Reunidos
na sala de jantar, todos se deleitavam com o almoço que havia sido servido
tardiamente e fora das horas regulares. Num clima auspiciosamente amortecido,
na mesa era sentida o pesar da ausência demorada e da consequente falta de
notícias de Ruben, que ainda não regressara à vivenda da família desde a sua
saída no final daquela manhã pluviosa.
Entre um
silêncio deprimido que era quebrado somente pelo som do manuseamento das loiças
e talheres, e uma vez por outra entre conversas paralelas, porém efémeras, Inês
olhava discretamente Joana guardando no pensamento a incerteza de ter sido ou
não ela o motivo de desaparecimento do seu noivo. Enquanto isso e
inesperadamente, o telemóvel de David soou o toque de uma nova chamada,
colocando os olhares dos amigos postos em si, aguardando o sinal de vida de uma
só pessoa que até então e durante horas, se mantivera incontactável.
- Quem é,
David? É o Ruben? – inquiriu Inês num desafogo de esperança, aguardando
meramente uma resposta positiva dele, porém, renegada
- Ah…
Não, é o meu empresário. – declarou passivamente enquanto olhava o ecrã do
seu telemóvel, e com a mão que tinha disponível limpou os lábios ao guardanapo
de pano que lhe resguardava o colo – Eu vou atender a chamada lá fora, com
licença.
- Está
tudo bem? – interferiu a sua namorada Adriana sentada a seu lado,
tocando-lhe levemente no braço no momento em que o viu erguer-se da mesa
- ‘Tá,
amô… Não se preocupa. – ele despoletou-lhe um beijo tranquilizador no topo da
cabeça, certo de que não havia qualquer assunto alarmante de foro profissional
que o seu empresário quisesse discutir consigo, e afastou-se então para atender
calmamente – Oi Giuliano, e aí? – aceitando a chamada, David caminhou para
o corredor que ligava a sala de estar ao hall de entrada e à escadaria que
ascendia ao piso superior – Não, eu ‘tava almoçando, mas pode falar…
Iniciando
uma conversa meramente burocrática com o agente que mantinha há anos ao seu
lado, a atenção de David foi desperta por ruídos provindos do lado de fora da
porta principal, os quais ele desprezou inicialmente mas que depois, e devido a
um sibilar alanzoador que lhe era extremamente familiar, tornou-se impossível
continuar a ignorar.
Permanecendo
de telemóvel preso junto do ouvido, ele dirigiu-se ao hall de entrada a passo
ligeiro e desapressado, apanhando-se a si mesmo numa surpresa quando tomou a
liberdade de abrir a porta e encarou Ruben, completamente encharcado pela chuva
de que fora alvo na caminhada entre o carro a entrada principal da casa, na sua
milésima tentativa em conseguir encaixar a chave na fechadura da porta.
- Giuliano,
a gente pode terminar essa conversa mais tarde? Surgiu aqui um lance que vou
ter de resolver… - referiu ao olhar seriamente a figura do melhor amigo
totalmente alterada, num estado inebriado que não correspondia de todo ao seu –
Não se preocupa, eu te ligo logo… Abraço.
Numa
introspecção que tinha tanto de surpreendida como de reprovadora, o olhar
fincado de David inspeccionou num só mirar a disposição embaraçosa de Ruben,
que não lhe sabia reconhecer nem tampouco associar aos seus hábitos e à sua ética
enquanto pessoa.
- Oh
merda! – resmungou ele ignorando completamente a presença de David, quando as
chaves caíram ao chão na sua tentativa em atirá-las para cima da mesinha de
apoio no hall
No acto
natural e à partida simples, de apanhar as chaves de volta, ao debruçar-se
Ruben perdeu o equilíbrio do próprio corpo e quase caiu ao chão, valendo-lhe a
ajuda de David que o segurou imediatamente.
-
Larga-me! – barafustou num tom áspero, sacudindo para longe os braços do
melhor amigo que lhe rodearam o tronco
- Calma,
manz, só ‘tava te ajudando…
- Eu não
preciso da ajuda de traidores! – disparou numa rajada anteriormente
pensada, deixando David baralhado
-
Desculpa?
- Sim, é
o que tu és… Um grandessíssimo traidor! Traidor! – apesar da ligeira dificuldade
em articular devidamente as palavras, Ruben não temeu em lançar-lhe farpas
acusadoras, que salientou com o indicador apontado inquebravelmente na direcção
da única pessoa que ali o acompanhava
- Ou sou
eu que não tô entendendo direito, ou então é você que ‘tá muito borracho pra
não saber o que ‘tá dizendo.
- Bêbado,
eu? Olha lá bem para mim… – indagou num sorriso tolo e invertendo a
direcção do indicador contra o próprio peito, enquanto o seu corpo deambulava
ligeiramente para trás e para a frente tentando manter o equilíbrio e
evidenciando-lhe o estado avançado e incontestável de embriaguez – Achas que
estou bêbado?!
- Acho
que pior do que está, é difícil! – ripostou, num cruzar de braços pujante
e uma certeza infindável na voz
- Oh
David, anda deixa-te de merdas… - afastando-o da dianteira do seu caminho,
Ruben deu-lhe um leve empurrão no ombro que o fez recuar duas passadas para
assim poder descer livremente o escalão do hall – Onde é que está a Joana?
Preciso de falar com ela.
- Como é?
Não, não… Desculpa, mas enquanto cê ‘tiver nesse estado cê não vai falar com
ninguém, muito menos com a Joana!
-
Curioso, eu não me lembro de te ter pedido autorização… ou pedi?
- Você
não vai falar com a Joana… Sou eu que tô te dizendo! – garantiu-lhe
convicto, recuperando a posição soberana inicial e colocando-se novamente na
frente dele
- Mas és
tu que me vais impedir, queres ver… Agora deste em guarda-costas, foi? –
ripostou novamente numa carga pateticamente ironizada, mantendo o mesmo sorriso
tolo e desconfortante no rosto a cada palavra que debitava
- Não
seja otário, manz… Cê já viu no estado em que está? Todo o mundo aqui em casa
preocupado contigo e tu te enfrascando… tem vergonha, não?
-
Vergonha de quê? Agora já não posso beber uns copos, é?
- Pode,
claro que pode, mas não a esse ponto… Cê tá todo borracho, mal se tem em pé!
- Eu
estou óptimo, e dispenso os teus sermões…
- Não vai
me dizer onde andou esse tempo todo?
- Mas
agora deste em minha mãe? Não é da tua conta! – referiu, dando-lhe uma
resposta ensaiada e olhando em simultaneamente em seu redor – Onde é que está a
Joana? – voltou a repetir, expondo um evidente e alto nível de impaciência e
ânsia
- Não
enxergou o que eu disse? Enquanto estiver nesse estado você não vai falar com
ela! Nem com ela, nem com ninguém! – David manteve-se firme e não cedeu às
exigências, cada vez mais impetuosas do melhor amigo em querer ver Joana, pois
estando a par de toda a situação e sob aquelas circunstâncias, sabia que um
novo confronto entre eles naquele momento poderia ser fatal
- Ohhh
tão querido que ele é… A proteger a amiga! – Ruben gozou-o numa feição
descarada que levava já há alguns minutos, apoiando-lhe as mãos no rosto e
caindo novamente em risadas que David censurou ao olhá-lo seriamente – Estás do
lado dela, não estás? Eu sei que estás… Sabias que ela estava grávida e não me
disseste nada, grande traidor!
- Ruben,
não fala as coisas sem saber primeiro… - ele começou por dizer, apelando à
calma constante, mas viu-se ser interrompido mesmo antes de completar o seu
raciocínio
- Eu a
pensar que eras meu amigo, mas afinal…
- E sou!
Eu sou amigo dos dois, ué!
- Pelos
vistos és mais amigo dela… Mas tudo bem, achas que eu me importo? Ela está à
espera do bebé lá do outro palhaço, mas eu já nem quero saber, espero que sejam
muito felizes! – proferiu ressentido, caindo no erro de deixar a voz abater-se
e denunciar-lhe todo o ressentimento que se esforçara por mergulhar em copos de
uísque durante grande parte daquela manhã e tarde, mas que pelos vistos ainda
era sentido… demasiado
- Não
fala bobeira, manz…
- É
verdade, David! Eu não quero saber! E é só isso que lhe quero dizer… Quero
dizer-lhe na cara que me estou nas tintas, ela que seja feliz com aquele
palhaço de Nova-Iorque… Eu já não me importo! – disse num encolher de ombros
que o efeito da bebida – e só o efeito provocado pela bebida – o fez
reproduzir despreocupadamente e com um sorriso contrafeito e sobretudo desleal,
a segurar-lhe as lacunas dos lábios
- Manz,
você primeiro vai tomar um duche, vai descansar um pouco e…
- Não vou
nada descansar, eu vou falar com a Joana, já disse! – rezingou de novo
numa introspecção impetuosa, atropelando as palavras conselheiras de David –
Joanaaa! – vociferou num tom altivo que ecoou por todo o corredor, num
jeito mais rápido e prático de a rever, esperando que fosse ela a ir ao seu
encontro, mas David ressaltou-o a tempo e tapou-lhe imediatamente a boca,
impedindo-o de provocar um escândalo na frente de todos
- Cê
pirou dessa cabeça?! Se controla, pô! Quer que a Inês ou a sua mãe o vejam
desse jeito? – aos poucos David começava a perder a calma com as atitudes
irresponsáveis e totalmente inconscientes do melhor amigo, contudo e ainda
assim, esforçava-se ao litro por conseguir mantê-la e transmiti-la a ele
- E eu
quero lá saber… Eu já não quero saber de nada, mano! Entendes? Nem da porcaria
deste casamento, de nada… - num jeito desesperado e completamente desistente,
Ruben elevou numa perpendicular os braços ao corpo, e embateu-os fortemente nas
coxas no momento em que os deixou cair
- Ruben,
se controla, tô te dizendo! – David voltou a adverti-lo, incitando-lhe num só
olhar, os problemas que poderiam verter para o seu lado caso aquele desabafo
fosse acidentalmente escutado pelas pessoas erradas – Olha só… Se a Inês
te ouve falar esse monte de besteira e te vê assim, ela te mata!
- David,
quem é que está… - a conversa a dois foi furada por uma intervenção feminina
que inicialmente sobressaltou o namorado de Adriana, mas que felizmente não
passou disso mesmo: um susto
-
Paulinhaaa… - ao dar pela presença da cunhada, Ruben precipitou-se
desalmadamente na direcção dela para a abraçar, agindo como se não a visse há
anos e deixando-a naturalmente confusa com aquela sua atitude que lhe era
atribuída por uma só e infeliz razão
- Ruben?
Mas o que é que…? – apanhada numa surpresa completa, Paula olhou David ainda
amarrada naquele abraço, sentindo-se deslocada e procurando por respostas que…
não demoraram a chegar
- Parece
que temos aqui um problema… - referiu David, coçando a cabeça entre os caracóis
da sua farta cabeleira
- Um
problema? – questionou ela incrédula, enquanto examinava o rosto
embriagado de Ruben – Um problemão!
- Diz-me
lá uma coisa, Paulinha… Tu por acaso não sabes onde é que está a Joana, não? –
inquiriu-a num sorriso aluado, apoiando-lhe o braço direito em ambos os ombros –
Tens de ser tu a ajudar-me, porque este cara de cu traidor, não me quer dizer! –
acrescentou, semicerrando os olhos, que por si já não se encontravam muito
abertos, e lançando uma expressão ameaçadora e reprovativa ao pobre David, que
até então e a muito custo se tinha esforçado para impedir que algo de pior
acontecesse
- E eu
acho que o David tem motivos que sobram para isso, não te parece? – a
testa dela encolheu-se em duas linhas finas que a enrugaram, e repeliram Ruben
no mesmo segundo
- Tu
também? Vá, unam-se contra mim! Parece que todos nesta casa estão! Não devia
era ter voltado…
- Oh Ru,
deixa-te de coisas… Já olhaste bem para ti? Para o lindo estado em que estás?
Estás completamente enfrascado! – Paula tentou ser o mais consensual possível,
mas era naturalmente difícil a Ruben tomar consciência e aceitar o estado…
lamentável, chamemos-lhe assim, em que se encontrava
- Já vi
que não sou bem-vindo nem na minha própria casa… O melhor é voltar para onde
não devia ter saído, pelo menos aí ninguém me chateava a cabeça!
- Manz,
calma aí, vai… Cê não volta pra lado nenhum, nem pensar que vai voltar a pegar
no carro desse jeito, sorte a sua ter retornado a casa inteirinho!
- O
melhor mesmo é ele ir para o quarto antes que mais alguém o veja… - referiu
Paula amigavelmente, improvisando uma solução – Ajuda-me a levá-lo, Dê.
- Não,
não… Calma lá! Eu não vou a lado nenhum com vocês!
Não
demorou muito até Ruben começar a fazer birra tal e qual um miúdo pequeno que
se recusava escabrosamente a ir ao dentista, mas pela persistência e firmeza de
David e Paula que combateram a sua casmurrice, seguraram-no em cada lado do
corpo, subiram a escadaria e arrastaram-no ao seu antigo quarto que naquela
semana era dividido com Inês.
-
Larguem-me, já disse! – rabujou ele novamente aquando romperam quarto
dentro, num repulso teimoso que o soltou dos braços dos amigos onde viera
apoiado todo o caminho, e jogando-se pesadamente para cima da enorme cama de
casal
- É bom
que te ponhas debaixo do chuveiro para curares essa ressaca, menino Ruben! –
proferiu Paula no mesmo tom de uma ordenação… que como seria de esperar, Ruben
não estava disposto a obedecer
- Sim,
sim… era isso e mais o quê? – respondeu asperamente numa prontidão
automática, e procurando ao mesmo tempo à cabeceira da cama, um lugar onde
se sentar
- Olha
aí, manz… Não fala desse jeito com a Paula, ela não tem culpa das suas
besteiras! – David não permitiu qualquer falta de respeito do seu melhor
amigo, que naquela condição não tinha a perfeita noção de si mesmo, porém Paula
desvenerou aquela atitude que ela sabia bem não lhe pertencer
- Deixa
estar, Dê, eu não levo a mal porque ele está no estado em que está, mas mais
logo nós os dois vamos ter uma conversinha! – comentou ela no topo da sua
seriedade e olhando-o sentado refasteladamente ao centro da cama, comentário
esse a que Ruben respondeu apenas com um revirar de olhos enfadado seguido de
um sopro pesado – Eu tenho que ir ver o Gabriel… Ficas tu com ele? –
questionou, desta feita fitando David, que permanecia a seu lado
- Claro,
Paulinha, vai… Eu trato dele…
- Tratas
o quê? Tratas nada… Vai-te embora também! – não demorou muito até que
Ruben voltasse a barafustar, num cruzar de braços auspicioso que lhe enquadrou
perfeitamente o peito – Quero ficar sozinho!
- Boa
sorte! – desejou ela num sussurro a David, mesmo antes de abandonar o
quarto e deixando-os aos dois apenas na companhia um do outro
- Não
ouviste o que eu disse? Sai! Quero ficar sozinho! Sai…!
- Oiça
uma coisa que eu te vou dizer, Ruben… - David aproximou-se furiosamente da
cama, levando à sua frente o indicador apontando-o na direcção do melhor amigo
que não tomava consciência da brusquidão das suas atitudes nem palavras –
Ou você se controla minimamente, ou eu perco todo o respeito que tenho por você
e te dou uma surra agora mesmo!
Com
aquelas palavras a intenção de David nunca foi a de lhes dar uso e convertê-las
para a prática, mas sim provocar-lhe um abanão na consciência e tentar chamá-lo
à razão o mais possível, sem partir claro para o embuste físico, que a amizade
e o carinho que lhe guardava jamais o permitiria fazer.
Ruben,
por seu lado, vendo-se ser confrontado pela sinceridade daquela ameaça, e
observando a pessoa de quem esta partira, sentiu um choque reproduzir uma
convulsão interior que remexeu com todas as suas comoções e o deixou
emocionalmente exposto e vulnerável ao momento que se seguiu. De um modo que
ele próprio não conseguiu justificar, sentiu-se ser anestesiado por um soro que
lhe deu de volta a consciência, efémera porém, que tinha perdido e que
precisava para lidar com toda aquela situação, e foi então que a realidade dura
se deixou abater sobre si após alguns minutos de silêncio.
- Mano,
eu não… Eu… Desculpa… - de todas as palavras que David imaginou ele vir a
pronunciar no decorrer daquela conversa que estariam para travar,
"desculpa" foi certamente a intervenção que ele nunca pensou vir a
escutar da boca de Ruben, não daquele Ruben… um Ruben que naquele estado não se
importava até de ferir as pessoas que mais amava com as palavras mais amargas e
os actos mais imprudentes
- Manz… -
a ofensiva de David recuou no mesmo segundo em que ele se apercebeu que não
estava mais perante o mesmo homem a quem abrira a porta há um par de minutos
atrás e o mesmo que trouxera de rastos para aquele quarto… agora perante si
estava um homem profundamente fragilizado; desesperado, que não sabia mais como
lidar com tanta dor que tinha acumulada dentro do peito
- Eu já
não sei o que fazer com a minha vida… eu não sei… - ele falou num tom de voz
tão dissipado que David teve dificuldade em ouvi-lo
Numa
questão de segundos, o seu ego e o altruísmo exageradamente elevados pelo
efeito do álcool, saltaram para uma queda vertiginosa, levando-o a passar de
predador a presa; de rei do mundo a um simplório zé-ninguém que já não sabia
onde pertencia; de um homem com planos traçados para um futuro estável e
promissor que lhe sorria ao lado da futura esposa, a alguém que se encontrava
psicologicamente tão perdido que não sabia mais como poderia voltar a
encontrar-se.
A euforia
que residia em Ruben desde que o efeito da bebida começara a ter controlo sobre
si, simplesmente desaparecera, devolvendo-lhe o vazio e declinando-o para uma
melancolia derradeira que o incentivava a deixar de respirar.
- Eu sou
um fraco… E eu perdi-a… eu perdi-a… - com as pálpebras cerradas num sinal claro
de quem não tinha forças para continuar a lutar, ele continuou a proferir
palavras desalinhadas de um contexto anteriormente definido mas que foi claro
demais para David conseguir perceber, contudo ele decidiu insistir
- Ei,
manz… - numa abordagem mais calma e condescendente, ele guiou-se à beira da
cama onde tomou lugar ao lado do corpo imóvel de Ruben estendido sob o colchão
– O que cê tá falando?
Apesar de
a pergunta ter sido lançada ao ar, o silêncio remontou entre eles e Ruben não
se sentiu capaz de dar uma resposta imediata. Sentiu um ardor espicaçar-lhe os
olhos e no instante em que os voltou a abrir não foi capaz de segurar duas
lágrimas roliças que se soltaram e desabaram pelas faces
frias.
- Porque
é que eu a deixei? Como é que eu pude ser tão cobarde ao ponto de a deixar… De
não lutar por ela? – ele exalou profundamente e continuou assim que se sentiu
capaz – A Joana era o amor da minha vida… Ainda é! E agora… nada disto faz
sentido! Está tudo errado, tudo!
Contorcendo-se
de pena no lado da cama que ocupava, David permaneceu passivo a escutá-lo, pela
expressividade incompleta que lhe viu, sabia que ele ainda não tinha acabado de
falar, e então não quis interromper-lhe o raciocínio que nesta altura se
encontrava finalmente claro na sua cabeça para poder traduzir por palavras.
- Eu
ainda não consigo acreditar que ela esteja grávida… Por mais que eu tente, eu
não consigo! Não era suposto ser assim…
- O que
não era suposto, Ruben? – perguntou-lhe compreensivamente, pronto a ser o bom
ouvinte que Ruben precisava que ele fosse, e escutar-lhe todas as inquietações
que o amigo guardava só para si e que enfim teve coragem de desabafar com ele,
sem temer ser julgado
- Isto
tudo, mano! O meu casamento, a gravidez da Joana… - ele fez uma pausa para
escolher cuidadosamente as palavras, e olhou o lado vazio do quarto quando
decidiu voltar a falar – Há uns meses atrás eu tinha a minha vida sobre
controlo, eu sabia exactamente o que queria fazer com ela! Eu sabia que na
altura em que me casasse, a Joana ia ser a minha mulher, na altura em que ela
engravidasse, o bebé ia ser meu… ia ser nosso! E olha agora… Nada está no lugar
certo. Nada disto era suposto ser assim!
Ao
ouvi-lo, David engoliu a seco, tentando da melhor maneira e sem levantar
qualquer suspeita, suprimir a vontade fulcral que tinha em contar-lhe a
verdade… Dizer-lhe que o bebé que estava a caminho era de facto seu e não fruto
de uma relação que ele pensava Joana partilhar com outro homem. Porém David
tinha feito um pacto de silêncio não estando em posição nem querer em
quebrá-lo, sabendo que não tinha carta branca para ser ele a transmitir-lhe a
verdade, apesar da enorme vontade que tinha em fazê-lo estar a corroê-lo por
dentro.
- Você
‘tá com dúvidas em relação ao seu casamento? – David teve que lhe perguntar,
embora tivesse uma noção da resposta, ele sentiu-se na obrigação de colocar-lhe
aquela pergunta
Apesar de
já ter sido confrontado pela sua mãe da mesma maneira que foi confrontado pelo
melhor amigo, Ruben não sabia ao certo o que devia dizer ou o que ficava bem
ser dito, e por isso decidiu contornar a pergunta após um momento de ponderação
silenciosa, arrastando o olhar ainda rasado pelas lágrimas, ao entrelace e
desentrelace nervoso das suas mãos que repousavam sobre as coxas.
- Eu
gosto muito da Inês… Nós temos uma boa relação, ela cuida de mim e eu tento
dar-lhe o máximo carinho e atenção que posso. – começou por dizer tendo depois
que aclarar a garganta pela voz rouca que sustinha um choro a que ele não se
queria entregar… pelo menos enquanto não estivesse sozinho entre quatro paredes
– Eu sei que ela é capaz de me dar a estabilidade que eu preciso, e também sei
que faz de tudo para me ver feliz, mas…
- Mas ela
não é a Joana… E você não consegue amá-la do jeito que você ama a Joana. –
mesmo sem se aperceber, e enquanto lhe olhava o rosto a cada segundo mais
esmorecido, David completou-lhe o raciocínio num tom de voz mais elevado do que
ele pretendia, elevado o suficiente para que Ruben conseguisse ouvir e em
silêncio e só para si, concordar
- Eu não
quero cair na normalidade nem na rotina, eu não quero ser um conformado toda a
minha vida, David! – sussurrou, levantando-se ao mesmo tempo da cama para
caminhar até à ampla janela do quarto, com as mãos enfiados nos bolsas das suas
jeans de lavagem escura, e continuou a falar quando através da vidraça
deslindou a ornamentação do jardim das traseiras – Não quero olhar para trás um
dia, e ver todas as coisas que poderia ter feito e não fiz.
- E o que
é que você quer, Ruben?
- O que é
que eu quero? – o seu olhar afastou-se das copas dos carvalhos altivos que até
então vislumbrava, e rasado em lágrimas lançou-o à figura de David que ainda
permanecia sentado ao beiral da cama – Quero um amor extraordinário que mude a
minha vida. E eu já o tive, e perdi-o… Para sempre. – num encolher de ombros
hipotético o seu olhar voltou a mudar de direcção e desta vez foi descair sobre
a biqueira dos seus ténis, aquando os lábios se aprimoravam de um sorriso
triste e totalmente vazio por tudo aquilo que foi roubado do alcance dos seus
braços
- Olha,
manz, eu quero te dizer que… - David tentou mostrar-lhe o seu apoio e começou a
falar, mas as palavras foram-lhe imediatamente cortadas mesmo antes de ele
poder mostrar as suas intenções
- Eu vou
tomar um duche… Vai ter com o pessoal, diz-lhes que já cheguei e que desço
daqui a pouco. – a conversa tinha terminado ali, nada mais ele tinha para dizer
ou queria escutar e então, vitimado ainda por uma leve neblina na visão e
tonturas que viandavam pela cabeça, Ruben traçou o seu caminho até ao chuveiro
que secretamente ele desejava conseguir livrar-lhe de toda a dormência assim
que a água gelada tocasse no seu corpo
David
deixou-se ficar exactamente onde estava a vê-lo desaparecer atrás da porta da
casa de banho do quarto, que se fechou raros instantes depois de ele ter
entrado e deixá-lo para trás amarrado a palavras que ficaram por dizer entre
eles, porém o momento de confissão tinha chegado fim e fora Ruben a colocar-lhe
um termo, tal como fora ele a tê-lo iniciado.
Angustiava-o
mais do que ele julgara ser possível ver o melhor amigo sofrer daquele jeito, e
odiava o facto de estar impotente perante aquela situação e não poder fazer
absolutamente nada que o pudesse ajudar a sair do fundo do poço, onde ele
melhor do que ninguém, sabia Ruben estar preso.
***
Assim que
terminou o almoço, Joana desculpou a sua ausência na sala de estar com os
amigos que entre histórias de infância que recordavam, bebericavam calmamente o
seu café, subiu ao quarto apenas para recolher um casado quente que vestiu, uma
pilha de quatro livros e o seu portátil, a fim de trabalhar arduamente durante
as próximas horas no seu mais recente trabalho de faculdade.
Voltando
a descer a escadaria, dirigiu-se à cozinha onde se localizava a porta porta dos
fundos da copa, e saiu para o pátio privado da casa, mas não sem antes trocar
algumas palavras agradáveis com Glória que já se encarregava da loiça do
almoço. Uma vez que a chuva tinha parado e no ar se fazia sentir aquela típica
temperatura cálida e o cheiro a terra que tanto a agravada, ela arriscou fazer
estadia na mesa redonda do pátio que se encontrava bem resguardada e tinha uma
vista privilegiada para a piscina e todo o jardim circundante que se prostrava
diante si.
Apesar de
ter tentado afastar esses pensamentos a fim de se poder concentrar, a
inquietação que tinha sobre Ruben não a deixava descansar. Na sua cabeça viu e
reviu a conversa e a pós discussão que tinham travado naquela manhã e o facto
de ele se ter ido embora num jeito tão rompante e deixando todos naquela casa
entregues a uma enorme preocupação… Incluindo ela, que se perguntava onde ele
teria ido, onde poderia estar e o porquê de ao fim de tanto tempo, ainda não
ter voltado nem ter dado qualquer tipo de notícias.
Olhou a
paisagem que se estendia na frente dos seus olhos e suspirou.
- Ok,
vamos a isto. – proferiu num pequeno incentivo pessoal, obrigando-se a si mesma
entregar toda a sua energia e empenho às horas de estudo seguintes
Quando
finalmente conseguiu arrastar para longe todas aquelas tormentas, Joana ligou o
computador e derramou sobre a mesa os manuais que tinha trazido consigo e os
quais eram fundamentais para a sua pesquisa.
- “No que concerne a uma investigação científica,
necessariamente levar-se-ia em conta a teoria constitucional e observar-se-iam
as emendas a partir dos referenciais teóricos antes nomeados. O mesmo com o
sistema penal…”
Ao fim de quase duas horas a esburacar a finco entre livros e
internet, Joana relia em voz alta os conceitos da mateologia do seu trabalho,
pretendendo ser o mais fiel possível ao que lhe era pedido sem saltar qualquer
ponto. Estava tão concentrada na tarefa que levava, que nem reparou na pessoa
que sorrateiramente ameaçou invadir o seu pequeno e solitário mundo.
- Joana… - uma a voz quente e maternal desvendou-se à soleira
da porta, retirando-a do seu transe académico ao qual se havia entregado por
completo
- Dona Anabela… - um sorriso aconchegante apareceu em seus
lábios, no instante em que os olhos se descolaram da tela do portátil e
seguiram o fio condutor de onde a voz amainara
- A
Glória disse-me que estavas aqui. – a mãe de Ruben retribuiu o sorriso logo que
se aproximou da mesa com uma chávena fumegante que segurava entre as mãos –
Trouxe-te um chazinho de frutos vermelhos que sei que tu gostas muito.
-
Obrigada, Dona Anabela, não era preciso. – ela continuou a sorrir, aceitando a
chávena nas suas mãos no instante seguinte
- Posso
sentar-me aqui um pouquinho contigo ou estás muito ocupada? – perguntou-lhe, ao
mesmo tempo que viandava com o olhar sobre a mesa onde encontrou uma
parafernália de folhas rabiscadas e livros abertos em páginas estrategicamente
seleccionadas
- Não,
sente-se… De qualquer das maneiras eu estava a pensar fazer uma pausa, por isso
não tem problema! – Joana permitiu sem pensar duas vezes, encerrando o
computador, para depois recolher as folhas e fechar cada um dos quatro livros
para se afastar um pouco e dar toda a sua atenção à mãe de Ruben
- Então
vem, vamos sentar-nos ali no baloiço… - disse Anabela, afastando-se da mesa e
levando-a carinhosamente consigo pelo braço, até que ambas se sentaram ladeadas
no baloiço de jardim esculpido a madeira mogno – Tens de abrandar esse
ritmo, filha… Essa correria toda e esse excesso de trabalho não te faz bem a
ti… nem ao bebé.
Desde o
anúncio da gravidez, Anabela sentiu-se em fim capaz de abordar Joana
respectivamente ao assunto, e que apesar de se mostrar ser frágil de falar,
principalmente com a avó (ainda) não proclamada do seu bebé, Joana temeu pela
primeira vez vacilar na frente dela e arrastar consigo os sentimentos que
guardava pelo seu filho, deixando-os completamente expostos, quando durante
tanto tempo se esforçara para mantê-los reservados unicamente para si.
Pela
primeira vez e depois do fim do namoro dos dois, elas estavam prestes a
conversar sobre o que havia sido deixado nas entrelinhas daquela incompreensiva
separação, e de tudo o que não fora explicado do jeito que deveria ter sido.
- Sim, eu
sei, mas como para a próxima semana tenho uma reunião com o professor que me
está a supervisionar o trabalho, tenho de ter tudo pronto até lá. – ela mostrou
um pequeno encolher de ombros conformado, dando dois sopros na bebida que lhe
acalentava as mãos geladas
- E esse
trabalho… É sobre o quê?
- É um
projecto de pesquisa independente sobre gestão de crises na política. –
preferiu depois de dar um curto gole no chá, referindo o tema do trabalho que
tinha em mãos realizar durante o decorrer daquele semestre, do seu terceiro ano
de Direito
- Hum…
parece-me ser… Interessante. – a mãe de Ruben ponderou entre uma escolha de
palavras antes de voltar a falar, escolhendo a que pensava que melhor se
encaixava, e pela sua expressividade e maneira como a entoou, fez Joana soltar
uma pequena gargalhada de desafogo que ela própria já não se lembrava de ouvir
- Eu sei
que parece chato, mas eu gosto.
- Bem, e
é isso que importa! – dito isto o silêncio instalou-se de mansinho entre elas,
levando-as a fitar o jardim que se estendia na frontaria, e dar conta do
chuvisco que então voltara a cair… Joana sabia que mais tarde ou mais cedo
aquela conversa iria ser tida, e não valia de nada fugir
- E… ah…
Já há alguma notícia do Ruben? – perguntou casualmente, uma questão comandada à
força pela preocupação que sustinha no peito, no entanto evitando a todo o
custo o contacto visual com a mãe dele, e continuou a bebericar o seu chá, que
não sabia se era pelo seu sabor ou então pelo conforto da sua temperatura que
contrastava com o frio lá fora, mas a verdade é que estava a saber-lhe
incrivelmente bem
- Sim,
ele já chegou há algum tempo… Acho que está na sala com os outros. Porque é que
não vens também e terminas o teu trabalho lá? Temos a lareira acesa e sempre se
lá está melhor que aqui…
- Não me
leve a mal mas eu prefiro estar sozinha a trabalhar, a sala está cheia de
gente, há barulho e eu distraio-me com facilidade, por isso é melhor não. –
apesar de o que disse ser verdade, Joana não pôde deixar de ocultar que outra
razão da sua ausência na companhia dos amigos, era Ruben, porém o instinto de
Anabela não deixou de se aperceber disso
- Ele
está magoado. – disse-lhe num sopro de ar angustiado pelo sentir pesado do seu
filho, sem se guiar por nenhum fio conversa condutor
-
Desculpe? – o seu coração parou a batida por uma milionésima de segundo, quando
se aperceber que o momento tinha chegado
- O
Ruben… - Anabela esclareceu, procurando-lhe o olhar que até então se havia
mantido fugidio ao seu – Ele está magoado. Desde que a Adriana nos disse que
estavas grávida, o comportamento dele mudou completamente, parece que já não é
o mesmo desde esta manhã. Ele bem que tenta esconder na frente de todos, mas eu
conheço o meu filho…
- Dona
Anabela, eu… Eu não sei o que quer que eu lhe diga. – Joana encontrou-se
inevitavelmente sem palavras, e a sua mão ocorreu instintivamente à sua barriga
- Não
preciso que me digas nada, filha… Eu só queria que soubesses. – a mãe do seu
ex-namorado apercebeu-se daquele seu gesto e acompanhou-o com o olhar,
reproduzindo um pequenino e indecifrável sorriso no rosto
- Porquê?
– a sua voz estava fraca, solta das cordas vocais ao fim de alguns minutos e
num sussurro quase a medo
- É mesmo
preciso dizer-te porquê? – os olhos de ambas voltaram a encontrar-se mas só por
uma questão de segundos, pois Joana voltou a desviá-los incidindo-os desta
vez sobre a chávena que ainda segurava no seu colo, receado a persuasão e
a capacidade que Anabela tinha em conseguir ler-lhe os pensamentos e ver-lhe a
alma – Posso fazer-te uma pergunta?
- Claro…
- disponibilizou-se inteiramente, sem sequer ponderar sobre a questão, sabendo
perfeitamente que entre elas não havia quaisquer tabus ou segredos que pudessem
esconder uma da outra, bem… havia só um segredo
- Não
leves a mal a minha indiscrição, mas… Quem é o pai do bebé?
Foi
daquela maneira e num tiro certeiro que Joana se viu completamente desarmada e
projectada ao chão. Durante toda a sua estadia naquela casa, aquela era
provavelmente a pergunta que iria procurar evitar a todo o custo, pelas razões
óbvias, e ela poderia mentir a qualquer pessoa que lhe tivesse feito a mesma
questão, qualquer pessoa naquela casa ela ter-se-ia sentido capaz de mentir,
mas não a Dona Anabela, não à segunda mãe que para si ela representava ser.
Um ardor
áspero ateou-se em chamas na superfície do seu peito e uma súbita vontade de
lacrimejar retornou à catapulta dos seus olhos claros, pelo terrível dilema
onde se vira encarcerada. Joana sabia que não lhe podia contar a verdade, mas
mentir-lhe com certeza que também não era opção.
O período
silêncio pela falta de palavras, já ia longo, e a ânsia da mãe de Ruben pela
resposta que já adivinhava e que queria ouvir, não a deixou esperar mais.
- Se não
me quiseres dizer quem ele é, eu respeito… A decisão é tua e estás no teu
direito, mas se assim for eu vou tirar as minhas próprias conclusões, e o teu
silêncio só me faz ter cada vez mais certeza delas…
***
- Já veio
à procura das bolachas, menino Ruben? – inquiriu Glória, sorridente, assim que
o viu entrar na cozinha pelo motivo que ela já julgava ser as suas famosas
bolachas de chocolate caseiras, que sabia ele não conseguir resistir assim que
lhes sentia o cheiro – Tirei a primeira fornada há coisa de cinco minutitos,
ainda devem estar quentes mas se quiser levar uma…
- Hum…
Não, Glória… Eu não tenho muita fome. – ele torceu levemente o nariz,
sentindo-se ainda enjoado com a quantidade de uísque que tinha ingerido em tão
poucas horas, mas não só
- Não tem
fome? Nem mesmo para as bolachinhas de chocolate? – desde criança que Ruben
nunca lhe havia recusado qualquer cozinhado, e especialmente as “famosas
bolachas da Glória”, mas agora era diferente e especialmente naquele dia foi
diferente… um enorme nó estava sedado no topo do seu estômago desde o inicio
daquela manhã, e não havia mimos nem petiscos que o deslaçasse – Que
carinha triste é essa, menino Ruben? Passasse alguma coisa?
- Não,
Glorinha, não é nada… - mentiu, despistando-a com um beijo carinhoso no topo da
cabeça, um gesto natural que em nada a surpreendeu vindo dele – Eu vinha à
procura da minha mãe… Não sabes onde é que ela está?
- A Dona
Anabela está lá fora no pátio… Foi levar um chazinho à menina Joana.
- A Joana
está lá fora? – o simples promulgar do nome dela, fez o seu mundo tremer assim
que se esforçava para sucumbir a vontade que tinha de chegar perto dela
- Está
menino. – a empregada doméstica consentiu, enquanto levava ao forno a segunda
rodada de bolachas – Foi há um par de horas para a mesa do jardim fazer
qualquer coisa para a faculdade, e a sua mãe foi há pouco ter com ela… Devem
estar as duas a conversar.
- Hum…
Está bem, obrigado.
Ruben
caminhou até à copa dos fundos e cuidadosamente abriu a porta para espreitar
através de uma breve brecha, tendo consigo a preocupação da sua presença oculta
não ser notada por nenhuma delas.
O seu
olhar alcançou-as rapidamente sentadas no banco de baloiço, Joana estava
deitada na posição fetal e tinha a cabeça pousada no colo da sua mãe,
aqueceu-lhe o coração vê-las tão próximas e sempre adorou a cumplicidade que
partilhavam uma com a outra, e do nada apercebeu-se que estava a sorrir,
enquanto olhava aquela imagem… Afinal, eram elas as mulheres da sua vida.
Quando se
preparou para voltar a fechar a porta e regressar à sala de estar, algo na
conversa delas o fez mudar de ideias e ficar ali mais um pouco, e todo o seu
ser sentiu-se quebrar no momento em que se apercebeu que Joana estava a chorar.
***
- Como é
que sabia? – Joana perguntou, hesitante, frágil e deixando-se chorar no colo
daquela que julgara um dia vir a ser sua sogra
- Não te
sei explicar… Acho que soube e pronto. – exclamou com uma voz suave e muito
pouco evasiva – Quando ficámos todos a saber da tua gravidez eu vi a maneira
como olhaste o Ruben, o jeito que o olhaste acho que dizia tudo, não deu para
esconder nada… Além disso ele falou-me da noite que vocês passaram juntos já depois
de ter ficado noivo da Inês, então eu comecei a juntar as peças e aí eu soube…
Nenhum outro homem podia ser o pai desse bebé senão o meu filho.
- Nada
disto era suposto ter acontecido, Dona Anabela, foi só uma noite… Nós fomos
irresponsáveis e deixámo-nos levar… - o seu soluçar intensificou-se,
sacudindo-lhe o peito a cada respiração
- Eu sei
que posso parecer um pouco egoísta ao dizer isto mas… Eu estou tão feliz por
ter acontecido. – Anabela confessou, não escondendo o brilho que irradiou o
olhar nem o sorriso orgulhoso que emergiu no seu rosto, e continuando a embalar
Joana, deslizando-lhe os cabelos soltos entre os cabelos delicados
- Como é
que pode estar feliz? Eu arruinei a vida do seu filho… Estou à espera de um
bebé dele, um bebé que não planeámos, quando ele está prestes a casar-se com a
Inês!
- Eu sei
que esta não é uma situação nada fácil, para nenhum dos dois, mas talvez esteja
nas tuas mãos descomplicá-la… Além disso não fizeste este bebé sozinha, não é
justo seres tu a carregar toda esta responsabilidade!
- O que
quer dizer com isso? – o rosto de Joana libertou-se das coxas de Anabela, e
mantendo o equilíbrio do corpo apoiando as mãos no banco, ela tomou folgo para
encará-la
- Joana,
eu amo-te como se fosses minha filha, tu sabes disso perfeitamente. E eu sei
que o Ruben já cometeu muitos erros e não estou a tentar desculpá-lo por nada,
mas a verdade é que ele vai ser pai! É um momento único da vida de uma pessoa e
ninguém deve ser privado desse privilégio. – ela tomou uma pausa somente para
se certificar de que Joana estava a absorver cada uma das suas palavras, e
depois concluiu – Tu devias contar-lhe.
- Eu
quero contar-lhe, nunca foi minha intensão esconder-lhe a gravidez… Mas como é
que é suposto eu fazê-lo? E o casamento?
- Não te
apreendas pelo casamento! Essa não é uma preocupação tua… Esse filho que
carregas na barriga é! Ele é a tua maior prioridade e deves fazer tudo o seja
certo para a felicidade e para o bem dele… E o que é certo neste momento é
contares ao pai. Eu não posso fazer isso por ti, ninguém pode…
- Eu
tenho medo… - ela acabou por desabafar num sussurro sufocado ao fim de alguns
momentos em silêncio, mal reconhecendo a própria voz
- Medo de
quê, meu amor? – Anabela segurou-lhe o queixo, obrigando a um encontro de
olhares… fosse o que estivesse a atormentar a cabeça da sua menina, ela iria
conseguir ver… para si Joana era transparente o suficiente para que se deixasse
ler quando as palavras se tornavam escassas
- Medo da
reacção do Ruben quando ficar a saber… Dona Anabela, quer eu queira quer não,
ele está comprometido com outra mulher, e esta gravidez vai ser uma bola de neve
na vida dele, na carreira dele… - por muito que se contradissesse e desejasse
que não fosse assim, aquela era a verdade, e Joana estava ciente dela desde o
primeiro minuto – Eu não sei se o Ruben está preparado para esta mudança.
- Se
duvidas disso porque é que não lhe perguntas tu mesma? Talvez a resposta dele
te venha a surpreender. – conhecendo o filho tão bem como conhecia, sabendo o
quanto ele ainda amava aquela mulher, mesmo que não o dissesse, Anabela
encorajou-a a fazer aquilo que era o correcto, e oferecendo a Joana um sorriso
tranquilo e ligeiro, capaz de lhe erguer a coragem e afastar todas as
inseguranças – A decisão é tua, e eu só quero que me prometas uma coisa…
- Tudo o
que a senhora quiser. – respondeu sem qualquer hesitação na voz ou no coração,
mostrando-se eternamente grata pelo enorme apoio e cuidado que Anabela estava a
mostrar ter para consigo
- Vais
prometer-me que vais cuidar muito muito bem do meu netinho, pode ser? – um
sorriso carregado de carinho voltou a surgir em seus lábios, ao mesmo tempo que
guiava a mão à barriguinha de treze semanas de Joana, pronta a acariciá-la
- Eu
prometo, claro que sim. – ela não conteve agora duas lágrimas de alegria, e
finalmente pôde exalar tranquilamente, sobrepondo a sua mão à da mãe de Ruben
- Vá,
pronto, chega de choro… Uma carinha tão laroca como a tua não merece mais
lágrimas. Cabecita erguida e um sorriso lindo nesses lábios. – os seus dedos
depressa ocorreram às faces frias de Joana, limpando-lhe cada vestígio das
gotas de orvalho, completando com um beijo que lhe despoletou no primor da
testa – Mas bem, arruma as tuas coisas e vem para dentro, está frio aqui fora e
eu não quero que fiques doente. – Anabela levantou-se do baloiço, preparando-se
para voltar à casa
- Dona
Anabela? – assim que ouviu a sua invocação, ela interrompeu a sua caminhada e
olhou Joana, que se preparava então para se erguer e seguir-lhe as passadas
dentro de alguns minutos – Obrigada… Por tudo.
Anabela
não lhe respondeu mais do com um sorriso maternal e genuíno, não eram precisas
mais palavras, e então caminhou até à entrada, pronta a regressar ao conforto
do interior do seu lar.
No acto natural
de abrir a porta, foi surpreendida pela presença do seu filho mais novo, que se
mantinha hirto junto à soleira. Pela postura que induzia ao corpo tal como pela
expressividade que carregava no semblante, mostrava estar ali há mais tempo do
que ela poderia imaginar… E esse facto veio a justificar-se por si só, sem
sequer ter sido necessário o apelo à pergunta.
- Eu… -
com um brilho intenso nos olhos esbugalhados, Ruben viu-se obrigado a clarear a
voz antes de continuar – Eu vou ter um bebé? – era tudo o que ele conseguia
pensar, e foi tudo o que ele conseguiu dizer numa expiração tremulante, com as
lágrimas a rasarem-lhe os olhos por completo
- Tu vais
ter um bebé. – Anabela não se esforçou em contornar a pergunta nem tampouco
mentir-lhe, era óbvio que ele ouvira toda a sua conversa com Joana
- Eu vou
ter um bebé. – com o peito a deixar-se envolver por uma procela de emoções que
Ruben não sabia como lidar, enquanto a adrenalina corria de um jeito
electrizante dentro das veias, ele sentiu a necessidade de interiorizar a ideia
num murmúrio ao fim de alguns segundos, e foi inevitável a abundância e a
vigorosidade com que as lágrimas se precipitaram às suas faces – Oh mãe… - as
palavras faltavam-lhe, tal era a emoção que carregava na voz – Abrace-me…
- Oh meu
amor, vem cá… - ele precisava de sentir aquele apoio, aquela segurança que só a
sua mãe era capaz de lhe transmitir, e Anabela não ponderou por um instante
recusar-lhe aquele carinho
Ruben não
se sentiu capaz de fazer mais nada senão chorar. Agarrou-se à mãe com força e
mal teve a oportunidade de enterrar a cabeça na dobra do pescoço dela,
deixou-se chorar tanto quanto precisava e se sentia capaz.
A
empregada doméstica e governanta, Glória, já tinha saído da cozinha há alguns
minutos para deixá-los a sós, usando o lanche que já havia preparado e servido,
como pretexto para ir chamar os amigos de Ruben, convidando-os a reunirem-se na
sala de jantar e mimar os estômagos com algumas especiarias caseiras que iriam
deliciá-los. Sabia que aquela era uma daquelas conversas que só era para se ser
tida entre mãe e filho, e ela não precisava ficar para ouvi-la.
Quando o
peito dele parou de sacudir e a respiração acalmou, Ruben voltou a sentir o
à-vontade de procurar os olhos da mãe, expondo-lhe as questões mais evidentes
que o vulnerabilizavam.
- Mas… e
agora? O que é suposto eu…? – o leve soluçar ainda era um entrave para que
conseguisse falar em condições, do mesmo modo que os seus pensamentos se
atropelavam pela velocidade que surgiam
- Eu
imagino que te sintas perdido no meio disto tudo, e achas que não sabes o que
fazer, mas tu sabes… Aí no fundo tu sabes exactamente o que tens de fazer e eu
sei que a decisão que tomares vai ser a mais correcta. – ela tocou
carinhosamente o lado esquerdo do seu peito e falou com uma solenidade e
conforto que só uma mãe possui, como se detivesse para si todas as respostas do
mundo
- Mas…
Como? – ele sentia-se assustado, e isso era mais do que compreensível… nos seus
olhos estava traçado o dilema em que estava envolvido
- Ouve o
que diz o teu coração, Ruben… Lá estão todas as respostas que precisas. – ela
deu-lhe um sorriso caloroso que o encheu de esperanças e o confortou um pouco,
mas quando ele se preparou para voltar a falar, a súbita chegada de Joana
obrigou à suspensão daquela conversa que com certeza iria ser retomada mais
tarde
- Vai
comer qualquer coisa, filha… A Glória já foi servir o lanche. – Anabela falou
para Joana no momento em que ela parou junto a eles, não tendo coragem
suficiente de olhar directamente para Ruben e refugiou-se somente na sua mãe…
ele aproveitou esse facto para limpar o rosto longe do olhar dela sem lhe
querer dar a perceber que estivera a chorar
- Sim, eu
vou só lá em cima deixar os livros e o computador e já volto a descer… - Joana
ofereceu-lhe um sorriso ainda frágil, ainda evitando o contacto com ele
- Ruben,
porque é que não ajudas a Joana a levar as coisas para o quarto? – Anabela viu
ali a oportunidade perfeita para antecipar uma conversa que não podia continuar
a ser adiada, e por isso agarrou-a tão bem quanto pôde
- Ah… Não
é preciso, eu consigo fazê-lo sozinha… - ela retraiu-se, não estava preparada
para voltar a estar sozinha com ele
- Não, a
minha mãe tem razão… Estás carregada com essa pilha de livros, deixa-me
ajudar-te! – Ruben alinhou subtilmente na conversa da sua mãe… depois do que
acabara de descobrir, não estava disposto a passar mais um minuto longe dela
-
Obrigada… - Joana cedeu relutante, vendo que não tinha escolha, e olhou-o pela
primeira vez nos olhos, enquanto ele lhe tirava o material de estudo dos braços
e o segurava nos seus
Despediram-se
temporariamente de Anabela e seguiram lado a lado todo o caminho traçado até ao
andar superior. A falta de conversa deixou-a desconfortável, e foi fácil para
Ruben perceber essa distância imposta por ela. Mas ao contrário do que seria de
esperar, isso não o incomodou, melhor que ninguém ele sabia que a relação entre
eles não estava a atravessar a melhor fase e até chegar a oportunidade de terem
uma conversa progressista e definitiva, essa condição não iria mudar. E no
entanto esse silêncio foi aproveitado… da melhor maneira possível. Durante todo
o percurso Ruben não desviou os olhos de Joana por um segundo… nem do seu rosto
angelical, nem do seu corpo e do jeito gracioso como o seu quadris balançava
enquanto caminhava; não desviou o olhar da sua barriga(!) Aquela barriguinha
ligeiramente saliente que gritava pela sua atenção, que pedia para ser
acariciada pelas suas mãos. O seu rosto iluminava-se somente com a ideia que
dentro dela crescia o seu filho, um filho só deles, e a vontade repentina que ele
teve em trancá-los num quarto, beijá-la e matar todas as saudades que sentia
dela, no fundo as saudades que sentida deles enquanto casal, começou a
consumi-lo por dentro.
Ele não
conseguia parar de olhá-la, e não se importou minimamente com a possibilidade
de Joana poder apanhá-lo em flagrante a fazê-lo… Naquele momento Ruben
sentia-se demasiado feliz para se importar.
- Ruben,
amor! – era Inês… apanhou-os a meio do corredor, enquanto saía do quarto de
solteiro do seu futuro marido – Ainda bem que aqui estás, preciso de falar
contigo.
- Agora,
Inês? – Ruben lançou um olhar de realce à sua noiva, que depois arrastou até
Joana
- Estás
ocupado? – ela apoiou o corpo na soleira da porta e ergueu-lhe prepotentemente
a sobrancelha como se estivesse a desafiá-lo
- Eu vou
levar as coisas da Joana para o quarto dela… - não disse nenhuma mentira, no
entanto omitiu a vontade e intenção que tinha em passar algum tempo a sós com
ela
- O
quarto é já ali ao fundo, eu tenho a certeza que a Joana não se importa de ser
ela a levá-las… - Inês afirmou confiante, e depois falou directamente para
Joana, como se tivesse sido apenas agora que tinha dado pela sua presença –
Pois não?
- Não,
claro que não me importo… Obrigada, Ruben. – ela agradeceu, com um sorriso sem
jeito quando começou a retirar os livros dos seus braços, mas ele recuou
imediatamente, impedindo-a
- Eu
disse-te que te ajudava e é isso que vou acabar de fazer. – declarou seriamente
olhando-a nos olhos, falando com ela e só para ela
- Amor, a
Joana já disse que levava! – Inês voltou a impor-se, começando a bater
ritmadamente o pé contra o soalho flutuante do chão – Eu preciso de falar
contigo… Ainda há pormenores da cerimónia que temos de discutir e estamos a
dois dias do casamento!
- Mas… -
ele tentou arranjar uma desculpa, mas desta vez foi Joana a intrometer-se na
conversa
- Vai
falar com a tua noiva, eu trato disto. – ela pegou finalmente nos seus livros e
portátil e Ruben sentiu-se incapaz de voltar a contra-argumentar
- Vês,
amor? Acho que devias dar mais ouvidos à tua madrinha! – Inês pegou-lhe a mão e
arrastou-o para o quarto, enquanto o olhar dele ficou para trás, preso ao de
Joana, que somente quando o viu desaparecer atrás da porta, se sentiu capaz de
voltar a dar vida aos calcanhares e caminhar na direcção oposta directa ao
quarto das meninas
***
O jantar
decorreu tranquila e agradavelmente em todos os momentos. Mais uma vez o
casamento foi o tema principal discutido sobre a mesa e com ele juntou-se a
preocupação do local da cerimónia, que havia sido marcado a decorrer nos
jardins principais da vivenda, mas o temporal continuava a arrasar os céus e
ameaçava estender-se até ao final da semana.
Inês não
escondeu a inquietação que sentia do seu copo-de-água poder ser arruinado, ao
contrário do seu noivo, que embora se esforçasse por se mostrar também consternado
na frente dela e dos amigos, intimamente não podia estar a sorrir mais, por
forças exteriores estarem a conspirar a seu favor. “Tens de aprender a
ler os sinais… é tudo sobre os sinais.” A sua mãe sempre lhe dissera.
Pessoalmente não se considerava um supersticioso, a não ser claro, dentro das
quatro linhas, mas a sua opinião começava a mudar. Talvez isto até fosse bom…
Se o casamento tivesse de ser adiado, ele teria mais tempo e espaço de manobra
para decidir o que fazer com a sua vida: o que ele queria e precisava
realmente.
O
conforto da lareira voltou a reunir todos na sala ao convite de um café
juntamente com um filme que passava num canal por cabo, e que todos concordaram
assistir, aconchegados em mantas na comodidade dos sofás.
- Eu vou
à cozinha buscar mais pipocas, alguém quer alguma coisa de lá? – Mauro
aproveitou a pausa do filme que tinha entrado para o último intervalo, para
voltar a encher a tigela de pipocas pela terceira vez
- Me
traga uma garrafa de água, por favor, tanta pipoca dá sede gente… - David foi o
único a manifestar-se, enquanto se levantava do sofá apenas para esticar as
pernas que já começavam a ficar dormentes de terem estado tanto tempo na mesma
posição – Ué, pera aí… Joana, essa não é você? – logo que um anúncio comercial
surgiu no ecrã do enorme plasma, a atenção de todos acompanhou o comentário de
David
- Oh meu
Deus… É mesmo a Joana! – com um sorriso ligeiramente aberto pela surpresa,
Paulinha, a esposa de Mauro, reforçou o observação de David, obrigando a
atenção de todos a ser focada na televisão
O
comercial do perfume Heat Blue, a nova aposta da conceituada marca
Dulce&Gabbana, tinha sido finalmente liberado em Portugal, ao mesmo tempo
que o produto havia sido lançado no mercado.
Joana
olhou-se na televisão na campanha pela qual ela dera a cara, e rapidamente
reconheceu as paisagens e relembrou os tempos de filmagens que se sucederam na
maravilhosa República Dominicana. Apesar de sentir orgulho em si mesma pelo
trabalho que desempenhara, o mesmo orgulho que os seus amigos em seu redor
mostraram ao vê-la brilhar, ela não pode deixar de se sentir mal, pois aquele
anúncio fora em parte responsável pela sua separação de Ruben. Mas finalmente
ele podia ver com os seus próprios olhos o motivo de ausência dela no avião que
ele e a sua equipa embarcara em São Francisco com destino a Lisboa… Finalmente
ele percebeu o motivo da ausência dela naquela semana, era mais do que evidente
que não podia culpá-la mais por isso – apesar de já o deixar de ter feito –, e
nunca sentiu tanta repugnância e revolta de si mesmo como naquele momento.
- Tenho
tanto orgulho em ti! Estás fantástica, o anúncio está excelente! – a doce
Adriana não se conteve e rapidamente correu para abraçar a amiga
-
Obrigada. – Joana agradeceu-lhe com um sorriso carinhoso ao mesmo tempo que
sentiu ser calorosamente abraçada por ela
Adriana
despoletou-lhe um beijinho no topo da cabeça, e sentiu-se ser atraída por um
olhar que a fixava. Não demorou muito a encontrá-lo. Era o de Ruben. Desde que
se recusara ver Joana a ser beijada por outro homem, mesmo que fosse em
televisão, ele desviara o seu olhar para procurar o dela. Nunca o encontrou,
porém. Joana evitou olhá-lo, recusando perpetuar-se a qualquer contacto visual
que poderia compartilhar com ele. Já se sentia mal o suficiente, o coração já
lhe doía o bastante e sabia que incentivar a qualquer aproximação entre os
dois, por mínima que fosse, poderia ser fatal para si.
Ruben
sentia-se profundamente triste, quebrado e nunca antes quis tanto voltar atrás
no tempo e remediar o erro que cometeu, como naquele momento. Adriana olhou
para ele, do seu lado oposto do sofá onde também ele estava sentado,
continuando a segurar Joana no seu abraço, e atirou-lhe um lance furtivo de
desilusão que sentia por ele ter magoado tão profundamente e de uma maneira
irreversível, a sua mais adorada amiga. Ruben entendeu a intenção da reprovação
daquele olhar e imediatamente retraiu-se no seu canto do sofá. Por mais que
tivesse desejado que a vida tivesse seguido um rumo diferente, agora era tarde
demais para solucionar o que quer fosse.
- Bem, já
é tarde, eu vou-me deitar… - anunciou Joana, afastando a manta das suas pernas
para poder levantar-se
- Já?
Fica mais um pouco… O filme ainda não terminou… - David insistiu com um
beicinho adorável no rosto, segurando-lhe delicadamente o braço
- Estou
cansada, Dê… Amanhã contas-me como acabou, pode ser? – ela brincou levemente
com ele, passando-lhe os dedos pela sua farta cabeleira de caracóis afunilados,
e depois despediu-se dos amigos de um modo geral, mesmo antes de sair – Boa
noite a todos!
- Boa
noite…
Sozinha e
com o coração mais vazio que nunca, rumou ao piso superior de volta para o
quarto, adivinhando já de antemão que a sobrecarga emocional que sentia não lhe
daria uma noite devidamente relaxada… Tal como vinha a acontecer há vários
meses. Apesar do cansaço evidente demarcado nas lacunas do seu rosto, o sono
ainda não tinha chegado e sabia que mesmo que se se forçasse a adormecer, a
agitação na sua cabeça fá-la-ia dar voltas e mais voltas na cama por horas a
fio, se assim tivesse que ser.
Suspirou.
Caminhou até à casa de banho para refrescar a cara e escovar os dentes, e
quando voltou ao quarto procurou por um pijama no armário, aliviando a pressão
das roupas no seu corpo que usara durante todo o dia.
- Talvez
continue a ler o livro… - pensou em voz alta e olhando no topo da sua mesinha
de cabeceira, O Monte dos Vendavais, um livro que trouxera
consigo na mala e que tinha vindo a ler nas noites anteriores antes de ir
dormir
Junto à
cama que partilhava com Adriana, e pensando, ingenuamente, que estava sozinha,
começou a despir-se. Libertou-se em primeiro lugar das suas skinny
jeans para vestir as calças de ceda branca do seu pijama, e retirou
depois a camisola de lã quente que lhe abraçava a singularidade das suas ancas.
Espreitando
secretamente entre a brecha da porta, e já ali por algum tempo, estava Ruben.
Havia deixado o conforto da sala de estar e seguido os passos de Joana no
momento em que achara que não levantaria suspeitas entre os amigos. E agora estava ali. Escondido atrás da porta que ela deixara meramente encostada. Olhando-a.
Estudando-a. Absorvendo todos os seus movimentos e tentar cravar na memória
cada um deles sem excepção. Estava a tentar ganhar coragem para entrar e falar
com ela, mas não sabia como fazê-lo sem assustá-la.
A sua
respiração afundou dentro do peito no instante em que a viu soltar-se da
camisola de lã e permanecer por alguns momentos somente resguardada pelo fino
sutiã de renda preta. Contemplo-a o melhor que soube, do melhor jeito que
podia. Parecia que todo o tempo tinham estado afastados o tinha feito esquecer
da beleza que resguardava o corpo daquela mulher e rapidamente sentiu o sangue
a aglomerar-se nas orelhas e nas maçãs do seu rosto, pelo desejo e luxúria que
subitamente o atacaram. Ela era linda… Linda na maneira mais simples e
encantadora de ser.
Os seus
olhos percorrem-lhe o corpo: cada contorno, cada curva, cada recanto… Queria
tocá-lo, senti-lo, abraçá-lo, beijá-lo e sobretudo protegê-lo. Era tudo o que
ele mais queria.
- Posso?
– depois de dois toques leves na porta, ele tomou finalmente iniciativa de
entrar, mesmo antes de receber qualquer permissão – Estava aberta…
Num
sobressalto inesperado, Joana deu automaticamente um pulo virando-se para ele.
Os olhos de Ruben não tiveram qualquer autocontrolo e foram repousar na
barriguinha de grávida dela, deixando-se maravilhar pelo seu volume e contorno,
perfeito e cuidadoso. Ao sentir-se desconfortável ela cobriu rapidamente o
peito com a camisola de pijama que ainda não tinha vestido.
- Ruben…
- o tom da sua voz desceu uma oitava, e o seu olhar caiu de timidez no chão
-
Desculpa, eu não te queria assustar. – ele disse com sinceridade
- O que
estás aqui a fazer? Eu não quero discutir… - Joana ainda estava magoada com ele
depois da discussão que travaram naquela manhã, e ao estarem de novo sozinhos,
era evidente que não queria voltar a passar pelo mesmo
- Eu não
vim aqui para discutir… - proferiu calmamente, ainda fixando o corpo dela, retraído
na sua frente – Tu não entendes que eu me preocupo contigo, pois não? – ele foi
suave na maneira como falou, avançando na direcção dela mas tomando cuidado
para não invadir abruptamente o seu espaço
- Se te
preocupas comigo, tens uma maneira muito estranha de o demonstrar. – ao invés
de responder, Ruben preferiu ignorar aquele comentário, e por isso ela voltou a
ter a oportunidade de falar – Podes virar-te, por favor? Eu estava a vestir-me…
- Estás
com vergonha de mim? Até parece que nós nunca… - ele começou por dizer com um
sorriso torto nos lábios, mas não chegou completar o raciocínio… o olhar dela
foi o suficiente para fazê-lo mudar de ideias – Tudo bem… – contrariado, deu
meia volta aos calcanhares e esperou pelo sentido de permissão para voltar a
olhá-la
- É verdade, tenho
uma coisa para ti… - ao fim de alguns segundos e já indumentariamente composta,
Joana voltou a falar, alcançando a mesinha de cabeceira pertencente à sua cama,
em quatro passadas pretensiosas e oblíquas
- Para
mim? – golpeado pela curiosidade e intriga, ele voltou a procurá-la quando
recebeu luz verde, deixando o corpo acompanhar o movimento dos olhos e assumir
uma novo posição
No
interior da gaveta a contar do topo, Joana retirou de uma caixinha azul de
veludo, a pequena bracelete banhada a ouro que a acompanhava religiosamente no
pulso esquerdo durante os últimos, agora quase, quatro anos.
Depois de
Ruben ter seguido com a sua vida enfrente, ter tornado pública uma relação com
outra mulher e a ter oficializado com um pedido de casamento, todas as
esperanças de os dois poderem encontrar o caminho de volta um para o outro,
haviam sido arrasadas perpetuamente. Já não fazia qualquer sentido para Joana
continuar a possuir uma lembrança que apenas com uma simples inscrição mantinha
gravada o início de uma história de amor real, que havia conhecido o seu fim
cedo demais.
- Toma. –
ela estendeu a mão na direcção dele, pronta a encerrar definitivamente o
passado, qualquer recordação deixada pelo caminho que a pudesse fazê-la
lembrar-se dele… ironicamente e de forma completamente contraditória, Joana
carregava em seu ventre o bem mais preciso que a faria sempre recordar Ruben e
a mantinha ligada a ele incondicionalmente
- Mas… -
ele franziu as sobrancelhas no momento em que reconheceu a bracelete que lhe
oferecera no primeiro aniversário de namoro, e depois olhou Joana, confuso – A
pulseira é… Nós… Eu não posso aceitá-la de volta, é tua.
- Era
nossa, e tudo que é nosso acabou… Não existe mais. – afirmou, permanecendo com
braço estendido na frente dele, à espera de o ver tomar uma reacção e pegar
bracelete para si
- Não.
Foi o meu presente para ti e eu quero que fiques com ela, independentemente… -
sem deixá-lo terminar, Joana tomou a mão dele na sua forçando-o a segurar a
pulseira da qual ela se queria desfazer o mais rápido possível
- Mas eu
não quero. – ela contradisse quando as suas mãos entraram contacto, fazendo um
esforço em parecer firme e não deixar os olhos pestanejar em sinal de
vacilação, porém o tom fraco da sua voz quase a fez quebrar na frente dele
- Eu não
entendo, Joana… – num murmúrio dissipado Ruben pareceu magoado com a atitude
dela, embora, e devido às circunstâncias, ele não tivesse esse direito… mas a
verdade é que vê-la querer desfazer-se de algo que para eles teve tanto
significado, magoou-o mais do que pudesse vir a imaginar – Porque é que estás a
fazer isto?
- É o que
tem de ser feito. É a coisa certa a fazer.
- E diz
quem?
- Ruben…
- ela sussurrou, fechando simultaneamente os olhos para tentar encontrar a
calma e o alento que precisava tão urgentemente… Joana queria pôr termo àquela
conversa antes que tomasse proporções que nenhum dos dois iria conseguir tomar
de ânimo leve, e educadamente pediu-lhe para sair – Eu estou cansada, se não te
importas…
-
Importo! – Ruben não pensou duas vezes antes de lhe dar uma resposta mais
consciente e adequada, ele procurou-a com a intenção de discutir a gravidez mas
a vontade de senti-la perto, de tocar o seu corpo e aconchegá-lo ao seu era tão
forte e esmagadora que ele não se conseguiu conter e mostrar o querer que tinha
em ficar
- Ruben,
isto é inapropriado… - proferiu com a voz a deixar-se tremer, enquanto o via
encurtar a distância que os separava e a aproximar-se perigosamente do seu
perímetro de segurança
- O que é
que é inapropriado? A minha vontade de querer estar perto de ti? – um sorriso
tímido ergueu a costura dos seus lábios continuando a avançar na direcção dela
com a intenção de deixar o seu coração falar e unir os dois corpos que
precisavam desesperadamente de voltar a sentir o calor um do outro, mas Joana
depressa travou essa intenção – Não me deixas tocar-te? – ele perguntou com um
olhar triste e confuso quando ela lhe negou o toque da mão na sua cintura,
retraindo-se e recuando ligeiramente
- Ruben…
Eu não estou a perceber o que queres… - naquele instante, e vendo-se ser
arrastada para uma intimidade que já há muito tempo não partilhava com ele, o
seu coração começou a bater tão forte dentro do peito que ela podia
praticamente sentir as batidas ecoar em seus ouvidos
- Não há
nada para perceber, Joana… - ele não desistiu de tê-la nos seus braços, e
quando voltou a avançar na sua direcção marcando um passo apenas, as suas mãos
grandes apertaram-lhe carinhosamente a cintura e num movimente calmo e
apaixonado Ruben trouxe-a até a si, colando finalmente os corpos
- O que é
que estás a fazer? – a sua voz era tão frágil que mal se conseguia ouvir
- O que
já devia ter feito há muito tempo, mas fui demasiado cobarde para isso… - Joana
preferiu ignorar o que ele dissera, evitando aprofundar a situação tão delicada
que eles estavam a travar e fugir aos fantasmas do passado
Cravando
o olhar nos lábios de cada um, e devido à proximidade a que expuseram os seus
rostos, eles deixaram-se respirar solenemente um ao outro. Enquanto Joana
exalava para fora dos lábios o ar que se libertava dos seus pulmões, Ruben
inspirava-o por um segundo para depois expeli-lo e ser ela a repetir o processo
tomado por ele anteriormente.
Apertando-a
ainda mais para si para que pudesse senti-la tão perto quanto fosse possível e
sentir também a proximidade com o seu filho quando a barriguinha de grávida de
Joana pressionou suavemente a sua zona abdominal, as mãos de Ruben acabaram por
encontrar o seu lugar quando os seus braços a enlaçaram e ele as repousou no
fundo das costas, enquanto as dela, de uma forma mais tímida e hesitante,
acabaram por subir e atracar no peito cinzelado do homem que ainda amava tanto.
- Diz-me…
Não tens saudades minhas? – o timbre quente e embargante voltou a surgir, agora
num sussurro intenso que a fez apaixonar-se ainda mais por ele, se isso ainda
era possível – É porque… Eu tenho tantas saudades tuas, sinto tanto a tua
falta…
Instintivamente,
e de maneira a fugir a uma pergunta à qual não queria responder, Joana desviou
o rosto por um segundo, deixando a linguagem corporal falar por si e demonstrar
como já não conseguia lidar mais com aquela saudade, no entanto o seu corpo não
se moveu, deixando-se permanecer exactamente onde devia estar.
- Joana, olha
para mim… - a voz dele soou tão baixinho e tão perto dos seus lábios, quando
uma mão lhe procurou o rosto para segurar e com o toque incentivá-la a olhá-lo,
mas quando ao fim de alguns segundos ela não se moveu, Ruben pediu novamente
num murmúrio puramente apaixonado – Olha para mim…
Joana
então olhou. A força da gravidade entre eles obrigou-a a voltar a mergulhar os
seus olhos nos dele e deixar-se afogar lentamente no amor que lhe sentia,
aconchegada em seus braços. Os rostos refizeram o caminho anterior e voltaram a
aproximar-se, mas desta vez arriscando-se a uma adjacência mais íntima e
tentadora, fazendo os narizes aconchegarem-se um ao outro ao se encostarem
meigamente.
O olhar
de ambos permanecia desperto e fixado um no outro, mas quando não dava mais
para aguentar a tensão e o desejo que sentiam, os olhos fecharam-se… os dela
primeiro que os dele. As respirações começaram a ficar a cada segundo mais
pesadas e tornava-se cada vez mais impossível resistir à tentação daquele
amor.
Ao fim de
alguns minutos envoltos numa aura e mundo só deles, e vendo que Joana não tinha
mostrado qualquer intenção de recuar, Ruben sentiu-se encorajado o suficiente
para avançar e deixar o momento falar por si. Empurrando suavemente a testa na
dela, ele procurou-lhe os lábios com os seus e ao encontrá-los, não resistiu a
roçá-los do jeito mais ternurento que havia.
Todo o
corpo de Joana estremeceu trepidamente com aquele toque singelo, mas não o
recusou. Ela queria tanto aquilo quanto Ruben, queria tanto senti-lo e tocá-lo
quanto ele, queria tanto entregar-se ao amor que os unia quanto fosse possível.
Foi a
infelicidade do acaso que lhes roubou o momento e a oportunidade que eles
tinham vindo a procurar por tanto tempo. Gargalhadas e conversas que não dava
para descodificar, surgiram no corredor agregado ao quarto, obrigando Joana a
afastar-se dele imediatamente mesmo antes do beijo ser consumado, e finalmente
caindo em si para se aperceber do enorme erro que estava prestes a cometer se
não tivessem sido interrompidos.
- Que é
isso gente… Um homem no quarto de tanta mulher? – a voz animada de Brenda
surgiu no instante em que enveredou pela porta do quarto, juntamente com as
outras as meninas, desvendando a presença intrusa e inesperada de Ruben – Não
pode ser assim, não, ué…
- Vá
noivinho, toca a andar que nós estamos cansadas e queremos dormir… - a esposa
de Nuno Gomes meteu-se com ele, expulsando-o em brincadeira do quarto, para que
elas pudessem ter mais privacidade para trocar de roupa e poderem deitar-se no
conforto das suas camas
- Ah…
Sim, desculpem, eu estava já de saída. – ligeiramente envergonhado, ele não
conseguiu tirar os olhos dos de Joana no momento em que proferiu as palavras,
mas felizmente ninguém notara a atmosfera pesada e a química que amainava entre
eles, bem, ninguém excepto Adriana, que ao olhá-los rapidamente conseguiu
discernir o que estava a acontecer ali – Boa noite, durmam bem…
Com uma
leve saudação Ruben despediu-se no seu jeito amigável e carinhoso de ser, já
muito habitual de se lhe ver, e quando elas lhe desejaram uma boa noite de
volta praticamente em uníssono, ele então deixou o quarto para regressar ao
seu.
Enquanto
as restantes meninas, alheias ao que tinha acontecido, se preparavam entre as
suas tarefas para ir dormir, Adriana praticamente voou para junto de Joana, que
então sentada ao beiral da cama que as duas partilhavam, quase se deixou abater
pelo momento anteriormente vivido, e lacrimejar, quando as lágrimas lhe subiram
aos olhos cansados.
- Oh
pequenina… - a voz carregada de compaixão de Adriana, soou perto do seu ouvido,
assim que ela tomou lugar junto a si
- Ele
sabe, Adriana… - Joana deixou escapar num murmúrio e ao fim de alguns instantes
de reflexão interior, arrastada para um momento de auto-hipnose
quando os seus olhos fixavam nada nem lugar nenhum
- Sabe o
quê? Quem é que sabe? – a namorada de David mostrou-se naturalmente confusa
pelo desabafo da amiga que não seguia nenhum fio condutor de conversa
- O
Ruben… - ela esclareceu, finalmente recolhendo o seu olhar do vazio para
inseri-lo em Adriana, levar a mão à sua barriguinha avolumada para acariciá-la
suavemente e dar o devido ênfase e sentido à sua afirmação – Ele sabe…
Boa
noite, queridas leitoras!
Primeiro
de tudo devo-vos um ENORME pedido de desculpas pela tamanha ausência. Não sei o
que se passou comigo durante este tempo, uma grande crise de inspiração na
escrita, penso eu. Demorei imenso tempo a concluir o capítulo porque
simplesmente não conseguia escrever... Queria, tentava mas nada saía bem do
jeito como queria, as ideias estavam estruturadas mas a inspiração para
escrever era praticamente nenhuma. Sinto muito por vos ter feito esperar esta
enormidade de tempo, mas não tive outro remédio.
Às
meninas que desistiram da história, tenho muita pena e as minhas sinceras
desculpas, e às que cá continuam e me vão deixando mensagens de apoio, não
encontro palavras suficientes para vos agradecer. Vocês são incansáveis.
Espero que compreendam, gostem da terceira parte do capítulo, e deixem os vossos comentários.
Um
beijinho, Joana :)
Olá Joana:
ResponderEliminarNem sei o que dizer para te agradecer, eu não comecei a ler a tua fic do inicio mas quando me falaram dela e li um capitulo tive logo de começar a ler deste o primeiro. Simplesmente fantástica.
Vim regularmente cá para saber noticias e confesso já estava a pensar em desistir porque cada vez mais achava que tu tinhas desistido, pois eu ia vendo que aceitavas os comentários mas até isso tinhas deixado de fazer e para mim cada vez mais ganhava a ideia que tinhas desistido. Mas graças a todos os santinhos :) não desististe.
E este capitulo????!!!! Sem palavras, cada linha, cada momento é apaixonante. Não consigo contar todos os sentimentos produzidos na leitura deste capitulo...
É um crime esta tua escrita, mata-me ;) pois estou mortinha por mais ;)
Por favor nunca desistas.
Cá estarei à espera do próximo.
Beijinhos.
é impossível desistir destas história!
ResponderEliminarmais uma vez parabéns, não imaginas como é bom ler a tua história...
sem dúvida a melhor!
continua!
beijinhos
Olá
ResponderEliminarAdorei *_*
Beijinhos
A.M
Olá,
ResponderEliminarLi a tua história desde o início e nunca desisti dela. Acho que quem realmente gosta de a ler percebe porque é que não conseguiste postar.
Hoje foi com grande surpresa que espreitei o blog e vi que havia um novo capítulo! Fez o meu dia! Muito obrigada!
Por favor nunca desistas desta história!
Beijinhos
Eu amo esta história! Amo mesmo, e acho que nunca vou conseguir desistir dela, por mais tempo que demores a cá vir deixar um capítulo.
ResponderEliminarAmo o amor destes dois, gostava de ter um amor assim... Ter um Ruben destes, completamente louco e apaixonado ( mas que fizesse menos asneiras), que me amasse com a mesma força que o Ruben ama a Joana :)
Adoro adoro adoro este casalinho *.*
Estou tão contente que o Ruben já sabe que vai ser papá!!
A Inês é que já começa a estar a mais! grrr
Beijinhos, adoro o que escreves!
Ai Joana, nem sei o que te digo. Sinceramente, quando entrei no facebook e vi a sua notificação no grupo, gritei tanto, meus pais ficaram olhando pra mim como se eu tivesse vendo um ET. Foi algo realmente louco!
ResponderEliminarNUNCA DESISTI DESSA HISTÓRIA, NEM NUNCA VOU DESISTIR!!!!!
Estou te abraçando nesse momento, consegue sentir? skldghsdkghdkghkdfhfdhdkf é que nem palavras são suficientes para descrever um capítulo como este (ou melhor, todos os seus capítulos). Chego ao fim de todos suspirando e pensando alto "Meu Deus, como é PERFEITO!" É clichê, mas... as palavras somem, não dá pra descrever. Concordo com o primeiro comentário "É um crime esta tua escrita, mata-me ;) pois estou mortinha por mais ;)" AMO ESSE CRIME, ESTOU CADA VEZ MAIS APAIXONADA PELA HISTÓRIA! ❤❤
Beijinhos :*
Gabi.
Está tão, mas tão lindo.
ResponderEliminarGostaria também, se possível, de ver mais flashbacks desse casalinho de quando eram namorados antigamente! Ia ser mais lindo ainda.
Bjinhos *.*
Quero mais... Tou super curiosa para ver o próximo... Quanto mais leio mais quero...
ResponderEliminarContinua... Cada vez tá melhor...
Fantástico como sempre...
Olá!
ResponderEliminarQue saudades que eu tinha de ler um capitulo desta história maravilhosa, foram 8 meses de espera, de angustia, quase de desespero, por isso tá fora de questão desistir da história destes dois teimosos.
Adorei cada momento, a bebedeira do Ruben e respetiva teimosia (qual é o bêbedo que não é teimoso?), o desabafo com o David, o escutar da conversa da mãe com a Joana (é feio ouvir atrás das portas mas desta vez foi por uma boa causa). Adorei a conversa da Joana com a D.Anabela, a esta ela não conseguiu enganar, e ainda bem.
Foi tão bom ver o Ruben descobrir que o filho que a Joana carrega é seu, e vê-lo procurar o colinho da mamã para ouvir os seus conselhos, e que conselhos, é só seguir o coração.
Mas o final do capitulo é que me deixou ko, eles têm uma magia tão própria que nem precisam de muitas palavras para comunicarem, só foi pena terem sido interrompidos. Agora espero que o Ruben aproveite bem os "sinais" da meteorologia e ponha um fim neste casamento, e mande a Inês dar uma curva, que ele agora vai ser pai e tem que reconquistar a confiança da mãe do seu filho, porque o amor, esse, já é dele à muito tempo.
Joaninha amei, nunca desistas de escrever (isso sim era um crime, tu escreves maravilhosamente bem) porque eu também não desisto de ler, demores o tempo que demorares eu vou estar cá para ler, claro que preferia ter um capitulo todos os dias para ler mas sei que isso não é possível, por isso continua, porque agora que a Joana sabe que ele sabe da gravidez tou curiosa para ler o momento em que eles vão falar no assunto.
Continua
Beijocas
Fernanda
Adorei tanto este capítulo. Tanto este como os outros todos.
ResponderEliminarTens uma escrita maravilhosa que me prende de tal forma e era impossível desistir desta história fenomenal.
Para ti, só há elogios e mais elogios.
Mas agora deixaste-me imensamente curiosa para saber o que vai acontecer a seguir e isso não é justo (okay, talvez só um bocadinho).
Fico à espera do próxima e não te esqueças de continuar ;)
Espero por um Especial de Natal, sim? ♥
ResponderEliminarAdorei quero o proximo.bjs
ResponderEliminarFalta muito para um novo capítulo??
ResponderEliminarespero ansiosa :)
beijinhos
Kero o próximo... Tou super curiosa para o ver...
ResponderEliminaroh, falta mesmo muito? tens uma data em mente mais ou menos? beijos
ResponderEliminarOlá Joana,
ResponderEliminarDiz-nos só que estás aí e que estás a preparar um novo capítulo. Estamos todos cheios de curiosidade para saber o que acontece a seguir...
Aguardo uma resposta,
Beijinhos
Muitas, muitas, muitas saudades de ler ;)
ResponderEliminarBeijinhos.