quarta-feira, 10 de julho de 2013

Capítulo 17 - Algumas coisas simplesmente não voltam mais (Parte II)

O doce mês de Agosto cessara-se em dias rápidos que voaram no calendário a uma velocidade furiosa, levando a tomada de uma nova jornada que conhecera o seu início nos primeiros dias de Setembro. Escusado será dizer que pelas adversidades óbvias não fui na viagem a Paris com a minha afilhada e com o Ruben, e como a faculdade se tendia cada vez mais a aproximar a um ritmo implacável, despendi a minha última e sagrada semana de férias longe do sol da Caparica e hospedei-me em terras de nuestros hermanos, na belíssima Barcelona, onde num retiro pude tirar o máximo proveito das regalias do descanso e enriquecimento cultural, que trouxe na bagageira comigo no regresso à minha Lisboa. E como um verdadeiro retiro assim o exige, isolei-me e não fiz uso de qualquer aparelho electrónico, incluindo o meu telemóvel, que mantive desligado durante toda a semana… Quem quisesse falar comigo teria de deixar mensagem no voicemail ou então no meu atendedor de chamadas do telefone de casa.
Quanto aos problemas do coração, bem… eles permaneciam no mesmo lugar, é verdade, mas eu estava sem dúvida mais recomposta, mais serena, e sobretudo mais confiante em trazer a cabeça erguida para não deixar fugir a oportunidade de olhar as coisas boas que a vida tinha para me oferecer, sem propensão a relembrar com tanta frequência o que me havia sido retirado.

- Em casa… Finalmente… - perjurei num suspiro de alívio, recém-chegada do aeroporto depois de quase duas horas retida num trânsito colossal, que instalara um panorama de autêntica desordem por um acidente provocado na estrada em que o meu táxi seguia

Coloquei a mala de viagem junto ao móvel de entrada e fiz uso da pequena taça para onde lancei as chaves. Sentia-me completamente estoirada e na minha cabeça apenas a ideia de tomar um duche fresco e ir descansar logo a seguir, se aprimorava, mas quando tomei compasso de subida até ao piso superior para rumar ao meu quarto, reparei na luzinha intermitente do atendedor de chamadas que avisava o guardo de uma ou mais mensagens de voz deixadas durante a minha ausência, e por isso adiei só por uns instantinhos os meus afazeres e tomei pose do pequeno aparelho que manuseei.

 “Tem quatro novas mensagens. – logo a seguir ao bip ouvi a típica voz feminina anunciante – Primeira mensagem recebida dia 31 de Agosto às 16 horas e 31 minutos: Joana, olá! Daqui fala o Nuno Baltazar… Querida, gostava de falar contigo sobre um desfile que vou fazer em Portimão… Eu sei que deves ter outros compromissos e ainda para mais agora com a típica agitação de mais um ano de faculdade, mas agradecia imenso que quando pudesses me ligasses, ou então aparecesses aqui no estúdio. Depois diz algo… Um beijo!”

Provavelmente era já tarde para lhe ligar ou marcar com encontro em prol do assunto que ele queria travar comigo, somente agora poderia fazê-lo para me desculpar por não ter dado notícias mais cedo, mas isso também era algo que deixaria para fazer mais tarde e por isso continuei a ouvir as mensagens e passei de imediato para a seguinte.

“Segunda mensagem, recebida dia 6 de Setembro às 12 horas e 17 minutos: Hey, meia-leca! Sou eu, o Pedro… o teu melhor amigo, sabes? Ah! E o melhor agente do mundo também! E não estou a dizer isto para me gabar… sabes bem que é verdade, portanto! – era incrível o sentido de humor daquele rapaz, a sua alegria e boa-disposição acima da média… sempre a fazer piadinha, sempre a tentar fazer-me rir – Adiante, gostava de ter notícias tuas, mas claro… só se for possível! Isto agora vai-se de férias uma semana, corta-se o contacto com os amigos e arrivederci(!) Parece que temos de ter uma conversinha muito séria… Quando chegares dá sinais de vida! Ok, já estou a falar de mais… Então é isso, adeus!”

“Terceira mensagem recebida dia 6 de Setembro às 18 horas e 30 minutos: Hello, hello, beauty! É o William! Já há algum tempo que não falamos… Como estás? Tentei ligar-te para o telemóvel mas esteve sempre desligado, gostava de ter notícias tuas, miúda! Então eu liguei porque queria muito falar contigo, estou a pensar em ir passar alguns dias aí a Portugal para matar saudades e precisava mesmo de falar contigo sobre a minha ida… Quando puderes diz-me alguma coisa, ok? Um beijo, miúda, fica bem!

Um novo bip seguiu-se anunciando a última mensagem.

“Quarta mensagem, recebida hoje às 9 horas e 54 minutos: Olá Joaninha, é a Bárbara! Sei que tens estado de férias em Barcelona, mas logo quando voltares gostava de falar contigo… Estou a organizar um jantar entre o nosso grupo de meninas do liceu, já algum tempo que não estamos juntas e raramente nos vemos por estar cada uma em sua universidade, por isso achei uma boa ideia preparar este encontro e fazermos um programinha só de mulheres… Liga-me assim que ouvires esta mensagem, sim? Um beijinho grande!”

Bárbara era uma antiga colega dos tempos do meu secundário e uma amiga muito querida que mantinha próxima ainda nos dias de hoje. Por uma eventualidade do destino reencontrámo-nos na mesma faculdade aquando o meu regresso definitivo à capital, inclusivamente fazíamos algumas cadeiras que os nossos cursos tinham em comum, facto esse que contribuiu para não voltarmos a perder o contacto uma da outra.
Fiquei contente e devo dizer que bastante entusiasmada com o telefonema dela, tinha já muitas saudades das minhas meninas e agora com algumas a viver longe, tinha-se tornado difícil vermo-nos… Algo que estaria para mudar com um encontro engendrado ao qual eu não podia deixar de ir.
Deixando as respostas às outras mensagens em stand-by, peguei no telefone para marcar o número da Bárbara, e enquanto do outro lado da linha ouvia chamar, encaminhei-me até à sala de estar onde ao canto do sofá fiz o meu pousio.

- Estou sim? – estando por largos segundos suspensa, sem resposta do outro lado, e quando já pensava que a chamada ia ser perdida acabando por ir parar ao voicemail, a voz suave de Bárbara ressoou ao auscultador

- Oi, Bá! – saudei simples e meigamente, e um sorriso abriu instantaneamente caminho entre os meus lábios

- Jojo, és tu? Ai, ainda bem que ligaste! Que bom! – ela ficou notavelmente feliz por me ouvir e o seu entusiasmo ressalteador acabou por completar o meu

- Acabei de ouvir a mensagem que me deixaste…

- Então já voltaste das tuas férias!

- Sim, cheguei há pouco a casa. – assertivei, levando o meu olhar a percorrer os recantos silenciados da sala, enquanto na minha cabeça revia a agitação de tarefas que tinha pela frente com a chegada do meu penúltimo ano de faculdade, dentro de pouquíssimos dias

- Óptimo, isso quer dizer que ainda tens tempo de te preparares para o nosso jantar… - Bárbara falou calmamente, como se eu já estivesse a contar com os planos para aquela noite, planos esses que eu não esperava que fossem propostos para tão cedo e tão em cima da hora

- O quê? Mas é hoje?

- Sim. Já falei com elas e vai ter mesmo que ser hoje… Desculpa se é apertado para ti, mas a Bia e a Matilde voltam amanhã para Coimbra e a Carolina regressa a Aveiro ainda esta noite, já sabes que com o regresso das aulas aí à porta…

- Sim, claro, eu percebo! Mas então diz-me… Onde e a que horas? – inquiri, disponibilizando-me inteiramente, julgando ter tempo ainda de sobra para o encontro

- É naquele restaurante italiano onde fomos almoçar há uns tempos… às nove e meia! Depois talvez dêmos um saltinho a uma discoteca das redondezas com boa música para dançarmos um bocadinho… Parece-te bem?

- Sim, para mim está óptimo! – concordei de imediato, vendo que no relógio tinha um intervalo de duas horas para me preparar e sair de casa – Encontramo-nos no bar do restaurante?

- Sim, pode ser! – o seu tom foi denunciante e pude adivinhar-lhe um sorriso imensamente rasgado no rosto naquele exacto instante

- Então está combinado!

- Está combinadíssimo, princesa!

- Pronto, eu vou então arranjar-me para não chegar atrasada! – se havia coisa que eu detestava era a falta de pontualidade, no sentido geral mas especialmente comigo também, aliás, preferia ser eu a ter de esperar pelas pessoas do que fazê-las esperar por mim

- E eu vou telefonar às meninas a acertar as horas e o ponto de encontro…

- Está bem, amor… Às nove e meia no italiano.

- Certíssimo, lá nos encontramos!

- Então, até já… Beijinho princesa! – despedi-me com um sorriso saudosista

- Um beijinho também para ti, amor… Até já! – o sinal na linha seguiu-se intermitente dando por findada a nossa conversa

Aquele jantar iria certamente fazer-me bem… Sair, espairecer, rever pessoas que foram muito importantes para mim em determinada fase do clico da minha vida, e deitar, nem que fosse apenas por uma noite, todos os problemas, tormentos e preocupações para trás das costas. Era tempo de pensar em mim, de cuidar de mim e finalmente estava mais do que disposta a fazê-lo.
Voltei a lançar uma simples mirada ao relógio de parede para me orientar nas horas e sem grandes demoras tomei caminho até ao andar superior da casa, onde entre as quatro paredes da casa de banho me embrenhei nas malhas de um banho fresco e relaxante, que levei adiante em dez minutos. Enxuguei o corpo, vesti a parte debaixo da langerie e por cima um roupão de linho negro, e voltei a enveredar pelo quarto, para escolher um conjunto de roupa e ser o mais breve possível a preparar-me… Teria sido de facto um bom esforço se não tivessem tocado à campainha e destabilizado o meu canto. Olhei a minha figura num simples relance que se encontrava inalterável aquando saída da casa de banho, e fui assim mesmo até à porta.

- Já vai, já vai! – proferi num tom forçosamente alto, pela insistência fosse de quem fosse do outro lado da porta, enquanto percorria o corredor superior para me precipitar às escadas, descê-las aos saltinhos e alcançar a entrada  

Sem ter a necessidade de olhar pelo óculo, rodei a maçaneta na minha mão e abri a porta… a pior atitude que poderia ter tomado. Diante dos meus olhos a figura extremamente saudosa, porém de quem eu não esperaria voltar a ver – não tão cedo e não ali – prostou-se à minha frontaria, esperando que o recebesse no meu pequeno mundo… agora só meu.
Fiquei sem palavras, não havia nada ali que eu pudesse dizer-lhe e a preencher esse silêncio os seus actos falaram por nós. Ele tinha um ar misterioso que há muito tempo não lhe vi-a, a sua boca que eu não sabia se sorria ou se estava a conter a vontade de fazê-lo, um olhar enigmático que me percorreu o corpo indiscretamente, como se estivesse a desfrutar do que vi-a, levando-me a ficar constrangida entre aqueles pequenos trajes e ao meu coração a bater que nem um louco, por voltar a ficar exposto para quem o magoara.
Ele permaneceu parado a olhar para mim e somente para mim, não me desviando do seu foco por um segundo…
Queria por um fim àquele tormento, e tentei, ao voltar a fechar a porta sem uma única palavra ser proferida entre nós, mas ele não deixou… Colocou instintivamente o pé a barrar o trinco e com uma força extra que empregou nas mãos voltou a abri-la, forçando a sua entrada na minha casa.

- É assim que recebes as tuas visitas? – a voz quente e embriagante de Ruben, voltou a soar aos meus ouvidos após algumas semanas demarcadas pelo seu silêncio, mas eu não quebrei ao ouvi-la, não podia fazê-lo

- As visitas indesejadas, sim! – retorqui sem impasses, tentando impor alguma formalidade entre nós que no entanto ele quebrou em meia dúzia de gestos e actos

- Posso entrar? – apesar da pergunta colocada, ele já havia passado o limite da entrada e pelo próprio pé começou a redescobrir os cantos à casa que já conhecia, enveredou pelo corredor principal para virar à esquerda e entrar na sala de estar

- Acabaste de o fazer… - completei numa reprimenda que ele já não ouviu, voltei a fechar a porta e segui atrás, procurando por explicações que me mereciam ser dadas – O que é que tu estás aqui a fazer? – logo que voltei a retomar o contacto visual entre nós, na frente do meu peito cruzei os braços, predispondo-me a enfrentar a situação e não vacilar com ela

- Eu? – tomando uma atitude que eu lhe desconhecia, ele entrou num jogo perigoso de poder e sedução e queria levar-me consigo, mas eu não podia deixar-me ir… simplesmente não podia – Eu vim ver-te! Trouxe vinho para acompanhar o jantar! – proferiu com uma rectidão e domínio inquebrável a traçar-lhe a conduta da voz, pousando a garrafa de vinho branco que trouxera, sob a mesinha de apoio ao centro

- O quê? Só podes estar a brincar… - achando-o com um descaramento descomunal, ironizei um sorriso de quem estava prestes a ser apanhada numa armadilha… não sei se de dolência ou de saudade – Mas qual jantar?

- Passei por aqui para conversarmos um pouco, já há algum tempo que não nos vemos… Acho que um jantar ficava bem para… descontrairmos um pouco. – fazendo-se em sua casa, tomou lugar ao centro do sofá de três lugares e acomodou-se relaxadamente – Estás sozinha, não estás?

- Isto é algum tipo de brincadeira? É que se for eu não estou a achar piada nenhuma… Não tens mais ninguém para ires torturar? 

- Por acaso tenho, mas escolhi-te a ti! – deu uma resposta muito rápida e sorriu

- Ok, Ruben, já chega… Vai-te embora. – pedi atempadamente, antes que a calma entre nós fosse perdida e o cenário até então pacífico, desmoronasse para um que não seria bonito de se ver

- Queres que me vá embora? Mas ainda agora cheguei… - a sério que não lhe conhecia aquela faceta… estava ali, sentado no sofá da minha casa, completamente sereno, como se tivesse sido anestesiado por uma poção do esquecimento e adormecido sobre tudo o que se passara entre nós, sobre tudo o que nos acontecera… estava ali com a maior descontração do mundo, só ainda não sabia que intenções trazia escondidas por detrás dela

- Estou a pedir-te educadamente, Ruben… Vai-te embora, por favor!

- E eu estou a recusar educadamente o teu pedido, Joana! – ele mostrou um sorriso ligeiro porém glorioso, como se estivesse a controlar toda a situação – Pensei que agora que estamos sozinhos, podíamos falar um pouco, sem discussões, sem ressentimentos…

- Pois mas pensaste mal, eu já tenho planos para hoje… Aliás, tenho que me ir arranjar antes que chegue atrasada, portanto, se fazes o favor…

- Desmarcas! – a sua resposta foi tão rápida e breve que nem deu para eu percebe-la em condições

- Desculpa?

- Desmarcas tudo o que tens combinado… Hoje os teus planos cruzam-se com os meus. – a forma como ele falou foi tão intensa, tão profunda, que senti cada pequena vibração ascender a minha espinha levando-me a arrepiar por completo

- A Inês sabe que estás aqui? – inquiri, mesmo retendo para mim a remota opinião de que ela não fazia a menor ideia que o noivo ali estava… comigo, caso contrário a situação mudava de figura

- O que é que acontece se eu disser que não? – os seus ombros encolheram-se desprendidamente, e eu limitava-me a ficar cada vez mais impressionada com o que estava a acontecer

- Ruben, sai! – voltei a exigir, esperando que desta vez ele respeitasse o meu lado, que com o avançar moroso de tudo aquilo, ficava coerentemente comprometido

- Obriga-me! – atirou em jeito de desafio, que eu não iria obviamente levar a cabo

- Ouve, eu já não tenho idade nem paciência para estes joguinhos, portanto se quiseres brincar sugiro que procures outra pessoa… A tua noiva, por exemplo! A porta fica ali! – esforcei-me por responder com o máximo de frieza e vigor, lançando o meu indicador à porta de saída… não iria permitir qualquer aproximação entre nós, por mais inofensiva que pudesse parecer

- Joana, vê se entendes uma coisa, eu vim cá para falar contigo e não vou sair desta casa enquanto não o fizer, ponto final.

- Mas eu não quero falar contigo, será que ainda não percebeste?

- Então lamento mas vais ter que levar comigo… eu não vou a lado nenhum! – cruzou uma perna sobre a outra e estendendo os braços totalmente sobre o encosto do sofá, fincou bem a sua posição, sabia que quando ele metia uma ideia na cabeça se tornava um alvo muito difícil de abater, mas no final um de nós teria de ceder, eram estas a consequências do jogo ditado por ele

- Tu por acaso andaste a beber antes de vires para cá? – embora da redundância e perspicuidade da minha pergunta, para a qual a resposta era claramente negativa, por um momento achei que Ruben não estava completamente consciente das problemáticas que poderia suscitar por estar ali comigo… isolados do resto do mundo

- Eu? Não… Acho que nunca estive tão sóbrio! – e eu acho que nunca ele me parecera tão certo do que dizia como naquele instante, como se de alguma forma me estivesse a dar um sinal de que não haveria outro lugar no mundo onde devesse estar senão ali

- Ruben, sai… Vai-te embora! É a última vez que te peço… Eu não quero arranjar problemas, nem a ti nem a mim.

- E eu volto a dizer: Não saio daqui enquanto não conversarmos decentemente, é a minha única condição. – aquela sua insistência exaustiva, começava morosamente a tirar-me do sério e de alguma maneira, ainda não sabia como, teria de agir antes que a situação tomasse um caminho sem retorno

- Queres conversar decentemente? Olha que assim de repente não estou a ver nenhum assunto que tenhamos em comum para discutir, a não ser claro, que tenhas vindo até aqui na tua condição de afilhado, afinal vou ser a tua madrinha, não é?

- Joana, por favor…

- Por favor, digo eu! Eu não quero que haja mais nenhuma ligação entre nós que possa levar outras pessoas a pensar coisas erradas se souberem que estivemos juntos… A melhor coisa que temos a fazer é voltarmo-nos a ver apenas no teu casamento… Até lá o melhor é continuarmos a manter a distância. – julgando ter encerrado ali o problema, delimitei as linhas em nosso redor que não deveríamos pisar para não invadirmos o espaço um do outro, o que evidentemente poderia acarretar algum desconforto para nós

- Porque é que me estás a pedir isso? Qual é que é o teu problema?

- O meu problema? – o meu rosto declarou uma expressão de evidência incontestável, que depois veio a ser apoiada nas minhas palavras que eu jamais poderia remexer para a sua tese – Tu és o meu problema, Ruben… Tu!

- Odeias-me assim tanto, é? – inquiriu de olhar trémulo, que se guiou pelo meu enquanto se erguia do sofá e a passo por passo tomava proximidade de mim, uma proximidade perigosa que inculpava e comprometia as linhas que eu havia já traçado, de forma a quebrar o nosso ponto de ligação, que não voltaria a unir-se

- Eu? Não… Claro que não! – aquela minha mania de me defender por detrás do sarcasmo… como se ainda esperançasse sair menos magoada atacando com essa arma que era a única que tinha à mão, mas por momentos gostava de pensar que sim – Claro que eu não te odeio, eu odeio-me a mim e sabes porquê? Porque fui eu que desisti da pessoa que dizia ser o amor da minha vida, sou eu que agora estou comprometida e feliz ao lado de outro homem, não é?!

- Joana, espera… Ouve-me! – ele caiu no maior erro que poderia cometer, o mais fatal de todos que poderia dar início ao nosso ponto de ruptura… a sua mão pegou a minha levemente, quebrado a barreira do contacto físico que mantivéramos erguida durante tanto tempo… demasiado, e tão discretamente como as nossas mãos se uniram, do mesmo jeito se separaram, assim que ele viu nos meus olhos o desconforto que me estava a causar – Eu sei que fui uma besta, que te magoei muito mas…

- Sai daqui… Se ainda tens um pingo de bom senso como eu sei que ainda tens, vais esquecer o que te trouxe aqui, vais respeitar a minha vontade e vais-te embora sem dizeres absolutamente mais nada. – não queria as desculpas dele, não queria o arrependimento dele, muito menos explicações que remediariam coisa nenhuma, e antes que as lágrimas que já me contornavam os olhos, cedessem pelos caminhos do meu rosto, vi-me forçada a exigir a sua saída da minha casa, e principalmente da minha vida

- Eu não quero ir… - o murmúrio trémulo dele quase me fez ceder, quase, levando Ruben a não dar-me ouvidos, algo que francamente já não me surpreendia, e permaneceu na minha frente à espera de me ver tomar alguma atitude, que no entanto não demorou em chegar

- É assim que vai ser, não é? Então deixa-te estar… Faço um favor a mim mesma e saio eu!    

- O quê? Joana, espera… Onde vais?

Sabendo o quanto ainda o amava, eu não podia continuar ali, não podia continuar a castigar-me daquela maneira, fazia-me mal… Estar sem ele era mau, era péssimo,  mas estar com ele ainda para mais naquelas circunstâncias, conseguia ser ainda pior. Não dei qualquer importância ao facto de estar apenas em meia langerie e roupão, dei meia volta e rodei o meu corpo no sentido da saída, que eu pretendia alcançar o mais rápido possível para sair daquele sufoco demasiadamente doloroso. Porém, Ruben voltou a barrar-me com novos obstáculos, a tentar reter-me na sua jogada, na sua manipulação… Continuou a puxar os cordões da minha paciência e tentar levar-me ao limite máximo do suportável.
Em passadas rápidas vi-o rasgar passagem ao meu lado para cruzar à minha frente e obstruir-me a saída, que eu não iria transpor, não segundo a sua vontade.

- Perdeste alguma coisa aqui? – indagou tentando armar-se em engraçadinho logo assim que alcançou a porta, colocando-se entre mim e ela

- Perdi… Perdi a vontade de ficar a olhar para ti.

- Tens bom remédio, fecha os olhos… Mas garanto-te que não vais a lado nenhum!

- Porque tu não queres?

- Porque eu não deixo!

- Deixas sim… Enquanto estiveres na minha casa vais respeitar o que eu te digo, por isso, sai da frente!

- Passa por cima! Eu não dou nem um passo.

- Estás a querer provocar-me?

- Estou a conseguir?

- Ruben… - coloquei-o sob aviso, que ele mais uma vez ignorou e veio a desrespeitar

- Queres sair não queres? Olha só… - por um descuido meu que nem calculara, ele apanhou as chaves da porta e rodando-as na fechadura, trancou-me lá dentro consigo

- Ruben, o que é que estás a fazer? Ruben! Dá-me as chaves! – exigi num sopro pesado, estendendo a minha mão na frente do seu peito

- Quais chaves? Estas chaves? – ele exibiu-as sob a palma da sua mão, e antes que eu conseguisse a oportunidade de alcançá-las, ele voltou a cerrá-la e escondeu-as posteriormente – Vem buscá-las! – desafiou num sorriso de puro desdém ao resguardar as chaves no bolso traseiro das suas jeans

- Ai, estás a deixar-me doida!

- Por mim? – ele era perito em fazer-me perder a noção do real, e de novo aquele sorriso que já se tinha tornado a sua imagem de marca, voltou a emergir à tona do seu rosto, fazendo-me apaixonar de novo na curva dos seus lábios

- Cala a boca, Ruben! Cala a boca! – obriguei, começando a ficar totalmente fora de mim pelas suas intervenções rápidas que facilmente me deixavam sem resposta

- Obriga-me! – atestou, fechando o sorriso que há pouco ilustrara para colar praticamente os seus olhos aos meus, num abeiramento que me fez conter a respiração

Ele nunca deveria ter dito aquilo, nunca deveria ter-me posto à prova daquela maneira, pois o facto de me sentir encurralada fez-me perder o pouco controlo que ainda me restava e libertar os meus instintos num impulso que prometera a mim mesma nunca mais voltar a ter… mas tive, e beijei-o. Coloquei o seu rosto, por barbear, entre as minhas mãos hesitantes, e precipitei os meus lábios aos dele, num toque ousado que a mim me aqueceu o peito e me deixou os joelhos a tremer, e a ele sem reacção, apesar de o ter sentido corresponder tenuemente mas apenas no segundo a seguir.

- Desculpa, isto não devia ter acontecido… Desculpa. – afastei-me logo que voltei a cair em mim, num pedido de desculpas que mereciam ser dadas, pois tinha passado o risco que eu mesma impusera entre nós, e não me poderia sentir mais ridícula e envergonhada perante ele com a minha atitude

- Só há uma coisa que eu não desculpo… - por instantes ele ficou completamente absorto, petrificado com o que tinha acontecido, mas depois tomou de novo uma reacção que eu nunca esperara ver-lhe – Não desculpo o facto de teres parado… - numa impulsão que eu não esperava de todo, vi-o avançar e senti as suas mãos atacarem a minha cintura, atirando-me com ele de encontro à parede que tínhamos mais próxima

- Não, isto não pode voltar a acontecer… - senti o seu corpo empurrar o meu, a esborrachá-lo contra a parede, fazendo-me perder as forças e suster novamente o ar nos meus pulmões

- Foste tu que me beijaste… - evidenciou num sorriso recatado, dando impulso para que o diálogo que se seguiu fosse proferido inteiramente em murmúrios dispersos pelas nossas bocas que resistiam impacientemente a um novo encontro

- Foi um erro, um deslize…

- Um deslize ou saudade? – a pontinha do seu nariz percorreu o meu e num arrepio perplexo senti a sua mão abrir passagem entre o meu roupão e tocar-me a barriga

- O qu… O que é que estás a fazer? – a minha voz estremeceu mais do que nunca, estando os nossos rostos a tocarem-se sucessivamente por iniciativa dele, fazendo-me sentir dar o passo que restava para lhe cair nos braços… aos braços do homem da minha vida

- A perder a cabeça, acho eu… - os seus lábios quentes roubaram um beijo aos meus, que não esteve em meu perfeito juízo recusar, mas cheguei a recear que ele voltasse a fazer-me o mesmo que fez no aniversário da nossa pequena Sofia

- Acho que é melhor controlares-te, Ruben…

- Está difícil…

- Não te esqueças que és comprometido, devias fazer um esforço… antes que cometas alguma loucura…

- Louco eu já estou… - a sua citação fez-me fechar os olhos, na esperança que se não visse isso me tornaria invisível, me faria deixar de sentir, mas eu continuava a sentir tudo, até a humidade do meu pescoço que foi percorrido com beijos… só ele conhecia aquela minha fraqueza, só ele sabia como aquele toque poderia fazer-me vacilar, e soube usá-lo irremediavelmente bem contra mim

- Ruben, pára… Nós não podemos. – as minhas mãos tocaram-lhe o peito, mas não foi impedimento nenhum para ele… tentei a todo o custo, com todas as minhas forças resistir, mas tornava-se cada vez mais impossível continuar a fazê-lo

- Shiu, não digas nada…

- Isto está tão errado, tão errado…

- Eu sei… Mas não dá para aguentar mais… – os seus olhos fixaram os meus ternamente, como duas imensas luas novas que espelharam apenas o começo da nossa noite

- Porque é que tinhas de aparecer agora? Eu estava a tentar esquecer-te…

- E estavas a conseguir?

- Estava a fazer um esforço. – reforcei a minha posição, cada vez mais debilitada entre os braços dele que não me dariam fuga possível, mas também eu já não queria fugir

- Pena esse esforço não ter dado certo, não é?

- É… é uma pena… - proferi em palavras soltas o que o desejo me ditara, e quebrei ao sentir a sua língua abrir passagem entre os meus lábios, que eu não pude continuar a manter selados por mais tempo

Por mais que tivesse tentado lutar contra aquilo, já tínhamos vencido o mínimo de limites que nos eram exigidos, e era tarde demais para voltarmos atrás… Era impossível pararmos agora. O encontro adjacente das nossas línguas deu largas ao desejo que embriagávamos, envolvendo-se exaustivamente dando pujança aos prazeres carnais que não tínhamos como continuar a negar.
Uma espessa camada de névoa toldou-nos a razão e esquecemo-nos por completo a distinção do certo e do errado. Tinha plena consciência que não deveria arriscar, que não deveria deixar-me levar pela voz do coração, mas esta gritava tão alto que eu não pude ficar-lhe indiferente, porém, ainda que não quisesse parar, a muito custo tive de interromper o beijo.

- E se alguém descobre? – coloquei em questão, num murmúrio melindroso que embateu nos lábios dele, ainda encostados aos meus, numa dúvida que fazia daquele acto puro de rendição, um crime que não nos inquietávamos em estar a cometer

Um novo beijo. Por entre um sorriso delirante, Ruben fez surgir um novo beijo desconcertantemente rebelde e provocador que dissipou todas as minhas dúvidas. Beijou-me como se não houvesse mais amanhã, como se o mundo tivesse deixado de existir lá fora… nada mais importava, nada mais interessava se não nós dois, a vivermos aquele momento, a vivermos um para o outro. As nossas línguas voltaram a encontrar-se e percorreram juntas os cantos das nossas bocas que já conhecíamos de cor, os nossos corpos abraçaram-se num aperto forte e aconchegante, fazendo-me desejar que aquele momento não tivesse um fim próspero e destinado a acontecer.
Foi uma questão de segundos até sentir as suas mãos segurarem as minhas coxas, puxando-me para si para me tomar no seu colo, pegando-me com uma facilidade tremenda.

- Porque é que nós só estamos bem a fazer-nos mal? – a sua vez de falar chegou traída pela falta de folgo que havia sido sucumbido aquando do nosso último beijo e sorrir-lhe foi inevitável – Porque é que és totalmente… completamente… e irremediavelmente… irresistível? – proferiu num sorriso colmatado de safadeza, para repuxar o meu lábio inferior entre os seus dentes, logo em seguida

- E porque é que tu és completamente… totalmente… e irremediavelmente… detestável? – sussurrei de volta, totalmente rendida aos carinhos dele dos quais eu já tinha tantas, tantas saudades

- Não gostas…? Hum…? – o seu murmúrio disperso ao meu ouvido fez-me tremer nos seus braços, provocando-me uma sensação de calor interior como já não sentia há muito, e sinceramente eu não queria que aquela sensação desaparecesse

Voltei a puxá-lo para mim ao cruzar as mãos na nuca dele, sendo esta a minha vez de ser eu a beijá-lo, por própria vontade, por próprio querer… era o que eu mais queria. Quando o senti apertar-me mais forte para me levar consigo para onde quisesse, reforcei o meu apoio rodeando totalmente a sua cintura com as minhas pernas, e só me voltou a pousar quando com a mão que tinha livre desviou alguns dos objectos que ocupavam a base do móvel de entrada que me fez ocupar a um canto, e sem nunca os nossos corpos caírem na eventualidade de voltarem a desgrudar um do outro.
A partir daí os nossos tons de voz mudaram para mais baixos, meigos e secretos, o diálogo entre nós passou a ser outro, as frases tornaram-se mais curtas e rápidas pela pressa que tínhamos em voltar a beijar-nos.

- Tenho de ligar à Bárbara… - aproveitei os pouquíssimos segundos de desencontro dos nossos lábios para expressar o dever que teria de ser feito, desmarcando os planos que tinha para aquela noite e dar lugar a outros radicalmente inesperados, e com o braço esticado tentei chegar ao telefone

- Não, ligas depois… - contradisse-me Ruben num timbre mimado, de quem não queria suspender nem abdicar daquele momento

- Mas eu preciso avisá-la que não vou poder ir ao jantar…

- Não, tudo o que tu precisas está aqui. – sem nunca perder o contacto com os meus lábios, que eram carinhosamente afagados pelos seus, a sua mão percorreu-me lentamente o braço, tomou controlo do meu pulso e fez-me pousar novamente o telefone no suporte

- És tão convencido… e egoísta também!

- Pois sou! Quero-te só para mim! – com um puxão forte que ele forçou nas minhas coxas, soltei um pequenino e indeclinável grito, pelo impacto remoto e tentador dos nossos corpos que se grudaram instantaneamente

Ruben beijou-me mais louco do que nunca, ainda os nossos lábios não se tinham encontrado, já as nossas línguas faziam a procura urgente uma da outra, e ao se encontrarem de novo, não rescindiram forças de se voltarem a separar. O meu controlo, nunca tão frágil com até então, estava a cair em desfalque pela tentação profunda que me invadia, tanto a mim como a ele, que eu sentia querer tanto aquilo como eu. Não dava para aguentar, não dava para resistir, era fatal e estávamos os dois rendidos aos prazeres e encantos que redescobríamos numa nova busca pelo amor que nos unia, unia-nos e a prova estava ali mesmo, a ser testada por nós.
As suas mãos começaram a percorrer-me o corpo descontroladamente, tal como as minhas, que correram ao instinto de querer retirar-lhe a t-shirt e retirei mesmo, quando os meus dedos se prenderam nas bainhas e ele compactuou comigo ao elevar os braços para que fosse eu a despir-lha. Estávamos a jogar um jogo tão perigo, mas tão bom e pediamos mais e mais… Sabíamos que ia acontecer e não havia nada que pudesse alterar isso.
Quando ele não resistiu em iniciar uma brincadeira de mordidelas sucessivas no delinear do meu pescoço, as suas mãos tomaram outras andanças e fustigaram-se entre a abertura do meu roupão… subiram a minha barriga e só pararam no meu peito, que ele acariciou em investidas suaves e deleitantes, que me fizeram suspirar no embate de mais um beijo.

- Leva-me para o quarto… - pedi-lhe numa confissão impensada junto do ouvido dele, e posso jurar que o senti tremer… e não foi de certo pelas minhas mãos geladas tocarem a sua barriga escaldante e tonificada, a razão era só uma e foi outra

Ele interrompeu as carícias por instantes e fitou-me na incerteza de ter ouvido claramente a minha maior vontade. Os seus olhos mergulharam nos meus com um brilho invulgar e arrepiante, que fez o meu coraçãozinho apaixonado extravasar numa arritmia arrebatada e enlouquecida que fazia o sangue escaldado que me corria nas veias, cursar novos caminhos que aumentaram a frequência da minha respiração. Fiquei hesitante e um quanto embaraçada nos primeiros momentos por me ter exposto e confessado daquela maneira, não estava certo fazê-lo, continuava ciente disso, mas aquilo era amor, era amor de todas as formas e feitios e eu não queria abrir mão dele.
Só sosseguei quando distingui por entre o silêncio, um sorriso majestoso inundar as profundezas dos seus lábios, que se apressaram a ir novamente ao encontro dos meus, facultando um encaixe perfeito e urgente, e beijar-me com um fulgor que eu não lhe conhecia, com um carinho, com uma saudade, oh… E nesse instante eu tive a mais plena certeza… Ele ia ter-me, eu ia ser dele.
Os seus braços voltaram a amarrar-me com força para si e ele voltou a pegar-me e a tomar-me no seu colo, como se não quisesse que eu o largasse, e apertando-me os glúteos carinhosamente, dirigimo-nos às escadas, que devo confessar, tivemos algumas dificuldades em subir… Ruben persistia em querer beijar-me a cada degrau que ascendia, custasse o que custasse, o que claramente lhe diminuía a amplitude de visão e só ao fim de algum tempo distribuído entre alguns tropeções e solenes risadas entre nós, que alcançámos por fim o piso superior. Fiquei surpreendida, muito surpreendida na verdade, por ele não se ter enganado na porta e ir direitinho ao meu quarto… Cheguei a pensar que depois de tanto tempo ele já não se lembrava onde ficava, mas enganei-me, aquela simples recordação não se havia apagado da sua memória e não sei bem porquê mas aquele pequeno pormenor deixou-me a sorrir por dentro.
Entrámos e ele pousou-me sob a cama e preencheu de imediato o seu lugar colocando-se sobre mim sempre com o cuidado em distribuir o peso do seu corpo para não me magoar. A pouquíssima intensidade de luz que eu deixara acesa e que provinha dos candeeiros elevados às duas mesinhas de cabeceira, e que insidia em nós, apenas me deixava discernir alguns contornos do seu rosto e manter os restantes na descrição… Tonificando o seu lado mais misterioso e encantador que lhe conhecia. 
Continuámos a beijar-nos no meio daquilo tudo, a tocar-nos, a suspirarmos melodias de prazer que nos deixavam cada vez mais rendidos um ao outro e nos davam certezas infrangíveis de que aquele momento estava destinado a ser vivido, para voltarmos a ser nós mesmos… um só.

- Quero que saibas que isto não muda nada… Continuo a odiar-te… - provoquei amenamente de respiração debilitada, estando a ser dominada por ele e pelo amor que lhe sentia

- É? Diz-me então o quanto me odeias… Diz… - aquela voz embargante foi dispersada e embateu no toldo dos meus lábios, no segundo antes de estes se deliciarem com mais um beijo inadiável e avassalador

- Odeio-te muito… muito, muito…

- Foi um bom esforço, no entanto eu continuo a odiar-te mais. – nada me deu mais deleite de ouvir do que aquilo, e de olhar pregado ao meu, os seus dedos ágeis recorreram à facilidade de desatar o laço do meu roupão que ainda me cobria o corpo, e expor-me para si sem mais reservas

Como não seria certo nem justo para nós mesmo usarmos a palavra que destacava o sentimento, usámos a oposta que soubemos descodificar bem demais.
Na súplica seguinte já estávamos a beijar-nos de uma maneira profundamente enlouquecida, as nossas bocas ainda não se tinham voltado a descolar, dando continuidade ao beijo longo que era somente furado por amenas gargalhas que eu dispersava, por senti-lo a fazer cócegas demasiadamente desconcertantes na minha barriga.

- Hum, Ruben… - cerrei as pálpebras num lance e deixei pender a cabeça ainda mais para trás, aquando dos leves belisques que com os dentes ele preenchia os meus ombros, eu mordiscava incessantemente o lábio inferior, na obtusa esperança de poder vir a amenizar a temperatura exageradamente elevada do meu corpo – Porque é que as coisas erradas sabem tão bem? – divaguei num sopro discreto, só meu

As suas mãos voltaram a subir vagarosamente e aferrolharam as minhas nádegas, acariciando-me os glúteos e deixando-me completamente arrepiada.
Foi-me impossível controlar os suspiros que se soltavam da minha boca, de cada vez que encontrava pontos de fuga por entre os beijos, eu estava a endoidecer e ele também, quando Ruben trocava o prazer dos meus lábios humedecidos, pelo gosto da essência espalhada por todos os poros da pele do meu corpo… e sem nunca parar de me acarinhar com movimentos um tanto desabusados, mas totalmente deleitosos, que ele sabia o meu corpo tanto bem-querer.

- Adoro ver-te assim, adoro… - um rasgo perfeito de lábios abriu alas a um sorriso seu, que adornou o seu semblante perfeitamente

Beijei-o no pescoço, nos ombros, no rosto, nos lábios… Beijei-o muito e senti-o deliciar-se a cada toque meu. Ele mordeu-me o pescoço, vagou o meu peito com uma enxurrada de beijos e percorreu a minha barriga com leves contornos de língua que a humedeceu. Depois de algumas reviravoltas sob a cama e de muitos mais mimos e carinhos que se seguiram, ficámos inteiramente despojados um para o outro, prontos para nos amarmos da forma mais bela e genuína que existia.
Ruben voltou a proteger o meu corpo sempre com o máximo cuidado, e foi em mais um dos nossos beijos que ele me apanhou na surpresa desarmada e entrou dentro de mim num único movimento que fez o meu coração parar. Olhou-me com um sorriso tão meigo e doce que o meu peito rebentou numa alegria desmesurada, por voltar a ter comigo o bem mais preciso da minha vida. Foi então que um ritmo lento e calmo foi comandado por ele, e este foi gradualmente aumentando a sua intensidade em concordância com as necessidades dos nossos corpos que precisavam cada vez mais de serem correspondidas, e onde o máximo parecia não ser mais o suficiente e pedia por mais e mais. O carinho com que Ruben me tratou foi indescritível e acho que nunca em outros momentos que já partilháramos ao sabor de um acto de amor como aquele, ele se entregara tanto mim como até então… Entregou-me o seu corpo, a sua alma, todo o seu ser a mim, e só a mim.
Quando aquele vai e vem se intensificou sem margem a abrandar, o meu coração começou a bater mais forte e mais depressa, e toda eu tremi com a onda de calor que me invadiu… Ruben ao aperceber-se disso não demorou em vir em meu cuidado, e amarradas ao colchão ele sossegou as minhas mãos inquietas que prendeu com as suas, num entrelace de dedos que me serenou e em beijos que a sua boca confortou a minha, quando de testas coladas as nossas respirações fatalmente ofegantes se envolviam uma na outra sem qualquer pudor. Não proferimos uma única palavra aquando do momento que estávamos a viver, a não ser os nossos nomes que clamávamos em gemidos murmurejados que não nos preocupávamos em controlar.
O limite dos nossos esforços ia sendo recompensado e finalmente chegou… aquela sensação, aquela enorme onda de prazer arrebatou-nos por completo e em simultâneo… Ele estremeceu nos meus braços, o meu corpo contraiu-se levemente e as minhas unhas cravaram e arrastaram-se nas suas costas, obrigando-o a fechar os olhos e conter-se, mas tinha sido tão bom que as nossas vozes rapidamente se dispersaram em gemidos satisfeitos e totalmente prazerosos que ecoaram por todo o quarto, e que depois apaziguámos na boca um do outro, selando aquele acto perfeitamente vivido com mais um beijo louco de línguas, que nos preencheu a aura em pleno. E depois somente o senti pulsar-se dentro de mim, transbordando o calor de prazer que nos viandava e percorria o corpo.
Senti-me novamente amada, como se nunca o tivesse deixado de ser, e o vazio que me resguardara nos últimos tempos, foi preenchido por Ruben… O homem e o grande amor da minha vida.   
Continuámos a fazer amor com calma, lentamente, como se o estivéssemos a fazer pela primeira vez, como se aquela fosse a nossa primeira vez. Naquela noite Ruben remexeu todos os cantinhos do meu corpo, do meu coração, aqueles que só ele conseguia ver e tocar.

- Porque é que vieste? – promulguei depois de alguns momentos que passámos em silêncio, abraçados ao centro da cama – Porque é que voltaste a procurar-me?

- Não sei… - Ruben fez-me erguer o rosto que eu mantinha pousado sobre o seu peito e desviou suavemente os cabelos soltos que me cobriam as faces – Estava a morrer de saudades tuas, não aguentava mais… - confessou baixinho, e antes de aguardar por uma reacção minha, voltou a beijar-me

- Hum, estou a ver… E o que vai acontecer de cada vez que sentires saudades minhas? Vais deixar a tua noiva em casa, vens procurar-me e matar as saudades? 

- Shiu… dorme. – ele pediu meigamente em mais um encosto de lábios, e talvez somente por não ter nenhuma resposta para me dar, abraçou-me com mais força e a pouco e pouco fomos sentindo o cansaço tomar vantagem sobre nós

- Eu amo-te, Ruben… - de olhos fechados e já a adormecer, sussurrei um burburinho da noite, o sentimento mais verdadeiro, tão apertado em meu peito pelo tamanho da sua grandeza

- E eu amo-te a ti… - não sei se o ouvi a dizê-lo realmente ou se foi apenas um fruto da minha infundada imaginação, comandada por aquilo que o meu coração queria ouvir, enquanto eu já no limbo do sono me desprendia da realidade, adormecendo nos braços dele 






Boa noite, queridas leitoras! :)
Venho trazer-vos um capítulo novinho... Espero que gostem e aguardo
pelas vossas opiniões.

Um beijinho grande,
Joana :)


10 comentários:

  1. Minha linda... o que dizer deste capítulo... já ouviste TUDO o que tinha para falar...

    Por muito que queira alongar-me no comentário não o vou fazer porque se o fizesse destruía o efeito surpresa... sim que pronto... tu sabes perfeitamente ao que me refiro LOOOOL

    Agora já sabes... preciso com urgência de MAIS!!!

    Beijocas

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  2. uau ... eu nem sei o que dizer estou chocada !!! mesmo chocada aahah.
    Sabes o que era lindo?? que a Joana engravidasse , era mesmo perfeito! +.+
    quero mais foi fantastico este capitulo!

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  3. :O
    a serio :O !! Amei!! Quando disseste que muitas emoçoes estavam ainda por vir, nunca pensei que fosse isto, mas sinceramente está maravilhoso:D

    o Ruben surpreendeu-me finalmente pela positiva, acredita amei cada insistência dele, dava até vontade de rir...
    depois o momento da entrega, que EMOÇAO!!
    e agora?? vao ser amantes ou o casamento acaba?!

    Beijinhos e continua porque preciso urgentemente de ver o acordar destes dois.
    :D
    :D

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  4. Hoje nem sei que te diga, se por um lado adorei vê-los juntos, por outro não gostei que a Joana fosse tão fraca perante um Ruben que a conhece tão bem e que sabe tirar dela tudo o que quer. Mas o amor é assim, deixa-nos fracos,e a Joana não resistiu e caiu mesmo em tentação. Não quer dizer que eu nâo tenha gostado do capitulo, muito pelo contrário, adorei, mas acho que a Joana podia ter dado uma lição a este Ruben convencido que cada vez me desilude mais e mais uma vez mostrou a sua falta de carácter. Então se ele queria falar com ela, tudo bem, mas falava quando a Joana quisesse, ela tinha um compromisso, acho que a Joana deveria de ter ido ao jantar com as amigas, deveria de o ter deixado sozinho a falar para as paredes, podia ser que assim ele se apercebesse que o mundo não gira à volta dele, apesar dele ser o mundo dela, e ele sabe disso, e usa isso a seu favor. Se o desejo de falar com ela era assim tão grande, esperava por ela, e quando ela voltasse do jantar na esperança dele ter ido embora, ele continuava lá sentado à espera dela, isso sim era de homem. Mas como ele ultimamente não se tem comportado como um homem, mais uma vez fez asneira porque apesar de eu não gostar da Inês, ela não merece ser tratada assim. Não quero que penses que não gostei, até porque se as coisas aconteceram assim , é porque tu estás a preparar alguma, o que me deixa curiosíssima com o próximo capitulo que quero muito ler o quanto antes.
    Continua,
    Beijocas

    Fernanda

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  5. Fantastico adorei adorei adorei.Queero o proximo rapido.bjs

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  6. Oh adorei....
    Espero q não seja sonho ou algum truque na manga.... Eles merecem ser felizes :)

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  7. Ohhhhh, my God!!!! ❤
    Eu não tenho nem palavras para descrever esse capítulo, um dos mais perfeitos que já li, do início ao fim. E apesar de achar que o acordar deles vai ser tipo, ''o término do sonho para a continuação do pesadelo'' - não sei porque pressinto isso... ou vai ver até sei... o Ruben anda tão imprevisível que agora pode-se esperar tudo - vou continuar torcendo - como sempre - para que tudo se ajeite o mais rápido possível. O amor deles é tão lindo, tão puro... merece ser vivido. Ansiosa pelo próximo.
    Beijinhos :*

    Gabi

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  8. :O ADOREI!!!!!!
    Estou sem palavras preciso com urgência de mais!!!
    Bjokinhas

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  9. Sem palavras... estou em choque... amei
    Acho que me sinto a tremer com este capitulo.
    Quero mais!!!! Por favor!!!

    Beijo
    Adriana

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  10. Este capítulo está perfeito :D
    Sinceramente um dos melhores que já li até hoje, mais emocionante!
    Se por um lado acho que o Ruben foi um cabrao em trair a noiva e a Joana uma fraca por ter-se deixado levar, por outro so acho que fizeram o certo e renderam-se ao amor que sentem um pelo outro, que é tão GRANDE!
    Adorei cada palavra... fico ansiosamente à espera do amanhecer destes dois que espero que seja pacifico e sem arrependimentos, por favor, eles nao merecem sofrer mais.

    Beijinhos,

    Lisandra

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