.
Os seus braços voltaram a
amarrar-me com força para si e ele voltou a pegar-me e a tomar-me no seu colo,
como se não quisesse que eu o largasse, e apertando-me os glúteos carinhosamente,
dirigimo-nos às escadas, que devo confessar, tivemos algumas dificuldades em
subir… Ruben persistia em querer beijar-me a cada degrau que ascendia, custasse
o que custasse, o que claramente lhe diminuía a amplitude de visão e só ao fim
de algum tempo distribuído entre alguns tropeções e solenes risadas entre nós,
que alcançámos por fim o piso superior. Fiquei surpreendida, muito surpreendida
na verdade, por ele não se ter enganado na porta e ir direitinho ao meu quarto…
Cheguei a pensar que depois de tanto tempo ele já não se lembrava onde ficava,
mas enganei-me, aquela simples recordação não se havia apagado da sua memória e
não sei bem porquê mas aquele pequeno pormenor deixou-me a sorrir por dentro.
Entrámos e ele pousou-me
sob a cama e preencheu de imediato o seu lugar colocando-se sobre mim sempre
com o cuidado em distribuir o peso do seu corpo para não me magoar. A
pouquíssima intensidade de luz que eu deixara acesa e que provinha dos
candeeiros elevados às duas mesinhas de cabeceira, e que insidia em nós, apenas
me deixava discernir alguns contornos do seu rosto e manter os restantes na
descrição… Tonificando o seu lado mais misterioso e encantador que lhe
conhecia.
Continuámos a beijar-nos no meio daquilo tudo, a tocar-nos, a
suspirarmos melodias de prazer que nos deixavam cada vez mais rendidos um ao
outro e nos davam certezas infrangíveis de que aquele momento estava destinado
a ser vivido, para voltarmos a ser nós mesmos… um só.
- Quero que saibas que
isto não muda nada… Continuo a odiar-te… - provoquei amenamente de respiração
debilitada, estando a ser dominada por ele e pelo amor que lhe sentia
- É? Diz-me então o
quanto me odeias… Diz… - aquela voz embargante foi dispersada e embateu no
toldo dos meus lábios, no segundo antes de estes se deliciarem com mais um
beijo inadiável e avassalador
- Odeio-te muito… muito,
muito…
- Foi um bom esforço, no
entanto eu continuo a odiar-te mais. – nada me deu mais deleite de ouvir do que
aquilo, e de olhar pregado ao meu, os seus dedos ágeis recorreram à facilidade
de desatar o laço do meu roupão que ainda me cobria o corpo, e expor-me para si
sem mais reservas
Como não seria certo nem
justo para nós mesmo usarmos a palavra que destacava o sentimento, usámos a
oposta que soubemos descodificar bem demais.
Na súplica seguinte já
estávamos a beijar-nos de uma maneira profundamente enlouquecida, as nossas
bocas ainda não se tinham voltado a descolar, dando continuidade ao beijo longo
que era somente furado por amenas gargalhas que eu dispersava, por senti-lo a
fazer cócegas demasiadamente desconcertantes na minha barriga.
- Hum, Ruben… - cerrei as
pálpebras num lance e deixei pender a cabeça ainda mais para trás, aquando dos
leves belisques que com os dentes ele preenchia os meus ombros, eu mordiscava
incessantemente o lábio inferior, na obtusa esperança de poder vir a amenizar a
temperatura exageradamente elevada do meu corpo – Porque é que as coisas
erradas sabem tão bem? – divaguei num sopro discreto, só meu
As suas mãos
voltaram a subir vagarosamente e aferrolharam as minhas nádegas, acariciando-me
os glúteos e deixando-me completamente arrepiada.
Foi-me impossível
controlar os suspiros que se soltavam da minha boca, de cada vez que encontrava
pontos de fuga por entre os beijos, eu estava a endoidecer e ele também, quando
Ruben trocava o prazer dos meus lábios humedecidos, pelo gosto da essência
espalhada por todos os poros da pele do meu corpo… e sem nunca parar de me
acarinhar com movimentos um tanto desabusados, mas totalmente deleitosos, que
ele sabia o meu corpo tanto bem-querer.
- Adoro ver-te assim,
adoro… - um rasgo perfeito de lábios abriu alas a um sorriso seu, que adornou o
seu semblante perfeitamente
Beijei-o no pescoço, nos
ombros, no rosto, nos lábios… Beijei-o muito e senti-o deliciar-se a cada toque
meu. Ele mordeu-me o pescoço, vagou o meu peito com uma enxurrada de beijos e
percorreu a minha barriga com leves contornos de língua que a humedeceu. Depois
de algumas reviravoltas sob a cama e de muitos mais mimos e carinhos que se
seguiram, ficámos inteiramente despojados um para o outro, prontos para nos
amarmos da forma mais bela e genuína que existia.
Ruben voltou a proteger o
meu corpo sempre com o máximo cuidado, e foi em mais um dos nossos
beijos que ele me apanhou na surpresa desarmada e entrou dentro de mim num
único movimento que fez o meu coração parar. Olhou-me com um sorriso tão meigo
e doce que o meu peito rebentou numa alegria desmesurada, por voltar a ter
comigo o bem mais preciso da minha vida. Foi então que um ritmo lento e calmo
foi comandado por ele, e este foi gradualmente aumentando a sua intensidade em
concordância com as necessidades dos nossos corpos que precisavam cada vez mais
de serem correspondidas, e onde o máximo parecia não ser mais o suficiente e
pedia por mais e mais. O carinho com que Ruben me tratou foi indescritível e
acho que nunca em outros momentos que já partilháramos ao sabor de um acto de
amor como aquele, ele se entregara tanto mim como até então… Entregou-me o seu
corpo, a sua alma, todo o seu ser a mim, e só a mim.
Quando aquele vai e vem
se intensificou sem margem a abrandar, o meu coração começou a bater mais forte
e mais depressa, e toda eu tremi com a onda de calor que me invadiu… Ruben ao
aperceber-se disso não demorou em vir em meu cuidado, e amarradas ao colchão
ele sossegou as minhas mãos inquietas que prendeu com as suas, num entrelace de
dedos que me serenou e em beijos que a sua boca confortou a minha, quando de
testas coladas as nossas respirações fatalmente ofegantes se envolviam uma na
outra sem qualquer pudor. Não proferimos uma única palavra aquando do momento
que estávamos a viver, a não ser os nossos nomes que clamávamos em gemidos
murmurejados que não nos preocupávamos em controlar.
O limite dos nossos
esforços ia sendo recompensado e finalmente chegou… aquela sensação, aquela
enorme onda de prazer arrebatou-nos por completo e em simultâneo… Ele
estremeceu nos meus braços, o meu corpo contraiu-se levemente e as minhas unhas
cravaram e arrastaram-se nas suas costas, obrigando-o a fechar os olhos e
conter-se, mas tinha sido tão bom que as nossas vozes rapidamente se
dispersaram em gemidos satisfeitos e totalmente prazerosos que ecoaram por todo
o quarto, e que depois apaziguámos na boca um do outro, selando aquele acto
perfeitamente vivido com mais um beijo louco de línguas, que nos preencheu a
aura em pleno. E
depois somente o senti pulsar-se dentro de mim, transbordando o calor de prazer
que nos viandava e percorria o corpo.
Senti-me novamente amada,
como se nunca o tivesse deixado de ser, e o vazio que me resguardara nos últimos
tempos, foi preenchido por Ruben… O homem e o grande amor da minha vida.
Continuámos a fazer amor
com calma, lentamente, como se o estivéssemos a fazer pela primeira vez, como
se aquela fosse a nossa primeira vez. Naquela noite Ruben remexeu todos os
cantinhos do meu corpo, do meu coração, aqueles que só ele conseguia ver e
tocar.
- Porque é que vieste? –
promulguei depois de alguns momentos que passámos em silêncio, abraçados ao
centro da cama – Porque é que voltaste a procurar-me?
- Não sei… - Ruben fez-me
erguer o rosto que eu mantinha pousado sobre o seu peito e desviou suavemente
os cabelos soltos que me cobriam as faces – Estava a morrer de saudades tuas,
não aguentava mais… - confessou baixinho, e antes de aguardar por uma reacção
minha, voltou a beijar-me
- Hum, estou a ver… E o
que vai acontecer de cada vez que sentires saudades minhas? Vais deixar a tua
noiva em casa, vens procurar-me e matar as saudades?
- Shiu… dorme. – ele
pediu meigamente em mais um encosto de lábios, e talvez somente por não ter
nenhuma resposta para me dar, abraçou-me com mais força e a pouco e pouco fomos
sentindo o cansaço tomar vantagem sobre nós
- Eu amo-te, Ruben… - de
olhos fechados e já a adormecer, sussurrei um burburinho da noite, o sentimento
mais verdadeiro, tão apertado em meu peito pelo tamanho da sua grandeza
- E eu amo-te a ti… - não
sei se o ouvi a dizê-lo realmente ou se foi apenas um fruto da minha infundada
imaginação, comandada por aquilo que o meu coração queria ouvir, enquanto eu já
no limbo do sono me desprendia da realidade, adormecendo nos braços dele
Boa noite, queridas leitoras! :)
Venho trazer-vos um capítulo novinho... Espero que gostem e aguardo
pelas vossas opiniões.
Um beijinho grande,
Joana :)
Minha linda... o que dizer deste capítulo... já ouviste TUDO o que tinha para falar...
ResponderEliminarPor muito que queira alongar-me no comentário não o vou fazer porque se o fizesse destruía o efeito surpresa... sim que pronto... tu sabes perfeitamente ao que me refiro LOOOOL
Agora já sabes... preciso com urgência de MAIS!!!
Beijocas
uau ... eu nem sei o que dizer estou chocada !!! mesmo chocada aahah.
ResponderEliminarSabes o que era lindo?? que a Joana engravidasse , era mesmo perfeito! +.+
quero mais foi fantastico este capitulo!
:O
ResponderEliminara serio :O !! Amei!! Quando disseste que muitas emoçoes estavam ainda por vir, nunca pensei que fosse isto, mas sinceramente está maravilhoso:D
o Ruben surpreendeu-me finalmente pela positiva, acredita amei cada insistência dele, dava até vontade de rir...
depois o momento da entrega, que EMOÇAO!!
e agora?? vao ser amantes ou o casamento acaba?!
Beijinhos e continua porque preciso urgentemente de ver o acordar destes dois.
:D
:D
Hoje nem sei que te diga, se por um lado adorei vê-los juntos, por outro não gostei que a Joana fosse tão fraca perante um Ruben que a conhece tão bem e que sabe tirar dela tudo o que quer. Mas o amor é assim, deixa-nos fracos,e a Joana não resistiu e caiu mesmo em tentação. Não quer dizer que eu nâo tenha gostado do capitulo, muito pelo contrário, adorei, mas acho que a Joana podia ter dado uma lição a este Ruben convencido que cada vez me desilude mais e mais uma vez mostrou a sua falta de carácter. Então se ele queria falar com ela, tudo bem, mas falava quando a Joana quisesse, ela tinha um compromisso, acho que a Joana deveria de ter ido ao jantar com as amigas, deveria de o ter deixado sozinho a falar para as paredes, podia ser que assim ele se apercebesse que o mundo não gira à volta dele, apesar dele ser o mundo dela, e ele sabe disso, e usa isso a seu favor. Se o desejo de falar com ela era assim tão grande, esperava por ela, e quando ela voltasse do jantar na esperança dele ter ido embora, ele continuava lá sentado à espera dela, isso sim era de homem. Mas como ele ultimamente não se tem comportado como um homem, mais uma vez fez asneira porque apesar de eu não gostar da Inês, ela não merece ser tratada assim. Não quero que penses que não gostei, até porque se as coisas aconteceram assim , é porque tu estás a preparar alguma, o que me deixa curiosíssima com o próximo capitulo que quero muito ler o quanto antes.
ResponderEliminarContinua,
Beijocas
Fernanda
Fantastico adorei adorei adorei.Queero o proximo rapido.bjs
ResponderEliminarOh adorei....
ResponderEliminarEspero q não seja sonho ou algum truque na manga.... Eles merecem ser felizes :)
Ohhhhh, my God!!!! ❤
ResponderEliminarEu não tenho nem palavras para descrever esse capítulo, um dos mais perfeitos que já li, do início ao fim. E apesar de achar que o acordar deles vai ser tipo, ''o término do sonho para a continuação do pesadelo'' - não sei porque pressinto isso... ou vai ver até sei... o Ruben anda tão imprevisível que agora pode-se esperar tudo - vou continuar torcendo - como sempre - para que tudo se ajeite o mais rápido possível. O amor deles é tão lindo, tão puro... merece ser vivido. Ansiosa pelo próximo.
Beijinhos :*
Gabi
:O ADOREI!!!!!!
ResponderEliminarEstou sem palavras preciso com urgência de mais!!!
Bjokinhas
Sem palavras... estou em choque... amei
ResponderEliminarAcho que me sinto a tremer com este capitulo.
Quero mais!!!! Por favor!!!
Beijo
Adriana
Este capítulo está perfeito :D
ResponderEliminarSinceramente um dos melhores que já li até hoje, mais emocionante!
Se por um lado acho que o Ruben foi um cabrao em trair a noiva e a Joana uma fraca por ter-se deixado levar, por outro so acho que fizeram o certo e renderam-se ao amor que sentem um pelo outro, que é tão GRANDE!
Adorei cada palavra... fico ansiosamente à espera do amanhecer destes dois que espero que seja pacifico e sem arrependimentos, por favor, eles nao merecem sofrer mais.
Beijinhos,
Lisandra