sexta-feira, 26 de abril de 2013

Capítulo 12 - Tudo começou para nunca mais acabar (Parte IV)


- Ainda não parou de chover um minuto… - desabafei junto à janela, observando o vendaval que fazia a chuva precipitar-se furiosamente das alturas e um vento que soprava forte, agitando os galhos das palmeiras e a restante vegetação que pendia ao flanco do hotel

Estava no quarto de Pedro juntamente com ele, passáramos praticamente toda a tarde ali visto que o temporal rogado lá fora não convidava propriamente a um mergulho no mar da praia nem tampouco a passeios pelos ilhéus desertos.
Já há dois dias que chovia torrencialmente na ilha, e devido a estas condições meteorológicas as gravações tiveram obrigatoriamente que ser adiadas, e uma vez mais vi passar bem à minha frente o destino que voltara a ficar fora do meu controlo.

- Oh, já devias saber como este clima tropical é… Agora chove mas vais ver que mais daqui a pouco o sol já está aí outra vez e aquele calor sórdido também! – respondeu o meu melhor amigo e agente à cabeceira da cama, onde do seu tablet respondia aos meus e-mails há quase meia hora

- A questão é que nós já nem deveríamos estar aqui. Já passaram dois dias, Pedro, dois dias… A estas horas devíamos estar a chegar a casa! Não quero ter que ficar aqui muito mais tempo, este não é o meu lugar…

- Mas é o teu trabalho! – referiu ele sucintamente, descolando os olhos do pequeno ecrã por uns segundos para me olhar – Eu entendo-te mas tenta ser flexível… Isto é algo que nos incomoda a todos, é tempo e dinheiro que se está a perder. As gravações deveriam estar concluídas anteontem mas ninguém tem culpa disso porque ninguém esperava que se pusesse este tempo… É do tipo de situações que não estão previstas acontecer!  

- É… e acho que é exactamente isso que a minha vida tem mostrado ser estes últimos dias… Um total imprevisto! – o meu olhar voltou a trespassar a vidraça da enorme janela e a cair sob a paisagem que era arrasada pela tempestade, e de uma maneira totalmente irónica o meu âmago poderia assimilar-se àquela imagem… arrasado por novas sensações que eu própria desconhecia



***




A manhã do dia seguinte foi deslindada pelas abertas que fizeram do sol uma visita aguardada e bem-vinda às ilhas de Punta Cana. Viajámos cedo novamente até à Ilha Saona, tendo sido uma lagoa perto de uma das maiores quedas de água, refugiada por uma vegetação exorbitante, o cenário perfeitamente escolhido para a sessão fotográfica da campanha, para a qual eu e Francisco posámos até à hora de almoço. A parte da tarde estava programada para ser entregue somente às gravações do anúncio televisivo.

- Alright, people, let’s go… Let’s move! – ordenou altivamente a produtora, que enunciou os postos de tarefas e fez andar todo o pessoal da equipa de produção num autêntico frenesim de montagem de material e preparação do cenário

Heat Blue, chamava-se assim a nova aposta de perfume da Dulce&Gabbana. Pelo que tinha lido no guião que me tinha sido entregue no primeiro dia, Heat Blue – a nova fragrância para ela – é um perfume exótico e marcante de um Verão siciliano, que concentra notas de maçã, pimenta de alecrim e âmbar que “capta a atenção”, e essências médias de jasmim, bambu e zimbro, dando uma combinação absolutamente feminina em que “o efeito é marcante e de uma sedução arrebatadora, onde a mulher Dulce&Gabbana se apaixona e faz apaixonar”. O perfume é lançado a mulheres confiantes, donas de um grande poder de sedutismo, atracção, que gostam de um estilo de vida elegante e casual. Trasladando o sol do dia e as noites deslumbrantes, esta fragrância “aquática, fresca e purificadora” representa a sensualidade das ilhas paradisíacas das Caraíbas.
Gravámos as primeiras cenas em alto mar no esplêndido coral de Saona, tendo sido o primeiro plano filmado no barco, onde seguíamos com dois câmara-men, e o segundo nas águas azul-turquesa, onde nadámos juntos por alguns minutos, maravilhando-nos com peixes coloridos de todas as simetrias e no fundo do recife olhei as múltiplas estrelas que transpunham a figura de um céu anoitecido.
Seguimos depois de volta à praia, para junto de uma falésia onde iríamos concluir as gravações. A produtora voltou a relembrar-nos o que era pretendido que fizéssemos e o meu coração bateu mais forte quando ficámos a saber que teríamos de nos beijar, para que o anúncio ganhasse um novo sentido que consistia num derradeiro caso amoroso Heat Blue, onde os personagens têm um relacionamento de intimidade e paixão que traduziam a ideia pretendida para o perfume, num cenário de puro romantismo como era aquele.

- Scene four, take one… Action! – ouvimos pelo megafone e de novo as câmaras focaram o nosso plano

Eu permanecia encostada ao enorme rochedo e tinha Francisco na minha frontaria, encurralando-me num espacinho mínimo, fincando a sua mão na parede uns centímetros acima do meu ombro e olhando-me penetrantemente, na antecipação de um momento que tinha sido previamente programado pela realização. Mas não consegui… Quando senti a sua testa empurrar levemente a minha para beijar os meus lábios, eu não consegui entregar-me inteiramente à personagem que interpretava e separar o meu trabalho da minha vida pessoal. Embora não fosse essa a verdade dos factos, sentia que naquele gesto unicamente técnico estava de alguma forma a trair Ruben e tudo aquilo que sentia por ele, e esse pensamento fez com que desviasse o meu rosto do seu alcance quase de forma automática.

- Tá tudo bem, Joana? – o Francisco olhou-me inegavelmente preocupado com a minha rejeição infundada e esperou por uma resposta, tal como o resto dos profissionais que trabalhavam em nosso redor que ficaram confusos com o aquela minha atitude inesperada – Fiz alguma coisa de errado?

- Não, não fizeste nada de errado, apenas… Apenas não me estou a sentir muito confortável… com isto! Desculpa. – proferi num sussurro a modo sem jeito, que penso ele ter compreendido imediatamente

- Se quiser a gente pode pedir pra fazer uma pausa até você se recompor e se sentir preparada…

- Não, não, eu estou preparada! Aquilo não vai voltar a acontecer! – disse decididamente de maneira a conseguir afastar aqueles pensamentos patéticos

- Então deixa eu te guiar, tá bom? Relaxa…

- Obrigada. – agradeci sinceramente o seu apoio e depois fizemos o sinal ao pessoal da produção de que estávamos prontos para retornar as filmagens

Um novo clique da claquete voltou a ser escutado e a partir desse instante todas as atenções voltaram a recair sobre nós.
A sua mão direita palmeou a minha face e deixei que fosse ele mesmo a guiar-me, tal como me tinha dito, já que eu não me sentia capaz de fazê-lo por mim. As nossas respirações embateram sem pressão e foi uma questão de segundos até os meus olhos se fecharem e a minha boca sentir-se ser envolvida pelo calor latente da sua.
O beijo então aguardado pelas câmaras, surgiu, primeiro recatado e superficialmente discreto e depois mais intempestivo e dominador, e que em nada poderia ser comparado a um beijo do meu Ruben… Em primeiro e o mais essencial de tudo é que era um gesto meramente profissional e ausente de qualquer sentimento, e depois era a entrega que não existia entre nós, o sabor da boca que não era o mesmo, o toque de lábios que não era tão delicado, a sensação de carinho e preenchimento que não me fazia levitar, o arrepio na espinha que eu não sentia. Nada naquele beijo era Ruben e ali, jogada nos braços de outro homem, nunca tinha sentido na pele tanta certeza e segurança que o amava mais do que eu imaginava ser possível poder amar-se alguém, e sentia falta dele mais do que tudo.

- And… Cut! – a ordem do realizador irrompeu entre nós e a nossa atmosfera, anunciando a tão esperada finalização de todo trabalho – Congratulations, people, good job!

A enunciada foi contemplada por uma enorme saudação com uma salva de palmas de toda a equipa, inclusive também minha e de Francisco, que depois de me dar um beijo afável na testa, olhámo-nos nos olhos e sorrimos com cumplicidade, orgulhosos por termos feito parte daquele projecto.


***



- Pedro? – chamei-o quando entrei na pequena tenda descoberta e caminhei até ele, dando-lhe um toque leve no ombro – Vou dar uma volta por aí… Estou a precisar de espairecer um pouco.

Ele descentralizou a sua atenção do computador onde juntamente com um técnico de imagem revia a sessão de fotografias tiradas esta manhã, e olhou-me ao voltar-se para mim – Não queres ver as fotos? Ainda não foram editadas mas podes dar uma vista de olhos e ver o resultado… Acho que estão muito boas!

- Prefiro vê-las depois quando voltar.

- Tudo bem, mas precisas de alguma coisa? Queres que diga ao Alexandre para ir contigo?

- Não, não lhe digas nada… Acho que estou a precisar de estar sozinha por algum tempo e espairecer. Dar uma voltinha pela ilha, um mergulho na praia… - enumerei, revendo mentalmente o percurso do passeio que planejara traçar unicamente sozinha 

- Então mas tem cuidado e não te afastes muito! – pediu-me na sua habitual posição cautelosa e protectora em relação a mim, que eu já esperava voltar a ver-lhe – E leva qualquer coisa para comer… Não andes toda a tarde sem nada no estômago! 

- Sim, mãe… Eu levo alguma fruta na mochila, não te preocupes! – trocei comicamente e ambos nos rimos com a minha disposição de humor, que felizmente não tinha sido atingida pelo meu estado de espírito, não naquele momento 

- Estás cheia de piada, tu! – ele deu-me um toque no ombro que me fez balançar ligeiramente e voltámos a sorrir – Ah, espera, há uma coisa que tenho de te dizer… A produção vai dar uma festa logo à noite no bar da praia para comemorar-mos o fecho da criação da campanha… Quero ver-te lá, está bem?

- Sim, lá estarei… - prometi com um discreto sorriso nos lábios, despedindo-me dele com um beijo dócil que despoletei na sua bochecha – Vemo-nos depois!

Queria ver tudo, cada coreto, cada lagoa, cada falésia… Comecei por dar um mergulho numa praia escondida atrás dos vales, isolada e muito discreta. Tal como as outras a sua areia era fina e branca e a água era tão transparente que permitia ver o fundo e todo o tipo de búzios e peixinhos, tão quente que se tornou difícil para mim voltar a sair dela.
Voltei a percorrer novos trilhos, continuando somente por minha conta, mas com a companhia estranhamente agradável dos mais diversos animais exóticos que encontrava em pequenos montes e junto dos riachos, acompanhados da sinfonia reproduzida pelas aves coloridas, libertada nas copas das árvores de uma altura assustadora. Observei com curiosidade cada planta exótica, provei a medo alguns frutos silvestres e flagrei com a minha máquina fotográfica tudo aquilo que mais tarde queria vir a recordar.
Acabei por vislumbrar no cimo de um penhasco uma cabana de madeira, algo que se poderia assemelhar a um chalé, mas mais humilde e casual. Subi até lá e empurrei a porta encostada quando cheguei, e resolvi entrar. Fiquei surpreendida e simultaneamente maravilhada com aquele cenário: Havia cadeiras de veludo branco e rosa correctamente alinhadas e divididas por um pequeno corredor que conduzia a um altar… Aquela cabana estava preparada para aquelas que seriam cerimónias matrimoniais. Não era de surpreender, pois de facto qualquer casal de noivos que por ali passasse não escolheria outro sítio mais belo e fascinante para dar o nó que não aquele… E até eu senti uma vontade inexplicável de me casar ali.

- Queria tanto que estivesses aqui comigo, Ruben… - um sussurro vanguardista que aprisionava um pequeno lacrimejar dos meus olhos, soltou-se dos meus lábios aquando idealizara um cenário perfeito, que em tempos chegáramos a planear juntos

Foi mais que óbvio que tinha sido ele a primeira pessoa a interpor os meus pensamentos e ideias, e ao estar ali, naquele cantinho do céu, não desejei que mais ninguém estivesse ali comigo, que não fosse ele. Queria partilhar com ele não só aquela ocasião, mas todas as outras que tinha vivido naquela terra naqueles dias… Só Deus sabia as saudades que eu tinha dele, e só Deus sabia a angustia que me fazia sentir pequenina por não poder tê-lo ali ao meu lado, a viver aquele momento comigo.   


***


Era noite cerrada quando voltei à praia e não foi difícil dar com o bar onde certamente estava a decorrer o festejo e este já tinha tomado o seu começo.
Era um espaço agradável, muitos cocktails a rodar e música merengue que contagiava qualquer um a dar uns passinhos de dança no ritual carabiano. Ao fundo da sala, perto de umas mesas redondas de pé alto, vi Pedro, que ao fazer-me sinal com a mão não se demorou até me alcançar.

- Ainda bem que já chegaste… Estás bem? – a minha testa acolheu um beijo quente seu e esse simples gesto de carinho permitiu que as portas do um sorriso se abrissem por segundos em meus lábios

- Hum, hum… Estou. – respondi seguramente e senti depois ele puxar-me pela mão para me arrastar consigo

- Vem… O pessoal da campanha está desejoso para falar contigo! – encruzilhámo-nos com alguma dificuldade por entre as pessoas que já animadas improvisavam ali no meio uma pista de dança, e pela sua mão firmemente agarrada à minha segui atrás dele  

Levou-me até aos produtores e realizador, e foi com eles que ficámos a falar por largos minutos… Discutimos alguns pormenores da campanha publicitária e ouvi por algumas vezes saudarem-me com os parabéns, pelo contentamento que receberam do meu empenho e trabalho, notoriamente satisfeitos com o resultado final que chegara a ultrapassar as expectativas do que era esperado.
Mas não fiquei lá dentro por muito mais tempo, precisava de respirar outro ar, outro ar menos carregado do que aquele que se vivia no interior, e refrescar a minha mente com pensamentos mais leves.

- Tengo un corazón, mutilado de esperanza e razón/ Tengo um corazón, que madruga donde quiera/ Y este corazón se desnuda de impaciência ante tu voz/ Pobre corazón, que no atrapa su cordura… - dei por mim a trautear a música natural dominicana que passava quando sai do bar, e foi inevitável não atribuir um sentido pessoal à letra

Sentei-me na areia e deixei-me ficar a olhar o mar, agora enegrecido pela noite, e ali até o silêncio se tornava uma melodia deliciosa para apreciar.
Apesar do sol já se ter posto há muito, um ar quente ainda viandava pela atmosfera, tornando-a ligeiramente húmida e abafada, contudo preferia a solidão lá de fora do que a agitação quase louca que reinava no interior do bar.

- Dando a escapadinha? – um timbre o qual já havia aprendido a discernir, soou ao alto das minhas costas e um pequeno sobressalto foi inevitável para mim, pois encontrava-me remotamente perdida sob os meus mais profundos pensamentos de vida

- Francisco… - disse o seu nome, logo que olhei a cima do meu ombro e o vi, hirto atrás de mim

- E aí… Posso perguntar o que tá fazendo aqui sozinha na vez de ‘tar lá festejando com a galera?

- Está lá muita confusão dentro e… Sinto-me melhor aqui. – proferi com sinceridade, até fazer um sorriso consulado coabitar meus lábios – Senta-te se quiseres…

- Com licença. – pediu, extremamente educado e senti o meu lado esquerdo, até então vazio, ser ocupado por ele – Peguei um drink pra você…

- Oh, não era preciso teres tido trabalho comigo, obrigada! – agradeci-lhe a amabilidade e peguei no copo de pina colada que ele havia trazido para mim – Francisco, sobre o que aconteceu nas gravações… Queria agradecer-te o apoio que me deste, não imaginas o quanto me senti ridícula com a situação! – proferi com um sorriso calmo, porém envergonhado no rosto

- Ridícula? Que é isso, garota… Imagina! – ele menosprezou o lance ocorrido naquela tarde de filmagens, aquando o nosso beijo, mas aquela minha primeira reacção foi algo que mais tarde me veio a deixar constrangida perante ele

- Eu nunca fiz nada disto antes, nunca me deparei com situações como esta no meu trabalho… Fiquei um pouco atrapalhada com a situação.

- Deixa pra lá, até porque eu entendo… Cê não tá acostumada, é natural, eu mesmo não me acostumei ainda e olha só que essa não foi a minha primeira vez! – ambos gargalhámos do seu jeito de falar, era incrível como o seu sentido de humor conseguia interferir com o meu, mas depois um silêncio circunstancial e aterrador caiu sobre nós – Problemas no paraíso?

- Quem não os tem?

- Pelo seu jeito, os seus parecem ser sérios…

- Espero conseguir resolvê-los assim que sair daqui. – respondi em meio tom, dando um curto sorvo da minha bebida

- Problemas do coração? – tornava-se assombroso como há tão pouco tempo nos conhecíamos, e ele já ganhara um pouco da capacidade de me ler nas entrelinhas – Desculpa, são os seus assuntos, não me quero intrometer demais.

- Sim, problemas do coração… - sem contar com que me desse ao assunto com ele, acabei por lhe revelar o motivo-rei de toda a minha apatia

- Sabe que a gente tende a ter mais facilidade em abrir o coração pra alguém que não conhece direito, do que pra’queles com quem fala todos os dias…

- Agradeço-te a simpatia, a sério que sim, mas não quero aborrecer-te com os meus problemas… Além de que é uma história complicada.

- Tem ninguém me apressando não! Eu tenho tempo… - Francisco olhou-me com um sorriso meigo, mostrando-me estar inteiramente disposto a ouvir-me

- Então, muito resumidamente… - comecei por respirar fundo e preparei-me para lhe contar apenas uma parte do enredo que me atormentava por demasiado – Eu e o meu namorado reconciliámo-nos recentemente, depois de termos ficado um longo período de tempo afastados. Passámos esta última semana em São Francisco e tínhamos combinado regressar a Portugal juntos, no mesmo voo, mas houve uns contratempos, perdi o avião e do nada caiu-me a proposta de fazer o anúncio e tive que vir a correr para aqui sem ter tempo de pensar duas vezes, sequer…

- E isso quer dizer… - ele teve a necessidade de procurar por um esclarecimento, pois eu não tinha sido demasiado precisa no ponto da questão

- Isso quer dizer que ele foi no voo que tínhamos combinado ir juntos e não sabe que eu estou aqui. – discursei calmamente, como nunca me imaginei fazê-lo pois sempre que recordava aquele assunto ganhava um súbita vontade de lacrimejar, e no seu rosto jovial decifrei um laivo de confusão

- Não sabe? Cê não falou desse negócio pra ele? Não lhe ligou…?

- Isso teria sido a primeira coisa que tinha feito se tivesse maneira de o contactar… Acreditas que nem voltámos a trocar de número?

- Puxa vida, assim fica complicado tentar ajudar você, né? – vi-o passar a mão pelos cabelos como maneira de expressar a sua pequena risada de desalento e eu sorri-lhe de volta pelo seu comentário… um sorriso desconcertante – E acha que ele vai ficar chateado com você por causa dessa parada?

- Não sei, Francisco, sinceramente não sei… – falei ao mesmo tempo que os meus ombros se encolheram perante a evidente ausência de respostas – Tal como eu te disse… É uma história complicada! Mas então e tu, fala-me de ti… Aposto que não tens estes problemas com a tua namorada! – tentei desviar o assunto “eu e os meus problemas”, e com ele desviar toda aquela tensão que lentamente se começou a formar no sabor da conversa

- Nisso cê me ganha, porque felizmente não tenho esse tipo de problemas com a Jessiann… A gente tá muito feliz! – um sorriso imensamente tranquilo da sua boca, foi o suficiente para me fazer acreditar que no campo do amor ele tinha encontrado um conforto de paz, algo que na minha situação eu já não estava tão certa de continuar a ter – Cê quer vê-la? Acho que tenho aqui uma foto dela…

- Ah… Sim, claro! – peguei no seu copo para que ele tivesse mais facilidade em conseguir retirar a carteira do bolso traseiro dos seus calções de praia, e quando encontrou a fotografia da sua namorada guardada no interior entregou-ma, e eu voltei a dar-lhe o copo

- Ela é muito bonita! – gracejei, ao ver a rapariga loira de sorriso fácil de se gostar, flashada na impressão digital que segurava na minha mão

- É, é linda mesmo… E olha só, a gente já tá esperando o nosso primeiro filho!

- O quê, tu… Tu vais ser pai?

- Surpreendida?

- Sim… Na verdade estou um pouco! – revelei, porque o facto é que estava mesmo surpresa tendo em conta as circunstâncias que vim depois a nomear – Desculpa mas olhando para ti, nunca pensei… Quer dizer, és um homem novo ainda, para não falar que o teu trabalho te faz andar de um lado para o outro… Não o tempo todo mas quase!

- É, eu sei, mas pretendo abrandar o ritmo quando ele nascer, não quero perder nada… E quanto ao ser novo, é, é verdade que sou novo ainda e sei que a maioria dos homens da minha idade não tem intenção de se ver com um neném nos braços para cuidar e educar, mas eu e a Jessiann… A gente tem uma relação e uma vida bastante estáveis, nos conhecemos um ao outro melhor que a nós mesmos, moramos junto faz tempo e aí a gente pensou: Porque não darmos o passo seguinte?

- Não sabes o quanto admiro a vossa coragem… - não fiquei indiferente ao discurso dele, àquela sua certeza que o dominara em cada palavra e devo confessar que fiquei tenuemente emocionada, e aquela firmeza e certidão, um dia, nas mesmas condições, também eu queria tê-las em mim

- Você nunca pensou em ter filhos? – aquela pergunta à primeira vista inocente, despoletou em mim um misto de sensações que eu não esperava de todo sentir, pois fez-me relembrar de algumas conversas que partilhei com Ruben ultimamente

- Sim, claro que já pensei, mas acho que este ainda não seria o momento certo para dar esse passo na minha vida… Estou a concluir os meus estudos, tenho trabalho e uma vida também ela estável, mas não me vejo a ser mãe agora, ao contrário do que o Ruben pensa!

- O Ruben? – perguntou no segundo seguinte, pois eu ainda não tinha mencionado o nome dele, ainda assim ele compreendeu antes de me deixar esclarecê-lo – O seu namorado…

- Sim, o meu namorado… Quando falamos nos planos que temos para a nossa relação, por vezes o assunto de construirmos uma família cai na conversa… Acho que ele ia delirar só com a ideia, eu sei que ele quer muito ser pai!

- Então e você?

- Eu não sei… Tenho medo, acho que é isso… Tenho medo de falhar! Um filho trás muitas responsabilidades, não é um passo que se decida dar de ânimo leve, e eu ainda não acho que me sinta preparada.

- Nunca ninguém se sente realmente preparado até que chega o momento em que tem de estar! – proferiu com total sabedoria, e apesar de ‘ser mãe’ pertencer à minha lista de desejos, este era um que eu pretendia realizar apenas no futuro

- Sim, talvez tenhas razão… E bem, a conversa está muito agradável mas é melhor eu ir andando! O meu voo é de madrugada e ainda quero descansar um pouco! – ciciei, logo que espreitei as horas avançadas do meu relógio de pulso

- Tá indo pró hotel?

- Não, estou instalada num bungalow… Fica no outro lado da praia!

- Então fica no caminho… – ele levantou-se e ajudou-me a levantar também, logo que me estendeu a mão – Eu posso te acompanhar até lá e depois sigo pró hotel! – sacudi a areia da minha saia e sorri-lhe em seguida, grata pela sua companhia naquela noite


***


- Parece então que estou entregue! – anunciei quando finalmente chegámos junto da porta do meu quarto – Obrigada!

- Não tem de quê, e aproveito pra agradecer também a óptima companhia e foi um prazer trabalhar com você… Espero que nos voltemos a encontrar!

- Eu também espero que sim… Faz uma boa viagem!

- Cê também, e vou torcer pra que dê tudo certo nesse seu lance com o Ruben… E não se preocupa porque se ele é ‘o cara’, ele não vai abdicar de uma garota tão boa onda e ainda por cima linda, que nem você! – mais uma vez naquele dia ele voltou a conseguir fazer-me rir, e senti-me incrivelmente bem com isso – Tenha uma boa noite e se cuida, 'viu?

- Boa noite, Francisco, e mais uma vez obrigada… - despedimo-nos com um abraço apertado e dois beijinhos no rosto, e depois de o ver descer as escadas do alpendre entrei no quarto  

De novo sozinha. Por mais que eu tentasse, por mais caminhos que percorresse, todos iriam levar-me ao mesmo… Ali, embrenhada àquela solidão, àquele vazio inexplicável.
Tomei um duche rápido, preparei uma sandes e um copo de leite, que petisquei em curtos minutos e por fim arrastei-me até à cama, onde caí, completamente estafada. Tinha a minha cabeça a doer, implorando-me por algum descanso não só físico mas também mental, mas não consegui dormir tão rapidamente como esperava… Estava a algumas horas de embarcar no bendito avião e voar até Lisboa, até a porto seguro. Fechei os olhos com força e para que o sono chegasse e me levasse consigo, tentei focar-me apenas numa esperança: ele vai compreender, eu sei que ele vai compreender…



***



(D. Anabela)

Que ninguém diga que está completamente bem e plenamente feliz, pois quando menos se espera um prenúncio desventurado pode bater à porta e causar destroços que poderão ser irreparáveis. Tinha mais certeza disso mesmo de cada vez que olhava o meu Ruben e lhe decifrava o seu sofrimento traduzido só no olhar. Estava lá em casa desde que regressara do estágio, há quatro dias, e era normal ele vir para ao pé de mim sempre que regressava do estrangeiro para como ele dizia “matar saudades de casa” mas agora era diferente, correra para ali por outras razões, razões a que eu não tinha ficado completamente esclarecida, mas então recebi-o de braços abertos, sempre pronta a fazer o meu papel de mãe e consolá-lo o melhor que podia.

- Posso? – ouvi dois toques leves na porta da cozinha que se encontrava aberta, e ao olhá-la fitei David à sua ombreira

- Claro, meu filho, entra! – permiti imediatamente, enxugando as mãos ao avental e vi-o caminhar até a mim no intuito de me cumprimentar com dois beijinhos

- Vim deixar o Ruben, e como esse cheirinho a cozinhado já se sente na entrada, resolvi passar aqui pra dar uma olhada e ver a senhora! – disse-me com um sorriso afável, que era já habitual nele

- Fizeste bem… E diz-me, como é que estás? – perguntei e voltei para junto do fogão, onde preparava o jantar

- Eu tô bem, graças a Deus… A Dona Anabela é que me parece meio em baixo… Tá tudo bem com a senhora?

- Não, meu filho, nem tudo… - poderia conseguir disfarçar muitas situações que não queira que ninguém soubesse, mas nunca iria conseguir disfarçar a preocupação de um coração de mãe – É o Ruben, desde que aqui chegou que parece ser outra pessoa! Fecha-se no quarto, não fala comigo e eu já não sei o que fazer, David… Eu sei que se passa alguma coisa e grave, para ele estar assim, mas eu não o posso ajudar se ele não falar comigo!

- O Ruben ainda não contou pra você?

- Onde é que ele está?

- Já subiu… Foi para o quarto logo que a gente chegou!

- Então vem cá, senta-te aqui um minuto. – pedi-lhe encarecidamente, retirei o avental pendurando-o, e acabámos por puxar duas cadeiras e sentámo-nos junto da mesa da cozinha – Ele não fala comigo sobre isto e sempre que eu tento ele foge, mas tem falado com o irmão… Eu sei que tem alguma coisa a ver com a Joana… Tem, não tem?

- Tia, eu não sei se deva, se o Ruben ainda não falou nada pra você, então eu… - os laços de amizade entre eles os dois eram muito fortes, era natural que o David não quisesse quebrar a confiança ao contar-me, mas como mãe eu precisava de saber

- David, não me escondas nada… Conta-me o que aconteceu entre eles para o meu Ruben voltar neste estado. Eles estavam bem, não estavam? O que é que aconteceu?

- É, ‘tavam bem… Eles voltaram lá em São Francisco e pareciam tar muito felizes, sabe? Sem mais nada do passado a atrapalhar… E quando foi pra regressarmos, eles combinaram em voltar a Lisboa no mesmo voo mas aí chegámos e o Ruben ‘tava esperando ela no aeroporto, e ela não apareceu… A Joana não veio com a gente no avião!

- Não veio com vocês e não disse nada? – inquiriu duvidosa, pois naquela história algo parecia estar mal contado – Não ligou, não deu notícias… Nada?

- Nada, tia Bela! E é por isso que o Ruben tá desse jeito… Ele a procurou em casa dos avós dela, na casa onde ela costumava morar com os pais, e nesses dias a gente continua sem saber nada da Joana! – a sua voz esmorecida assim quanto o seu olhar, traduziram o desalento que também a ele o abalava

- Achas que ela…?

- Não sei, mas quero acreditar que não… Eu conheço a Joana e eu sei que ela ama o Ruben, ama muito! Ela não seria capaz de lhe fazer o mesmo duas vezes.

- E o que é que ele acha? – somente procurava por respostas, pois só desta forma poderia arranjar uma maneira de tentar amenizar a dor do meu filho

- Apesar de nunca me ter dito com todas as letras, eu penso que ele tá achando exactamente isso! – o que eu mais temia aconteceu, não por ser verdade, porque poderia não ser, mas porque o Ruben acreditava nisso – Eu gostava de continuar essa conversa com a senhora mas tenho de ir… A Adriana e os meus pais me estão esperando para jantar e ainda tenho uma hora de estrada pela frente…

- Claro, meu filho, não te prendo mais! Ia perguntar-te se querias ficar connosco para o jantar mas sendo assim… - esbocei-lhe um sorriso terno e sobre a mesa ele apertou ligeiramente as minhas mãos como sinal de força e carinho – Ah, lembrei-me agora! Fiz um frasquinho de compota de framboesa e nozes para a tua mãe, fomos ontem tomar café e esqueci-me de lho levar. Se me fizeres o favor…

- Claro, pode deixar que eu entrego pra ela! – ele disponibilizou-se perante o meu pedido e logo que pus as bocas do fogão no mínimo e coloquei o frasco num saquinho, entreguei-lho em mãos e acompanhei-o depois até à porta – O Ruben que me diga se continuar precisando que o leve e traga do treino…

- Obrigada pelo teu apoio, eu sei que te dá trabalho andares sempre a fazer estes quilómetros todos, mas ele agora mal pega no carro!

- Não me custa nada… A gente é como irmãos, tô fazendo o que tenho a certeza que ele faria por mim!

- Obrigada, David! – agradeci uma vez mais e partilhámos um abraço de despedida – Conduz com cuidado, até amanhã!

- Não se preocupa, tia Bela… Até amanhã!

Voltei a fechar a porta e preparei-me para traçar novamente caminho até à cozinha mas detive-me a meio da sala quando vi Ruben a caminhar no corredor do andar superior, antecedendo à escadaria.
Lembrei-me do dia em que ele me telefonara dos Estados Unidos, extremamente alegre e feliz, dando-me uma notícia que eu não contava de todo, mas que me deixou radiante ao ouvi-la… A de que voltara a reatar os laços de uma relação que enleava com a mulher que eu sabia ele ter amado realmente sem limites, mas agora toda a sua alegria que lhe deslindei pelo telefone tinha desaparecido, e ele estava ali, descendo os últimos degraus das escadas, de coração destroçado sem saber que rumo seguir.

- Vem cá… - chamei por ele, deslindando-lhe as lágrimas nos olhos

- Dói tanto, mãe…

- Eu sei, meu filho, vem cá. – ele não se sentiu capaz de rejeitar o conforto que eu tinha para lhe oferecer e jogou-se nos meus braços, deixando o choro fluir quando me apertou com força contra si, como se eu fosse o seu único ponto de apoio seguro – Está tudo bem em chorares, Ruben, chora… Deita tudo cá para fora!

- Eu não aguento mais, mãe… - ciciou sofregamente, deixando cair sobre mim quase todas as forças do seu corpo que ainda o mantinham de pé

- Anda, vamos sentar-nos! – peguei-lhe na mão e guiei-nos até ao sofá que onde acabámos por ocupar um canto – Queres conversar?

- Não, ainda não… - recusou e eu respeitei a sua vontade, quando estivesse pronto para falar, ele mesmo iria dar esse passo e procurar-me

Puxei-o de volta para mim, abracei o seu corpo com os meus braços protectores e não demorou muito até sentir as suas lágrimas molharem o meu peito. Ficámos os dois em silêncio e apenas o ouvia chorar mais e mais, como um menino pequeno e assustado que eu não sabia mais defender das desilusões da vida. Não havia castigo pior para uma mãe do que ver um filho sofrer, e o meu Ruben estava a sofrer… Estava a sofrer por amor.

- Eu não vou aguentar passar por tudo outra vez, não vou… - ao fim de alguns momentos ele quebrou a sua barreira de segurança que comigo havia estado silenciada nestes últimos dias e começou por desfiar os limiares da sua dor – Já a procurei em todos os lugares possíveis e continuo sem saber nada dela… Onde está, com quem está, se está bem…

- Já tentaste ligar-lhe?

- Já, já tentei mas de todas as vezes que lhe ligo o telefone está sempre desligado… Sempre!

- Talvez tenha acontecido algum contratempo…

- Qual contratempo? Já passaram quatro dias, mãe, quatro dias… Se ainda não deu notícias, se ainda não apareceu é porque não quer ver-me! É porque se arrependeu do que vivemos nesta última semana, é porque se arrependeu de nós! – aquela afirmação que saiu da sua própria boca, feriu-o mais do que ele pensava, e o resultado reflectiu-se nas lágrimas que continuaram a rasgar o seu rosto agora furiosamente, desencadeando um soluçar aflitivo

- Não digas isso, Ruben… Não vês que só te estás a magoar a ti mesmo ao dizeres essas coisas?

- Ela prometeu, ela prometeu que desta vez era para sempre, que íamos ficar juntos mesmo que tivéssemos de lutar contra tudo e contra todos…

- Tem calma, meu filho, vais ver que vai ficar tudo bem… - prometi, apesar de me arriscar numa promessa que não estava inteiramente ao meu alcance de ser cumprida – O teu irmão vai passar o fim-de-semana ao Algarve, porque não vais com ele? Fazia-te bem espairecer um bocadinho…

Ele não me respondeu e continuou envolto naquele choro que não cessava e que a cada segundo me partia mais um bocadinho o coração. Continuei a embalá-lo nos meus braços e ao fim de alguns minutos dei conta do Mauro, que desceu apressadamente as escadas e se precipitou até à porta sem dar pela nossa presença.

- Filho, vais sair? Não jantas connosco? – a minha inquirição demoveu-o por segundos e a minha voz fez com que instintivamente ele me encontrasse

- Não, mãe, esqueci-me de a avisar… Vou jantar com a Paula! – informou-me, e quando se preparava para sair, deteve-se ao reparar na figura destroçada sobre o meu colo, do irmão… largou a maçaneta da porta e caminhou calmamente até nós – Então, puto? – tocou no ombro de Ruben, esperando uma explicação dele àquele seu estado, mas apenas o fez abrandar o soluçar

- Deixa-o estar, Mauro… - pedi-lhe, sabendo que Ruben precisava somente de algum descanso e não de dar justificações que o fizessem reviver a sua mágoa    

- O quê, não me digas que estás assim outra vez por causa daquilo que estou a pensar! – arguiu numa voz aveludada de censura, o que a mim só me veio a garantir que eles já tinham discutido aquele assunto antes – Eu já sabia que isto ia acontecer, eu já sabia… Ela a mim nunca me enganou! 

- Mauro! – adverti-o no mesmo instante num tom repreensivo

- Mauro, o quê? É verdade! Quem engana uma vez, é capaz de enganar sempre! Só se quis aproveitar de um coração de manteiga como tu…

- Tem cuidado com o que dizes… Estás a falar da Joana, da minha namorada! – Ruben desprendeu-se da minha alçada e ergue-se do sofá de rompante, encarando o irmão num frente a frente, e ao vê-los começar a exaltarem-se um com o outro, um nó forte formou-se no topo do meu estômago

- Namorada? Essa é boa… Que tipo de namorada é ela para fugir pra Nova Iorque e estar três anos sem dar notícias? Que tipo de namorada é ela para te deixar uma segunda vez, nos Estados Unidos, e não te prestar cavaco?! Abre os olhos, puto, não sejas otário!

- Meninos, parem já com isso! – ordenei, tentando impedir que aquela troca de palavras mais acesa evoluísse para uma discussão séria

- E se eu quiser ser otário… Hum? Achas que é fácil para mim? Eu estou apaixonado por ela, será que tu não entendes isso?!

- Ruben… Eu já vos avisei!

- É assim que queres, não é? Então olha, deixa-te andar aí a chorar pelos cantos como tens feito nestes dias, deixa-te estar aí a sofrer… Sofre! Parece que até gostas…

- Tu não sabes do que falas, não sabes nada! - vi os olhos de Ruben encherem-se com novas lágrimas pela mágoa e revolta que o deviam estar a corromper por dentro, e nos seus punhos cerrados junto ao corpo, apercebi-me que ele fazia um esforço enorme para se controlar

- O que eu sei é que essa tipa não te merece, e não digas depois que eu não te avisei! Até logo, mãe! – deu-me um beijo na testa e sem dizerem mais nada um ao outro ele afastou-se, deixando-nos uma vez mais a sós com o bater da porta que anunciou a sua saída

- Não ligues ao teu irmão… Tu sabes que ele só disse aquilo porque está preocupado contigo e não gosta de te ver assim!   
  
- Não, mãe… Eu contive-me porque não quis dar parte fraca na frente dele, mas talvez o Mauro até tenha razão! – o seu corpo caiu pesadamente no centro do sofá e de novo uma avalanche de lágrimas apoderou-se do rosto do meu menino

Apesar de ter sido áspero com as palavras, Mauro não tinha intenção de o magoar, pelo contrário… Estava apenas a assumir as suas funções de irmão mais velho. Melhor do que ninguém ele vira-o sofrer há três anos atrás, quando aquele amor lhe tinha pregado uma rasteira, e agora, depois de todo este tempo, vê-lo na mesma situação era algo que a ele também o abalava. Ruben sempre fora aquele que conseguia elevar a moral e transmitir a sua alegria e boa disposição a qualquer um, até nos momentos mais difíceis, e aquela tristeza e sofrimento que não era habitual ver-se nele, desencadeou em Mauro o instinto defensivo sob o irmão. Sentei-me junto dele e tentei perceber que novos sentimentos o estavam a invadir.

- O que é que queres dizer com isso, Ruben?

- Quero dizer aquilo que é óbvio! Eu tentei, eu juro que nestes dias tentei descartar esta possibilidade, mas ela está tão clara… - ele olhou-me com os olhos raiados por uma vermelhidão e mágoa que doía – A Joana deixou-me…   

- Oh, meu filho, não digas isso… Isso não é verdade!

- É, mãe, é verdade! – a sua cabeça tombou sobre as suas mãos, e um novo tormento atracou a sua alma – Eu amo a Joana, mãe, eu amo-a tanto e ela deixou-me… Ela deixou-me… - balbuciou embalado por uma desconsolação infinita, num choro inquieto que lhe sacudia o peito em cada soluçar e me deixava com o coração nas mãos por não poder fazer nada que pudesse sossegá-lo, e livrar-lhe daquela dor que retomara então à sua vida




Queridas leitoras, aqui fica mais um capítulo!
Espero que gostem e não se esqueçam de deixar os vossos comentários! :)

Beijinhos,
Joana 



8 comentários:

  1. oh meu deus, está completamente fantástico :o
    Eu consegui sentir todas as emoções do Ruben e até mesmo as da Joana!!
    Coitadinhos, estão estas pobres almas a sofrer, por imprevistos :c
    mas pronto, mais uma vez digo que está fantástico ihih
    quero o próximo!!

    Besos, Débora*

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  2. Fantastico quero o proximo.bjs

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  3. aii Joana *.* eu nem palavras tenho...está perfeito! fico muito anciosa pelo proximo! quero ver estes dois juntinhos :)
    parabéns, continua!

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  4. oh tadinho do Ruben :'( ate da pena...
    e a Joana?! tadinha anda lá com o coraçao apertadinho...
    faz ela voltar e entender-se com o Ruben, porque da maneira como isto está, nao sei se ele a vai receber assim de braços abertos, tao facilmente...mas ela nao teve culpa:(

    beijinhos*

    p.s. ta lindo como sempre!!

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  5. continua rapidamente ta LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

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  6. Adorei!!! Mesmo mto!!!!!
    Continua q ninguém aguenta tanto sempre sem um novo capítulo....

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  7. Ai, porque eu já sabia que ia chorar também, desde o início?? :((
    É de cortar meu coraçãozinho ver o Ruben nesse estado... achando que a Joana o deixou de novo, quando ela não teve culpa também. Ai :((
    E eu sabia que aquela perda do celular dela não tinha sido em vão, eu sabia. Ainda achei que fosse coisa da minha cabeça... mas olha aí. Espero que isso se resolva logo. E só para não perder o costume, perfeito, perfeito, perfeito!! *-*

    PS:. O Francisco é mesmo muito fofinho, simpatizei com ele e não foi só por sermos brasileirinhos hahaha.
    Beijinhos :*

    Gabi

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  8. que perfeito meu deus *.*
    continuaaaaa!

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