sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Capítulo 4 - O regresso (Parte II)



Como era possível? Como era possível encontrá-lo depois daquele tempo todo?... Depois da distância, depois de todas as mudanças… Depois de todas as voltas que a vida de ambos deu, e que notavelmente, não tinham sido poucas… E porquê agora? Porquê ali… no mesmo lugar onde tinham trocado as primeiras impressões, os primeiros olhares reveladores de uma certa cumplicidade… os primeiros sorrisos… Porque é que isto lhe estava a acontecer? - Eram estas as principais perguntas que permaneciam dispostas num carrossel giratório, sobrecarregado com gigantescos pontos de interrogação, na mente de Joana. E Ele continuava ali… Continuava a perscruta-la sobre o olhar atento dos seus olhos caramelo, como se tratasse de dois faróis a vigia-la nas noites altas de tempestuosidade, acompanhado com um toque enigmático a deixar-se escapulir a cada pestanejar… Certamente também ele estaria a discutir as mesmas perguntas que tal como Joana, se limitava a fazer interiormente. E foi apenas quando libertas das amarras que fizeram mudas ambas as vozes, daqueles dois seres outrora amantes e hoje apenas refulgentes conhecidos, que um tom jovial masculino, rasgou pela primeira vez o ar.

- Não sei se sabes, mas os adeptos não podem estar aqui! – referiu com algum escárnio e frieza, deixando que o seu olhar oscilasse entre a figura imperante da bela mulher de quem se recordava tão bem, e o ecrã do telemóvel que segurava por entre as mãos


- Ah… Mas eu… - rapidamente tentou desculpar-se, mas ele não lhe deixou tomar avanço no discurso


- Se quiseres tirar fotografias, pedir autógrafos… Vais ter que aguardar lá fora à saída, como todos os fãs e adeptos! – aquele tom altruísta e repulsado, era o elemento suficiente para que Joana se aperceber que afinal não passara de uma carta a mais no baralho… de um cromo repetido na colecção da caderneta, e que obviamente, ele já não se deveria recordava dela

“Como, como é que ele se pode ter esquecido de tudo? De mim! Depois de tudo o que passamos… de tudo o que vivemos…! É verdade, não durou muito tempo, mas a intensidade com que durou… Foi tanta…“ – colmatou-se mais uma vez a vaguear em pensamentos, a equacionar perguntas, para as quais apenas ele portava respostas 

Joana arriscava-se a afirmar que os melhores momentos passados na sua vida, foram sem sombra de dúvida, bem do lado dele! Foi com ele que partilhou grande parte da sua adolescência… Foi o homem que conseguiu domar o seu coração… Ele, ele e ele!
Juntando as juras e promessas partilhadas no sabor de um beijo, aos planos traçadas de uma suposta vida futura; ás escapadelas nocturnas que a faziam sair de casa no silêncio da noite… em que pulava da janela do quarto, descia o pequeno telhado das traseiras e ele sempre lá a aguarda-la, de braços abertos disposto a aparar-lhe a queda; todos aqueles pares de horas matutinas alabregadas entre conversas de parte a parte na varanda do apartamento dele, ao sabor de uma boa caneca de chocolate quente; da adrenalina que sentiram em muitas das vezes que eram praticamente apanhados em flagrante, sobre o perjúrio de uns quantos beijos partilhados nos bancos do balneário masculino da equipa principal. Ela não iria  cair na fatalidade de depois de tudo, considerar que tenha sido puro amor, como todo os direitos e significados que tem a palavra em si, não de todo!... Mas uma paixão louca, sim! Com toda a certeza que foi!

- Como é manz, eu já tô pronto…! Podemo ir agora?! – nesse instante, foi a vez de uma outra figura celebre e que Joana igualmente conhecia, marcar presença… Era David, aquele sotaque brasileiro assim como aquela farta cabeleira de cachinhos, não davam motivos para que se expusesse quaisquer dúvidas

- Espera puto, ainda tenho que acabar de resolver um assunto pendente! – proferiu friamente, sem deixar que Joana saísse do seu foco de visão, por uma margem de erro de míseros segundos, que fosse

- Ué? Que assunto tem pendente? – um laivo notório de curiosidade invadiu David, que caminhou a passadas ligeiras com o saco de desporto encaixado no ombro, dirigindo-se a ele

- Como vai ser, rapariga?... Vais sair pelo teu próprio pé, ou vou ser forçado a chamar algum segurança que te indique o caminho para o exterior?!... Hum? – ripostou num ultimato certeiro, sem a mínima preocupação de lhe ferir os sentimentos, uma vez que Joana já o tinha feito… com ele 

- Tão, Ruben?!… Pega leve, pô! – David depressa tentou acalmar os ânimos do melhor amigo, ainda sem olhar Joana e perscruta-la minuciosa e detalhadamente, pois se fizesse isso, de certo que se ira recordar dela

Ruben, sim...! Ruben, é o nome dele. Homem portador de um charme encantado, poses elegantes e beleza robusta. Sorrisos indiscretos e contagiantes a qualquer entrada... o seu sentido de humor, olhar penetrante e o toque de uma voz sedutora, faz ressaltar à primeira conquista… Tem um tom doce e embelecido com o feito malandro a preencher-lhe cada lacuna dos lábios carnudos e estranhamente apetitosos. Colmatando com um quanto de feitio difícil e muito mimado. Eram todos estes, os motivos presentes que transportavam uma sensação electrificante por cada vaso sanguíneo dela… que fizeram com que Joana se atraísse por ele, como um pecado delirante e totalmente diabólico.    

- Pega leve o quê, mano? Esta rapariga não pode estar aqui… Estou apenas a fazer o que acho que é melhor para todos!

- Caraca! Cê fala dela como se fosse alguma criminosa… - referiu por entre sonoras gargalhadas alheias a tudo o que se estava a passar  - E afinal quem é a moça que… - exacto, as palavras sucumbiram-se-lhe da garganta, facto que o impediu de continuar a discursar assim que os seus olhos alcançaram a figura exasperada de Joana, que continuava a centralizar Rúben, com o olhar – Santo Deus, não é possível… Joana? – a sua proletarização saiu-lhe imerecidamente numa interrogativa, totalmente abismado e surpreso por encontrá-la ali, como se, de alguma maneira, a presença dela tivesse sido importada através de um teletransporte

- Olá, David…! – saudou-o timidamente, mostrando-lhe um breve sorriso ténue e delicado, acabando com todas as incertezas que nele ainda pudessem suscitar

- Nem acredito no que tô vendo… É mesmo você! – constatou segurando meigamente o rosto dela por entre as suas duas mãos grandes e quentes

Escusado será referir, que Rúben à ficado de veras desconfortável com aquele reconhecimento de David, pois muito provavelmente esse facto iria boicotar todas as tentativas de afastamento que ele impusera, desde o momento que voltara a ver Joana.

- Parece que sim… - disse ela em tom sereno, ainda vítima do olhar atento e notavelmente embevecido de David

- Mas qué que tá aqui fazendo? Não andava lá pelas Américas?

- Sim… Mas achei por bem voltar! – concluiu num suspiro de lamentação,  voltando a mirar Rúben que permanecia desdenhoso àquela simples troca de palavras, e num instante muito rápido, o seu coração provou o dissabor de um regresso… talvez não desejado por ele

- Nossa, que saudade, garota! – confessou no apertou saudoso de um abraço, há muito esperado – Fez muita falta aqui!          

- David, eu vou indo para o carro… Vens? – a sua voz voltou a soar, agora mais calma, mas dorida na mesma… acabando por interromper o momento em que Joana e David ainda desfrutavam da presença um do outro, numa simples amostra de afecto

- Manz, é a Joana que tá aqui… A Joana! – referiu  com uma certa lividez de entusiasmo a traçar-lhe a voz, dando asno às últimas palavras

- Pois!... Olha, eu vou mesmo andando… Se ainda ficas, vemo-nos então mais logo! – Rúben não se poupou na secura das palavras, revelando o escárnio que sentia, por ter bem presente a figura dela e num ápice virou-lhes as costas, dando início a uma marcha pesarosa até ao exterior

- Rúben? Aguenta aí mano, tô indo com você! – gritou-lhe na esperança de lhe travar a caminhada e fazê-lo esperar, mas de modo contraditório, a clamação só fez com que ele acelerasse o passo e acabasse por desaparecer, no cruzar do fundo de um corredor – Mas que bicho lhe mordeu? Pirou, o muleque? – coçou levemente os caracóis, mostrando-se atónico perante aquela acção desprazida

- Ele está magoado, comigo! Talvez, ter voltado… Tenha sido um erro! - censurou-se amarguradamente, vislumbrado ainda, a ala do corredor por onde ele se havia retirado

- Não fala bobagem! O Ruben deve ter apenas ficado confuso por voltar a vê-la, quando menos esperava… Ele sentiu muito a sua falta, Joana, mas não está magoado com você! – mentiu-lhe conscientemente, embora tentasse acreditar nas suas próprias palavras, só David sabia da decadência que Rúben havia passado, assim que ficou a par da partida sorrateira dela 

- Está, está magoado e bastante, por sinal… Consegui sentir isso, apenas na recriminação que me lançou num olhar!

- Mas ele não devia ter tratado cê daquele jeito, pô! – rosnou num toque de indignação, olhando-a bem fundo dos olhos – Eu vou falar com ele! Vou meter juízo naquela cabeça dura!

- Deixa-o estar David… Eu merecia que ele me tratasse assim, é justo! – indagou lamentosamente, pousando a mão no braço dele

David encaixou a imagem dela bem na sua frente, vislumbrando-a com uma vivacidade, que de alguma maneira se conseguira confundir com preocupação. Queria desmenti-la, dizer-lhe uma palavra amiga… Mas apenas foi capaz de se resignar aos seus minuciosos pensamentos, para no fim falar. 

- Seja como for… Também tenho que ir embora! – disse com um breve rasgo encorajador, a acentuar-lhe os lábios, húmidos por uma discreta passagem de língua – Temos que combinar um café numa tarde dessa, para pormos a conversa em dia…

- Claro!... Tens o mesmo número? 

- Tenho sim senhora, cê não tem?

- Não… Mas depois mando-te mensagem ou ligo-te mesmo, e acertamos os detalhes desse café! – sorriu-lhe abertamente, tentando parecer o mais animada possível, enquanto por dentro, o seu coração continuava a mingar a cada segundo morto

- Então, até lá! Se cuida viu? – pousou-lhe os lábios angelicalmente na pele da testa, dando-lhe um beijinho carinhoso enquanto sustentava uma mão na nuca dela – E não ligue papo pró comportamento do Rúben… cê sabe como ele tem um  feitio difícil, mas é uma óptima pessoa! 

- Sim, eu sei… - ciciou num murmúrio, já enquanto o via a afastar-se



*** 


- E aí manz, o que deu em você?! Foi de babaca o que fez! – repreendeu Rúben enquanto este colocava o saco de desporto no porta bagagens

- Não sei do que estás para aí a falar, David! – fez-se totalmente desentendido, tentando dar aquele assunto com alheio

- Não se arme em bobo! Sabe muito bem que estou falando em relação à maneira que cê se dirigiu à Joana! 

- O quê? Estás a falar da mesma Joana, que há cerca de três anos deixou uma vida inteira para trás, inclusive abandonou as pessoas que mais gostavam dela, sem dizer absolutamente nada? – impetrou um sorriso falsamente cínico, arqueando apenas um canto da boca – Poupa-me, puto! Essa Joana para mim, deixou de existir faz tempo! – revelou sem deixar que a voz lhe falhasse um única vez, para logo de seguida implantar grande parte da sua força, assim que fechou de novo a bagageira

- Agora tá sendo grosseiro e rancoroso! – advertiu, lançando-lhe um olhar pouco amigável, recostando o corpo na traseira do carro e cruzando os braços diante do peito

- Essa é boa! Quer dizer, ela deixou-m… Ela deixou-nos, voltou como se nada fosse, e agora eu é que sou o grosseiro e o rancoroso?!

- Foram as circunstâncias que fizeram ela ir embora, Rúben! Meta isso na sua cabeça!

- E também foram as circunstâncias que a fizeram perder o contacto… A Joana desapareceu do mapa! Tu sabes quanto tempo eu andei para saber onde ela andava? Sabes?! – expeliu uma lufada de ar pesado por entre os lábios, vincando as mãos nas ancas e colocando-se frontalmente a David – Andei meses, David! Meses! Meses para saber onde ela estava, com quem estava, e como estava! Nós também temos uma afilhada em comum, caramba! E no fim de contas, eu é que sou o mau da fita?!

O silêncio imperou. Rúben limitou-se a permanecer cabisbaixo e de olhos pregados ao pavimento, enquanto que David, continuava a mantê-lo bem debaixo da periferia da sua visão… Ainda encostado ao carro, com uma perna sobreposta na outra, tentando estudar todos os pensamentos de Rúben.

- A Joana não deveria ter voltado… Não agora que a minha vida está estabilizada! – lamuriou de jeito mais sereno, acompanhado pelo abano cordial da cabeça em modo reprivatizo

- ‘Pera aí, ‘pera aí! – ordenou-lhe de sorriso enigmático na boca, posicionando a mão aberta à frente do tronco – Agora eu me perdi… Cê tá querendo dizer que a vinda da Joana, pode eventualmente… Vir a destabilizar a sua vida? É isso? – arqueou o sobrolho num arco perfeito, mostrando um ar inquisidor

- O que estou a querer dizer, é que ela nunca deveria ter voltado e pronto! – afirmou desprendendo-se da anomalia e fugindo claramente à ‘questão raiz’ de David

- Rúben, seja honesto comigo… - iniciou a pergunta que iria emulsionar, incorporando uma expressão mais acintosa, devido à seriedade do assunto – Sentiu alguma coisa quando viu ela?

- O quê? – enrugou a testa, assim como um sorriso traçado de ironia lhe habitou na boca, exibindo toda a sua surpresa por ser impulsionado a responder aquela “patusca” interrogação – O que é que te deu, agora? Tás parvo?!

- Responde, mano! – insistiu com o consentimento de um breve acenar de cabeça, David já sabia a resposta mas sabia também, que o orgulho de Rúben era bastante superior, para que o deixasse admitir o quer que fosse

- Não vou responder a perguntas tolas que não têm cabimento nenhum! – fincou o pé no chão, decidido a arrumar o assunto que iria certamente suscitar daquela inofensiva pergunta, numa gaveta a sete chaves

- Se fosse pergunta tola sem cabimento nenhum, cê respondia numa boa… Sem qualquer problema! – ripostou rapidamente num duvidoso torcer de lábios, ainda esperançoso de ouvir uma resposta

- Ouve, David… - aproximou-se dele a passo ligeiro e de voz amena, tentando não se exaltar e padecente do aborrecimento que a conversa já lhe estava a causar – O meu passado é o meu passado! Ponto final! 

- Mas agora o seu passado voltou… – relembro num tom zincado e certeiro a uma má reacção oposta, mas antes que isso pudesse acontecer, voltou a exclamar-se – E não se sente reticente quanto a isso?

- Não, não me sinto reticente! Eu e a Joana tivemos um caso sim, que terminou e que ficou no passado… E esse passado é definitivamente para esquecer!

- Tiveram um caso? Tá querendo enganar quem… seu pai?! – atirou numa leve gargalhada – Fala sério, pô… Vocês era loucos um pelo outro!

- Eh puto, já 'tás p’rai a divagar… Não exageres! - advertiu aperaltadamente, fazendo girar as chaves do carro no seu indicador - Foi apenas um mero namorico sem grande importância, poucos e bons momentos que passamos juntos… Nada mais! – afirmou tentando parecer seguro daquilo que dizia, mas estando ciente que o que tivera com Joana, fora bem mais do que aquilo estava disposto a subscrever  

- Hum, hum! – consentiu cordialmente com a cabeça, em dois movimentos pausados – Agora diga lá isso de novo, mas desta vez, sem deixar crescer o nariz! 

- Ah, David! Vai-te catar! – rematou numa só respiração, fazendo-lhe um rápido trejeito afugentado com o braço, dirigindo-se depois para a porta de condutor  do carro – E é melhor que desencostes esse rabo de sereia do meu carro, antes que eu recue e me esqueça que estavas aí! – disse agora num tom mais espicaçado, tentando aliviar a tensão que até à altura, lhe contraía os ombros

- Oiça lá, cê vai no jantar logo à noite? – inqueriu assim que respeitou o aviso dele e se afastou do carro

- Já disse ao Rui que ia… Não me vou cortar em cima da hora, né? – assimilou uma expressão de evidência, descansado os braços sob a capota  - Vou só a casa tomar um banho e trocar de roupa, passo pela casa do Luisão para apanhar a Sofia e vamos ao jantar!

- Vai levar a mulequinha?

- Vou! Foi o que lhe prometi… - desbridou num largo sorriso embevecido, ao recordar a pequena figura da menina dos seus olhos

- Ai, que temos padrinho babadão! – zoou David, num ameno tom de brincadeira

- Ai temos pois! – reafirmou mesmo antes de entrar no carro, David voltou a aproximar-se e acabou por encaixar os braços sob a janela aberta da porta, enquanto Rúben já amarrava o tronco ao cinto de segurança

- Agora fala sério, manz… Como é que as coisa entre cê e a Joa… - iria continuar, mas Rúben apressou-se a cortar-lhe o discurso

- Ei, ei, podes já parar por aí! – avisou-o rodando a chave na ignição – As coisas entre mim e ela são bastante simples e claras: Nunca mais nos voltamos a ver e assunto arrumado! – desfechou com a certeza a comandar-lhe a voz, como se tivesse todas as garantias que seria mesmo isso que vira a acontecer

- Isso era fácil se fosse você ou ela, a decidir…

- Ai sim? Então se não somos nós, quem é? Diz lá…!

- É o destino, manz… - elucidou-o dando-lhe leves palmadinhas no ombro – É o destino!



***


Depois de David se ter ido embora, Joana deixou-se permanecer naquele encruzilhar de corredores e mais corredores, ainda esmorecida e simbolicamente desanimada pela petulância daquele reencontro, rezando interiormente para que alguém aparece e lhe indicasse o caminho correcto… deixando-se depois ficar abraçada, aos conflitos dos seus pensamentos.

- Joana! – bradou uma voz grave de homem feito, juntamente com um ligeiro toque instaurado no ombro dela, que a fez despertar do estado hipnótico e assustar-se instantaneamente

- Aii! – um pequeno grito em surdina fugiu-lhe dos lábios, rodando depois o corpo, no sentido em que Rui Costa se encontrava – Padrinho! – Saltou de imediato para os braços dele, remetendo-se a um caloroso abraço recepcionista   

- Minha querida, há tanto tempo… Como estás? – perguntou quebrando o longo abraço e perscrutando a menina que já se havia transformado numa bela mulher a olhos vistos

- Eu cá estou… Estou bem! E tu, meu padrinho?

- Estou feliz por te ver… - confidenciou-lhe rasgando os lábios numa amostra de felicidade – A tua avó, avisou-me à pouco que vinhas procurar-me!

- Sim, vinha ver como estavas! Mas confesso que se tornou numa tarefa quase impossível… incorporou uma expressão facial desdenhosa, franzindo o nariz enquanto olhava em seu redor – Acho que isto devia ter placas de identificação espalhadas em cada ala! – disse divertida, relembrando as vezes que se chegou a perder naquele lugar

- Vou ver se consigo tratar disso! – soltou umas leves risadas misturando-se com as de Joana, sobrepondo o seu braço envolta dos ombros dela – E diz-me, tens tempo para vires tomar um café comigo e pormos a conversa em dia? Temos muita coisa para falar…

- Tenho sim senhor! Tenho todo o tempo do mundo…



***


Conversaram durante horas, falando um pouco de tudo e um pouco de nada, acompanhados por um escaldante café do Starbucks no Chiado. Joana abordou-o relativamente à sua mota que deixara aos cuidados dele, e Rui, aproveitou esse pequeno pretexto para convidá-la a jantar lá em casa. Obviamente que era um convite tentador, logo, foi-lhe impossível recusá-lo. 
Penas chegaram à enorme e faustosa mansão, no alicerce de um crepúsculo pleno. A maioria dos pormenores que reclinavam cada recanto do exterior da habitação, Joana não se lembrava, havia sido praticamente tudo remodelado e o vasto jardim junto ao portão majestoso da entrada, parecia-lhe ainda mais preenchido que na altura, mas os pioneiros continuavam a permanecer… as roseiras brancas que tornavam o local singelamente imaculado, acompanhadas por um vanglorioso chorão e duas palmeiras altivas, que ofereciam uma sombra convidativa inebriando um ar mais tropical. Assim como a calçada que se estendia até à porta principal, decalcada com pedras rasas, ásperas e de cor muito semelhante à do carvão.
E por maior que fosse a distância que o vasto Atlântico impunha e pelo tempo alargado que tenha estado afastada, Joana não deixara de lembrar o lugar a que pertencia, ao que desde da sua infância se habituara a chamar de lar e regressar a casa era a melhor sensação de que no momento, o seu coração estava declaradamente desfrutar.
Aproximaram-se da entrada sempre ladeados um pelo outro, e o momento no qual Rui abriu a porta e permitiu a passagem primária da sua afilhada, Joana foi abruptamente invadida por uma nostalgia reconfortante e agradavelmente desmesurada… O doce cheiro que preenchia o ar interior, continuava com a mesma doçura, assim como as sensações padejadas que de imediato se fazia sentir.

- Que saudades eu tinha de tudo isto! – gracejou ela, vislumbrando detalhadamente todos os retoques de beleza da moderna decoração, que abonava o largo e refastelado hall, pegando depois na moldura de uma fotografia disposta sobre a pequena mesinha de verga – Meu Deus, o Pipo está tão crescido! – mirou Rui  que suspendia o casaco num rebordão do cabide e mostrou-lhe a fotografia recente do filho mais velho dele, agora com quinze anos, Filipe

- Sim… Está a ficar um homem! – acrescentou, consentindo positivamente e beirando-se dela

- E onde é que estão todos? – espoletou de forma entusiástica, já empolgada e ansiosa por voltar a sentir os abraços acolhedores da família

- Hum… Ó muito me engano, ou estão lá fora de volta do barbecue a preparar os grelhados! – informou tranquilamente com um sorriso rasgado nos lábios – Vai lá ter com eles, eu vou só ao escritório guardar umas papeladas e tomar um duche rápido depois vou lá ter convosco!

- Está bem, até já!

- Até já… - começou a subir as escadas que o conduziam até ao piso superior, mas de súbito parou a sua marcha para se voltar para trás e a aborda-la novamente – É verdade, hoje temos convidados!

Joana já não teve tempo de se fazer ouvir, Rui já se tinha afastado o bastante para ela não o conseguir ver. Rodou os calcanhares, e encaminhou-se até ao jardim do pátio das traseiras, ainda a pensar com um sinapse de curiosidade e estranheza, referente aos “convidados” de quem o seu padrinho pouco falou.
E foi apenas no trespassar da porta de vidro dupla de acesso ao exterior, que a maior parte das dúvidas ficaram esclarecidas, ao ver somente David em redor do barbecue a confeccionar os grelhados do jantar.

- David! – bradou em tom satisfatório enquanto se dirigia a ele, feliz por voltar a vê-lo, muito antes do que ambos esperavam

- Oioi, garotinha! – saudou-a pela segunda vez naquele dia, sempre com o mesmo tom jovial e carinhoso a embrenhar-lhe a voz – Não sabia que também vinha…

- Pois, eu vinha apenas na intenção de levar a mota, mas já sabes como é o meu padrinho… Insistiu para que ficasse também para o jantar! – escondeu ambas as mãos nos bolsos traseiros das jeans, enquanto varria com o olhar, todo o recinto do pátio convidativo

- E fez ele muito bem! As minhas espetadas vão ficar bem gostosas, viu? – disse divertido, remexendo as suculentas espetadas com o garfo comprido de churrasco

- Disso não duvido! – referiu enquanto as mirava a ficarem mais queimadinhas a cada revolta persuadida pelo garfo, e depois de soltar breves gargalhadas

Foi apenas uma questão de breves instantes, até mais duas figuras fazerem também parte dos elementos que davam vida ao espaço.
Ruben, trazia bem embrenhada ao aconchego do seu colo, a bela Sofia, a sua afilhada de apenas três anos. Na primeira impressão, à ficado apreensivo e um pouco inquieto… Não só pela presença feminina que jurou para si mesmo nunca mais voltar a ver, mas também pela reacção que a pequena que resguardava em seus braços pudesse vir a tomar, em relação à madrinha que não via, há quase meio ano e que mantinha uma conversa animada com David. 

- Papi… - a voz carinhosa da menina suou baixinho, clamando assim Ruben, enquanto continuava a examinar a silhueta daquela figura que lhe era tão maternal, disposta em retrato de perfil

- Diz, meu doce! – incentiviou-a a continuar, dando-lhe um beijo ternuroso na bochechinha rechonchuda

- Está alhi… A mami, está alhi! – disse, ainda numa vozinha deliciosa de bebé e apontando com o seu pequeno indicador, reconhecendo Joana de imediato

- Pois está… Queres lá ir ter com ela? - embora da relação nada harmoniosa que agora ele partilhava com a Joana, Ruben nunca privaria Sofia de se relacionar com ela

- Posho? – os olhos grandes e pestanudos dela, brilharam que nem duas estrelinhas rutilantes, procurando o olhar de Ruben

- Claro que podes! – pousou-a delicadamente no chão e colocando-se de crócaras para lhe compor o vestidinho rosa, que lhe dava um aspecto semelhante ao de uma pequena princesa – Vai lá! – encorajou-a num sorriso terno e sincero 

- Mami! Mami! – invocou-a no diminutivo com que sempre fora habituada a  chamar à sua madrinha, enquanto corria na direcção dela

Ao ouvir aquela voz tão dócil que já lhe soava tão familiar aos ouvidos, Joana voltou-se num ápice tendo só uma reacção: tomar a pequenina nos seus braços.

- Ai, mami… - ciciou num suspiro contundente, abafado no pescoço perfumado de Joana, enquanto se abraçava a ela com toda a força que tinha e bem coladinha que nem uma lapa

- Sofia! Minha pequena Sofia! – proferiu na fuga de um respiração melancólica e entrecortada, que rapidamente deu asno a um choro silencioso… era muita emoção para um dia só, e agora, segurando firmemente o serzinho que se havia tornado o mais importante da sua vida, nos seus braços, foi o declame para deixar fluir a corrente de emoções que lhe abarcava na alma

- Tive tantas shaudades tuas… Tantas, tantas, mami! – repetiu-se sucessivamente, deixando escapar uma lagrimazinha inocente do canto do olho, que rolou verticalmente sob o seu rosto perfeitamente angelical

- Eu também tive muitas saudades tuas, meu amor… Muitas! – desabafou, enchendo o rosto da menina com o polvilhamento de beijinhos meigos e repenicados, em pedaços ao acaso naquela pele pura de bebé

- P’omete… - pediu-lhe posicionando os seus olhos nos dela, enquanto lhe segurava o rosto por entre as pequenas mãozinhas  - P’omete que nunca mais me deixas, que nunca mais te vais embolha… P’omete, mami!

- É claro que eu prometo, meu anjinho… É claro que eu prometo! – assegurou-a de olhos fechados e de testa colada à dela, para logo de seguida ambas iniciarem uma brincadeirinha com os narizes… fazendo-os chocar um no outro em movimentos aleatórios e consecutivamente repetidos, o que inevitavelmente originou risadas deliciosas nas duas

Ruben, olhava-as completamente enternecido… O cenário que estava disposto mesmo diante dos seus olhos, era estranhamente apaixonante e aquele retrato, rapidamente viajou até ao seu interior, aquecendo-lhe o coração.
David, como seria de esperar e até ao momento sempre atento ao desenrolar da acção, decifrou a nostalgia em que o melhor amigo estava envolto. 

- Eu disse, Ruben… - sussurrou-lhe num tom apaziguante, assim que se aproximou dele – Eu disse que é o destino, quem acaba decidindo…   



Minhas leitoras queridas, peço imensas desculpas pela minha ausência ,
 mas estes meus últimos dias foram um pouco agitados, o que não me  permitiu
  uma entrega regular na escrita! :/
Mas finalmente, aqui vos deixo mais um pedaço desta história, que espero, estar do vosso agrado! Aproveito também para vos agradecer todos os comentários de apoio que me têm deixado, sem dúvida que são uma mais valia que me dá ânimo para continuar a escrever... O meu muito obrigada! :)
Espero que continuem a deixar as vossas opiniões, que como já sabem, 
são muito importantes!
Muitos beijinhos,
Joana
   
  


24 comentários:

  1. Hum... o Ruben foi mauzinho :s lool

    Cá para mim isto ainda vai dar que falar :P

    Quero mais desenvolvimentos, principalmente saber como vai correr este jantar, ainda para mais com a afilhada deles lá LOOL

    Continua :)

    Beijocas

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  2. AI, AI, AI ...
    Isto promete !
    Essa história do passado entre a Joaninha e o Ruben não está lá muito bem resolvida (e ainda bem).
    Estou a adorar o rumo que estás a dar à fic e espero que publiques rapidamente outro capítulo :)
    " É O DESTINO QUE ACABA DECIDINDO "

    Beijinhos

    Raquel

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  3. A sério, tu matas-me com a tua escrita, não é possível. Fico abismada com cada capitulo teu, são todos de ficar com o queixo no chão!
    Tou a ver qe vai ser uma reconciliação dificil, agora qero o próximo muito rápido para não desesperar!
    Beijinhoos

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  4. Oh minha querida Joana, como eu fiquei contente quando vi que tinhas escrito. Fiquei mesmo muito contente, não só por este ser grande mas também por estar perfeitamente bem escrito.
    Este reencontro soube a pouco mas sei que da tua cabecinha surgirão novas ideias.
    Não demores muito a escrever, sff.
    Beijinhos

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  5. Sou uma daquelas leitoras assiduas e viciadas da tua outra fic, e sempre que posso comento,nesta é a primeira vez que o faço, apesar de ler cada capítulo que escreves.
    Tal como a outra a maneira como escreves contagia-nos de tal forma que não nos apetece parar de ler, queremos sempre mais.
    Adorei o reencontro deles, apesar da frieza demonstrada pelo Ruben,ele pode enganar-se a ele próprio mas não engana o David.
    Este jantar promete,e o facto de terem uma afilhada em comum ainda os vai aproximar mais, como diz o David, é o destino...e como eu digo "o que tem que ser tem muita força".
    Só te posso pedir que me dês o prazer de ler muitas vezes mais capitulos, tão bons ou melhores que este,nesta e na outra fic,que também adoro.

    Beijos

    Fernanda

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  6. tá BRUTAL minha linda! :) adorei muito, já estava com saudades de ler qualquer coisinha tua, principalmente desta maravilhosa FIC! bem, eu agora fiquei curiosa para asaber como vai correr o resto da noite, e concordo com o David, é o destino mesmo! :)
    fico à espera do proximo!

    beijinhos querida! :)

    ass: Diana Ferreira

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  7. Lindo Lindo Lindo, minha linda !! *.*
    Continua a escrever assim .. :D

    bjnhO querida .. :)

    PS: Eu postei ontem !! :D

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  8. Olá Juca :D
    Mais um capítulo lindo que me deixou com vontade de ler mais, mais e mais!
    Posta rapidinho sim? :p
    Beijinhos
    Ritááá xD

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  9. Adoreiii tudo!! *.*
    O gift esta perfeitinho!! ChaCe aii aiiii.... :P

    O Quanto ao capitulo.. bem esse.. es´ta mesmo PERFEITOOO!!

    Já adorava a tua outra fanfic, e esta logo no prefácio prometia muito...e ainda bem que fizeste cumprir as expectativasssS!!

    O encontro MEU DEUSSS :O (fica difícil arranjar palavras para comentar depois de ler coisas assim, que nos deixam completamente maravilhadas)

    Tadim do Rúben pelos vistos esta muito magoado, mas isso não se faz.. indiferença deve ser uma das piores coisas que as pessoas amadas podem-nos fazer...

    FoGOOO! Quero o próximo! :D RapidaMENTE :(

    Beijoo *

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  10. magnifico!!!
    mais e rapido :)
    beijinhos

    http://umanovadefinicaodeamor.blogspot.com/

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  11. eu AMO!

    meu deus eu chorei quando eles se encontraram *-*

    bjs, alexa

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  12. Oh minha querida Juca... Por onde hei-de eu começar?
    Era de madrugada quando li este incrível capítulo e fui-me deitar de queixo caído, totalmente incrédula com o que acabara de ler!
    Já to disse, mas reforço... Este é sem dúvida o melhor capítulo que já li escrito por ti!
    É surreal a quantidade de emoção e sentimento que cada palavra nos transmite e o jeito como tudo encaixa, tudo faz sentido... Uma perfeita harmonia!
    Estou totalmente rendida à história, ao enredo e a cada detalhezinho lindo :)

    Nenhuma palavra que escrevi faz realmente justiça à grandeza do que tenho perante os olhos, mas é o mais perto que consigo chegar... Agora só te posso dizer que aguardo ansiosamente o próximo!

    Beijinhos, minha querida! ^^

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  13. Olha, Olha ...

    quero MAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAis =D

    estou total e irremediavelmente rendida à história

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  14. Há muito que não via uma escrita assim tão realista, tudo o que escreves faz-nos sentir como se estivéssemos mesmo ali a ver a cena, é realmente fantástico :)
    Continua assim, muitos Parabéns!! :D:D

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  15. Publica depressinha, pleaseeee
    estou mesmo ansiosa pelos desenvolvimentos da história...

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  16. fantastico... tao lindo...

    quero mais...

    continua...

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  17. Ai! Cada vez gosto mais desta fic!
    Está mesmo linda!
    Amei o capítulo!
    Espero ansiosamente pelo próximo.
    Beijinhos!

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  18. Para quando o próximo capítulo ?!

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  19. Prendeste-me à história por causa de um nome, lol
    x)

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  20. Estou em pulgas por um novo capitulo!!!

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  21. Lindo, lindo, lindo :D
    Adorei espero que continues :)
    Beijinhos

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  22. PUBLICAAAAAAA

    por favor, já nao me aguento xD

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  23. Amei ! ! !

    Qual o nome da música ?

    :P

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