quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Capítulo 20 - Uma promessa para toda a vida (Parte I)

Para mim, a chegada do fim-de-semana foi sinónimo de fazer a mala e embarcar no avião que me levasse a dois dias de trabalho, o que significava que rumaria ao destino da belíssima Paris… Aquela que muitos proclamavam e distinguiam de todas as outras cidades do mundo, como a cidade do amor. Irónico, não é? Nos tempos em que estive realmente feliz ao lado da pessoa que amava, nunca tivera oportunidade de conhecer a cidade padroeira dos amantes, e agora, mais sozinha do que nunca, ali estava eu, singida a um contrato de trabalho que me prendia ali para dois dias que me iram fazer relembrar da melancolia que é sentir nada mais do que o vazio ocupar o meu peito, pela ausência do meu mais-que-tudo, incapaz de ser preenchida com a chegada de outro alguém. Pelo menos nos próximos tempos iria ser assim, não tinha coragem nem qualquer disposição para olhar para outro homem, tampouco já estava preparada para começar um novo relacionamento, e por isso mesmo iria ficar assim… Apenas comigo mesma a lamber as minhas feridas e rezar para que novos ventos me trouxessem novas alegrias e felicidades.
Na manhã seguinte ao voo, acordei cedo no quarto… Um enorme quarto de hotel enormemente refinado e enormemente sozinho, tal como eu. A primeira coisa que fiz mal abri os olhos, foi esticar o braço à mesinha de cabeceira e alcançar o meu telemóvel para verificar as horas, e assim aprontar-me antes que Pedro entrasse num rompante pela porta para me despertar. Como mantivera durante toda a noite o pequeno aparelho em silêncio para conseguir dormir tranquilamente, não dei conta da chamada que tinha recebido há poucos minutos de Adriana, e desde que a vi que não hesitei sequer em ligar-lhe de volta.
A algum esforço pelas cólicas incomodativas que sentia no fundo barriga, sentei-me à cabeceira da cama e repuxei para as minhas mãos a garrafa de água que permanecia ao meu alcance, dei dois goles para aclarar a voz e quando me senti bem disposta e de cabeça leve para começar um novo dia, peguei no meu telefone, fiz a marcação rápida para a chamada de Adriana e aguardei alguns segundos enquanto ouvi-a chamar.

- Alô, alô, gatita! – a doce voz da minha Adriana ressou ao meu ouvido depois de alguns segundos, fazendo-me sorrir

- Olá, princesa! – saudei também com um arrastar claro de voz que não escondia a fadiga pela agitação da minha rotina, que fazia da minha vida tanto pessoal como social, andar em constante roda viva pela voltas e reviravoltas que levava

- Então, amor… Essa vozinha é de sono?

- É, mas tinha mesmo de acordar… O Pedro deve estar aí a aparecer, portanto também não podia ficar a mandriar por mais tempo. – embora fosse o que me apetecesse, pelo cansaço que me aprisionava o corpo à cabeceira da cama, os meus ombros encolheram-se em conformidade com a minha afirmação relutante – Liguei-te porque vi uma chamada tua mas tinha o telemóvel em silêncio… Precisas de alguma coisa?

- Sim, tenho uma coisa que te quero dizer… Era suposto dizer-te pessoalmente mas acho que não consigo aguentar até te voltar a ver para te contar… - pela sua voz indiscutivelmente intusiasta e energética, um porcel de véu foi levantado, suscitando no ar a surpresa e para mim a curiosidade de uma possível novidade que a minha querida Adriana pelos vistos queria partilhar comigo

- E o que tens para me contar, amor? – perguntei no intervalo de tempo que ela me deu para reagir, dando-lhe alguns segundos para receber o fôlego que precisava para continuar ao que já tinha dado comêço

- Ok, então eu vou dizer isto de uma forma muito simples e clara… - antecipou, revigorando a minha curiosidade e  indicando a evidência de um comunicado que iria fazer –  Eu estou noiva do David!

- Tu o quê?! - a minha boca formou um "o" irrepreensível em simultâneo com as minhas sobrancelhas, que se arquearam num único acto reflexo

- É verdade, Joana… Ele pediu-me em casamento!

- O David pediu-te em casamento? – com um enorme sorriso nos lábios e impressionada pelo que ouvira, não consegui evitar a pergunta mais óbvia e ao mesmo tempo redundante pela sua anterior confirmação – Quando é que isso aconteceu?

- Antes de ontem… - disse calmamente, mas foi fácil para mim notar-lhe a alegria e felicidade pura que lhe inundava o coração apenas pelo jeito enaltecido como falava – Foi no nosso aniversário de namoro, ele preparou um jantar romântico lá em casa e ao final da noite mal dei por mim já tinha uma caixinha nas mãos com o anel e ele a fazer-me o pedido.

- Oh Adriana, não imaginas o quão contente fico pela notícia… Estou muito feliz por vocês, sabes que só vos desejo o melhor!

- Eu sei, pequenina, obrigada! – ela agradeceu meigamente e imaginei-lhe um sorriso terno preencher a sua boca naquele momento

- E tenho a certeza que vocês serão muito felizes, amam-se e vê-se que foram feitos um para o outro!

- O casamento só vem a reforçar a nossa condição, é o impulso para mais tarde construírmos a nossa família…

Enfim. Todos os meus amigos se estavam a casar, pelo menos a maioria deles já tinha descoberto o seu caminho e estava feliz com as escolhas idealizadas para uma vida futura ao lado do respectivo parceiro. Bem, não sabia se podia chamar Inês e Ruben propriamente de amigos, mas a verdade é que também eles se tinham aviado para uma partilha mútua de um amor no conformar dos laços matrimoniais, e agora também David e Adriana estavam preparados para dar o mesmo passo.
Senti uma nostalgia profunda quando mentalmente revi os meus planos futuristas, nada mais que vazios de emoções e incertos do rumo que eu já não sabia que lhes haveria de dar. Tinha perdido o único homem que eu julguei ser capaz de me fazer mudar de ideias opositoras que eu tinha contra o casamento e levar-me ao altar, tinha deixado o grande amor da minha vida, e sejamos sinceros, esta perdera grande significado sem ele.  

- Então e para quando vai ser o grande acontecimento do ano? – perguntei logo ao notar a repartição de um momento de silêncio, que o meu âmago induzira à nossa conversa

- Ainda é cedo, não sabemos bem… Disse ao David que queria acabar a minha licenciatura primeiro, também só já me falta um ano, por isso… - ao mesmo tempo que a ouvi, senti uma pontada acutilante um pouco abaixo da barriga, que me fez querer soltar um pequeno queixume de dor que só não libertei porque o suprimi num contrair de lábios

- Adriana, dá-me dois minutos e eu já te ligo, está bem? – notei o meu corpo húmido e quente, principalmente entre as pernas e comecei a sentir-me ligeiramente desconfortável

- Sim, amor, mas porquê? Aconteceu alguma coisa? – talvez pelo meu tom de voz um tanto ou quanto alarmista e reticente  bem como pela minha interjeição, foi natural ela ter estranhado, mas não queria sobressaltá-la

- Não, não é nada, não te preocupes… Eu já te volto a ligar. Até já.

- Até já. – apercebi-me que ela ficara realmente preocupada, senti-o, mas desliguei a chamada ainda assim e sem voltar a dizer-lhe mais nada

Voltei a pousar o telemóvel na mesinha de cabeceira e olhei para baixo no instante seguinte… Quando a minha mão tocou na parte debaixo da langerie com que eu dormira juntamente com um top de alças, a humidade de um líquido sujou os meus dedos. A minha cabeça rodou automaticamente até o meu olhar estarrar sob a zona da cama onde eu havia pernoitado nos lençóis de linho puramente brancos, e estes, pude eu ver claramente, estavam manchados de sangue, que jorrei durante a noite.
Fiquei alarmada nos primeiros segundos, por não ter dado conta e ainda para mais por ser tanto sangue, mas depois tranquilizei logo um pouco por consciencializar que era o meu período… Esteve atrasado dois dias, o que não era muito habitual visto que eu tinha uma menstruação regular, mas (in)felizmente já tinha voltado.
Caso o Pedro resolvesse invadir o meu quarto – como fazia sempre – a qualquer momento, cobri o lençol manchado com o lençol do topo e segui para a casa de banho para ir cuidar da minha higiene.
Tomei um banho que me soube incrivelmente bem, o qual não resisti em prolongar, e voltei ao quarto envolvida num roupão ricamente oferecido pelo hotel e com uma pequena toalha enrolada no cabelo. Prescutei em todo o quarto por algo que me fosse capaz de estarracer de traquilidade, mas nada ali me oferecia qualquer conforto, nenhum canto de paz onde me pudesse sentir bem, não como a minha casa me oferecia, o meu cantinho. Só lá me sentia minimamente bem, só lá sabia que iria estar protegida das atrocidades da vida, isolada do resto do mundo. Era assim que gostava de estar ultimamente: sozinha. Não sabia ao certo porque tinha necessidade de o fazer, mas aos poucos ia-me isolando de tudo num canto só meu, numa vida só minha… Talvez como uma barreira defensora dos desafogos pelos quais eu já tinha passado, ganhara a tendência de afastar as pessoas que se queriam aproximar de mim e protegia-me na minha conchinha onde ninguém podia entrar. Por um lado sentir-me só, de certo que não era a melhor sensação do mundo, mas por outro sabia que era a única maneira de não sair magoada de alguma situação e iludir-me com expectativas que criava nos outros… Já me tinha desiludido que chegasse.

- Estou apenas por minha conta… - desabafei em voz alta, completando os meus pensamentos que se encontravam mais búzios e turvos do que alguma vez e até então

Antes de mais nada, liguei para o serviço de quartos a solicitar que logo que pudessem, viessem trocar os lençóis da cama, e então em passos calmantes e brandos, os meus pés levaram-me até onde os ordenei, à varanda que fazia o único e possível contacto entre os quartos do hotel e o exterior. Sentei-me numa cadeira de verga que decorava uma das extremidades, e de pernas cruzadas e recolhidas junto ao corpo, permaneci ali por alguns momentos a deixar bater o sol na cara e queimar levemente as pestanas e maçãs do meu rosto, já que o coração não se deixava ser aquecido. E por falar em coração… Oh, era inevitável não pensar nele uma vez ou outra. De vez enquanto lá tropeçava numa lembrança nossa e logo aí todo o meu pensamento e mente se restituíam à fatalidade do que podia ser tudo mas que agora não passava somente de recordações vagas e intocáveis, as únicas capazes de garantir que a nossa história havia sido verdadeira. E naquele momento essas mesmas recordações trouxeram-me a mais recente de todas elas, há apenas dois dias atrás, nas garagens do Colombo.
"Pede-me para deixar a Inês e eu deixo Basta que me peças." E se eu lhe tivesse pedido? E se em vez de ter calado as vozes do coração, se não tivesse colocado os meus sentimentos de lado e ter sido tão racional, se lhe tivesse realmente pedido aquilo, o que seria feito de nós hoje?
Desde então que vivia atormentada pela aquela incerteza, a pior de todas, de ter seguido ou não pelo caminho certo, a incerteza do que podia ter sido e agora não era mais…

- Joana? – o chamamento oriundo da presença de Pedro no meu quarto, fez-me voltar à realidade e detonar das lágrimas que se deixavam vagar no meu rosto entristecido, causadas pela dor do pensamento que persistia em maltratar-me

- Aqui fora… - respondi numa voz atraiçoada pela fragilidade que me possuía na altura, e apressei-me a remover das faces cada partícula das gotas de orvalho que a humedeciam, antes que ele me visse

- Ah, estás aqui… Bom dia! – Pedro saudou-me na primeira vista com um sorriso madrugador e veio ao meu encontro para me dar um beijo na bochecha

- Bom dia, Pedro… - o gesto foi retribuído e até o sorriso, que mais forçado que o dele, rematou os alicerces dos meus lábios

- Eu vinha acordar-te, mas pelos vistos hoje antecipaste-te a mim e madrugaste…

- Não me apeteceu ficar a dormir mais…

- Alguma coisa a tirar-te o sono?

- Ah… Não, nada. – discordei de imediato, levantando-me da cadeira no mesmo segundo para voltar ao quarto e começar a arranjar-me para descermos para o pequeno-almoço – Vou arranjar-me num instante…

- Calma, não é preciso teres pressa… Ainda temos tempo. – também ele saiu da varanda vindo atrás de mim para os interiores, tranquilizando a prontidão e pressa a que em circunstâncias como aquela eu já tinha sido habituada – E é verdade, já estás melhor?

- Estou melhor…? - inquiri não sabendo ao certo o ponto da questão a que ele se intencionava, retirando ao mesmo tempo a toalha dos meus cabelos, secando-os levemente com a mesma

- Sim, das enxaquecas… Tens andado um bocado em baixo nestes dias…

- Sim, sim… Estou melhor. – afirmei sinceramente, recordando as dores de cabeça infelizmente ainda demasiado presentes que me têm oferecido algumas insónias – Tenho tomado uns comprimidos para as dores. – por outras razões que não aquelas, e de um modo involuntário, as lágrimas restantes que tinham ficado interrompidas na linha de água dos meus olhos, traçaram as minhas faces sem ter feito qualquer esforço   

- Estás melhor… mas estás bem? – embora tivesse tentado disfarçá-las, ele bem que as viu percorrer a vertical e perecerem em meus lábios antes de ter tempo de enxugá-las

- Desculpa, não percebi… - tentando ignorar o óbvio, fiz a interjeição mais descabida para quem sabia ao que Pedro se estava a querer referir, mas apenas queria desviar o assunto que ele já conhecia de cor e que eu não queria voltar a remexer

- Está a doer-te outra vez, não está? – ele aproximou-se em passo brando até chegar ao pé de mim e deter totalmente o meu rosto no seu foco de visão… se se referia novamente às enxaquecas, eu estava pronta para lhe dizer que não, mas  surpreendeu-me quando continuou a falar e me mostrou o verdadeiro significado da sua pergunta - Eu não estou a referir-me aqui… - discordou ao tocar a minha têmpora – Estou a perguntar se te está a doer aqui. – corrigiu a minha suposição fazendo voar a falange do seu indicador agora até ao lado esquerdo do meu peito

Senti-lo compreender-me mesmo sem eu ter que me pronunciar, reforçou a angustia e o sem-rumo que estava a sentir dentro de mim e me fazia querer chorar. Encarei-o novamente com as pernas a vacilar, com o queixo a tremer pela antecipação de novas lágrimas, e numa questão de segundos quebrei completamente sob o meu próprio controlo que eu não conseguia continuar a manter. A minha face procurou o seu peito onde pouso tal como a minha mão, que em punho cerrado se prendeu à t-shirt ao lado do meu rosto. Voltei a chorar, desta feita de uma maneira mais livre e desabafante que denunciava os meus maiores medos, receios e tristezas a uma das pessoas em que eu mais confiava.

- Shiu, tem calma… Vai passar, vai passar… - os seus braços de irmão abraçaram o meu corpo cada vez mais frágil e debilitado, deslizando repetidamente uma das suas mãos nas minhas costas no intento de me sossegar um pouco

- Achas que eu fiz bem? – iniciei uma pergunta que só depois de uma breve pausa forçada pelo soluçar que se interpôs, a compus - Achas que fiz bem em não querer voltar para ele? – como meu melhor amigo e confidente que era, Pedro já tinha sido posto a par da conversa secreta que partilhei com Ruben à saída do Colombo

- Estavas disposta e pronta a aceitá-lo de volta conforme ele te pediu?

- Eu… Eu queria, queria muito, mas não consegui… Não acho que estivesse pronta para isso… - pronunciei num murmúrio trémulo e derradeiro pelo choro que persistia – Ele pediu-me demasiado, pediu-me o impossível…

- E o que é para ti o impossível?

- Ficarmos juntos… Ambos sabemos que isso nunca irá acontecer, sabem todos. Ele está com a Inês, fez uma escolha e escolheu-a a ela, e por muito que eu continue a amá-lo, ele não me podia pedir uma coisa daquelas!

- Se ele queria ouvir da tua boca um pedido para deixar a Inês, por alguma razão foi…

- Uma razão que agora já não faz qualquer sentido! – contradisse num suspiro magoado por ter sido trocada por outra mulher – O Ruben está noivo, há muitas responsabilidades que ele tem de cumprir… Um casamento não é brincadeira nenhuma, Pedro, não é uma brincadeira que ele pode atestar apenas por ter assumido para mim estar arrependido pelo que fez e querer o nosso amor de volta! As coisas não funcionam assim…

- As coisas nunca funcionam do jeito que queremos… - maior verdade que essa não havia, e pelo menos no meu caso, esta condição adequava-se perfeitamente sem espaço para comos nem porquês, apenas era assim e restava-me lidar com isso – Acho que só fizeste o que sentiste ser o mais correcto… - sim, tinha feito o mais correcto, mas isso deixou-me feliz? claro que não.

- Bah, já chega! – rabujei depois de algum tempo que passámos sem dizer mais o que quer que fosse, e num único movimento incorporado, soltei-me dele - Já chega de Ruben… Já chega, já chega! – voltei a repetir num ênfase impregnado na voz e no coração, como que a obrigá-lo a sair da minha cabeça de uma vez por todas

- Precisas de alguma coisa? – ainda perto do meu alcance, Pedro falou meigamente desviando uma madeixa húmida do meu cabelo para trás da orelha

- Não, obrigada, eu só preciso deixar de falar sobre isto, deixar de pensar sobre isto… O resto vai com o tempo. – ansiei para que o que dizia se tornasse real, era o que de melhor eu podia desejar… um novo ponto de partida – Podes deixar-me sozinha para me vestir, por favor?

- Sim, claro… Desculpa, eu saio já…

- Encontramo-nos lá em baixo?

- Sim, o Alexandre leva-te até à restauração… Está combinado tomar-mos o pequeno-almoço todos juntos daqui a mais ou menos meia hora. – informou, confirmando o tempo do compromisso com o seu relógio de pulso

- Está bem… Eu daqui a pouco já desço.

- Fico à tua espera, pequenina… E quero ver um sorriso lindo nesses lábios, que eu sei que está escondido aí algures! Até já… - o seu dedo tocou a covinha da minha bochecha o que me fez libertar um sorriso espontâneo ali mesmo, para no segundo seguinte sentir a minha testa ser beijada pelos lábios dele mesmo antes de o ver abrir a porta e desaparecer do outro lado da mesma

Quando voltei a ficar sozinha, limpei as últimas lágrimas e suspirei profundamente naquela imensidão… Prometera a mim mesma não voltar a chorar por Ruben, e pelo tempo que correra desde então tal como pelo que eu já tinha passado, não podia voltar a quebrar o juramento. Pedro estava certo… Eu apenas fiz o que o meu coração soube ser o mais correcto a fazer e não podia lamentar por isso, agira em conformidade com os meus princípios e valores, a muito custo claro, e acho que só Deus sabe o quanto me doeu, e apesar de estes meus princípios não se mostrarem em nada em concordância com os meus sentimentos.


Quando finalmente a minha cabeça se libertou daqueles pensamentos auto-destrutivos, embora que apenas por uns instantes, tomei compasso de corrida para me arranjar visto que o tempo que tinha para o fazer já não era muito. Optei por um visual mais clássico e elegante, bem ao estilo de Paris… Deixei o meu cabelo modelarmente liso cair-me pelos ombros, solto, coloquei uma maquilhagem simples e leve nos tons, e perfumei-me antes de sair.
Ao segurar o telemóvel na mão, lembrei-me que ainda devia um telefonema a Adriana, mas teria que deixá-lo para mais tarde pois não estava com tempo e mandei-lhe meramente uma mensagem para não a deixar preocupada.

- Bom dia, Alex! – cumprimentei afavelmente o meu segurança, logo assim que fechei a porta do quarto onde estava hospedada naquele fim-de-semana, vendo que ele se encontrava fielmente à minha espera no corredor

- Bom dia, menina Joana. – ele olhou-me pela primeira vez naquele dia e sorriu discretamente – O Pedro já desceu, ordenou-me que a levasse…

- Sim, eu sei, ele disse-me. – antecipei-me mesmo antes de Alexandre me repetir a ordem que o meu agente lhe incutiu, e da qual eu já tinha sido posta a par – Vamos? – os meus pés marcaram direcção a um dos elevadores que se encontrava ao fundo do corredor da minha esquerda, pronta para me precipitar a este e descer ao rés-do-chão

- Sim, claro… Vamos! – ele deixou-me seguir na sua frente e tomar ordem da caminhada, para depois se juntar a mim e seguir ao meu lado – Como está das suas dores de cabeça? – perguntou-me amigavelmente quando me viu pressionar o botão de chamada do elevador

- Estou melhor, obrigada… Nada que uns bons comprimidos não resolvam…

- Andar constantemente a tomar comprimidos também não é aconselhável e não lhe faz bem, menina…

- Não tive outra opção, caso contrário passava as noites em claro… Mas o que importa é que as dores já passaram, e por isso espero não vir a ter que tomar mais nada. – falei num gesto coordenado e sucinto da cabeça, que antecedeu à abertura das portas do elevador por onde acabámos por enveredar no mesmo instante

- Talvez o melhor seja ser vista por um médico, Joana… - aconselhou calmamente, visando somente querer salvaguardar a minha saúde física e mental

- Também tu com essa conversa, Alexandre? – inquiri ligeiramente irritada por já ter sido pressionada da mesma maneira por Pedro – São só umas dores de cabeça, é uma coisa perfeitamente normal…

- Dores de cabeça, mal-estar… A menina não tem andado com boa cara!

- É o stress, o cansaço… Apenas isso! São as aulas, os exames, e no meio disso as viagens… É normal que uma vez por outra o meu corpo se ressinta e tenha destas quebras.

- Talvez seja, mas fiquei preocupado consigo e estava a tentar ajudar... - o pobre do meu segurança deixou claro a consternação que tinha por mim, lançando-me um olhar assoberbado tanto de apoquentação como de misericórdia 

- Oh Alex, eu sei… Mas garanto que está tudo bem, não se preocupem tanto comigo, até porque não há razão nenhuma para isso!

Aquele assunto ficou arrumado ali mesmo, no qual eu não lhe dei mais hipótese de voltar a remexer e insistir comigo em algo que não tinha cabimento nenhum em dar uma importância de maior… Se houvesse algo de errado comigo eu mesma seria a primeira a notar e a admiti-lo, portanto e até acontecer algo que viesse provar o contrário, não fazia sentido estabelecerem aquela aliança de preocupação em meu redor.
Como depois daquele, nenhum outro assunto surgiu a fim de manter a conversa entre nós, foi no restante silêncio que prosseguimos a viagem de elevador que nos levou a outra instância do hotel.  

- Nossa, será que eu tô vendo bem? – enquanto atravessava o átrio principal, uma voz que me soou estranhamente familiar, tocou a minha atenção e ordenou ao meu olhar procurá-la em qualquer recanto possível – Joana, é você…!

- Chico?! – junto à entrada do restaurante para onde me dirigia, encontrei hirta e perfeitamente composta, a figura de Francisco, o manequim com quem partilhei projecto em Punta Cana

Ficámos claramente surpresos por nos ver-mos ali, depois de sensivelmente três meses dentro dos quais não mantivéramos qualquer convivência pessoal, contudo foi nas redes sociais que fomos uma vez por outra trocando dois dedos de conversa e retendo o contacto.
Ele sorriu e vi-o começar a caminhar na minha direcção, o que me fez fincar com mais precisão e autonomia, os saltos altos contra o pavimento e ir também ao seu encontro.

- Nossa, moça… Que saudade! Faz tempo, ein? – com um sorriso belíssimo e já característico a adornar-lhe o semblante, quando nos juntámos a meio caminho, Francisco beijou-me a face e cedeu-me um abraço curto porém apertadinho que foi retribuído por mim a cem por cento

- Por aqui? Como estás? – perquiri com um sorriso sincero a marcar a minha nova e teatral postura de mulher feliz e realizada, resguardando o meu lado mais melancólico e solitário só para mim

- Eu tô bem, graças a Deus… E você como tem passado?

- Eu estou bem também… - sem saber o que mais dizer, a minha cabeça vergou-se para o lado num gesto mudo que veio a completar o silêncio que se abreviou – Não estava nada à espera de te encontrar aqui… O mundo é mesmo um lugar pequeno…

- É, o mundo é pequeno mesmo, mas nesse caso parece foi ele que nos juntou de novo…

- O quê? Como assim? – a minha testa franziu-se pelo meu ar inquisidor, pois não compreendi no primeiro relance o que ele queria dizer

- Cê não ficou sabendo, ué? A gente vai fotografar junto na sessão… - esclareceu logo que teve oportunidade – A gente com mais um cara que acabei de conhecer, o Louis e a Sara Sampaio… Cê ela já deve conhecer!

- A sério? Não sabia… Isso é óptimo! – ciciei com um entusiasmo e surpresa evidente pernoitando na minha voz… a verdade é que eu sabia que aquela produção fotográfica ia contar quatro caras na campanha, mas Pedro não entrara em grandes pormenores, razão pela qual eu não estava a par da identidade dos outros três manequins

- É sim senhora, é sempre óptimo poder trabalhar com gente bacana! – ele concordou logo comigo, fazendo realçar a simpatia e bom carácter que já tinha tido o prazer de lhe conhecer – E aí… Eu 'tava já indo pra dentro… Vamo' entrar?

- Sim, vamos. – a minha cabeça acordou num pequeno aceno, e senti-o pousar educadamente a mão nas minhas costas para nos encaminharmos aos interiores do restaurante, deixando os nossos seguranças restringidos às portas de entrada

Uma mesa restrita do restaurante na zona da esplanada, tinha sido propositadamente preparada para nós, oferecendo-nos um pequeno-almoço que preencheu aproximadamente a hora seguinte. Conheci o manequim de nacionalidade francesa, o bem-disposto e animado Louis, e revi Sara, com quem ainda não tinha tido oportunidade de trabalhar mas com quem já travava amizade desde que esta mudara a sua residência para Nova Iorque.
No final da refeição saímos do hotel e os quatro seguimos para estúdio, que ficava a uns oito quarteirões da zona onde estávamos instalados, no mesmo jeep preto, tendo os nossos agentes vindo no carro atrás.
A produção fotográfica para a qual iríamos pousar, predestinava-se para um catálogo da nova colecção de roupa do estilista Jean-Paul Gaultier, e já se podia calcular um longo horário de trabalho pela frente bem como as horas tardias de regresso ao hotel.

- Voice mes quatre étoiles! – mal nos viu entrar em estúdio, o homem que julguei e bem, ser o produtor, veio de imediato ter connosco, recebendo-nos e cumprimentando-nos amigavelmente  

- Bonjour! – saudámos todos, praticamente em simultâneo

- Bonjour! Vous avez afait un bon voyage? – inquiriu numa extrema simpatia e boa educação que nos deixou à-vontade desde o primeiro instante

- Oui… C'était bien, merci. – foi Sara que respondeu, acompanhada também pela minha concordância gestual e de Francisco, composta por um sinal descomplexo das nossas cabeças e sorrisos

- Toujours bien… Ne perdons plus de temps et nous allons commencer, nous avons beaucoup de travail devante! – ele olhou cada um de nós, e num gesto desprendido sacudiu as mãos no ar, para nos dar a indicação de que dois dias de trabalho aguardavam por nós

- Allez! - num trejeito de comicidade, Francisco mostrou-se mais do que disposto e entusiasmado para começar logo nos dessem indicações para tal, fazendo-nos rir

- Vous venez avec moi. – pediu o produtor para que o seguíssemos, com a intenção de nos mostrar as instalações, recordar de cada passo que iria ser dado e de como tudo iria funcionar e ser feito naquela sessão

- Isto vai ser divertido! – murmurou Sara junto do meu ouvido, enquanto caminhávamos na direcção do guarda-roupa

- Também tenho a impressão que sim… - devolvi no mesmo sussurro um sorriso aprazível que adivinhava claramente o bom clima que iria engrumar as horas seguintes, reunindo todos os ingredientes que eram necessários: trabalho e alegria, com amigos e colegas que prometiam divertimento e uma dose de boa disposição para fazer daquele primeiro dia, um dia bem passado e quiçá promissor a ser recordado mais tarde

E foi divertido, de facto, entre brincadeiras e momentos de mais seriedade e profissionalismo, passámos horas e horas no estúdio entre testes de imagem, uma série de vestir, despir, e voltar a vestir diferentes roupas, e inúmeras fotografias que eram só uma pequena parte daquelas que estavam esperadas serem tiradas.
A verdade é que me senti bem durante a maior parte do dia, mas foi no final da manhã, um pouco antes de fazermos uma pausa para o almoço, que a sensação de desconforto e mal-estar regressou em mim, não permitindo que eu continuasse a fotografar por muito mais tempo.

- Estás bem, Joana? – depois dos rapazes, foi a minha vez e a de Sara de fotografar em conjunto, tendo sido num desses momentos que ela me à notado diferente, penso eu, por provavelmente me ter mostrado desconcentrada e apática quando senti o sangue fugir-me das faces para descolorir o meu rosto com uma palidez adoentada – Joana?

- Sim, estou… Está tudo bem. – tranquilizei-a o melhor que consegui, aquando fazia um esforço acrescido para continuar em pé, quando os meus sentidos começaram a trair-me fazendo a minha cabeça  andar ligeiramente à roda somente três segundos

- Tout va bien? – perguntou também o fotografo ao notar em mim uma reacção diferente em relação à que estava a ter apenas há alguns momentos atrás, mais descontraída e bem disposta diante da câmara

- Oui, oui… Nous pouvons continuer. – aprecei-me a desmentir, e desvalorizei a minha condição francamente mais debilitada e propícia a ser rompida, achando que esta iria passar rapidamente… o que infelizmente para mim não chegou a acontecer

Lado a lado, eu e Sara colocámo-nos em novas poses e a máquina voltou a disparar sobre nós, mas sem saber porque, os meus olhos ficaram facilmente incomodados pelo flash que incidiu, deixando-me novamente zonza.

- Parece que ela não 'tá se sentindo muito bem… - ouvi Francisco comentar com Pedro, quando os dois se encontravam ao lado um do outro, a assistir junto do fotografo

- Pouvons-nous nous arrêter un instant? – apesar do ar condicionado estar ligado, senti um onda de calor enorme invadir-me, e ainda para mais com um casaco vestido no corpo, não estava a aguentar mais estar ali

- Bien sûr… Besoin de quelque chose?

- Non, merci, juste aller là-bas deux minutes… - agradeci educadamente enquanto despia o casaco e me preparava para sair - Excusez-moi.

- Queres que eu vá contigo? – a querida Sara, evidentemente consternada de preocupação, prestou-se a auxiliar-me apoio no mesmo segundo, mas preferi ficar os dois minutos de pausa que havia solicitado, sozinha

- Não é preciso, obrigada… Eu fico bem. – pela veemência do meu estado, fui obrigada o forçar um sorriso tranquilizante que foi unicamente dirigido aos olhos dela

- Il est préférable d'y aller avec quelqu'un qu'elle… Peut besoin de quelque chose. – sugeriu o produtor, vendo que eu não me encontrava bem e que poderia vir a precisar da assistência de alguém

- Je vais voir ce qui passe… - enquanto já caminhava para fora do estudo rumo ao exterior, ainda consegui aperceber-me da interjeição de Pedro que acabou por vir atrás de mim logo em seguida – Joana, espera…  - pediu-me, dando uma corridinha leve de maneira a conseguir alcançar-me e chegar junto a mim – O que é que se passa?

- Não se passa nada, Pedro… Vou só à rua apanhar um pouco de ar. – argumentei, derradeira a esconder-lhe as evidências que no entanto estavam bem aos seus olhos, e quando enxerguei as portadas duplas, pressionei o puxador e enveredei finalmente para o exterior

- Joana, o que é que aconteceu ali? – transpondo também ele a porta de acesso directo à rua, Pedro procurou ali por uma explicação coerente da minha parte, que o pusesse a par de tudo o que estava a acontecer comigo – Tu não estás bem…

- Estou… É claro que estou bem! Estava apenas cheia de calor, ali, só isso…

- Cheia de calor? Mas está tão fresco lá dentro! – a contestação no seu rosto foi evidente, levando-o a aproximar-se a mim e olhar-me profundamente nos olhos – Tu não te sentes bem, pois não? Estás doente? Dói-te alguma coisa?

- Não, Pedro, não me dói nada… Já disse que estou bem! – argui a meu favor, mentindo-lhe descaradamente quando ele só estava preocupado comigo e a tentar perceber o que me fazia ter aquele comportamento que não era nada meu

- Joana, não mintas para mim nem me escondas nada… Sabes que não tens necessidade nenhuma disso. Se se está a passar alguma coisa contigo, eu quero saber o que é!

- Eu não te estou a esconder nada… - apesar de lhe estar a omitir a verdade, não queria alarmá-lo, só isso, o mal-estar que estava a sentir era coisa passageira, mais tarde ou mais cedo iria passar e não seria preciso dramatizar por nada daquilo

- Será que não estás mesmo? – a voz dele moderou-se piedosamente e o seu olhar condescendente tocou o meu, aquando a sua mão tomou a liberdade de se guiar no ar e abordar o meu rosto – Estás super quente…

- Um pouco… - concordei para senti-lo verificar depois a minha testa, provocando-me uma sensação aconchegante pela frescura da palma da sua mão amainar o calor da minha pele

- Não sei dizer se estás com febre… Mas que estás mesmo quente, lá isso estás!

- Oh, isso é porque sou uma brasa… - tentei levar a situação para a brincadeira de forma a torná-la menos pesada, retirando-lhe a carga formal, mas Pedro demarcou o momento com seriedade

- Isto é sério, Joana…   

- Isto passa.

- Pois não sei, não acho que seja normal, e tu tens que concordar comigo… São muitos dias seguidos que andas assim, tens que ir ver o que tens.

- Que paranóico, Pedro, eu não tenho nada… Devo estar a chocar alguma gripe ou assim, nada demais.

- Não estejas sempre a arranjar desculpas! Tens de aprender a preocupar-te mais contigo, a dar-te mais valor... Vais ver um médico mal cheguemos a Portugal, e não há discussão possível sobre este assunto! – Pedro colocou num rompante as suas condições e exigências sobre a mesa, as quais eu não lhe podia negar… mostrava-me calma perante a situação, mas a verdade é que também a mim me começava a preocupar e sabia que se continuasse a sentir-me assim, teria de a resolver de alguma maneira

- Emprestas-me o teu telemóvel?

- Queres o meu telemóvel?!

- Preciso de fazer uma chamada e não tenho aqui o meu… - ele não fez mais perguntas e retirou o pequeno aparelho do bolso das jeans, entregando-mo

- Ficas bem? Precisas que te vá buscar alguma coisa? Um copo de água ou assim…

- Não, obrigada, eu estou bem assim… - recusei, apesar de ainda sentir uma ligeira tontura, e comecei a marcar o número da única pessoa com quem queria e precisava de falar naquele momento: Adriana

- Então eu vou voltar para dentro… Não demores muito. – como um gesto habitual que já esperava ver-lhe, ele deu-me um beijo cuidadoso e protector na testa mesmo antes de regressar aos interiores do estúdio

Sorri-lhe e continuei a marcar o número que já tinha memorizado, no teclado qwerty. Quando o vi voltar para dentro, coloquei o telemóvel junto do ouvido e deixei chamar, à espera que ela não tardasse a atender.

- Estou sim? – Adriana atendeu quando eu já pensava que a chamada ia parar ao voicemail, e usou-se de um palavreado formal pois não conhecia o número de onde eu lhe estava a ligar

- Adriana? – pronunciei em meia voz,  encostando-me a um muro que estava por perto e aí conseguir falar, para tentar controlar as ligeiras tonturas que iam e vinham sem avisar

- Sim, a própria… Quem fala?

- É a Joana…

- Joana? – não me distinguiu no primeiro segundo, mas não tardou em conseguir fazê-lo – Ah… Joana! Oh amor desculpa, não tenho este número e nem te estava a reconhecer pela voz…

- Não tem mal, princesa, estou a falar pelo telefone do Pedro… - expliquei sucintamente, antes de passar ao ponto fulcral da questão que me levou a fazer-lhe aquele telefonema não agendado – E estou a ligar-te em má altura ou…?

- Não, não, nada disso… Estou a entrar no carro, vou agora sair da faculdade. – ela deixou-me à vontade para falar e eu iria fazê-lo, havia uma coisa que tinha de lhe pedir – Mas ainda bem que ligaste…  Fiquei preocupada contigo esta manhã…

- Eu mandei mensagem, amor…

- E eu li, mas mesmo assim… Tiveste que desligar de repente e nem soube o que aconteceu. – não pude deixar de sorrir pela sua maneira carinhosa e dedica de ser em relação a mim, um calorzinho de contentamento esquentou o meu peito por ter por perto uma grande amiga que a vida me tinha generosamente oferecido – Aconteceu alguma coisa?

- Oh, um imprevistozito, uma situação com que não estava a contar mas nada demais.

- Que situação? – uma lividez de curiosidade assaltou Adriana com um fecha certeira, e eu sabia que enquanto não a esclarecesse devidamente, ela não iria descansar

- Foi o meu período… Passei mal a noite com dores mas nem me apercebi do que estava a acontecer, e esta manhã acordei com a cama manchada… Ainda por cima estava atrasado, algo que é raríssimo de me acontecer…

- É raríssimo mas pode acontecer… Deve ter acontecido alguma coisa que o atrasou, talvez. Esta semana tens andado numa agitação tremenda… Deve ter sido o stress, a ansiedade…

- Sim, pode ter sido isso, mas ainda assim não é normal atrasar-me desta maneira… - expus calmamente, recorrendo a factos claros e verdadeiros – Foram quase três dias! Eu tomo a pílula e a minha menstruação é super regular, e desta vez não foi…

- Pronto, não foi desta vez, mas agora também já não tens mais de te preocupar com isso, não é? – sim, ela tinha razão e eu tinha que concordar, agora já não valia a pena preocupar-me, afinal meu período menstrual tinha voltado, o que descartava qualquer macaquinho na cabeça que viesse a ter quanto a possíveis complicações de saúde

- Sim, tens razão, mas também não foi para falar sobre isto que eu te liguei… Precisava de te pedir um grande favor…

- Um favor? Se estiver ao meu alcance poder ajudar…

- Neste caso acho que podes… - os meus lábios flectiram-se brevemente para o lado, aprisionando a pequena dúvida que ela mesmo me iria elucidar – Logo que tivesses um tempinho disponível, gostava que fosses ao centro de saúde e pedisses umas análises para mim…

- Queres que te marque umas análises gerais?

- Sim, por favor, e se der era óptimo que fossem o mais rapidamente possível… Eu queria evitar isso, mas parece que vai ter mesmo de ser.

- Mas então, passasse alguma coisa contigo? – uma vez mais naquele dia, o desassossego da minha doce Adriana recaiu sobre mim

- Isso é o que eu quero saber… Tenho andado estranha nos últimos dias. São dores de cabeça atrás de dores de cabeça, dores abdominais, no peito e algumas tonturas… O Pedro insiste que procure um médico, e talvez o melhor mesmo seja fazer uns exames para saber o tenho.

- E eu concordo com o Pedro. Mas porque é que não me disseste isso mais cedo, amor? E ia contigo a qualquer lado…

- Oh, pensei que fosse uma coisa passageira e não quis dar muita importância. – os meus ombros encolheram-se num jeito comprimido e despreocupado, enquanto ao mesmo tempo o meu olhar se prendeu na figura de duas crianças que caminhavam alegremente no passeio junto ao qual eu me encontrava

- Tens que dar sempre a máxima importância à tua saúde, Joana… Ela tem de ser o teu factor principal! – alertou-me ela perspicazmente, fazendo aludir à nossa conversa, uma reprimenda não culposa mas prevenida, que eu tinha de interiorizar

- Eu sei, e é por isso que quero saber o que se passa e fazer as análises. – não havia volta a dar, teria mesmo de consultar um médico para poder tratar dos sintomas que me acompanhavam ultimamente, sabendo que Adriana era paciente no mesmo o mesmo centro de saúde que eu, o que tornava a tarefa mais fácil para ela – Dá-me alguns minutos e já te envio as cópias dos meus documentos…

- Está bem. Faço um pequeno desvio antes de ir para casa e passo lá pelo centro de saúde a tratar disso, não te preocupes!

- Muito obrigada, a sério! Eu podia passar por lá, mas só como na segunda posso lá ir, e quanto mais rápido tratar disto melhor, agradeço-te a ajuda!

- Oh, não sejas tonta, os amigos serem exactamente para isso, não é? Além disso não me custa nada!

- Eu fico-te agradecida na mesma. – um sorriso sincero apareceu espontaneamente na tona dos meus lábios, e numa lembrança reforçada ao pensamento, tomei a noção que tinha deixado todos há minha espera, e por isso tinha que voltar rapidamente e dar sem mais demoras nem interrupções, continuação ao trabalho – Mas bem, amor, eu tenho que desligar e voltar para dentro que estou no meio da sessão…

- Claro, anda vai lá… Mais tarde eu ligo-te e logo te digo como é que a situação das análises ficou.

- Sim, está bem… E mais uma vez obrigada. Um beijinho grande! 

- Outro também para ti, Joaninha… E as melhoras. Até logo! – ela despediu-se amavelmente como em todas as vezes, e eu fi-lo da mesma forma

- Obrigada, princesa, até logo. – agradeci pela última vez, e com o coração mais leve desliguei a chamada que fora forçada a terminar mais depressa do que queríamos

Segurei o telemóvel na minha mão e tomei chefia até às portadas de vidro que revestiam os interiores do estúdio nos subúrbios de Paris.
Não podia dizer que me sentia melhor, porque não sentia… O calor excessivo ainda viandava pelo meu corpo, a minha cabeça era por vezes vitimada por pequenas tonturas, e as pernas tendiam a falhar-me. Fazer uma força adicionada para empurrar a porta e dar somente os primeiros passos no piso azulejado, foi a última coisa que me lembro de fazer conscientemente, para depois num ápice que não esteve em meu poder controlar, numa tontura perdurada, perdi todas as forças que me sustentavam deixando fugir o telemóvel e este cair ao chão. Senti uma dor forte e inabalada no peito obrigando-me a abrandar o passo, senti um arrepio vaguear a minha espinha e dissipar-se nas extremidades, senti as minhas pernas balancearam como se já não tivessem a vontade própria de me suster… Por fim senti uma dificuldade imensurável em continuar a manter os olhos abertos e depois… Depois deixei de sentir. 




Boa tarde, queridas leitoras! :)
Peço imensa desculpa pela demora, mas entretanto surgiram uns problemas
pessoais que me deixaram sem cabeça nem disposição para escrever,
daí não vos ter deixado com notícias mais cedo. :/
Às leitoras que me deixam incentivos, o meu muito obrigada, o vosso apoio
tem sido fundamental nesta fase, e agradeço também a todas que me acompanham, lêem e gostam da história que vos escrevo.
Posto isto vou então deixar-vos finalmente com o novo capítulo,
espero que gostem e não se esqueçam de comentar.

Um beijinho,
Joana



P.S.: Para quem quiser falar comigo, recordo que o e-mail continua disponível na lateral do blogue, ou simplesmente estejam à vontade para me fazerem as vossas perguntas por comentário que eu irei responder. :) 

13 comentários:

  1. Bem...estava a espera de ver como a ines ia reagir ao abraco do ruben e da joana.
    Mas gostei do capitulo, estou curiosa / preocupada com o que a joana tem.

    Beijinhos, continua!

    ResponderEliminar
  2. Eu lia mais e mais e mais.
    Se estivesses o dia a escrever e a postar, eu passava o dia a ler :)
    A sério, isto é completamente viciante e envolvente.
    Tu consegues envolver-nos na história e ficar sempre a desejar mais quando chegamos à ultima palavra.

    Eu cá acho sempre pouco :/ e fico sempre ansiosa por ler o proximo.
    Mas o que se está a passar com a Joana??!
    E como ficou o Ruben e a Inês? Ela que abra os olhos e veja o que toda a gente sabe, que o Ruben nao a ama.

    Beijinhos e continua porque isto é maravilhoso.

    L.

    ResponderEliminar
  3. Minha linda :)

    Adorei o capítulo mas já sabes que estou pronta para ler mais...

    Espero que já tenhas resolvido esses problemas...

    Beijocas

    ResponderEliminar
  4. Diz-me como é que nos deixas assim com um capitulo destes????!!!! O que se passa com a Joana???? Não nos podes deixar assim!!!!!!
    Quero mais urgentemente, por favor!!!!
    Adoro.
    Beijo

    Adriana

    ResponderEliminar
  5. Espero que seja o que estou a pensar ... Mais uma vez, adoro a tua história e a maneira como escreves. Continua. Estou ansiosa pelo próximo capítulo.

    ResponderEliminar
  6. Wow wow wow wow, mas o que é que se passa com a Joana???
    Está doente?? Isso é que não pode ser!! Espero que não seja nada de grave!!
    Estou ansiosa pelo próximo!
    Continua

    ResponderEliminar
  7. estou ansiosa ! Tu sabes mesmo como cativar uma leitora, a tua forma de escrever é fascinante e cativante e outros nomes que nem sei escrever. É demasiado surpreendente para não ser divulgada! Simplesmente a melhor escrita e história, sim, porque é absolutamente genial, que alguma vez li ! Obrigada por existires e demonstrares tanto talento !
    Alexandra

    ResponderEliminar
  8. Bem mas o que é que se passa com a Joana??? Espero que não seja nada de grave!! Deixas-nos assim nesta ignorância toda?? Queremos saber o que é que vai acontecer!!! Estou mesmo ansiosa pelo próximo!!

    E fico á espera de noticias do Rubén, ele tem que acabar tudinho com a Inês!! E é se quer ser feliz!!

    Bem fico á espera do próximo :)

    ResponderEliminar
  9. Por favor publica!!

    Beijo

    Adriana

    ResponderEliminar
  10. Olá! Como estás? Estou de passagem por aqui e gostaria de te convidar a conhecer o blog de um amigo que se juntou recentemente à comunidade. Não peço que o sigas, apenas que percas alguns minutinhos a ver o trabalho dele, e se entenderes que deves, dar uma opinião e então seguir – Ele seguir-te-á de volta. Mas isso parte de ti, sem qualquer compromisso, certo? :) Em vez de retribuíres comentário no meu, retribuiu no dele como gesto de boas vindas ao blog, que tal? ;) Deixo nas tuas mãos. Um abraço apertado. Até breve.
    Link: http://umcavaleiroperdido.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  11. Desculpa a minha demora em comentar.
    Espero que o problema da Joaninha não seja nada de grave, eu acho que não é, mas como não sei o que vai na tua cabeça tenho que estar preparada para tudo, ou pelo menos tento estar.
    A Inês é uma emproada, sinceramente não acredito que ela pense que o Ruben gosta dela, mas ela lá sabe ou não...
    Adorei o capitulo, deixas-me sempre com vontade de ler mais e mais, espero que resolvas os teus problemas, e que assim que possas nos dês o prazer de ler mais um maravilhoso capitulo.
    Continua

    Beijocas

    Fernanda

    ResponderEliminar
  12. ola :)
    comecei ontem a ler a tua história e devo dizer-te que é completamente fascinante !!! Consegues cativar pelo que escreves e isso é um talento... muitos parabéns !
    Estou ansiosa por ter o prazer de ler mais um dos teus maravilhosos capítulos.

    beijinhos e continua !!!

    Rita

    ResponderEliminar