O sigilo daquele beijo foi apenas confesso
às paredes do quarto, pois mesmo antes de se deixarem envolver demasiado pelas
emoções há muito aprisionadas, e as quais os transportavam para um caminho sem
retorno, logo que ouviram o bater da porta, que pôs fim a toda a troca de
afectos, Joana afastou-se num impulso automático que o seu corpo foi obrigado a
responder.
Ambos suspiraram ao escutarem a voz de
David do outro lado da porta, e felizmente sem forçar a sua entrada, chamou-os
para descerem para o jantar, e logo voltou a afastar-se para fazer o percurso
inverso de volta ao andar inferior.
- É melhor descermos antes que comecem a
estranhar a nossa demora. – Joana proferiu, sem coragem de olhá-lo depois do
momento íntimo e intocável que tinham partilhado, aproveitando para calçar de
novo os seus ténis deixados ao beiral da cama
Ruben não conseguia deixar de odiar toda
aquela situação. Odiava que o amor que sentia por Joana, juntamente com o seu
bebé que crescia dentro dela, tivessem de continuar a ser segredo para as
pessoas com quem mais queria partilhar a sua felicidade – os seus amigos. Ainda
assim estava consciente que enquanto não resolvesse todas as pontas soltas da
relação que ainda o unia a Inês, manter-se discreto era a
decisão mais correcta e segura para todos, até para si mesmo.
- Eu ajudo. – quando a viu debruçar-se
sentada no rebordo da cama, ele correu para auxiliá-la, ajoelhando-se na frente
dela calçando-lhe as sapatilhas em cada pé
Eram pequenos gestos como aquele que a
faziam apaixonar-se por ele a cada dia um pouco mais. Ruben costumava ter
sempre a palavra certa a dizer no momento certo, sabia o gesto apropriado a ter
a cada situação. E vê-lo ali, de joelhos a seus pés, a tomar todo o cuidado e
carinho que o mundo lhe dava, como se para ele Joana fosse a pessoa mais
importante da sua vida – porque o era, na verdade – desarmou-lhe qualquer
tentativa de fuga que a levasse para longe dos seus braços e do seu coração.
- Eu não vou desistir de nós. – sussurrou
quase a medo, quando ergueu a cabeça para lhe procurar os olhos claros e
expressivos que o beijo amoleceu – Por muito que me peças que o faça… Eu não
vou desistir.
Joana não pediu. Simplesmente não teve
energia para continuar a esconder-se dele, fingir que o seu mundo não tinha sido
virado de cabeça para baixo, agora, da melhor forma possível.
- O tom rosa-pêssego não condiz muito com
o tom da tua pele. – no meio de toda aquela situação, ela foi capaz de fazê-los
rir levemente, limpando com o polegar, vestígios do seu batom que tinham ficado
nos lábios de Ruben
Ele sabia o que Joana estava a fazer ao
tentar desviar o assunto, e foi por conhecê-la tão bem como conhecia e por
querer evitar mais discussões, que não forçou uma conversa que era preciso
ter-se tida depois daquele beijo.
Podia não ser agora, nem mesmo nas
próximas duas ou três horas, mas uma conversa acompanhada pela maior decisão da
vida deles, com toda a certeza, iria ser-se travada.
***
Como o dia de sexta-feira tinha vindo a
ser gozado pela governanta e cozinheira Glória, desde os seus primeiros anos a
trabalhar para a família Amorim, os tachos e panelas haviam sido entregues aos
homens que agora cuidavam da vivenda. Luisão e David tinham sido destacados, de
forma unânime, a cozinharem o jantar com iguarias tipicamente brasileiras que
vieram satisfazer os caprichos e aquecer o coração de todos.
Entre conversas animadas e típicas
brincadeiras que conduziram ao final da refeição, como já vinha a ser habituar,
o grupo trocou a sala de jantar pela de estar, onde ao sabor de uma boa chávena
de café e do calor amainado da lareira acesa, refastelados nos sofás e puff’s
espalhados estrategicamente na divisão, davam continuação à cavaqueira que era
intercalada com um filme da Disney, implorativamente exigido pelas pequenas
Sofia a Victória.
Durante todo este tempo, nem Ruben nem
Joana haviam voltado a trocar uma palavra, desde quando juntos abandonaram o
quarto para que, irredutivelmente, se juntassem ao convívio. Porém, e sem
conseguirem evitar, trocas de olhares breves tinham permanecido entre eles,
agora tão óbvias e ousadas que já nem aos amigos passavam despercebidas.
- Mais sem-vergonha do que ‘tá sendo, é
impossível… - comentou David baixinho, sentado no sofá de três lugares
partilhado com o seu melhor amigo
- Não sei do que estás a falar. –
respondeu no segundo a seguir, calmo e sem desviar os olhos um milímetro que
fosse do cenário que contemplava já por largos minutos
Do outro lado da sala, Joana permanecia
sentada num puff perto da lareira, com a sua querida e doce afilhada segura e
aconchegada no calor do seu colo. Esforçava-se por ficar o mais atenta possível
à premissa do filme de maneira a ser capaz de responder às perguntas e
comentários com os quais Sofia a interceptava de vez a vez, uma tarefa difícil
de levar a cabo pois era impossível não sentir o olhar de Ruben queimar sobre a
sua pele.
A partilha daquele beijo deixara-lhe o
coração mais desconcertado do que alguma vez poderia ter imaginado, e tudo o
que queria e precisava naquele momento era de passar algum tempo sozinha, tempo
esse que fosse capaz de lhe colocar as ideias em ordem, voltar a dar o devido
lugar ao coração e tomar decisões importantes – derradeiras ao percurso futuro
da sua vida. Faltava apurar apenas se esse percurso ser-se-ia percorrido
sozinha ou ao lado do homem que amava tão profundamente, e por muito que a sua
vontade fosse a de continuar a adiar uma decisão, era impossível continuar a
fugir ao confronto de uma conversa puramente definitiva entre os dois.
- Larga de frescura, manz. Tu ainda não
desviou os olhos da guria… Já todo o mundo topou.
- Deixa-os topar. Tô nem aí. – voltou a
ripostar com um hipotético encolher de ombros acompanhado por um sorriso torto
e desafiante, tentado imitar no fim, o sotaque de David, que respondeu com uma
cotovelada em brincadeira
- Cê não tem emenda mesmo. – ele disse,
divertido, agitando a cabeça que lhe sacudiu a farta cabeleira de caracóis
Antes mesmo de ter tempo de lhe voltar a
responder, o seu irmão rompeu pela sala, de telefone seguro na palma da mão e
marcando caminho até ao beiral do sofá junto a si.
- A mãe está ao telefone… Quer falar
contigo. – Mauro anunciou ao estender o aparelho na sua direcção, voltando a
sair da sala no instante seguinte para rumar ao berçário de Gabriel que
conseguira adormecer há quase uma hora
Ruben avisou o melhor amigo com um breve
aceno de que iria ausentar-se por uns instantes, e levando o telefone consigo,
procurou por uma divisão sossegada da casa onde pudesse partilhar de uma
conversa tranquila e serena com a sua progenitora num ambiente mais privado,
sem ter a preocupação de vir a ser interrompido por qualquer um dos seus
amigos.
- Mãe, há muito barulho aí, eu não a
consigo ouvir bem… - referiu no momento em que fechou a porta do escritório
atrás de si, para logo procurar o cadeirão de rodas giratório colocado
ardilosamente atrás da imponente secretária de madeira antiga, esculpida em mão
– Onde vocês estão?
Gradualmente, o ruído do outro lado da
ligação que o impedia de escutar as palavras da mãe, foi-se dissipando, para,
finalmente, lhe dar uma percepção mais clara da troca de palavras que se
avizinhava entre eles.
- Consegues ouvir-me agora? – inquiriu
Anabela, quando se afastou da agitação dos interiores e encontrou as portas de
acesso à varanda
- Onde é que vocês estão? – ele voltou a
perguntar
- Em casa dos pais da Inês, chegámos há
pouco do restaurante.
- A sério? Com esse barulho todo mais me
parecia uma discoteca. – disse divertido, ainda a conseguir distinguir uma
mescla de berros e gargalhadas abafados pela música que persistia em martelar
as colunas da divisão mais próxima
- Quase… As meninas esmeraram-se na festa.
– ela riu brevemente, tentado trazer à memória a última vez que participara
numa festa despedida de solteira – Não sei como é que convenceste os teus
amigos a não te prepararem uma… Eles estavam tão entusiasmados com a ideia.
- A mãe sabe que eu não ligo a essas
coisas, era completamente desnecessário.
Anabela sabia. Pessoalmente, Ruben nunca
fora dado a tradições e mesmo festividades religiosas que costumavam ser
celebradas em família desde infância, perderam, para ele, grande parte do seu
significado aquando do divórcio dissaboroso dos pais. E agora com o casamento a
menos de vinte e quatro horas de ser oficializado, mais ainda do que antes,
Ruben esquecera-se de quaisquer motivos a serem comemorados. Não tinha razões
para comemorar e sobretudo – não queria.
- E como estão as coisas aí em casa? Estão
todos confortáveis?
- Sim, acabámos de jantar há pouco, a
malta está toda na sala a tomar café.
- Óptimo, que bom. – ela disse, satisfeita por saber estarem todos a disfrutar
do convívio e do conforto que a casa oferecia, para nos momentos seguintes se deixar
embrenhar no silêncio imposto pelo filho – Esse silêncio todo é sinónimo de
quê? O que vai nessa cabecinha, Ruben?
- Não é nada… - ele tentou negar ao
início, mas deixou-se embustear pelo tom de voz que o denunciou
- Alguma coisa é, filho. Eu conheço-te.
Passou-se alguma coisa?
Ruben recostou-se no cadeirão e suspirou
pesadamente. Por onde haveria ele de começar?
- A Joana… Nós estivemos a conversar…
- Conversaram? Sobre o quê? – Dona Anabela
inquiriu tão curiosa quanto entusiasmada, procurando saber, no desabafo do
filho, os progressos que esperava ansiosamente terem sido feitos entre o casal
- Sobre nós… O bebé.
- Disseste-lhe que sabias?
- Claro, mãe. Não podia continuar a fingir
que não sabia.
- E então o que aconteceu? Conta-me.
O silêncio de novo se instalou, porém,
desta feita foi usado na procura de palavras.
- Eu sou apaixonado pela Joana. –
confessou ele, aliviando de si o fardo que o obrigara a esconder os seus
verdadeiros sentimentos durante meses a fio, para finalmente poder partilhá-los
com alguém – alguém em quem confiava
- Eu sei. – respondeu calma – Tu és e
sempre foste apaixonado por ela… Desde o dia em que a conheceste que o brilho
dos teus olhos nunca mais foi o mesmo.
- Mas estou de casamento marcado com outra
mulher.
- E o que sentes pela Inês? – inquiriu
procurando esmiuçar toda a situação
- Eu amo a Inês, quero o melhor do mundo
para ela, mas o amor que lhe sinto não vai para além da amizade que construímos
ao longo dos anos. Eu não quero magoá-la.
- Eu sei que não, mas a verdade é que no
final desta história alguém sairá magoado. É inevitável. Agora resta saber
quem.
- Esse alguém não será o meu filho. É uma
promessa. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para protegê-lo. – Ruben
confessou firme, deixando Anabela a sorrir do outro lado da linha
- Então e o que vais fazer? Já tomaste uma
decisão? O que falaste com a Joana, afinal?
- A Joana tem medo, mãe… Eu disse-lhe que
faria tudo por ela e pelo bebé, inclusive por um ponto final neste casamento
mas ela tem medo do que as outras pessoas possam dizer ou pensar.
- Por vezes a Joana preocupa-se mais com
os outros do que com ela mesma… Não é defeito nem sinal de fraqueza, mas há
momentos em que temos de decidir o que é melhor para nós mesmos em primeiro
lugar, mesmo que isso signifique ser o pior para os outros.
- Foi o que eu lhe disse, mas tu sabes o
quão teimosa ela consegue ser… - ele sorriu com as próprias palavras e Anabela
também
- Ainda não é tarde demais, Ruben. Se
queres pôr termo a este casamento, o momento para o fazeres é agora.
- Eu sei. – para Ruben a questão nunca foi
o que iria fazer, mas sim como o faria, Anabela continuou
- Dentro de pouco tempo vais ser pai. A
partir de agora tanto as tuas decisões como as da Joana vão-se reflectir na
vida do vosso filho. É a pensar nele e no que é melhor para ele que vocês devem
traçar os vossos planos, independentemente dos caminhos que optarem por seguir.
Ruben sabia que a mãe tinha razão e passou
os momentos seguintes a tentar absorver as palavras sábias que ela lhe
proferira.
- Se o arrependimento mata-se… - disse
frustrado, ocorrendo a mão aos cabelos deixando-os num alvoroço desalinhado –
Eu não deveria ter deixado esta história chegar aos pontos em que chegou. Lá no
fundo eu sempre soube que este casamento não era o que eu queria, mas naquela
altura…
- Naquela altura tu sentias-te magoado. –
a sua mãe terminou por ele – As pessoas cometem erros e tomam decisões
desacertadas quando se sentem magoadas, mas isso não faz delas más pessoas.
- A mãe não acha que eu seja uma má
pessoa? – ele soltou um riso vazio de sentimento – É que neste momento eu estou
a sentir-me a pior pessoa do mundo por ter de fazer isto à Inês… Pelo o que já
fiz a Joana passar.
- Ruben, escuta o que eu te digo: Não é
tarde demais. Ainda não é tarde para repares esta situação, ainda vais a tempo
de a emendares. – disse-lhe, com profunda sinceridade – Tu já sabes o que
queres fazer, então faz. Se não queres tornar-te marido da Inês, e se é com a
Joana que queres construir uma casa, criar uma família, é exactamente isso que
vais fazer acontecer e o momento para isso é agora. Sabes que tens o meu apoio.
Eu vou estar sempre aqui para quando precisares de mim.
- Eu sei, mãe. Obrigado.
Não foi muito depois que terminaram a
conversa, prometendo voltarem a ver-se na manhã do dia seguinte, e mesmo antes
de desligar a chamada, Anabela não se pôde despedir sem antes deixar uma última
palavra de apoio e incentivo que sabia, no seu instinto mais puro de mãe, o seu
filho estar a precisar de ouvir, na intenção de impulsioná-lo a dar o passo
seguinte na sua vida.
Os momentos seguintes, agora a sós, foram
determinantes a uma reflexão interior que abalou qualquer réstia de dúvida ou
hesitação que poderia ainda existir no mais íntimo de si.
Foi então, a meio do seu processo de
introspecção, que passos leves, porém acelerados, foram escutados no corredor
do lado de fora do escritório, e os quais foram rapidamente denunciados pela
figura apressurada da pequena Sofia que disparou pela porta num rompante tal,
suficiente para sobressaltar a quietude do seu padrinho.
- O que é que se passa, Sofia?
- O David vem aí! Estamos a jogalhe às
escondidas, o David está a contar… Esconde-te! – ordenou ofegante, tentando não
se atropelar nas próprias palavras, e puxando-o consigo, com a ajuda da sua
pequena mão, para o fundo da secretária de maneira a não serem vistos
Foi um pequeno intervalo de segundos até
se dar conta, novamente, da abertura – desta vez lenta e cuidada –, da porta,
que consigo trouxe a voz manipuladora do jogo, de David.
- Sofia, eu sei que cê tá aqui… Eu vi você
correndo pra ‘qui… apareça, mulequinha. – ele disse, sussurrante e provocador,
tomando posse da sala em cada recanto que espreitava
- Como é que me viste vir pra ‘qui se
estavas a contar? Fizeste batota, Dê! – culpando a sua impulsividade, a pequena
saltou detrás da secretária, engraçadamente inquietada, acabando por se
denunciar a David numa acção impensada de quem não sabia melhor
- Ah-ah! Te peguei!
- DAVID! – com um grito estridente,
seguido por gargalhadas de ambas as partes, Sofia e David iniciaram a disputa
de uma corrida que os conduziu novamente para fora da sala, levando Ruben a
segui-los – ele sem qualquer pressa –, mais atrás
Quando chegou ao corredor principal, já
todos os jogadores haviam sido “salvos”, e concordando a uma última partida -
por insistência das crianças –, antes de darem a noite por encerrada e
recolherem aos quartos, foi a vez de Sofia se dirigir ao local de contagem para
que os adultos, numa questão de segundos, voltassem a dispersar pelas mais
diversas divisões da casa.
A sentir-se derrotada pelo instinto
competitivo de criança que a levava a detestar perder, Sofia subiu à cadeira de
apoio à mesinha do telefone no hall de entrada, e voltada
contra a parede com o pequeno braço flectido a tapar-lhe a linha de visão, em
voz alta deu início à contagem crescente, estipulada anteriormente por todos,
até 20.
- Não te vais esconder com o resto da
malta? – perguntou Ruben quando viu Joana, que ficara para trás da agitação,
subir calmamente o lance de escadas de acesso ao andar superior
- Não… Ia preparar-me para me deitar. – no
mesmo instante em que lhe respondeu, apercebeu-se de que aquela não era a
resposta que ele queria ouvir
- Fica mais um pouco. – pediu, meigo,
tentando pensar rapidamente numa razão para lhe dar que a levasse a ficar, mas
verdade era que não tinha, e o que não sabia, era que não precisava de uma
- Papi, não podes ficar aí… Tu e mad’inha
têm de se ir esconder, senão perdem. – interferiu, interrompendo a sua contagem
para fingir que não olhava, de olhos semicerrados e acima do ombro, os seus
segundos progenitores
- Alguém está a fazer batota (!) -
comentou Ruben em tom de brincadeira que fez despoletar risadas ariscas da sua
afilhada, e a fez voltar-se novamente para a parede – Tens de começar a contar,
ó espertalhona!
- Mas papi… - protestou contrariada, mas
desta vez sem cair no erro de voltar a espreitar
- Do zero! – acrescentou ainda, sabendo
que isso só iria mexer ainda mais com a (im)paciência dela – Vem comigo. –
voltou-se desta vez para Joana, estendendo-lhe a mão entre a distância que os
separava
Desta vez ela não hesitou. Não fez
perguntas, não perdeu tempo. Tempo, aliás, já tinha sido desperdiçado até
demais, entre eles. Limitou-se a entregar-lhe a mão, trémula pela ansiedade mas
segura na decisão tomada, e deixar-se ser guiada por ele – onde quer que a
levasse. Não foram muito longe, na verdade, a pequena porta da arrecadação
ficava mesmo debaixo da escadaria do hall principal e foi lá que improvisaram
um esconderijo – quase – perfeito.
Honestamente nenhum dos dois estava com
espírito para jogar às escondidas ou participar em qualquer outra atividade que
os rapazes pudessem ter-se lembrado de iniciar, para manter as crianças
entretidas e animadas até à hora de deitar. Ruben levara-os para ali unicamente
com o propósito de ficarem uma vez mais a sós – vezes essas que nunca chegariam
a ser suficientes –, e Joana, bem lá no fundo, sabia disso. E cedeu. Naquele
momento ela teve a certeza de que não havia nada que Ruben lhe pudesse pedir e
ela lhe diria que não. Seriam os olhos dele que a contemplavam de uma maneira
tão delirante, a meiguice das suas mãos que procuravam tocá-la a cada
oportunidade, ou os lábios encarnados que gritavam pela sua atenção?
Hormonas. A culpa é das hormonas.
O espaço era pequeno, minúsculo mesmo.
Assoberbado apenas de alguma mobília de quartos que deixara de ser usada para
ser substituída por outra mais recente, meia dúzia caixas de cartão seladas,
empilhadas e embaladas a “frágil”, de peças de cerâmica e loiças que
provavelmente nunca chegaram a servir, e nada mais cabia que não fossem eles os
dois. – Só mais um pretexto para ficarem grudados um ao outro. A ideia passou
pela cabeça de ambos quase que ao mesmo tempo e chegou a ser agradável, muito.
Até que…
- Cuidado. Estás bem? – Ruben
precipitou-se a segurá-la no instante preciso em que se apercebeu de que ela
tinha tropeçado em algo
- Eu estou bem. – assegurou, ainda a
tentar perceber o que a fizera tropeçar – Há qualquer coisa no chão…
- Queres que acenda a luz para ver o que
é? – ele depressa esticou o braço para alcançar o interruptor mas o tom de voz
de Joana fê-lo pensar duas vezes
- Queres que a tua afilhada nos encontre?
– perguntou na clarividência de uma brincadeira que ele porém não soube
acompanhar logo de início
- Hmm… Não? – disse, hesitante, enquanto a
olhava com curiosidade
- Então mantém a luz apagada. Eu estou
bem, não te preocupes.
- Sabes que isso é impossível. – o seu tom
de voz amoleceu, inevitavelmente
- O que é?
- Não me preocupar contigo. – Joana sorriu
ao ouvi-lo, um sorriso que tinha tanto de tímido quanto tinha de apaixonado…
era sempre tão bom sentir-se amada por ele, mesmo em pequenos e inocentes
gestos como aquele – Não quero que te magoes… Seja de que maneira for, e muito
menos agora.
- Muito menos agora que estou a carregar o
teu bebé. – foi apenas quando sentiu os olhos de Ruben incendiar a superfície
da sua pele, pela milionésima vez naquele dia, que se apercebeu da vastidão da
sua sentença – O que foi?
- Nada, é só que… - começou por confessar,
completamente maravilhado, os olhos a vibrarem de emoção e as palavras a
perderem-se no limite dos lábios – Não fazes ideia do quão bem sabe ouvir-te
dizer isso. O meu bebé… Nosso. Só nosso.
Joana não foi capaz de lhe resistir ao
sorriso. Tão orgulhoso, tão suave. Sem ser preciso ganhar qualquer coragem,
inclinou os calcanhares e em pontinhas dos pés segurou-lhe as faces entre as
mãos e beijou-lhe os lábios, calma e docemente. Oh, tão doce. Era sempre
essa a sensação que lhe lembrava dos beijos partilhados com ele e não estava
disposta a trocá-la por nada deste mundo.
Ruben tremeu a princípio pela surpresa
daquele gesto, inesperado mas sempre bem-vindo, e só no segundo a seguir ela o
sentiu corresponder.
- Só nosso. – acabou por garantir-lhe num
murmúrio ao voltar a selar o beijo que iniciara, as bocas ainda coladas, as
pontas dos narizes a roçarem levemente
- Joana, eu…
- Espera. – ela apressou-se a silenciá-lo,
os seus dedos delicados a cobrirem a boca que segundos antes tinha beijado – Eu
sei que temos de falar mas não agora, não aqui… Está bem? Vamos apenas ser nós,
tudo o resto deixa lá fora. Por um minuto. Vamos fingir, por um minuto, que tu
não estás com outra pessoa e que eu…
- Nós não temos de fingir nada. – referiu,
beijando-lhe a falange dos dedos dela que ainda cobriam os seus lábios – Basta
dizeres-me o que queres e eu sou inteira e completamente teu. Tu sabes disso. A
minha decisão está tomada e eu vou atrás de ti até onde for preciso.
Ela suspirou atemorizadamente e deixou
tombar a testa contra o seu peito robusto e tonificado. Apercebendo-se de que
não iria dizer mais nada, Ruben encostou a bochecha ao topo da cabeça dela,
abraçou-a e apertou-a forte contra si. Fazia meses que não a abraçava, que não
a tinha tão perto de si ao ponto de lhe conseguir distinguir o doce aroma do
seu champô, mas lembrava-se da sensação como se tivesse sido ontem.
- Porque é que a vida tem de ser tão
complicada? – Joana segredou num tom incrivelmente baixo e ao fim de algum
tempo, e mesmo sem conseguir perceber se estava a desabafar consigo mesma ou
não, ele respondeu
- Se fosse fácil, as pequenas vitórias que
vamos conquistando não teriam o mesmo sabor.
Ela então voltou a erguer o rosto para
olhá-lo, pensando cuidadosamente no que dizer antes de voltar a falar.
- E nós já conquistámos tantas vitórias ao
longo dos anos. – um pequeno e genuíno sorriso vernou uma nova luz de esperança
no seu rosto
Ruben concordou com um sorriso igual ao
dela, assentido duas breves e singulares vezes com a cabeça. A mão quente e pesada
ocorreu de imediato ao ventre que resguarda o serzinho que ambos haviam
concebido pelo fruto de um amor que continuava a ser alimentado e se recusava a
morrer, e foi então que Joana, com a sua mão que já tinha ido ao encontro da
dele, continuou.
- Apetece-me sair daqui… Fugir por uns
tempos, ir para outro lugar.
- Eu fujo contigo. – afirmou confiante,
nem um rasgo de incerteza a quebrar-lhe a voz, Joana por sua vez, olhou-o
divertida
- Tu não existes. – disse, deambulando a
cabeça para um lado e para o outro, como se o estivesse só agora a conhecer,
ainda com um sorriso a marca-lhe o fáceis a cada minuto mais relaxado, tal como
o seu coração
- Não quero existir sem ti a meu lado. Já
o fiz demasiadas vezes para saber que não vou suportar fazê-lo de novo.
- Porque é que dizes essas coisas, Ruben?
– inquiriu, agora deixando a seriedade tomar novamente conta do diálogo, que
era partilhado somente em sussurros – Deixas-me sem reação.
- Desculpa. Mas é que… - na sua procura
pelas palavras certas, a mão que até então pousava no anteparo do seu filho,
voou até à franja que cobria os olhos de Joana, e a prenderam carinhosamente
atrás da orelha – Eu passei estes últimos meses a tentar convencer-me que sabia
o que era o melhor para mim quando na verdade nunca estive tão longe disso. E
agora que voltei a ver tudo com mais clareza, agora que sei o que realmente
importa, o que me faz realmente feliz… Eu não vou voltar a abdicar disso.
- Sentes mesmo aquilo que estás a dizer,
ou só estás a dizer isso…
- Joana… - ele prendeu-lhe o queixo entre
o indicador e o polegar, confiante de que melhor do que as palavras, os seus
olhos não o deixariam mentir – Quando eu digo que fugiria contigo para qualquer
parte do mundo, é porque o faria. Nunca falei tão a sério.
Antes que desse mais tempo de voltarem a
dizer o que quer que fosse, a maçaneta da porta rodou inesperadamente, fazendo
Joana afastar-se de Ruben e esconder as lágrimas que se queriam precipitar no
meio daquilo tudo.
- Encontrei-os!!! Eles estão aqui, eles
estão aqui! – gritou Sofia, voltando a correr desalmadamente na direção oposta,
e dar o final ao jogo
***
“Um dia, quando andavam num passeio
matinal pelo lago, os cisnezinhos e a sua mãe encontraram-se com a Dona Pata e
os seus quatro filhos.
‘- Veja mãe, é o patinho feio!’, disse um
patinho.
A Dona Pata aproximou-se e falou com a Mãe
Cisne: ‘Bom dia! Os seus filhos são uns amores!’
‘Agora ela já me acha bonito. Como é bom
termos a nossa própria família’, pensou o ex-patinho feio.”
- Vitória, vitória…
- …Acabou-se a história! – terminaram
Sofia e Victória num coro perfeito e com um sorriso sonolento nos lábios, já
quase quase a adormecerem
Joana acabara por ir deitá-las naquela
noite, mas não abandonou o quarto sem antes lhes ler a história do Patinho
Feio, um livro que acompanhava Sofia religiosamente para qualquer lado, e
apesar de esta já conhecer o seu desfecho pelas dezenas de vezes que o tinha
ouvido, o seu deslumbramento fazia querer que da primeira vez se tratava.
- Boa noite, meninas. – voltando a pousar
o livro sob a mesinha de cabeceira, Joana levantou-se do beiral da cama que
ambas as meninas partilhavam e aconchegando-lhes as cobertas, despoletou um
beijo delicado na testa de cada uma
- Boa noite, mad’inha.
- Boa noite, Joana.
- Durmam bem. – silenciosamente apagou a
luz e fechou a porta, já pronta a rumar ao seu quarto e entregar-se finalmente
ao descanso
- SURPRESA! – uma parafernália de vozes e
um misto de sotaques fizeram-na sobressaltar trepidamente aquando da sua
entrada no quarto que naquela semana viera a pertencer ao grupo de meninas, e
que julgara, pelo silêncio da noite, estar vazio
Foi uma surpresa, de facto, ao
aperceber-se que os rapazes a esperavam com um bolo nas mãos, onde só foi
possível para Joana conseguir discernir cada uma das suas feições pela luz
emitida pelas velas e a qual iluminava apenas uma quarta parte do quarto,
deixando os restantes recantos serem adormecidos pela escuridão.
- “Parabéns, a você…” – foi quando todos
começaram a cantar que ela caiu em si, não evitando emocionar-se pelo gesto tão
inesperado e ao mesmo tempo tão especial dos seus queridos amigos
- Vem apagar as velas, Jô. – advertiu
David, que segurava o bolo, e a fez descolar os pés do chão, que até à altura
ainda não tinham saído junto da porta e a incentivou a ir ao seu encontro e
apagar cada uma das vinte e uma velas
- ¡Feliz cumpleaños, chica! – desejou o
sorridente, Javi, procurando abraçá-la
- Nem acredito que vocês se lembraram…
Obrigada! – ela disse a todos, grata do fundo do coração e com as lágrimas na
linha de água dos seus olhos, procurando conforto nos braços de Javi que ainda
a rodeavam carinhosamente
- Como já passa da meia-noite,
tecnicamente já é dia 22, então… - falou Mauro, que começara então a partir a
primeira fatia do bolo destinada à aniversariante
- Vocês são fantásticos.
- Nós sabemos, nós sabemos. – concordou
Nuno Gomes, o sempre-bem-disposto do grupo, que já se deliciava com a sua
porção do bolo
- E quem foi que fez o bolo? Tem um aspeto
delicioso. – comentou, enquanto observava a fatia que tinha nas mãos porém não
teve apetite para provar
- E sabe melhor ainda! – garantiu Luisão,
degustando a sua obra-prima – Brenda me deixou a receita de brigadeiro.
- Ei, não foste só tu que o fizeste! Eu
também ajudei.
- Claro que tu ajudou, Mauro… Tu ajudou a
fazer bagunça. – ripostou rapidamente e os dois entraram então numa picardia
saudável, suficiente para arrancar leves gargalhadas a Joana
- Vinte e um aninhos… Ai se eu me
apanhasse com essa idade… - voltou a falar Nuno, caminhando na direção dela
para lhe contornar os ombros com o braço direito e puxá-la para si
- O que é que fazias com esta idade? –
Joana olhou-o tão curiosa como divertida
- Voltava a fazer tudo o que fiz… Mas com
mais juízo! Muito mais! – ela voltou a rir, sentindo a sua aura ficar mais leve
e grata por este grupo de pessoas fantásticas que teve a felicidade de ver
fazer parte da sua vida
- Tenho uma coisa para te dizer. – pouco
depois, e fazendo-os afastarem-se para outro canto do quarto discretamente,
Mauro levou Joana pela mão depois de lhe ter falado ao ouvido
- Passasse alguma coisa? – perguntou-lhe,
ligeiramente alarmada uma vez que a linguagem corporal de Mauro não dava muito
a revelar
- Não, não te preocupes, estou só a fazer
o meu papel de pombo-correio. – assegurou com um sorriso torcido nos lábios,
que parecia ser genético nos homens daquela família, e que só serviu para
deixar Joana ainda mais confusa
- O Ruben… Ele já se foi deitar? – indagou
logo que esse pensamento voltou a surgir, visivelmente tristonha pela a
ausência de Ruben da qual dera conta logo quando entrara no quarto e não o vira
entre os rapazes
- Ele pediu-me para te dizer para ires lá
abaixo assim que todos se deitem.
- O Ruben pediu-te para me dizeres isso? –
a sua sobrancelha formou um arco perfeito, e Mauro asseverou com um breve
acenar da cabeça – E sabes qual é o motivo?
- Isso já vais ter que ser tu a descobrir…
- Mais surpresas?
- A vida é feita de surpresas… - citou
calmamente, como se detivesse em si toda a sabedoria do mundo, e voltou a
aproximar-se ao rosto dela para lhe falar secretamente – E acho que o meu irmão
só te preparou mais uma.
A espera para que todos se deitassem
adivinhou-se mais morosa do que Joana quis admitir, mas logo que todos
regressaram ao pousio e guarida dos seus quartos, ela pôde finalmente encalçar
o percurso que secretamente lhe tinha sido solicitado a seguir.
Consigo levou apenas um agasalho que
acabou por vestir pelo caminho e ainda sem saber ao certo onde a sua breve
caminhada a iria levar, encruzou pelo corredor pé-ante-pé de maneira a não
perturbar a paz de quem já se havia entregue ao descanso, nem de ser vista
naquela escapadela matutina.
Foi uma voz inconfundível que acabou por
levá-la ao seu destino. O coração de Joana apressava a sua batida a cada degrau
da escadaria principal de que se soltava, mas foi quando escutou o acorde
robustecido que inundava todo o rés-do-chão, que ela quase pôde jurar senti-lo
parar de bater. Cruzou pelas salas de estar e de jantar que permaneciam
inativas, espreitou ainda a cozinha assim como a copa dos fundos que levava ao
pátio das traseiras, porém o som não vinha de lá. Restava então apenas uma divisão,
e foi para lá que se dirigiu, agora quase sem conseguir suportar as próprias
pernas pela força que se sumia e a ansiedade que lhe entorpecia o peito. E foi
quando o viu. Hirto e imóvel junto à ampla janela do escritório a olhar o
jardim, escurecido pelo crepúsculo.
Por alguns segundos não disse nada, e
ainda sem trespassar a porta que permanecia meramente encostada, manteve a sua
presença oculta e deixou-se ficar a olhá-lo. Sentia-o relaxado, a tensão dos
ombros parecia-lhe ter desaparecido pela primeira vez que o vira desde que
chegara àquela casa e os músculos das costas que até então notara oprimidos,
haviam exalado, o que fazia com que a camisa axadrezada que trazia vestida
quase rasgasse somente pela forma tonificada do tronco e sem ter que fazer qualquer
movimento. Foi quando a música terminou que o viu finalmente mover-se. Esticou
o braço esquerdo de encontro ao muito antigo gira-discos, que
ela sabia fazer parte da herança da sua avó materna, e o qual permanecia mesmo
ao seu lado, e viu-o colocar a agulha na borda externa do disco de vinil,
fazendo-o voltar à primeira faixa musical.
Foi o perfume de Joana que a entregou.
Ruben tinha-lhe memorizado o doce aroma, e a sensação também de estar a ser
observado, deu-lhe a certeza que não estava mais sozinho, quando por cima do
ombro a olhou e a discerniu a perscrutar à soleira da porta. Ele rodou o corpo
calmamente até estar alinhado com o dela e olhou-a também. O seu rosto
atraente, o olhar quente e um sorriso carinhoso que a incentivavam a entrar na
sala.
“Some day when I’m awfully low
When the world is cold,
I will feel a glow just thinking of you
And the way you look tonight -
- Lembraste desta música? – ele perguntou,
embebido pela figura dela, e aumentou um pouco o volume quando a viu entrar e
permanecer colada à porta que tinha fechado, com as mãos atrás das costas,
fitando-o com curiosidade e admiração
E oh, como se lembrava. Como podia alguma
vez esquecer? Aquela era a música deles. Soa até cliché, não é?
Clássico. Um casal “ter” uma música com a qual se identifique, uma letra e um
ritmo que defina a relação. Ouvirem-na uma vez apenas, ou demasiadas até, e
subjugá-la a um tempo, a um lugar; atribuir-lhe um significado, sim, por sempre
há um significado. E para Joana e Ruben não era diferente, eles que até
gostavam de clichés.
- A nossa música. – ela respondeu baixinho
e sem medo de soar, por um instante, ridícula
Continuando a olhá-lo, como se fazê-lo
pudesse revelar-lhe o que os seus olhos tinham escrito sobre si, a penetrante
balada daquela canção fê-la inevitavelmente recuar alguns anos atrás e reviver
em memória um capítulo da sua história partilhada com Ruben.
*****
-
Eu vou buscar mais uma cerveja, queres que te traga alguma coisa? –
inquiriu-lhe o seu amigo e par de baile, Vasco, praticamente a berrar-lhe ao
ouvido pela música que martelava fortemente em toda a amplitude do recinto
-
Não, obrigada, ainda não acabei a minha bebida. – Joana disse mostrando-lhe o
copo do seu segundo mojito que bebida com o auxílio de duas palhinhas, para
depois ficar a vê-lo afastar-se em direção ao bar
Era
o seu último ano do secundário e aquela era a noite destinada ao baile de final
de ano, que tinha vindo a ser comemorado nas últimas horas por alunos finalistas
e respetivos acompanhantes.
Depois
de abandonarem o restaurante, a continuação da festa teve lugar numa discoteca
popular entre a comunidade estudante e conheceria lá o seu encerramento. E era
onde Joana estava, rodeada por amigos e colegas próximos. Ainda sóbria, ainda
ostentada pelos saltos altos que iria definitivamente atirar para um canto da
sala se continuasse a dançar com a mesma energia.
-
Joaninha, Joaninha… - mesmo atrás de si conseguiu ouvir a voz já embriagada da
sua amiga Carolina, que se apressou a abraçá-la de maneira a manter o
equilíbrio
-
Alguém se está a divertir muito esta noite. – ela respondeu meio ironicamente e
com uma gargalhada pelo meio, abraçando a amiga de volta, sustendo-lhe quase
todo o peso no seu corpo
-
Esta noite é para curtir! – afirmou no seu jeito bravejado de ser e prolongando
deliberadamente cada palavra, soltando um grito eufórico no final – A nós! – no
ar ergueu o copo para brindar e fazê-lo tilintar com o de Joana
-
A nós. – brindou também com um pequeno gole que deu na sua bebida, para vê-la
esvaziar o copo em meia dúzia de sorvos dados num só lance – Vai com mais
calma.
Apesar
de ainda a ter aconselhado, o inevitável acabaria por acontecer. Não demorou
quase nada até ao comportamento de Carolina se alterar severamente e na mudança
de um segundo perder a vivacidade e a adrenalina exalar-lhe para fora do corpo.
-
O que é que se passa, Carolina? – perguntou-lhe quando se apercebeu da
alteração do temperamento e lhe desvendou um aspeto nauseado do rosto
-
Acho que não me estou a sentir muito bem.
-
Estás maldisposta? Queres vomitar? – ela somente foi capaz de abanar a cabeça
em modo negativo – Anda, vamos passar a cara por água e ver se encontramos por
aí algum sofá para descansares um pouco.
Quando
enveredaram pela casa de banho e mesmo antes de chegarem à zona dos lavabos, já
Carolina estava a correr para uma das divisória e a debruçar-se sobre a sanita.
Joana prendeu-lhe o cabelo e esperou que ela aliviasse o estômago.
Cinco
minutos foi o tempo que levou para se recompor, e já com a cara esfriada,
voltaram a sair quando uma nova fila de raparigas se começava a formar à porta.
-
Joana! – uma vez mais uma voz atrás de si voltou a chamar pela sua atenção, e
esta era sem dúvida uma voz diferente
-
Ruben, o que é que estás aqui a fazer? – ela voltou-se na direção dele, ainda
carregando a amiga nos braços, reparando que ele tinha ficado no corredor à sua
espera
-
Eu vim buscar-te, não foi isso que combinámos? – o misto de surpresa e desapego
na voz dela enfureceram-no ainda mais do que o que já estava – Vim agora da
casa dos teus avós, eles estão à tua espera.
Foi
exatamente aquele o combinado. Ruben ficou de a ir buscar à discoteca, não
demasiado cedo para que conseguisse aproveitar bem da festa, porém também não
muito tarde. Aquele era também o dia em que os seus avós comemoravam as bodas
de ouro, e como cinquenta anos de casamento requerem uma comemoração especial,
a família e os amigos mais próximos à família, como era o caso de Ruben e dos
seus pais, tinham sido convidados a uma pequena celebração na vivenda. Naquela
altura Ruben e Joana namoravam apenas há alguns meses e manter o secretismo da
relação era absolutamente necessário, o que se tornava complicado quando as
famílias eram próximas… Por um lado, oportunidades para se verem e motivos para
estarem juntos tinham que sobrava, mas nem sempre era fácil conseguirem
suprimir a vontade de partilhar a felicidade que sentiam com os que lhes eram
mais chegados, não quando estavam a viver uma fase tão especial no
relacionamento e como consequente se sentiam tão apaixonados um pelo outro.
-
Eu não posso deixá-la aqui neste estado. – evidenciou, olhando a amiga que
ainda segurava junto a si e que agora quase dormia em pé
-
Podemos deixá-la em casa. – ele sugeriu, querendo apenas e somente sair daquela
maldita discoteca
Pegando-lhe
no outro braço de maneira a apoiar, Ruben ajudou-a a levar a amiga até ao carro
onde a acabaram por deitar nos bancos de trás. A meio da viagem, e porque no
interior do carro embargava uma atmosfera silenciosa – estranhamente silenciosa
–, conseguiram-lhe distinguir a respiração que então se enaltecera e se tornara
mais pesada, anunciando a sua entrada num sono profundo.
-
Correu tudo bem? – acabou por perguntar, quebrando o silêncio pela primeira vez
-
Relativamente ao baile? – consentiu, sem nunca desviar os olhos da estrada –
Sim, foi divertido. Deu para nos abstrairmos da tensão dos exames.
A
resposta dela fê-lo sorrir pateticamente, um sorriso tão vazio que não lhe
alcançou o olhar.
-
Imagino. – praguejou num tom superficial que felizmente passou despercebido a
Joana, no entanto tornou-se impossível deixar de reparar no quão distante ele
parecia estar; na frieza e futilidade da sua voz
A
conversa morreu ali, mesmo antes até de começar. Depois de fazerem um breve
desvio para deixar Carolina em casa sã e salva, seguiram sem mais demoras para
a vivenda dos Freitas de Andrade.
‘Inconfortável’
era o adjetivo mais apropriado que ela encontrou para descrever a viagem de
carro. A postura de Ruben permanecia rígida, obstinada, mesmo enquanto guiava
apenas com uma mão a segurar o volante e a outra pousada sob joelho; o pé
pesado perigosamente sobre o acelerador.
Joana
conseguia discernir-lhe a tensão da mandíbula apertada de cada vez que se
atrevia a olhar-lhe o rosto de soslaio, embora esse olhar nunca chegasse a ser
recíproco. Aquele comportamento, ela pensou, não era típico dele que sempre
falava o que lhe ia no pensamento quando algo parecia estar errado. E ali algo
estava, definitivamente, errado. Joana não quis tirar conclusões precipitadas,
mas a verdade é que o conhecia muito bem, demasiado até. Afinal de contas ele
fora seu amigo durante anos devido à cumplicidade de ambas as famílias e agora
era o seu namorado… Um namorado atencioso que não se coibia de conversar com
ela em qualquer momento, fosse através de uma simples mensagem a meio da manhã,
ou de um telefonema a horas avançadas da noite; que a mimava em qualquer
oportunidade e ocasião. E esse não era o Ruben que estava ali com ela, não era
o seu Ruben, e o silêncio que subsistia naquele carro começava seriamente a
incomodá-la. Ele parecia recusar-se a proferir mais uma palavra que fosse e
muito menos olhar para ela ou mesmo tocá-la, e até o rádio permanecia desligado
como que propositadamente, o que fazia a tensão cada vez mais tangível e o ar
mais irrespirável.
-
Amor, vai mais devagar. O sinal está vermelho. – ela alertou-o na aproximação a
um semáforo
Como
se o fizesse só para contrariá-la e enfurecê-la, Ruben pisou mais afundo no
acelerador.
-
Ruben! – gritou com ele, o que fez com travasse abruptamente e mesmo em cima da
intersecção
Enquanto
esperavam que o sinal se tingisse de verde, Joana teve tempo para se recompor e
pensar no que lhe iria dizer a seguir.
-
Assim que possas encosta o carro e deixa-me sair. Eu apanho um autocarro ou
chamo um táxi para me levar a casa dos meus avós. – apesar daquele pedido o ter
surpreendido, preferiu continuar a ignorá-la, a dar-lhe o tratamento do
silêncio e limitar-se a conduzir – Não ouviste o que disse? Eu quero sair!
-
Não sejas ridícula, não vais apanhar autocarro nenhum e muito menos chamar um
táxi.
-
Agora deste para mandar em mim? Se pensas que eu vou continuar dentro deste
carro enquanto estiveres dessa maneira louca a conduzir, enganas-te. – ela
advertiu, começando a ficar irritada com o comportamento dele
-
Eu sei o que estou a fazer. – disse simplesmente e sem alterar o tom
enervantemente calmo da sua voz
-
Sim, claramente. – Joana deambulou meros segundos após, enquanto olhava pela
janela – Eu quero sair. – ela voltou a pedir e mais uma vez ele voltou a
ignorar – Se não parares o carro agora, eu juro que abro a porta e salto.
-
Quem está a ser louca agora? – julgando que falava apenas da boca para fora,
Ruben desviou por um pouco a sua atenção da estrada para concentrar-se nela e
somente os dois segundos que a olhou nos olhos foram suficientes para se
aperceber que, se testasse os seus limites, Joana cumpriria a promessa
Sem
querer arriscar mais, e logo que teve oportunidade, encostou o carro à berma da
estrada, na entrada de um campo de terra batida. Ela foi a primeira a sair da
viatura e fechar a porta com força sem sequer voltar a olhá-lo, abriu a sua
mala e começou a procurar pelo telemóvel para marcar o número de um taxista…
Inútil digamos assim, porque Joana não fazia a minimia ideia de onde estava,
Ruben tinha parado o carro literalmente no meio do nada, longe das casas e da
civilização e olhando-se tanto para um lado como para o outro, a única coisa
que se via era a estrada.
-
O que é que se passa contigo hoje? Endoudeceste, foi? – apercebendo-se de que
também ele tinha saído do carro para caminhar na sua direção, voltou a arrumar
o telemóvel e voltou-se para ele, à procura de respostas
-
Desculpa, é que… - foi-se aproximando dela apologeticamente e claramente mais
calmo, mas ela não estava disposta a ceder-lhe tão facilmente, não depois da
maneira que tinha vindo a comportar-se desde que a foi buscar à discoteca
-
É que, o quê, Ruben? Eu não te estou a reconhecer… Foi alguma coisa que eu
disse? Alguma coisa que eu fiz? Fala comigo.
-
Se eu disser vais achar que é estúpido…
-
Não vou voltar a falar contigo se não me disseres.
-
Joana… - ele tentou tocar-lhe o rosto, mas a mão dela travou a sua antes de o
conseguir fazer
-
É por causa do baile, não é? Diz-me a verdade.
-
Sim é por causa do baile. – acabou por confessar, acabando por achar a ideia
ridícula agora que pronunciada em voz alta, mas não conseguiu deixar de se
sentir mal sobre o assunto apesar de tudo – Porque é que não quiseste que eu te
acompanhasse? Porque é que preferiste ir com o Vasco em vez de me levares a
mim, o teu namorado?
-
Estás a falar a sério? – mesmo sem vontade ela gargalhou por achá-lo demente,
mas quando reparou que a solidez da sua expressão não se tinha alterado,
apercebeu-se de que estava, de facto, a falar muito a sério – Tu sabes
perfeitamente porquê.
-
Tudo bem, eu sei. Mas isso não explica o facto de dançares agarrada a ele… Os
sorrisinhos, as piadinhas ao ouvido…
-
Desculpa? Do que é que estás a fal… Exatamente quanto tempo estiveste na
discoteca antes de ires ter comigo?! – a este ponto Joana estava furiosa
-
Tempo suficiente para tirar conclusões do que vi.
-
Sabes uma coisa? Eu nem consigo olhar para ti agora. – isto dito ela deu meia
volta aos calcanhares, decidindo intimamente fazer o resto do caminho a pé
-
Não vires as costas, nós estamos a ter uma conversa. – Ruben apressou-se a
puxá-la pelo braço, tomando o cuidado de não a magoar
-
Eu não vou ficar aqui a ouvir o meu namorado a insinuar que o ando a trair.
-
Não foi nada disso que eu disse.
-
Eu sei que não disseste, mas insinuaste.
Ruben
fechou os olhos e apertou a cana do nariz entre o indicador e o polegar, à
procura das palavras certas que não o levassem a ser mal-interpretado
novamente.
-
Eu quando vos vi a dançar juntos…
-
O Vasco é meu amigo. – Joana contestou rapidamente – Ele é meu amigo e era o
meu par, era natural que dançássemos juntos no baile, e isso não te dá o
direito-
-
O que eu quis dizer, o que eu quero dizer é que no fundo eu compreendo. - ele
repetiu quando sobrepôs a sua voz à dela – Por mais furioso, por mais ciumento
que tenha ficado quando vos vi juntos, a verdade é que lá no fundo eu
compreendo.
-
Eu é que não compreendo onde queres chegar, sinceramente. – os seus braços
perturbantes escudaram o seu peito
-
Se quiseres estar com ele, eu compreendo.
O
minuto seguinte foi partilhado no silêncio que a ambos, chegou a parecer uma
eternidade. Os seus olhos começaram a luzir pelas lágrimas que os inundaram por
finalmente perceber onde Ruben queria chegar, e só uma força quase desumana a
impediu de chorar na frente dele.
-
Ruben, pára. – pediu sofregamente, o queixo a deixar-se tremer
-
Eu compreendo se quiseres estar com alguém mais novo, alguém da tua idade que
possas apresentar aos teus amigos e à tua família como teu namorado. Não quero
que tenhas de te esconder porque estás com alguém como eu… Eu trago bagagem
comigo, e o facto de sermos quem somos, de eu fazer o que faço… Sabe-se lá
quanto tempo mais temos de continuar a esconder a nossa relação de todos? – fez
uma breve pausa e respirou fundo a uma questão para a qual nenhum dos dois
tinha resposta – Joana, eu não te quero prender e se o melhor para ti é
encontrares outra pessoa…
-
Já chega? Já acabaste? – ela engoliu uma por uma cada lágrima que não chegou a
desenhar-lhe os contornos do rosto
-
Tenta perceber.
-
Perceber o quê? O que há para perceber, Ruben? Só se for o facto de tu não
quereres estar mais comigo.
-
Não é nada disso. – ele falou compreensivamente, puxando-a para si pelos dois
braços – Mas quando te vi com o Vasco, eu olhei para ti e vi que estavas feliz,
estavas livre… E eu quero que te sintas assim numa relação, não quero que
tenhas de te esconder porque optaste por namorar um futebolista.
-
Tu falas como se apaixonar-me por ti tivesse sido uma escolha. Eu não pedi por
nada disto, Ruben. Eu não te aconteci.
-
Desculpa, não foi isso que eu quis dizer.
Ela
voltou a afastar-se, a tomar conta da distância que entre eles e agora, parecia
estar cada vez maior, procurar uma zona de conforto que a deixasse pensar com
clareza.
-
Então estás a acabar comigo, é isso? – perguntou, quando teve coragem de voltar
a olhá-lo
-
Eu? Joana, eu não era capaz de terminar uma relação contigo por nada deste
mundo. Estou a dizer-te isto porque acho melhor seres tu a fazê-lo.
-
É mesmo isso que queres?
-
Eu só quero o melhor para ti, eu amo-te. – Ruben declarou-se de um jeito tão
simples e natural que a apanhou completamente de surpresa
-
Tu amas-me? – o coração batia-lhe rápido, apanhado na espectativa
Desse
para acreditar ou não, aquela era a primeira vez que a palavra amor era
suscitada na relação, e não poderia ter vindo numa hora tão sátira.
-
Amo. Amo-te muito. – com um sorriso fácil no rosto, ele voltou a aproximar-se e
Joana deixou-o finalmente tocar-lhe… as mãos a segurarem-lhe o rosto, as testas
coladas – Amo-te tanto.
Foi
impossível continuar a segurar as emoções e ele deixou que fosse ela a
beijá-lo. A liderar cada movimento. Primeiro muito timidamente como se lhe
pedindo permissão para continuar a fazê-lo, mas Ruben não queria que ela
parasse, e depois do que aconteceu, do que estava a acontecer, não iria deixar
que tal coisa acontecesse. Nunca mais.
-
Eu não vou acabar contigo. És tu quem me faz feliz. Termos que nos esconder é
só um pormenor, e além de que também é temporário. – proferiu ao quebrar o
beijo mas sem separar bocas, procurando tranquilizá-lo
-
Eu sei, tens razão. – o lábio inferior dela foi arrepanhado pelos seus
-
Deixa-me ser eu a decidir o que é melhor para mim, pode ser? – perguntou, na
falta de uma resposta demorada – Pode ser?
-
Pode. – Ruben acabou por consentir, e rematou com mais um beijo que se
prolongou demoradamente
-
Acho que te estou a dever uma dança. – Joana comentou, ao fim de algum tempo
que tinham passado abraçados, querendo-o compensar por toda a situação do baile
-
Achas que posso cobrar essa dança agora? – as suas sobrancelhas vibraram com
diversão, apanhando-a desprevenida
-
Agora? Ru, nós estamos à beira da estrada, no meio do nada.
-
Ótimo, desta maneira ninguém pode fazer troça do meu pé de chumbo… A não seres
tu, claro. – ela gargalhou… Ruben, surpreendentemente, sabia dançar e tinha um
bom ritmo, só que às vezes era demasiado exigente consigo mesmo – Vamos dançar
a primeira música que estiver a passar na rádio, pode ser?
Joana
encolheu os ombros, deixando-se convencer por ele.
-
Podemos tentar. – e era só isso que ele precisa ouvir
Voltou
ao carro para ligar a rádio e baixar os vidros das janelas. Sintonizou na
primeira estação previamente programada, e aumentou rapidamente o volume para
que a música conseguisse ser-se escutada a um perímetro de distância
considerável.
“The Way You
Look Tonight” de Sinatra e composto por Bennett, fez-se soar nas colunas e
imediatamente os olhos de Joana encheram-se de lágrimas quando Ruben lhe pegou
na mão e a puxou para si.
-
Eu adoro esta música. – ela confessou não mais alto que um sussurro, que fez o
coração dele encher-se ainda mais de amor por aquela mulher
Enlaçados,
os dois corpos começaram a deambular de um lado para o outro, encontrando um
ritmo que rapidamente os satisfez e os afastou de qualquer pressa.
-
Acho que o nosso namoro passou à próxima fase. – Joana trauteava a música que
já era tão familiar na sua cabeça, quando o ouviu falar
-
Ai sim? Então porquê? – perguntou-lhe, quando desafundou a cabeça do seu peito
pra olhá-lo
-
Acabou de sobreviver à primeira discussão.
-
Mas nós já discutimos mais vezes…
-
Esta foi a primeira discussão a sério.
-
Sim, foi tão a sério que quase me fizeste acabar contigo. – ela relembrou, um
beicinho a começar a formar-se nos lábios que Ruben não resistiu em voltar a
beijar
-
E tu querias saltar do carro se eu não parasse. – os dois não resistiram em rir
levemente relembrando o momento – Mas olha para nós, a ficar tão crescidos, tão
maduros…
E
estavam de facto, e com o tempo iriam ficar mais ainda… só ainda não sabiam o
quão alto era o preço que iriam pagar. Ao fim de algum tempo ele voltou a
falar, o que fez com que parassem abruptamente o ritmo, e se fixassem um no
outro.
-
Ainda não te disse, mas… Estás tão linda, esse vestido é… Não consigo tirar os
olhos de ti.
À
falta de palavras, os atos falaram mais alto e como tal não perderam tempo em
afundarem-se numa nova troca de beijos, enquanto a música continuava a servir como
pano de fundo, a ambientar dois corações que conheciam o seu lugar.
“Yes
your lovely, with your smile so warm
And
your cheeks so soft,
There
is nothing for me but to love you,
And
the way you look tonight, -
***
- With each word your tenderness grows,
Tearing my fear apart,
And that laugh that wrinkles your nose,
It touches my foolish heart.
Lovely… Never, ever change.
Keep that breathless charm.
Won’t you please arrange it?
‘Cause I love you… Just the way you look
tonight.”
- Acho que te estou a dever uma dança. –
declarou com um sorriso cativante no rosto, quando a vê finalmente tomar pose
da sala
Ruben deu dois passos na direção dela e
tomou-lhe conta da cintura, inclinando-se até às testas ficarem a ínfimas
polegadas uma da outra. Assim de tão perto – ela conseguiu ver –, a cor dos
olhos dele eram de um castanho avelã quase impossível, e o cheiro do seu
perfume quase que a fazia levitar.
- Não era preciso teres tido este trabalho
todo. – advertiu ao reparar pela primeira vez, e agora com mais atenção, a
parafernália de velas que tinham sido distribuídas por todas as superfícies do
escritório
- Não foi trabalho nenhum, Quis
preparar-te algo especial.
O seu coração acelerou com aquele gesto.
Ruben afastou-se apenas para colocar a música, que então tinha terminado, desde
o princípio, e voltou para junto dela.
- Está perfeito.
Voltou a segurá-la contra si, desta vez
com mais firmeza, a sua palma direita a escorregar-lhe pela linha da coluna até
encontrar pousio no fundo das costas, e a outra mão a encaixar-se na dela.
Casa.
Era assim que se sentia nos braços dele. Aquela sensação inexplicável de
conforto; aquele refolgo de podermos ser nós mesmos.
Por um momento eles olhavam-se
simplesmente, as palavras eram escusadas enquanto com os pés desenhavam
círculos lentos no soalho de madeira e a garganta de Joana se constrangia com
uma emoção… com uma amor… e com aquela vontade quase absurda de chorar, porque
a verdade é já lhe tinha visto aquele olhar antes, e nessa altura, eles
dançavam também.
Malditas hormonas.
- Posso perguntar-te uma coisa? – ciciou
brevemente, a face perfeitamente grudada no peito dele
Ela está vagamente ciente da música ainda
toca, ainda assoberbada pelo romantismo daquele cenário, pelo amor que Ruben
exalava.
- Claro que podes.
- Mas eu preciso que sejas sincero comigo.
– ele abranda o ritmo, já por si só lento e fazendo-os quase parar no lugar,
pronto a escutá-la
- Conversas sérias a esta hora? – ele
libertou um sorriso, próspero a libertar também a tensão que poderia culminar a
qualquer momento
- Por favor… Eu preciso de saber. – o seu
tom de voz alertou-o para a seriedade do assunto, e quebrando o contacto com
ele, caminhou até ao gira-discos para baixar levemente o volume e voltar então
a encará-lo, indo directa ao assunto– Se eu não estivesse à espera de
um filho teu, tu continuarias a querer separar-te da Inês?
Surpreendentemente a expressividade de
Ruben manteve-se impávida e serena, como que se de alguma maneira ele já
esperasse ser confrontado com aquela pergunta. Joana continuou, mesmo sem lhe
dar tempo para estruturar uma explicação.
- É porque se a resposta for um não ou um
talvez, então isto – ela apontou entre os dois – Não está a acontecer pelos
motivos certos.
- Porque é que te dás ao trabalho de fazer
a pergunta se acabas por ser tu a respondê-la?
Os seus lábios rasgaram-se de
constrangimento pela sua, por vezes imperativa, maneira de ser.
- Desculpa.
- Não tens de pedir desculpa, aliás, estás
no teu direito de ter esse tipo de dúvidas… Eu, se estivesse no teu lugar,
provavelmente interrogar-me-ia também. E Joana, se isso acontece é porque eu
falhei, eu falhei-te e a culpa é inteiramente minha.
- Porque é que dizes isso?
- Digo isto porque se eu tivesse continuado
a dar-te provas suficientes, motivos irrefutáveis; se eu nunca tivesse parado
de te dizer que és e continuarás a ser a mulher da minha vida, a única para
mim, tu não terias de duvidar do meu amor por ti porque eu estaria sempre a
lembrar-te dele. – Ruben sabia que tinha cativado a total atenção de Joana, e
com tal ela não o iria interromper – E eu sei que fui eu a deixar-te, que não
acreditei em ti quando me dizias a verdade, por casmurrice e estupidez, claro,
mas o erro não deixa de ser meu. E infelizmente eu lidei com esse erro causando
outro ainda maior: voltar para a Inês. – ele estava a abrir-lhe o coração e ela
sabia disso, sabia ler-lhe a transparência na voz – E foi quando te voltei a
ver, no dia em que voltaste de férias e fui a tua casa, que me apercebi que
tinha cometido o maior erro da minha vida.
Dizendo isto, Ruben caminhou para trás da
secretária para tomar posição na enorme cadeira, enquanto Joana permaneceu no
outro lado, apoiada ao móvel do antigo gira-discos, perpendicular à janela.
- Não foi só para te pedir desculpa que te
procurei, como disse naquele bilhete… Procurei-te também para aliviar a minha
consciência, para me certificar com os meus próprios olhos que tinha conseguido
esquecer-te, que tinha conseguido ultrapassar a nossa relação, tudo aquilo que
tínhamos vivido, e então poderia seguir com a minha vida em paz, ao lado de
outra pessoa e ver que o meu erro poderia até nem ser tão trágico, mas estava
tão enganado. No instante em que me abriste a porta eu esqueci-me completamente
do porquê de estar ali. Tudo o que conseguia pensar era nas mil e uma maneiras
de te pedir perdão e pedir-te que me aceitasses de volta – ele pausou por um
instante e o seu olhar aprofundou um ponto da sala, como se estivesse a tentar
recordar aquele momento – Tu estavas tão chateada comigo, e de cada vez que eu
abria a boca ficas ainda mais furiosa.
- Tu sempre tiveste esse dom de me
conseguires tirar completamente do sério. – ela brincou suavemente, o que
encheu o coração de Ruben de alegria
- E ambos sabemos que foi inevitável o que
acabou por acontecer. Não foi um impulso do momento. Eu sabia perfeitamente o
que estava a fazer quando te beijei no corredor; quando te levei para o quarto;
quando dormimos juntos. – afirmou relutante, sem um rasgo de remorso a
comburir-lhe a postura – Nada do que aconteceu naquela noite foi motivo de
arrependimento.
- Então porque é que saíste pela manhã,
porque é que me deixaste nada mais do que aquele bilhete? – a voz não lhe
falhou somente pelo esforço que fez em não reviver a dor que sentiu naquele dia
- Por achar que não merecia alguém como
tu. – disse com uma urgência que o surpreendeu – Mais importante ainda: Por
achar que tu merecias mais do que eu era e te podia dar.
- Esse sempre foi o nosso problema, não
foi? Acharmos que sabíamos sempre o que era melhor um para o outro, e isso
resultar na falta de comunicação entre nós.
Ruben continuava a fitá-la. A troca de
palavras entre eles sobre o passado tinha-se tornado tão verdadeira e sincera,
que àquele ponto restava pouco a ser-se dito. Ele foi o primeiro a quebrar
quando não aguentou mais a distância que os separava – agora penas fisicamente.
- Vem cá. – chamou-a, caloroso, esticando
o braço na sua direção
Sem hesitar, Joana jornadeou até
alcançar-lhe a mão e só parou quando se sentou no colo dele.
- Posto isto, e para te responder
finalmente à pergunta: sim, continuaria a querer e iria mesmo separar-me da
Inês, independentemente da nossa gravidez. – admitou, enquanto a sua mão
deambulava preguiçosamente pela perna dela – A verdade é que eu sempre soube,
apesar de me custar a admitir no início, que nós não tínhamos futuro e no fundo
a minha decisão de pôr um ponto final a esta relação, há muito que estava clara
na minha cabeça, mas o facto de virmos a ter um bebé, tu e eu, veio apenas
acelerar a tomada dessa mesma decisão. Nada mais.
Uma enorme sensação de alívio e grandeza
apoderou-se de Joana.
- Obrigada, eu precisava de ouvir isso.
- E para que fique ainda mais claro, –
salientou – não te estou a dizer aquilo que queres ouvir… Estou a dizer o que é
verdade, o que eu sinto.
- Eu sei. – consentiu, ao passar-lhe
meigamente a palma da mão pelo rosto por barbear – Achas que estamos doidos por
estarmos a fazer isto? Não achas que aconteceu tudo demasiado depressa?
- Aconteceu no tempo em que era suposto
acontecer. – esta era uma das coisas que ela sentia mais falta, Ruben tentava
encontrar sempre o lado positivo de algo que parecia não bater certo, e a
lógica que ele atribuía a cada situação produzia de certa forma um efeito
calmante nela – Nós não estamos doidos, Joana… Nós criámos um milagre.
- E estás preparado para o que aí vem? –
ela aventurou-se a beijar-lhe o canto da boca – Este milagre não vai ser
tarefa fácil.
- Nós havemos de dar um jeito. – ele
sorriu esperançoso, fê-los levantar e com um impulso que lhe deu no tronco,
sentou-a na extremidade da secretária de frente para si, encaixando-se entre as
pernas dela logo de seguida – E sinceramente eu nem estou à espera que seja
fácil. Eu só quero que seja. Sinto que esperei a vida inteira por este momento,
por este bebé…
Ruben palmeia-lhe a barriguinha, mesmo por
cima da camisola o – ainda pequeno –, volume semi-redondo que se formou mesmo
por baixo da zona do umbigo, e tem a profunda certeza que nunca se irá cansar
daquela sensação.
- Eu tenho medo. – Joana acabou por
confessar… ser mãe pela primeira vez tinha as suas tormentas – Tenho medo
suficiente que chegue pelos dois, e agora preciso que sejas forte pelos dois.
- O que queres dizer com isso? – interveio
enquanto a olhava e lhe varria amorosamente para longe do rosto, os cabelos que
lhe pendiam o olhar
- Quero dizer que preciso que continues a
lutar por nós. – a sua mão sobrepôs a dele na sua barriga, pequenas lágrimas de
felicidade escondidas por trás dos olhos quando se referiu aos três pela
primeira vez como uma família – Eu vou lutar também.
O tempo parou ali. Apesar de já terem
partilhado momentos irrepetíveis ao longo dos anos, aquele era de longe o mais
íntimo e humano que alguma vez travaram. Os olhos de Ruben estavam caídos nos
lábios dela, que àquela distância se sentiam formigar pelo embate da sua
respiração. E foi então que ele a beijou completamente na boca. Um beijo
repleto de emoção que naquela altura, estava à flora da pele… As línguas a
deixarem-se envolver freneticamente quando perderam a vergonha de se
entregarem, e ambos procuravam alcançar algo, reaver o vínculo que achavam ter
perdido; a necessidade de se sentirem conectados novamente. Enquanto que as mãos
dele se mantiveram inicialmente afundadas na cintura dela, assim que se sentiu
relaxar, a mão direita de Joana percorreu-lhe lentamente a pele sensível do
pescoço e só parou quando mergulhou os dedos nos cabelos da nuca, sentindo-o
gemer na sua boca quando arrastou as unhas pela lacuna do pescoço e ele
imaginou naquele momento as marcas que ela poderia deixar no seu corpo.
Como se sentisse a necessidade de se
certificar de que aquilo estava mesmo a acontecer, Joana afastou-se meramente
para lhe procurar o rosto: cinzelado, bonito, perfeito. Os seus olhos agora
totalmente embriagados pelo amor que os consumia. Ruben sorriu-lhe de volta e
voltou a beijá-la, o sentimento mais mágico do mundo.
***
Sensivelmente meia hora depois de
abandonar o escritório, Joana encontrou lugar no baloiço de jardim, no pátio
das traseiras. Era uma típica noite de Inverno, fria e imperturbável porém o
céu estava tão límpido e repleto de estrelas, tão… vasto e imaculado, que não
resistiu em passar algum tempo lá fora.
Foi embrulhada a dois cobertores que se
perdeu em pensamentos, em reflexões que determinar-ião os próximos passos a
enxergar na sua vida, uma próspera caminhada que agora, estava decidida, não
iria cursar sozinha.
- Tens a certeza que não queres ir dormir?
– Ruben apareceu com uma chávena chá fervente, na mão, a qual estivera a
preparar para os dois nos minutos anteriores – Já é tarde… Deves estar exausta.
- Eu não quero que esta noite acabe. –
confessou do mais profundo de si, um temor íntimo de acordar na próxima manhã e
aperceber-se de que tudo, todos os progressos que fizera com Ruben naquele dia,
não passaram de uma mera fantasia – Quanto mais cedo esta noite acabar, mais
cedo chega o dia de amanhã e eu…
- E tu não tens de te preocupar com o dia de
amanhã. – esclareceu seguro, quando pousou a caneca na mesa pertos deles – Esse
é uma problema meu e que eu vou resolver, está bem? Não quero que te preocupes.
Joana assentiu com a cabeça, esforçando-se
por acreditar nas palavras dele. Era difícil conseguir abstrair-se quando tudo
o que conseguia pensar era no casamento que o homem que mais amava no mundo
tinha marcado e se advinha a menos de vinte e quatro horas. Mas outra opção não
lhe restava, o futuro enquanto casal, enquanto uma família estava agora nas
mãos dele e sabia que iria ter de confiar de olhos fechados.
Sem perder mais tempo Ruben deslizou para
o lado dela no baloiço, contornando-lhe a cintura com os braços e deixando-lhe
as costas baterem parcialmente em seu peito.
- Estás gelada. – reparou ao sentir-lhe a
pele das mãos resfriada, puxou-a o mais para si possível e cobriu-os o melhor
que pôde com os cobertores – Melhor assim?
- Perfeito.
No momento em que Joana deitou docemente a
cabeça na dobra entre o pescoço e o ombro dele, começou a aquecer quase como
que imediatamente. O tipo de calor – que apenas outro corpo aconchegado ao seu
e que provocava em si uma reação instantânea, como era o caso do de Ruben –,
podia produzir. O toque dele era de todas as maneiras revigorante, Joana sentia-se
bem ali. Tão bem.
- Feliz aniversário, meu amor. –
desejou-lhe pela segunda vez naquela noite, beijando-lhe carinhosamente a
têmpora e ela estremeceu, um daqueles arrepios que sobe à nuca e se extravasa
em pele de galinha… não soube dizer se foi pelo gosto a leite e mel das
palavras dele ou se do choque dos lábios quentes tocarem a sua pele cálida… ou
então pelos dois – No teu próximo aniversário já vamos ter o nosso Pêssego connosco.
Já pensaste nisso?
- Hum, hum. – rumorejou, cada vez mais apaixonada
por essa ideia que já lhe tinha aflorado o pensamento algumas vezes naquele
dia, rodou a cabeça na direção dele e beijou-o simplesmente nos lábios, um
breve selinho – Parece surreal.
Nos momentos seguintes o silêncio
tornou-se na palavra de honra. Ruben observava-a atentamente, ela não fazia
ideia do quão bonita era. Tentou desvendar-lhe os pensamentos, a luta interior
a acontecer atrás dos seus olhos. Sabendo que poderia estar a encontrar motivos
que o fizesse afastar-se de novo, que os levasse a perceber que tudo não
passava de um engano.
- O que foi? – Joana perguntou, a tentar
travar o sorriso – Porque é que estás a olhar assim para mim?
- Eu consigo ouvir-te a pensar, consigo
ouvir todos os senãos nessa cabecinha e essa tua procura por todos os motivos
que faz com que isto não dê certo.
- Ruben…
- Diz-me. Sinceramente, ainda tens dúvidas
quanto a isto? Quanto a nós?
Joana respirou fundo para se perder nos
olhos dele. Era a vez de Ruben se sentir inseguro.
- Não. Não há mais espaço para dúvidas. Eu
quero isto, nós merecemos.
E assim todas as inseguranças desaparecem.
Para os dois. Joana voltou a aconchegar-se na sua alçada, afundando a cabeça
debaixo do queixo dele, abraçando-o de volta como se a sua vida dependesse
disso.
Ruben respirou-a e o seu coração
apertou-se do lado esquerdo do peito e voltou a descomprimir, aliviado por ter
voltado ao lugar que lhe pertencia e a mais ninguém. Joana transmitia-lhe uma
sensação tão quente e familiar, tão perfeita.
- Lembraste quando estivemos na
arrecadação, de tu dizeres que querias sair daqui por uns tempos?
- Sim… Lembro…
- Estavas a falar a sério? Queres mesmo ir
embora por uns tempos?
O sentido que Ruben estava a levar a
conversa fê-la ajustar a postura do corpo de modo a conseguir alcançar-lhe
todos os alicerces do olhar e os movimentos das feições.
- Porque é que me estás a perguntar isso
agora?
- Eu estive a pensar… - ele ajeitou o
corpo também – E se saíssemos mesmo daqui, fossemos para outro lugar, só nós os
dois? Uma espécie de miniférias para recarregarmos energias, tentarmos
compensar o tempo que não estivemos juntos…
- Hum… E o que é que sugeres? – aquela
ideia começou a crescer em si
- O que dizes em irmos, sei lá… Para Nova
Iorque? – e daquela maneira Ruben soube conquistá-la, agindo como se ainda nem
tivesse meditado sobre assunto… mas meditou
- Nova Iorque? Estás a falar a sério?
- Muito. – o entusiasmo dela veio
surpreendentemente a sobrepor o seu
- Ruben, eu acho essa ideia maravilhosa,
mais e esta história toda do casamento? Tu ainda estás noivo, não vamos
esquecer isso.
- Por muito pouco tempo. – ele retificou
– E volto a dizer: Não te preocupes com isso, eu resolvo.
Ela não lhe resistiu. Sentia-se tão
indescritivelmente apaixonada. Subiu para o colo dele e contornando-lhe o
pescoço com os braços, beijou-o nos lábios entre sorrisos, e a ele, vê-la feliz
mesmo no meio da sua alçada, fazia o seu coração inchar de orgulho e perfulgência
que mal lhe cabia no peito.
Quando a emoção voltou a dar lugar ao
sentimento, Ruben aproveitou para aprofundar a intensidade do beijo e tudo a
que ele era inerente.
- E para quando ficaria agendada essa
viagem? – perguntou com o remate de mais um toque de lábios que parecia nunca
ser suficiente
Ruben limitou-se a olhá-la de volta nos
olhos e permaneceu em silêncio, um silêncio demasiadamente demorado assistido
de uma expressão que desde miúdo não perdera, aquando apanhado no meio de um
momento doce-amargo.
Joana observou-o com suspeita.
- Tu já reservaste os voos, não já? – e
num ápice ela soube lê-lo como ninguém, para de seguida lhe perguntar somente –
Quando?
- Depois de amanhã. – respirou, o olhar palpitante de emoção – Partimos depois de amanhã. Já tratei de tudo.
Bom dia, queridas
leitoras!
Enfim deixo-vos com a
segunda parte do mais recente capítulo,
que saiu maiorzinha que
o habitual mas espero fazer corresponder às vossas expectativas.
Boa
leitura e não se esqueçam de me deixar as vossas, sempre importantes, opiniões.
Um beijinho grande,
Joana
Fantástico como sempre! Valeu totalmente a espera. Ansiosa por ler o próximo capítulo e se possível daqui a pouco tempo. Continua!
ResponderEliminarADORO !!!
ResponderEliminarQuando for grande quero ter uma sogra como a mãe do Ruben hahah mas neste caso quero ser a Joana e ter um Ruben :p
Isto cada vez está melhor :)
Demorei dois dias para ler de maneira a não me escapar nenhum pormenor.. cheguei ao fim e só consigo dizer: quero Mais!!
Um beijinho,
Margarida
P.s. vai nos dando feedback quanto aos novos capítulos.
Eu também amo clichês.
ResponderEliminarPrincipalmente o de sempre ter que reler teus capítulos pra poder comentar. Li ontem, passei o dia todo querendo chegar logo em casa hoje (pensei no Ruben e na Joana o dia todo também!) só pra poder reler, e reli. Mas ainda não consegui assimilar tudo.
Meu Deus, é tanto amor num capítulo só que eu perdi as contas de quantas vezes chorei; é tanto amor que... eu me apego de um jeito louco a esses dois e quando lembro que eles não existem, choro mais ainda. Estou chorando agora ao te confessar isso, mas, por favor, é um segredo nosso!
Eu tenho uma ligação muito forte com essa história, não sei explicar, mas acho que vou ter 90 anos e vou estar lendo com o mesmo entusiasmo, com o mesmo amor. É essa ligação que me faz esquecer todo o tempo que fiquei sem um capitulozinho novo, porque quando ele finalmente vem... Ah!... Faz qualquer coisa/tempo valer a pena. Sempre faz! Inclusive, eu falo pra todo mundo que a someone like you é um livro!!!!! Porque pra mim é. Eu imagino o livro, a série, e até um filme dessa história linda. Posso ajudar a produzir, se quiser, tá? Hahahahahaha
Eu não sei o que tu está fazendo comigo, Joana. Mas, por favor, continue. Esse é o meu melhor vício, a minha melhor loucura, meus melhores amores literários ❤❤❤❤❤
Muitos beijinhos 😘
Gabi.
ai muito bom!!! continua por favor!
ResponderEliminarObrigada não chega para te agradecer por teres postado este novo capítulo para nós.
ResponderEliminarEsta leitura foi um calmante para o meu eterno coração romântico.
Escreves formidavelmente bem, és crua nas emoções, penso seriamente que devias escrever um livro.
Obrigada está fantástico como todos os outros!
Espero o próximo com uma grande ânsia,
Beijinhos
escreves lindamente... espero ansiosa pelo próximo!
ResponderEliminarOlá Joana!
ResponderEliminarJá fazia algum tempo que não vinha aqui, e foi com alegria que vi que finalmente havia novidades destes dois, e escusado será dizer que adorei, que bom é ler o que escreves, a história destes dois é linda demais, apesar de tanto desencontro, sofrimento, mas finalmente parece que está tudo a entrar nos eixos. Só espero que a Inês não arme um escândalo, sim porque desta vez o Ruben vai ganhar coragem e vai mandá-la à fava. Adorei, e adoro ainda mais saber que tenho outro capítulo para ler.
Adorei, continua, tu és a única resistente neste mundo das fics, e das poucas que eu sigo.
Beijocas
Fernanda