segunda-feira, 18 de julho de 2011

Capítulo 3 - O último adeus... a última decisão













Chovia torrencialmente no final da tarde do dia seguinte, a chuva intensa e copiosa caía vertiginosamente sobre as ruas imperantes de Nova Iorque. Joana mirava-a através da enorme janela do quarto, serena, observando a azáfama dos transeuntes no lado de fora, que corriam apressadamente de um lado para o outro tentando fugir à rigorosa precipitação. Envergava um vestido negro esmorecido, cortado a dois dedos acima dos joelhos, com umas botas igualmente da mesma cor e o cabelo estava apanhado numa trança perfeita, a cair-lhe sobre o ombro esquerdo.


- Joana? – imperou uma voz masculina nas suas costas. Era Will, invocando-a junto à ombreira da porta - ela virou-se para o seu semblante – Está na hora?

- Sim, está! – afirmou ele assentindo com a cabeça

Joana vestiu o longo sobretudo e colocou a mala ao ombro, saindo de casa ladeada pelo rapaz. Sarah já os esperava dentro do carro sentada no lugar de pendura, protegida do dilúvio que imperava no exterior. Antes de ocupar o lugar de condutor, Will abriu a porta de passageiros dando a entrada a Joana, protegendo-a sempre com guarda-chuva. Ela passou toda a viagem completamente absorta, olhando alheiamente os pingos de água que escorriam em velocidade pelo vidro da janela. Sentia um enorme e arrepiante aperto no coração, sentia-se sozinha, sentia-se como tivesse sido atirada para um poço obscuro e assustador, sem fundo…

- Estás bem? – questionou-a Sarah, olhando-a pelo retrovisor

- Sim. – afirmou com a voz sumida, continuando a espreitar pela janela já com os olhos a quererem deflagrar lágrimas gordas

Joana entrou de braço dado com Will juntamente com Sarah que seguia a seu lado. Ficou abismada por ver na igreja uma amálgama de presenças… a maior parte delas desconhecidas e as restantes, tinha-as visto uma vez ou outra. Também os seus colegas e professores de liceu estavam presentes, todos em grupo num canto ao lado esquerdo do altar. Por momentos foi invadida por uma nostalgia pacífica, estava orgulhosa por saber que a sua progenitora fizera diversas amizades e ganhara admiradores pelo seu cargo, embora também tinha conseguido discernir os rostos de algumas sanguessugas emproadas que trabalhavam em parceria no escritório com a sua mãe, que choravam desalmadamente e rezavam por ela, no fundo Joana sabia que estavam apenas a fazer uma triste deixa de uma peça de teatro e que mal chegassem a casa iriam festejar animadamente e pregar louvores ao céus por esta “morte abençoada”. No seu íntimo residia uma vontade desalmada de lhes dar uns valentes safanões e pô-las a andar dali para fora, porém não o fez, como é óbvio.
O sermão do padre estava a causar-lhe náuseas de tão pouco comovente e desproporcional que era… um dos momentos que mais lhe custou foi receber os pêsames das entidades mais emotivas e as que demonstravam mais compaixão. Custava-lhe dizer um “obrigada” ao mesmo tempo que lhe apertavam a mão, simplesmente porque era desconfortante e pesaroso.
No final da cerimónia fúnebre, chegou a parte mais arrepiante e dolorosa… a despedida. Todos os presentes abandonaram a igreja ficando apenas a única familiar da falecida e os dois amigos. Débora estava impávida e serena, a sua pele estava tão pálida que aparentava ser feita de cera e os seus lábios esboçavam um terno sorriso. Joana acariciou-lhe a face dura e automaticamente um calafrio lhe invadiu o corpo, aquela realidade parecia-lhe de uma maneira patusca, irreal e preferia pensar que a sua mãe estava apenas embargada a um sono profundo e simultaneamente eterno, mas é evidente que isso não passava apenas de um desejo idealizado… ela continuava ali… silenciosa, de olhos fechados e de sinais vitais petrificados. A rapariga aproximou-se e presenteou-a com um beijo prolongado na testa gélida, deixando escapar mais umas quantas lágrimas assim que cerrou as pálpebras.

- Isto é só um até já, querida mãe.


***


O temporal não revelava indícios de querer dar tréguas e a chuva raivosa continuava a cair das alturas acabando por chapinhar estrondosamente sobre os inúmeros chapéus-de-chuva e nos solos do vasto cemitério.
Após o padre proferir o último discurso, o caixão foi levado para a sua última morada. No momento em que os coveiros começaram a encher o túmulo com terra, Joana fechou os olhos e abraçou Will com todas as forças que ainda lhe restavam. Rompeu novamente num choro agoniante, sentia que aqueles abutres estavam a obrigar a sua mãe a morrer. De súbito a precipitação abrandou, acabando no fim por escassear. Os dementes mais próximos do leito deitaram flores, cada ramo perfeitamente enfeitado e os crentes e espirituosos atiraram mãos cheias de terra para dentro do túmulo em sinal de respeito.
Estar ali, a presenciar todo aquele cenário devastador, estava a destrui-la por dentro, a matá-la. Afastou-se ligeiramente antes que Sarah e Will a pudessem ver e escapuliu-se por entre a multidão. A fúria que tinha com Deus por lhe ter roubado a mãe para leva-la para os seus aposentos era de tal forma caótica que fazia Joana derramar lágrimas e mais lágrimas à medida que se afastava. Estagnou junto ao enorme e misericordioso portão de ferro já um pouco ferrugento, para tentar acalmar a corrente de emoções, o misto de mágoa e revolta… e foi nesse instante que observou um outro alguém. Tinha a impressão de que se tratava de uma presença masculina devido à estrutura corporal e à sua indumentária… estava cabisbaixo, encostado à porta do carro. Aparentava-lhe um aspecto estranhamente familiar, porém não o conseguiu discernir por completo, visto que o “desconhecido” se encontrava de costas e a uns valentes metros de distância. Quando ganhou coragem para ir ver mais de perto quem se tratava, um timbre grave de voz travou-a.

- Mas que raio te passou pela cabeça para desapareceres assim?

- Desculpem… - não conseguiu dizer mais nada, continuava hipnotizada a tentar adivinhar quem era aquele homem

- Joana, passa-se alguma coisa? – desta feita foi Sara a interroga-la pousando as suas mãos nos ombros da amiga

- Aquele homem ali… - fez um trejeito com a cabeça na direcção dele

- O que tem?

- Não sei, mas acho que não me é totalmente alheio… parece que o conheço de algum lado. – supôs nunca descolando os olhos da sua figura

- Estranho, acho que nunca o vi! – indagou Will

- Pois, provavelmente eu também não e só estou pra’qui a divagar… a criar macaquinhos na minha cabeça. – fez uma breve pausa – Quero ir para casa… - finalizou olhando-os pela primeira vez

- Então vamos, eu deixo-vos às duas em casa. – mostrou-se cavalheiro

Assim que Joana abriu a porta do carro para entrar, voltou a procurá-lo com o olhar… de fugida. Perscrutou-o a alcançar as chaves no bolso e a pressionar o botão destrancando assim o enorme e reluzente BMW, entrando posteriormente sem nunca mostrar o semblante.
Assim que Will estacionou à porta do prédio de Joana, Sara ofereceu-se para passar a noite com ela, na tentativa de a acalmar. Subiram e instalaram-se, depois de terem comido alguma coisa, abriram o sofá cama e acomodaram-se entre os cobertores.

- Ainda estás a pensar nele? – perguntou Sara, vendo a amiga estranhamente absorta

- Nele quem? – mostrou-se alheia

- Naquele homem que viste à entrada do cemitério…

- Hum… para dizer a verdade, não… desisti de tentar descobrir quem era, não lhe consegui ver a cara e não encontro mais nenhuma ligação. – fungou

- Então estavas a pensar em quem?

- No meu pai, no canalha que ele é! – disse num laivo de fúria

- Ainda lhe guardas rancor?

- Não diria bem rancor… é mais ódio e desilusão, embora os meus pais tivessem separados, eles mantinham uma relação amigável… não percebo porque é que ele não apareceu no funeral… contudo sempre tive esperanças que ele viesse… - suspirou

- Se calhar não tinha voo, ou então foi o excesso de trabalho que fizeram com que ele não pudesse vir… - tentou adverti-la

- Por favor Sara! Isso são desculpas, tretas! O meu irmão tinha o direito de ver a nossa mãe uma última vez, nem que fosse… nem que fosse, morta!

Sara juntou-se mais a ela e abraçou-a, acabando depois por interroga-la.

- Eu sei que esta pergunta não vem a propósito, mas… o que é que estás a pensar fazer da tua vida… daqui para a frente?

Joana mostrou-se pensativa por instantes.

- Vou voltar para casa… Vou voltar para Portugal. 
  


Aqui vos deixo mais um capítulo, espero que tenham gostado
e não se esqueçam de comentar, é muito importante! :)
Um beijinho,
Joana :)


P.S. Informaram-me que alguns leitores não conseguiam comentar em anónimo, de facto não estava a aceitar comentários de utilizadores que não estavam registados, sem me aperceber. Mas já resolvi o assunto, agora quem quiser, já poderá deixar o seu comentário em anónimo! :)

19 comentários:

  1. Quem seria aquele homem?!
    uhhhhh...mistério... :b
    estou ansiosa pelo próximo Juca, e com ele o regresso a Portugal :)

    beijinhos

    Mariana

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  2. Oh minha querida Juca, primeiro tive de acalmar um pouco, pois confesso que ainda nem ia a meio do capítulo e já estava a chorar, tal qual Madalena arrependida... Já sabes como sou chorona, enfim!
    Mais um capítulo extraordinário que me deixou sem palavras, mas com as emoções à flor da pele.
    É incrível a capacidade que tens para transpor emoções com simples palavras e fazê-lo de uma maneira tão simples e genuína, mas que cativa imenso os leitores.
    Só posso dizer que aguardo ansiosamente pelo próximo! :D

    Beijinhos, minha linda! ^^

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  3. Minha linda, acabei de ler!

    Opa deixaste-me com a pulga atrás da orelha, quem é o homem??? Será quem penso que é??? Hum, bem q podias desfazer esse mistério rapidamente, né???

    Qt ao capítulo em si, está fantastico!

    Continua!

    Bjs

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  4. Esta muito muito bom continua.bjs

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  5. Minha querida, mais uma vez deixaste-me sem palavras... Fiquei super emocionada com este capítulo para não variar :)
    Cada vez escreves melhor e consequentemente eu fico mais curiosa e ansiosa pelo próximo capítulo!
    Tens um talento enorne para a escrita e eu ador o que escreves.
    Cintinua, eu ficarei à espera do próximo capítulo!
    Um beijinho enorme, Lígia *_*

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  6. Óptimo! :D
    Continua!
    Beijo enooorme!
    Ana Rodrigues*

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  7. Oie Oie :p

    O capitulo está lindo :) , cheio de sentimento , a fic apesar de ainda estar no inicio tenho a certeza que vai ser excelente , pois já deu para entender isso :p

    Quem será aquele homen :p , eu quero saber , sim ?

    Quero ver o regresso de Joana a Portugal :)


    Fazes-me um favor ? sim ? :p

    Então é o seguinte :p posta rapidinho :p , pois eu tenho um grande defeito , foi uma curiosa de primeira :p

    Vá , continua com o óptimo trabalho que tens feito até agora :) , e nunca pares de escrever :p

    http://luta-por-um-sonho.blogspot.pt


    Beijinhos :p

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  8. Logo ao 3º capítulo consegues captar toda a minha atenção. Escreves mesmo muitíssimo bem!
    Lindo! :')

    Continua!
    Beijo :')

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  9. Comecei a escrever uma fanfic. Espero que sigas (:

    nemsemprevivercusta.blogspot.com

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  10. Descobri hoje a tua história e devo-te dizer que nunca ninguem fez com que as lagrimas caiessem tão... olha nem tenho palavras, tá magnifico, com a tua escrita fazes-nos passar para o mundo onde a personagem vive, onde ela sofre e nos sofremos com ela.
    Fico a aguardar o proximo capitulo.
    Beijinhos*
    http://quandomenosseespera.blogs.sapo.pt/

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  11. a mim também é-me completamente impossível :s

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  12. Infelizmente é mesmo querida, adorei a história e o blog, segues o meu ? tambem já sigo o teu (:

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  13. Obrigada querida (: e sim, têm sempre a tendência de se fartar.

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  14. estou a seguir ! segues também ? (Capitulos da Vida)

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  15. quando voltas a publicar?
    estou ansiosa p'ra saber mais desta história...
    beijinhos

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