- Ainda não parou de
chover um minuto… - desabafei junto à janela, observando o vendaval que fazia a
chuva precipitar-se furiosamente das alturas e um vento que soprava forte,
agitando os galhos das palmeiras e a restante vegetação que pendia ao flanco do
hotel
Estava no quarto de Pedro
juntamente com ele, passáramos praticamente toda a tarde ali visto que o
temporal rogado lá fora não convidava propriamente a um mergulho no mar da
praia nem tampouco a passeios pelos ilhéus desertos.
Já há dois dias que
chovia torrencialmente na ilha, e devido a estas condições meteorológicas as
gravações tiveram obrigatoriamente que ser adiadas, e uma vez mais vi passar
bem à minha frente o destino que voltara a ficar fora do meu controlo.
- Oh, já devias saber
como este clima tropical é… Agora chove mas vais ver que mais daqui a pouco o
sol já está aí outra vez e aquele calor sórdido também! – respondeu o meu
melhor amigo e agente à cabeceira da cama, onde do seu tablet respondia aos
meus e-mails há quase meia hora
- A questão é que nós já
nem deveríamos estar aqui. Já passaram dois dias, Pedro, dois dias… A estas
horas devíamos estar a chegar a casa! Não quero ter que ficar aqui muito mais
tempo, este não é o meu lugar…
- Mas é o teu trabalho! –
referiu ele sucintamente, descolando os olhos do pequeno ecrã por uns segundos
para me olhar – Eu entendo-te mas tenta ser flexível… Isto é algo que nos
incomoda a todos, é tempo e dinheiro que se está a perder. As gravações
deveriam estar concluídas anteontem mas ninguém tem culpa disso porque ninguém
esperava que se pusesse este tempo… É do tipo de situações que não estão
previstas acontecer!
- É… e acho que é
exactamente isso que a minha vida tem mostrado ser estes últimos dias… Um total
imprevisto! – o meu olhar voltou a trespassar a vidraça da enorme janela e a
cair sob a paisagem que era arrasada pela tempestade, e de uma maneira
totalmente irónica o meu âmago poderia assimilar-se àquela imagem… arrasado por
novas sensações que eu própria desconhecia
***
A manhã do dia seguinte foi
deslindada pelas abertas que fizeram do sol uma visita aguardada e bem-vinda às
ilhas de Punta Cana. Viajámos cedo novamente até à Ilha Saona, tendo sido uma
lagoa perto de uma das maiores quedas de água, refugiada por uma vegetação
exorbitante, o cenário perfeitamente escolhido para a sessão fotográfica da
campanha, para a qual eu e Francisco posámos até à hora de almoço. A parte da
tarde estava programada para ser entregue somente às gravações do anúncio
televisivo.
- Alright, people, let’s
go… Let’s move! – ordenou altivamente a produtora, que enunciou os postos de
tarefas e fez andar todo o pessoal da equipa de produção num autêntico frenesim
de montagem de material e preparação do cenário
Heat Blue, chamava-se assim a nova aposta de perfume da
Dulce&Gabbana. Pelo que tinha lido no guião que me tinha sido entregue no
primeiro dia, Heat Blue – a nova
fragrância para ela – é um perfume exótico e marcante de um Verão siciliano,
que concentra notas de maçã, pimenta de alecrim e âmbar que “capta a atenção”,
e essências médias de jasmim, bambu e zimbro, dando uma combinação
absolutamente feminina em que “o efeito é marcante e de uma sedução
arrebatadora, onde a mulher Dulce&Gabbana se apaixona e faz apaixonar”. O
perfume é lançado a mulheres confiantes, donas de um grande poder de sedutismo,
atracção, que gostam de um estilo de vida elegante e casual. Trasladando o sol
do dia e as noites deslumbrantes, esta fragrância “aquática, fresca e
purificadora” representa a sensualidade das ilhas paradisíacas das Caraíbas.
Gravámos as primeiras
cenas em alto mar no esplêndido coral de Saona, tendo sido o primeiro plano
filmado no barco, onde seguíamos com dois câmara-men, e o segundo nas águas
azul-turquesa, onde nadámos juntos por alguns minutos, maravilhando-nos com
peixes coloridos de todas as simetrias e no fundo do recife olhei as múltiplas
estrelas que transpunham a figura de um céu anoitecido.
Seguimos depois de volta
à praia, para junto de uma falésia onde iríamos concluir as gravações. A
produtora voltou a relembrar-nos o que era pretendido que fizéssemos e o meu
coração bateu mais forte quando ficámos a saber que teríamos de nos beijar,
para que o anúncio ganhasse um novo sentido que consistia num derradeiro caso amoroso
Heat Blue, onde os personagens têm um
relacionamento de intimidade e paixão que traduziam a ideia pretendida para o
perfume, num cenário de puro romantismo como era aquele.
- Scene four, take one…
Action! – ouvimos pelo megafone e de novo as câmaras focaram o nosso plano
Eu permanecia encostada
ao enorme rochedo e tinha Francisco na minha frontaria, encurralando-me num
espacinho mínimo, fincando a sua mão na parede uns centímetros acima do meu
ombro e olhando-me penetrantemente, na antecipação de um momento que tinha sido
previamente programado pela realização. Mas não consegui… Quando senti a sua
testa empurrar levemente a minha para beijar os meus lábios, eu não consegui
entregar-me inteiramente à personagem que interpretava e separar o meu trabalho
da minha vida pessoal. Embora não fosse essa a verdade dos factos, sentia que
naquele gesto unicamente técnico estava de alguma forma a trair Ruben e tudo
aquilo que sentia por ele, e esse pensamento fez com que desviasse o meu rosto
do seu alcance quase de forma automática.
- Tá tudo bem, Joana? – o
Francisco olhou-me inegavelmente preocupado com a minha rejeição infundada e
esperou por uma resposta, tal como o resto dos profissionais que trabalhavam em
nosso redor que ficaram confusos com o aquela minha atitude inesperada – Fiz alguma
coisa de errado?
- Não, não fizeste nada
de errado, apenas… Apenas não me estou a sentir muito confortável… com isto!
Desculpa. – proferi num sussurro a modo sem jeito, que penso ele ter
compreendido imediatamente
- Se quiser a gente pode
pedir pra fazer uma pausa até você se recompor e se sentir preparada…
- Não, não, eu estou
preparada! Aquilo não vai voltar a acontecer! – disse decididamente de maneira
a conseguir afastar aqueles pensamentos patéticos
- Então deixa eu te
guiar, tá bom? Relaxa…
- Obrigada. – agradeci
sinceramente o seu apoio e depois fizemos o sinal ao pessoal da produção de que
estávamos prontos para retornar as filmagens
Um novo clique da
claquete voltou a ser escutado e a partir desse instante todas as atenções
voltaram a recair sobre nós.
A sua mão direita palmeou
a minha face e deixei que fosse ele mesmo a guiar-me, tal como me tinha dito,
já que eu não me sentia capaz de fazê-lo por mim. As nossas respirações
embateram sem pressão e foi uma questão de segundos até os meus olhos se
fecharem e a minha boca sentir-se ser envolvida pelo calor latente da sua.
O beijo então aguardado
pelas câmaras, surgiu, primeiro recatado e superficialmente discreto e depois
mais intempestivo e dominador, e que em nada poderia ser comparado a um beijo
do meu Ruben… Em primeiro e o mais essencial de tudo é que era um gesto
meramente profissional e ausente de qualquer sentimento, e depois era a entrega
que não existia entre nós, o sabor da boca que não era o mesmo, o toque de
lábios que não era tão delicado, a sensação de carinho e preenchimento que não
me fazia levitar, o arrepio na espinha que eu não sentia. Nada naquele beijo
era Ruben e ali, jogada nos braços de outro homem, nunca tinha sentido na pele
tanta certeza e segurança que o amava mais do que eu imaginava ser possível
poder amar-se alguém, e sentia falta dele mais do que tudo.
- And… Cut! – a ordem do
realizador irrompeu entre nós e a nossa atmosfera, anunciando a tão esperada
finalização de todo trabalho – Congratulations, people, good job!
A enunciada foi
contemplada por uma enorme saudação com uma salva de palmas de toda a equipa,
inclusive também minha e de Francisco, que depois de me dar um beijo afável na
testa, olhámo-nos nos olhos e sorrimos com cumplicidade, orgulhosos por termos
feito parte daquele projecto.
***
- Pedro? – chamei-o
quando entrei na pequena tenda descoberta e caminhei até ele, dando-lhe um
toque leve no ombro – Vou dar uma volta por aí… Estou a precisar de espairecer
um pouco.
Ele descentralizou a sua
atenção do computador onde juntamente com um técnico de imagem revia a sessão de
fotografias tiradas esta manhã, e olhou-me ao voltar-se para mim – Não queres
ver as fotos? Ainda não foram editadas mas podes dar uma vista de olhos e ver o
resultado… Acho que estão muito boas!
- Prefiro vê-las depois
quando voltar.
- Tudo bem, mas precisas
de alguma coisa? Queres que diga ao Alexandre para ir contigo?
- Não, não lhe digas nada…
Acho que estou a precisar de estar sozinha por algum tempo e espairecer. Dar
uma voltinha pela ilha, um mergulho na praia… - enumerei, revendo mentalmente o
percurso do passeio que planejara traçar unicamente sozinha
- Então mas tem cuidado e
não te afastes muito! – pediu-me na sua habitual posição cautelosa e protectora
em relação a mim, que eu já esperava voltar a ver-lhe – E leva qualquer coisa
para comer… Não andes toda a tarde sem nada no estômago!
- Sim, mãe… Eu levo
alguma fruta na mochila, não te preocupes! – trocei comicamente e ambos nos
rimos com a minha disposição de humor, que felizmente não tinha sido atingida
pelo meu estado de espírito, não naquele momento
- Estás cheia de piada,
tu! – ele deu-me um toque no ombro que me fez balançar ligeiramente e voltámos
a sorrir – Ah, espera, há uma coisa que tenho de te dizer… A produção vai dar
uma festa logo à noite no bar da praia para comemorar-mos o fecho da criação
da campanha… Quero ver-te lá, está bem?
- Sim, lá estarei… -
prometi com um discreto sorriso nos lábios, despedindo-me dele com um beijo
dócil que despoletei na sua bochecha – Vemo-nos depois!
Queria ver tudo, cada
coreto, cada lagoa, cada falésia… Comecei por dar um mergulho numa praia
escondida atrás dos vales, isolada e muito discreta. Tal como as outras a sua areia
era fina e branca e a água era tão transparente que permitia ver o fundo e todo
o tipo de búzios e peixinhos, tão quente que se tornou difícil para mim voltar
a sair dela.
Voltei a percorrer novos
trilhos, continuando somente por minha conta, mas com a companhia estranhamente
agradável dos mais diversos animais exóticos que encontrava em pequenos montes
e junto dos riachos, acompanhados da sinfonia reproduzida pelas aves coloridas,
libertada nas copas das árvores de uma altura assustadora. Observei com
curiosidade cada planta exótica, provei a medo alguns frutos silvestres e
flagrei com a minha máquina fotográfica tudo aquilo que mais tarde queria vir a
recordar.
Acabei por vislumbrar no
cimo de um penhasco uma cabana de madeira, algo que se poderia assemelhar a um
chalé, mas mais humilde e casual. Subi até lá e empurrei a porta encostada
quando cheguei, e resolvi entrar. Fiquei surpreendida e simultaneamente
maravilhada com aquele cenário: Havia cadeiras de veludo branco e rosa
correctamente alinhadas e divididas por um pequeno corredor que conduzia a um
altar… Aquela cabana estava preparada para aquelas que seriam cerimónias
matrimoniais. Não era de surpreender, pois de facto qualquer casal de noivos
que por ali passasse não escolheria outro sítio mais belo e fascinante para dar
o nó que não aquele… E até eu senti uma vontade inexplicável de me casar ali.
- Queria tanto que
estivesses aqui comigo, Ruben… - um sussurro vanguardista que aprisionava um
pequeno lacrimejar dos meus olhos, soltou-se dos meus lábios aquando idealizara
um cenário perfeito, que em tempos chegáramos a planear juntos
Foi mais que óbvio que
tinha sido ele a primeira pessoa a interpor os meus pensamentos e ideias, e ao
estar ali, naquele cantinho do céu, não desejei que mais ninguém estivesse ali
comigo, que não fosse ele. Queria partilhar com ele não só aquela ocasião, mas
todas as outras que tinha vivido naquela terra naqueles dias… Só Deus sabia as
saudades que eu tinha dele, e só Deus sabia a angustia que me fazia sentir
pequenina por não poder tê-lo ali ao meu lado, a viver aquele momento
comigo.
***
Era noite cerrada quando
voltei à praia e não foi difícil dar com o bar onde certamente estava a decorrer o
festejo e este já tinha tomado o seu começo.
Era um espaço agradável,
muitos cocktails a rodar e música merengue que contagiava qualquer um a dar uns
passinhos de dança no ritual carabiano. Ao fundo da sala, perto de umas mesas
redondas de pé alto, vi Pedro, que ao fazer-me sinal com a mão não se demorou até
me alcançar.
- Ainda bem que já
chegaste… Estás bem? – a minha testa acolheu um beijo quente seu e esse simples
gesto de carinho permitiu que as portas do um sorriso se abrissem por segundos
em meus lábios
- Hum, hum… Estou. – respondi seguramente e senti depois ele puxar-me pela mão para
me arrastar consigo
- Vem… O pessoal da
campanha está desejoso para falar contigo! – encruzilhámo-nos com alguma
dificuldade por entre as pessoas que já animadas improvisavam ali no meio uma
pista de dança, e pela sua mão firmemente agarrada à minha segui atrás dele
Levou-me até aos
produtores e realizador, e foi com eles que ficámos a falar por largos minutos…
Discutimos alguns pormenores da campanha publicitária e ouvi por algumas vezes
saudarem-me com os parabéns, pelo contentamento que receberam do meu empenho e
trabalho, notoriamente satisfeitos com o resultado final que chegara a
ultrapassar as expectativas do que era esperado.
Mas não fiquei lá dentro
por muito mais tempo, precisava de respirar outro ar, outro ar menos carregado
do que aquele que se vivia no interior, e refrescar a minha mente com pensamentos
mais leves.
- Tengo un corazón, mutilado de esperanza e razón/ Tengo um corazón, que
madruga donde quiera/ Y este corazón se desnuda de impaciência ante tu voz/
Pobre corazón, que no atrapa su cordura… - dei por mim a trautear a música natural
dominicana que passava quando sai do bar, e foi inevitável não atribuir um
sentido pessoal à letra
Sentei-me na areia e
deixei-me ficar a olhar o mar, agora enegrecido pela noite, e ali até o
silêncio se tornava uma melodia deliciosa para apreciar.
Apesar do sol já se ter
posto há muito, um ar quente ainda viandava pela atmosfera, tornando-a
ligeiramente húmida e abafada, contudo preferia a solidão lá de fora do que a
agitação quase louca que reinava no interior do bar.
- Dando a escapadinha? –
um timbre o qual já havia aprendido a discernir, soou ao alto das minhas costas
e um pequeno sobressalto foi inevitável para mim, pois encontrava-me
remotamente perdida sob os meus mais profundos pensamentos de vida
- Francisco… - disse o
seu nome, logo que olhei a cima do meu ombro e o vi, hirto atrás de mim
- E aí… Posso perguntar o
que tá fazendo aqui sozinha na vez de ‘tar lá festejando com a galera?
- Está lá muita confusão
dentro e… Sinto-me melhor aqui. – proferi com sinceridade, até fazer um sorriso
consulado coabitar meus lábios – Senta-te se quiseres…
- Com licença. – pediu,
extremamente educado e senti o meu lado esquerdo, até então vazio, ser ocupado
por ele – Peguei um drink pra você…
- Oh, não era preciso
teres tido trabalho comigo, obrigada! – agradeci-lhe a amabilidade e peguei no
copo de pina colada que ele havia trazido para mim – Francisco, sobre o que
aconteceu nas gravações… Queria agradecer-te o apoio que me deste, não imaginas
o quanto me senti ridícula com a situação! – proferi com um sorriso calmo,
porém envergonhado no rosto
- Ridícula? Que é isso,
garota… Imagina! – ele menosprezou o lance ocorrido naquela tarde de filmagens,
aquando o nosso beijo, mas aquela minha primeira reacção foi algo que mais
tarde me veio a deixar constrangida perante ele
- Eu nunca fiz nada disto
antes, nunca me deparei com situações como esta no meu trabalho… Fiquei um
pouco atrapalhada com a situação.
- Deixa pra lá, até
porque eu entendo… Cê não tá acostumada, é natural, eu mesmo não me acostumei
ainda e olha só que essa não foi a minha primeira vez! – ambos gargalhámos do
seu jeito de falar, era incrível como o seu sentido de humor conseguia
interferir com o meu, mas depois um silêncio circunstancial e aterrador caiu
sobre nós – Problemas no paraíso?
- Quem não os tem?
- Pelo seu jeito, os seus
parecem ser sérios…
- Espero conseguir
resolvê-los assim que sair daqui. – respondi em meio tom, dando um curto sorvo
da minha bebida
- Problemas do coração? –
tornava-se assombroso como há tão pouco tempo nos conhecíamos, e ele já ganhara
um pouco da capacidade de me ler nas entrelinhas – Desculpa, são os seus
assuntos, não me quero intrometer demais.
- Sim, problemas do
coração… - sem contar com que me desse ao assunto com ele, acabei por lhe
revelar o motivo-rei de toda a minha apatia
- Sabe que a gente tende
a ter mais facilidade em abrir o coração pra alguém que não conhece direito, do
que pra’queles com quem fala todos os dias…
- Agradeço-te a simpatia,
a sério que sim, mas não quero aborrecer-te com os meus problemas… Além de que
é uma história complicada.
- Tem ninguém me
apressando não! Eu tenho tempo… - Francisco olhou-me com um sorriso meigo,
mostrando-me estar inteiramente disposto a ouvir-me
- Então, muito
resumidamente… - comecei por respirar fundo e preparei-me para lhe contar
apenas uma parte do enredo que me atormentava por demasiado – Eu e o meu
namorado reconciliámo-nos recentemente, depois de termos ficado um longo
período de tempo afastados. Passámos esta última semana em São Francisco e
tínhamos combinado regressar a Portugal juntos, no mesmo voo, mas houve uns
contratempos, perdi o avião e do nada caiu-me a proposta de fazer o anúncio e
tive que vir a correr para aqui sem ter tempo de pensar duas vezes, sequer…
- E isso quer dizer… -
ele teve a necessidade de procurar por um esclarecimento, pois eu não tinha
sido demasiado precisa no ponto da questão
- Isso quer dizer que ele
foi no voo que tínhamos combinado ir juntos e não sabe que eu estou aqui. –
discursei calmamente, como nunca me imaginei fazê-lo pois sempre que recordava
aquele assunto ganhava um súbita vontade de lacrimejar, e no seu rosto jovial
decifrei um laivo de confusão
- Não sabe? Cê não falou
desse negócio pra ele? Não lhe ligou…?
- Isso teria sido a
primeira coisa que tinha feito se tivesse maneira de o contactar… Acreditas que
nem voltámos a trocar de número?
- Puxa vida, assim fica
complicado tentar ajudar você, né? – vi-o passar a mão pelos cabelos como
maneira de expressar a sua pequena risada de desalento e eu sorri-lhe de volta
pelo seu comentário… um sorriso desconcertante – E acha que ele vai ficar
chateado com você por causa dessa parada?
- Não sei, Francisco,
sinceramente não sei… – falei ao mesmo tempo que os meus ombros se encolheram perante a evidente ausência de respostas – Tal como eu te disse… É uma história
complicada! Mas então e tu, fala-me de ti… Aposto que não tens estes problemas
com a tua namorada! – tentei desviar o assunto “eu e os meus problemas”, e com
ele desviar toda aquela tensão que lentamente se começou a formar no sabor da
conversa
- Nisso cê me ganha,
porque felizmente não tenho esse tipo de problemas com a Jessiann… A gente tá
muito feliz! – um sorriso imensamente tranquilo da sua boca, foi o suficiente
para me fazer acreditar que no campo do amor ele tinha encontrado um conforto
de paz, algo que na minha situação eu já não estava tão certa de continuar a
ter – Cê quer vê-la? Acho que tenho aqui uma foto dela…
- Ah… Sim, claro! –
peguei no seu copo para que ele tivesse mais facilidade em conseguir retirar a
carteira do bolso traseiro dos seus calções de praia, e quando encontrou a
fotografia da sua namorada guardada no interior entregou-ma, e eu voltei a
dar-lhe o copo
- Ela é muito bonita! –
gracejei, ao ver a rapariga loira de sorriso fácil de se gostar, flashada na
impressão digital que segurava na minha mão
- É, é linda mesmo… E
olha só, a gente já tá esperando o nosso primeiro filho!
- O quê, tu… Tu vais ser
pai?
- Surpreendida?
- Sim… Na verdade estou
um pouco! – revelei, porque o facto é que estava mesmo surpresa tendo em conta
as circunstâncias que vim depois a nomear – Desculpa mas olhando para ti, nunca
pensei… Quer dizer, és um homem novo ainda, para não falar que o teu trabalho
te faz andar de um lado para o outro… Não o tempo todo mas quase!
- É, eu sei, mas pretendo
abrandar o ritmo quando ele nascer, não quero perder nada… E quanto ao ser
novo, é, é verdade que sou novo ainda e sei que a maioria dos homens da minha
idade não tem intenção de se ver com um neném nos braços para cuidar e educar,
mas eu e a Jessiann… A gente tem uma relação e uma vida bastante estáveis, nos
conhecemos um ao outro melhor que a nós mesmos, moramos junto faz tempo e aí a
gente pensou: Porque não darmos o passo seguinte?
- Não sabes o quanto
admiro a vossa coragem… - não fiquei indiferente ao discurso dele, àquela sua
certeza que o dominara em cada palavra e devo confessar que fiquei tenuemente
emocionada, e aquela firmeza e certidão, um dia, nas mesmas condições, também eu
queria tê-las em mim
- Você nunca pensou em
ter filhos? – aquela pergunta à primeira vista inocente, despoletou em mim um
misto de sensações que eu não esperava de todo sentir, pois fez-me relembrar de
algumas conversas que partilhei com Ruben ultimamente
- Sim, claro que já
pensei, mas acho que este ainda não seria o momento certo para dar esse passo
na minha vida… Estou a concluir os meus estudos, tenho trabalho e uma vida
também ela estável, mas não me vejo a ser mãe agora, ao contrário do que o
Ruben pensa!
- O Ruben? – perguntou no
segundo seguinte, pois eu ainda não tinha mencionado o nome dele, ainda assim
ele compreendeu antes de me deixar esclarecê-lo – O seu namorado…
- Sim, o meu namorado…
Quando falamos nos planos que temos para a nossa relação, por vezes o assunto
de construirmos uma família cai na conversa… Acho que ele ia delirar só com a
ideia, eu sei que ele quer muito ser pai!
- Então e você?
- Eu não sei… Tenho medo,
acho que é isso… Tenho medo de falhar! Um filho trás muitas responsabilidades,
não é um passo que se decida dar de ânimo leve, e eu ainda não acho que me
sinta preparada.
- Nunca ninguém se sente
realmente preparado até que chega o momento em que tem de estar! – proferiu com
total sabedoria, e apesar de ‘ser mãe’ pertencer à minha lista de desejos, este
era um que eu pretendia realizar apenas no futuro
- Sim, talvez tenhas
razão… E bem, a conversa está muito agradável mas é melhor eu ir andando! O meu
voo é de madrugada e ainda quero descansar um pouco! – ciciei, logo que
espreitei as horas avançadas do meu relógio de pulso
- Tá indo pró hotel?
- Não, estou instalada
num bungalow… Fica no outro lado da praia!
- Então fica no caminho…
– ele levantou-se e ajudou-me a levantar também, logo que me estendeu a mão –
Eu posso te acompanhar até lá e depois sigo pró hotel! – sacudi a areia da minha
saia e sorri-lhe em seguida, grata pela sua companhia naquela noite
***
- Parece então que estou
entregue! – anunciei quando finalmente chegámos junto da porta do meu quarto –
Obrigada!
- Não tem de quê, e
aproveito pra agradecer também a óptima companhia e foi um prazer trabalhar com
você… Espero que nos voltemos a encontrar!
- Eu também espero que
sim… Faz uma boa viagem!
- Cê também, e vou torcer
pra que dê tudo certo nesse seu lance com o Ruben… E não se preocupa porque se
ele é ‘o cara’, ele não vai abdicar de uma garota tão boa onda e ainda por cima
linda, que nem você! – mais uma vez naquele dia ele voltou a conseguir fazer-me
rir, e senti-me incrivelmente bem com isso – Tenha uma boa noite e se cuida, 'viu?
- Boa noite, Francisco, e
mais uma vez obrigada… - despedimo-nos com um abraço apertado e dois beijinhos
no rosto, e depois de o ver descer as escadas do alpendre entrei no quarto
De novo sozinha. Por mais
que eu tentasse, por mais caminhos que percorresse, todos iriam levar-me ao
mesmo… Ali, embrenhada àquela solidão, àquele vazio inexplicável.
Tomei um duche rápido,
preparei uma sandes e um copo de leite, que petisquei em curtos minutos e por
fim arrastei-me até à cama, onde caí, completamente estafada. Tinha a minha
cabeça a doer, implorando-me por algum descanso não só físico mas também
mental, mas não consegui dormir tão rapidamente como esperava… Estava a algumas
horas de embarcar no bendito avião e voar até Lisboa, até a porto seguro.
Fechei os olhos com força e para que o sono chegasse e me levasse consigo,
tentei focar-me apenas numa esperança: ele
vai compreender, eu sei que ele vai compreender…
***
(D. Anabela)
Que ninguém diga que está
completamente bem e plenamente feliz, pois quando menos se espera um prenúncio desventurado
pode bater à porta e causar destroços que poderão ser irreparáveis. Tinha mais
certeza disso mesmo de cada vez que olhava o meu Ruben e lhe decifrava o seu
sofrimento traduzido só no olhar. Estava lá em casa desde que regressara do
estágio, há quatro dias, e era normal ele vir para ao pé de mim sempre que
regressava do estrangeiro para como ele dizia “matar saudades de casa” mas agora era diferente, correra para ali
por outras razões, razões a que eu não tinha ficado completamente esclarecida,
mas então recebi-o de braços abertos, sempre pronta a fazer o meu papel de mãe
e consolá-lo o melhor que podia.
- Posso? – ouvi dois
toques leves na porta da cozinha que se encontrava aberta, e ao olhá-la fitei
David à sua ombreira
- Claro, meu filho,
entra! – permiti imediatamente, enxugando as mãos ao avental e vi-o caminhar até
a mim no intuito de me cumprimentar com dois beijinhos
- Vim deixar o Ruben, e
como esse cheirinho a cozinhado já se sente na entrada, resolvi passar aqui pra
dar uma olhada e ver a senhora! – disse-me com um sorriso afável, que era já
habitual nele
- Fizeste bem… E diz-me,
como é que estás? – perguntei e voltei para junto do fogão, onde preparava o
jantar
- Eu tô bem, graças a
Deus… A Dona Anabela é que me parece meio em baixo… Tá tudo bem com a senhora?
- Não, meu filho, nem
tudo… - poderia conseguir disfarçar muitas situações que não queira que ninguém
soubesse, mas nunca iria conseguir disfarçar a preocupação de um coração de mãe
– É o Ruben, desde que aqui chegou que parece ser outra pessoa! Fecha-se no
quarto, não fala comigo e eu já não sei o que fazer, David… Eu sei que se passa
alguma coisa e grave, para ele estar assim, mas eu não o posso ajudar se ele
não falar comigo!
- O Ruben ainda não contou
pra você?
- Onde é que ele está?
- Já subiu… Foi para o
quarto logo que a gente chegou!
- Então vem cá, senta-te
aqui um minuto. – pedi-lhe encarecidamente, retirei o avental pendurando-o, e
acabámos por puxar duas cadeiras e sentámo-nos junto da mesa da cozinha – Ele
não fala comigo sobre isto e sempre que eu tento ele foge, mas tem falado com o
irmão… Eu sei que tem alguma coisa a ver com a Joana… Tem, não tem?
- Tia, eu não sei se
deva, se o Ruben ainda não falou nada pra você, então eu… - os laços de amizade entre
eles os dois eram muito fortes, era natural que o David não quisesse quebrar a
confiança ao contar-me, mas como mãe eu precisava de saber
- David, não me escondas
nada… Conta-me o que aconteceu entre eles para o meu Ruben voltar neste estado.
Eles estavam bem, não estavam? O que é que aconteceu?
- É, ‘tavam bem… Eles
voltaram lá em São Francisco
e pareciam tar muito felizes, sabe? Sem mais nada do passado a atrapalhar… E
quando foi pra regressarmos, eles combinaram em voltar a Lisboa no mesmo voo
mas aí chegámos e o Ruben ‘tava esperando ela no aeroporto, e ela não apareceu…
A Joana não veio com a gente no avião!
- Não veio com vocês e
não disse nada? – inquiriu duvidosa, pois naquela história algo parecia estar
mal contado – Não ligou, não deu notícias… Nada?
- Nada, tia Bela! E é por
isso que o Ruben tá desse jeito… Ele a procurou em casa dos avós dela, na casa
onde ela costumava morar com os pais, e nesses dias a gente continua sem saber
nada da Joana! – a sua voz esmorecida assim quanto o seu olhar, traduziram o
desalento que também a ele o abalava
- Achas que ela…?
- Não sei, mas quero
acreditar que não… Eu conheço a Joana e eu sei que ela ama o Ruben, ama muito!
Ela não seria capaz de lhe fazer o mesmo duas vezes.
- E o que é que ele acha?
– somente procurava por respostas, pois só desta forma poderia arranjar uma
maneira de tentar amenizar a dor do meu filho
- Apesar de nunca me ter
dito com todas as letras, eu penso que ele tá achando exactamente isso! – o que
eu mais temia aconteceu, não por ser verdade, porque poderia não ser, mas
porque o Ruben acreditava nisso – Eu gostava de continuar essa conversa com a senhora
mas tenho de ir… A Adriana e os meus pais me estão esperando para jantar e
ainda tenho uma hora de estrada pela frente…
- Claro, meu filho, não
te prendo mais! Ia perguntar-te se querias ficar connosco para o jantar mas
sendo assim… - esbocei-lhe um sorriso terno e sobre a mesa ele apertou
ligeiramente as minhas mãos como sinal de força e carinho – Ah, lembrei-me
agora! Fiz um frasquinho de compota de framboesa e nozes para a tua mãe, fomos
ontem tomar café e esqueci-me de lho levar. Se me fizeres o favor…
- Claro, pode deixar que
eu entrego pra ela! – ele disponibilizou-se perante o meu pedido e logo que pus
as bocas do fogão no mínimo e coloquei o frasco num saquinho, entreguei-lho em
mãos e acompanhei-o depois até à porta – O Ruben que me diga se continuar
precisando que o leve e traga do treino…
- Obrigada pelo teu
apoio, eu sei que te dá trabalho andares sempre a fazer estes quilómetros
todos, mas ele agora mal pega no carro!
- Não me custa nada… A
gente é como irmãos, tô fazendo o que tenho a certeza que ele faria por mim!
- Obrigada, David! –
agradeci uma vez mais e partilhámos um abraço de despedida – Conduz com
cuidado, até amanhã!
- Não se preocupa, tia
Bela… Até amanhã!
Voltei a fechar a porta e
preparei-me para traçar novamente caminho até à cozinha mas detive-me a meio da
sala quando vi Ruben a caminhar no corredor do andar superior, antecedendo à
escadaria.
Lembrei-me do dia em que
ele me telefonara dos Estados Unidos, extremamente alegre e feliz, dando-me uma
notícia que eu não contava de todo, mas que me deixou radiante ao ouvi-la… A de
que voltara a reatar os laços de uma relação que enleava com a mulher que eu
sabia ele ter amado realmente sem limites, mas agora toda a sua alegria que lhe
deslindei pelo telefone tinha desaparecido, e ele estava ali, descendo os
últimos degraus das escadas, de coração destroçado sem saber que rumo seguir.
- Vem cá… - chamei por
ele, deslindando-lhe as lágrimas nos olhos
- Dói tanto, mãe…
- Eu sei, meu filho, vem
cá. – ele não se sentiu capaz de rejeitar o conforto que eu tinha para lhe
oferecer e jogou-se nos meus braços, deixando o choro fluir quando me apertou
com força contra si, como se eu fosse o seu único ponto de apoio seguro –
Está tudo bem em chorares, Ruben, chora… Deita tudo cá para fora!
- Eu não aguento mais,
mãe… - ciciou sofregamente, deixando cair sobre mim quase todas as forças do
seu corpo que ainda o mantinham de pé
- Anda, vamos sentar-nos!
– peguei-lhe na mão e guiei-nos até ao sofá que onde acabámos por ocupar um
canto – Queres conversar?
- Não, ainda não… -
recusou e eu respeitei a sua vontade, quando estivesse pronto para falar, ele
mesmo iria dar esse passo e procurar-me
Puxei-o de volta para
mim, abracei o seu corpo com os meus braços protectores e não demorou muito até
sentir as suas lágrimas molharem o meu peito. Ficámos os dois em silêncio e
apenas o ouvia chorar mais e mais, como um menino pequeno e assustado que eu
não sabia mais defender das desilusões da vida. Não havia castigo pior para uma
mãe do que ver um filho sofrer, e o meu Ruben estava a sofrer… Estava a
sofrer por amor.
- Eu não vou aguentar
passar por tudo outra vez, não vou… - ao fim de alguns momentos ele quebrou a
sua barreira de segurança que comigo havia estado silenciada nestes últimos
dias e começou por desfiar os limiares da sua dor – Já a procurei em todos os
lugares possíveis e continuo sem saber nada dela… Onde está, com quem está, se
está bem…
- Já tentaste ligar-lhe?
- Já, já tentei mas de
todas as vezes que lhe ligo o telefone está sempre desligado… Sempre!
- Talvez tenha acontecido
algum contratempo…
- Qual contratempo? Já
passaram quatro dias, mãe, quatro dias… Se ainda não deu notícias, se ainda não
apareceu é porque não quer ver-me! É porque se arrependeu do que vivemos nesta
última semana, é porque se arrependeu de nós! – aquela afirmação que saiu da
sua própria boca, feriu-o mais do que ele pensava, e o resultado reflectiu-se
nas lágrimas que continuaram a rasgar o seu rosto agora furiosamente, desencadeando
um soluçar aflitivo
- Não digas isso, Ruben…
Não vês que só te estás a magoar a ti mesmo ao dizeres essas coisas?
- Ela prometeu, ela
prometeu que desta vez era para sempre, que íamos ficar juntos mesmo que
tivéssemos de lutar contra tudo e contra todos…
- Tem calma, meu filho,
vais ver que vai ficar tudo bem… - prometi, apesar de me arriscar numa
promessa que não estava inteiramente ao meu alcance de ser cumprida – O teu
irmão vai passar o fim-de-semana ao Algarve, porque não vais com ele? Fazia-te
bem espairecer um bocadinho…
Ele não me respondeu e
continuou envolto naquele choro que não cessava e que a cada segundo me
partia mais um bocadinho o coração. Continuei a embalá-lo nos meus braços e ao
fim de alguns minutos dei conta do Mauro, que desceu apressadamente as escadas
e se precipitou até à porta sem dar pela nossa presença.
- Filho, vais sair? Não
jantas connosco? – a minha inquirição demoveu-o por segundos e a minha voz fez
com que instintivamente ele me encontrasse
- Não, mãe, esqueci-me de a avisar… Vou jantar com a Paula! – informou-me, e quando se preparava para
sair, deteve-se ao reparar na figura destroçada sobre o meu colo, do irmão…
largou a maçaneta da porta e caminhou calmamente até nós – Então, puto? – tocou
no ombro de Ruben, esperando uma explicação dele àquele seu estado, mas apenas
o fez abrandar o soluçar
- Deixa-o estar, Mauro… -
pedi-lhe, sabendo que Ruben precisava somente de algum descanso e não de dar
justificações que o fizessem reviver a sua mágoa
- O quê, não me digas que
estás assim outra vez por causa daquilo que estou a pensar! – arguiu numa voz
aveludada de censura, o que a mim só me veio a garantir que eles já tinham
discutido aquele assunto antes – Eu já sabia que isto ia acontecer, eu já
sabia… Ela a mim nunca me enganou!
- Mauro! – adverti-o no
mesmo instante num tom repreensivo
- Mauro, o quê? É
verdade! Quem engana uma vez, é capaz de enganar sempre! Só se quis aproveitar
de um coração de manteiga como tu…
- Tem cuidado com o que
dizes… Estás a falar da Joana, da minha namorada! – Ruben desprendeu-se da
minha alçada e ergue-se do sofá de rompante, encarando o irmão num frente a
frente, e ao vê-los começar a exaltarem-se um com o outro, um nó forte formou-se no topo do meu estômago
- Namorada? Essa é boa…
Que tipo de namorada é ela para fugir pra Nova Iorque e estar três anos sem dar
notícias? Que tipo de namorada é ela para te deixar uma segunda vez, nos
Estados Unidos, e não te prestar cavaco?! Abre os olhos, puto, não sejas otário!
- Meninos, parem já com
isso! – ordenei, tentando impedir que aquela troca de palavras mais acesa evoluísse
para uma discussão séria
- E se eu quiser ser
otário… Hum? Achas que é fácil para mim? Eu estou apaixonado por ela, será que
tu não entendes isso?!
- Ruben… Eu já vos
avisei!
- É assim que queres, não
é? Então olha, deixa-te andar aí a chorar pelos cantos como tens feito nestes
dias, deixa-te estar aí a sofrer… Sofre! Parece que até gostas…
- Tu não sabes do que
falas, não sabes nada! - vi os olhos de Ruben encherem-se com novas lágrimas
pela mágoa e revolta que o deviam estar a corromper por dentro, e nos seus
punhos cerrados junto ao corpo, apercebi-me que ele fazia um esforço enorme
para se controlar
- O que eu sei é que essa
tipa não te merece, e não digas depois que eu não te avisei! Até logo, mãe! –
deu-me um beijo na testa e sem dizerem mais nada um ao outro ele afastou-se,
deixando-nos uma vez mais a sós com o bater da porta que anunciou a sua saída
- Não ligues ao teu
irmão… Tu sabes que ele só disse aquilo porque está preocupado contigo e não
gosta de te ver assim!
- Não, mãe… Eu contive-me
porque não quis dar parte fraca na frente dele, mas talvez o Mauro até tenha
razão! – o seu corpo caiu pesadamente no centro do sofá e de novo uma avalanche
de lágrimas apoderou-se do rosto do meu menino
Apesar de ter sido áspero
com as palavras, Mauro não tinha intenção de o magoar, pelo contrário… Estava
apenas a assumir as suas funções de irmão mais velho. Melhor do que ninguém ele
vira-o sofrer há três anos atrás, quando aquele amor lhe tinha pregado uma
rasteira, e agora, depois de todo este tempo, vê-lo na mesma situação era algo
que a ele também o abalava. Ruben sempre fora aquele que conseguia elevar a
moral e transmitir a sua alegria e boa disposição a qualquer um, até nos
momentos mais difíceis, e aquela tristeza e sofrimento que não era habitual ver-se
nele, desencadeou em Mauro o instinto defensivo sob o irmão. Sentei-me junto
dele e tentei perceber que novos sentimentos o estavam a invadir.
- O que é que queres
dizer com isso, Ruben?
- Quero dizer aquilo que
é óbvio! Eu tentei, eu juro que nestes dias tentei descartar esta
possibilidade, mas ela está tão clara… - ele olhou-me com os olhos raiados por
uma vermelhidão e mágoa que doía – A Joana deixou-me…
- Oh, meu filho, não
digas isso… Isso não é verdade!
- É, mãe, é verdade! – a
sua cabeça tombou sobre as suas mãos, e um novo tormento atracou a sua alma –
Eu amo a Joana, mãe, eu amo-a tanto e ela deixou-me… Ela deixou-me… - balbuciou
embalado por uma desconsolação infinita, num choro inquieto que lhe sacudia o
peito em cada soluçar e me deixava com o coração nas mãos por não poder fazer
nada que pudesse sossegá-lo, e livrar-lhe daquela dor que retomara então à sua vida
Queridas leitoras, aqui fica mais um capítulo!
Espero que gostem e não se esqueçam de deixar os vossos comentários! :)
Beijinhos,
Joana ♥
oh meu deus, está completamente fantástico :o
ResponderEliminarEu consegui sentir todas as emoções do Ruben e até mesmo as da Joana!!
Coitadinhos, estão estas pobres almas a sofrer, por imprevistos :c
mas pronto, mais uma vez digo que está fantástico ihih
quero o próximo!!
Besos, Débora*
Fantastico quero o proximo.bjs
ResponderEliminaraii Joana *.* eu nem palavras tenho...está perfeito! fico muito anciosa pelo proximo! quero ver estes dois juntinhos :)
ResponderEliminarparabéns, continua!
oh tadinho do Ruben :'( ate da pena...
ResponderEliminare a Joana?! tadinha anda lá com o coraçao apertadinho...
faz ela voltar e entender-se com o Ruben, porque da maneira como isto está, nao sei se ele a vai receber assim de braços abertos, tao facilmente...mas ela nao teve culpa:(
beijinhos*
p.s. ta lindo como sempre!!
continua rapidamente ta LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
ResponderEliminarAdorei!!! Mesmo mto!!!!!
ResponderEliminarContinua q ninguém aguenta tanto sempre sem um novo capítulo....
Ai, porque eu já sabia que ia chorar também, desde o início?? :((
ResponderEliminarÉ de cortar meu coraçãozinho ver o Ruben nesse estado... achando que a Joana o deixou de novo, quando ela não teve culpa também. Ai :((
E eu sabia que aquela perda do celular dela não tinha sido em vão, eu sabia. Ainda achei que fosse coisa da minha cabeça... mas olha aí. Espero que isso se resolva logo. E só para não perder o costume, perfeito, perfeito, perfeito!! *-*
PS:. O Francisco é mesmo muito fofinho, simpatizei com ele e não foi só por sermos brasileirinhos hahaha.
Beijinhos :*
Gabi
que perfeito meu deus *.*
ResponderEliminarcontinuaaaaa!