segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Capítulo 21 - Amor de perdição (Parte III)

Reunidos na sala de jantar, todos se deleitavam com o almoço que havia sido servido tardiamente e fora das horas regulares. Num clima auspiciosamente amortecido, na mesa era sentida o pesar da ausência demorada e da consequente falta de notícias de Ruben, que ainda não regressara à vivenda da família desde a sua saída no final daquela manhã pluviosa.
Entre um silêncio deprimido que era quebrado somente pelo som do manuseamento das loiças e talheres, e uma vez por outra entre conversas paralelas, porém efémeras, Inês olhava discretamente Joana guardando no pensamento a incerteza de ter sido ou não ela o motivo de desaparecimento do seu noivo. Enquanto isso e inesperadamente, o telemóvel de David soou o toque de uma nova chamada, colocando os olhares dos amigos postos em si, aguardando o sinal de vida de uma só pessoa que até então e durante horas, se mantivera incontactável.

- Quem é, David? É o Ruben? – inquiriu Inês num desafogo de esperança, aguardando meramente uma resposta positiva dele, porém, renegada

- Ah… Não, é o meu empresário. – declarou passivamente enquanto olhava o ecrã do seu telemóvel, e com a mão que tinha disponível limpou os lábios ao guardanapo de pano que lhe resguardava o colo – Eu vou atender a chamada lá fora, com licença. 

- Está tudo bem? – interferiu a sua namorada Adriana sentada a seu lado, tocando-lhe levemente no braço no momento em que o viu erguer-se da mesa

- ‘Tá, amô… Não se preocupa. – ele despoletou-lhe um beijo tranquilizador no topo da cabeça, certo de que não havia qualquer assunto alarmante de foro profissional que o seu empresário quisesse discutir consigo, e afastou-se então para atender calmamente – Oi Giuliano, e aí? – aceitando a chamada, David caminhou para o corredor que ligava a sala de estar ao hall de entrada e à escadaria que ascendia ao piso superior – Não, eu ‘tava almoçando, mas pode falar…

Iniciando uma conversa meramente burocrática com o agente que mantinha há anos ao seu lado, a atenção de David foi desperta por ruídos provindos do lado de fora da porta principal, os quais ele desprezou inicialmente mas que depois, e devido a um sibilar alanzoador que lhe era extremamente familiar, tornou-se impossível continuar a ignorar.
Permanecendo de telemóvel preso junto do ouvido, ele dirigiu-se ao hall de entrada a passo ligeiro e desapressado, apanhando-se a si mesmo numa surpresa quando tomou a liberdade de abrir a porta e encarou Ruben, completamente encharcado pela chuva de que fora alvo na caminhada entre o carro a entrada principal da casa, na sua milésima tentativa em conseguir encaixar a chave na fechadura da porta.

- Giuliano, a gente pode terminar essa conversa mais tarde? Surgiu aqui um lance que vou ter de resolver… - referiu ao olhar seriamente a figura do melhor amigo totalmente alterada, num estado inebriado que não correspondia de todo ao seu – Não se preocupa, eu te ligo logo… Abraço.

Numa introspecção que tinha tanto de surpreendida como de reprovadora, o olhar fincado de David inspeccionou num só mirar a disposição embaraçosa de Ruben, que não lhe sabia reconhecer nem tampouco associar aos seus hábitos e à sua ética enquanto pessoa.

- Oh merda! – resmungou ele ignorando completamente a presença de David, quando as chaves caíram ao chão na sua tentativa em atirá-las para cima da mesinha de apoio no hall

No acto natural e à partida simples, de apanhar as chaves de volta, ao debruçar-se Ruben perdeu o equilíbrio do próprio corpo e quase caiu ao chão, valendo-lhe a ajuda de David que o segurou imediatamente.

- Larga-me! – barafustou num tom áspero, sacudindo para longe os braços do melhor amigo que lhe rodearam o tronco

- Calma, manz, só ‘tava te ajudando…

- Eu não preciso da ajuda de traidores! – disparou numa rajada anteriormente pensada, deixando David baralhado

- Desculpa?

- Sim, é o que tu és… Um grandessíssimo traidor! Traidor! – apesar da ligeira dificuldade em articular devidamente as palavras, Ruben não temeu em lançar-lhe farpas acusadoras, que salientou com o indicador apontado inquebravelmente na direcção da única pessoa que ali o acompanhava

- Ou sou eu que não tô entendendo direito, ou então é você que ‘tá muito borracho pra não saber o que ‘tá dizendo.
  
- Bêbado, eu? Olha lá bem para mim… – indagou num sorriso tolo e invertendo a direcção do indicador contra o próprio peito, enquanto o seu corpo deambulava ligeiramente para trás e para a frente tentando manter o equilíbrio e evidenciando-lhe o estado avançado e incontestável de embriaguez – Achas que estou bêbado?!

- Acho que pior do que está, é difícil! – ripostou, num cruzar de braços pujante e uma certeza infindável na voz

- Oh David, anda deixa-te de merdas… - afastando-o da dianteira do seu caminho, Ruben deu-lhe um leve empurrão no ombro que o fez recuar duas passadas para assim poder descer livremente o escalão do hall – Onde é que está a Joana? Preciso de falar com ela.

- Como é? Não, não… Desculpa, mas enquanto cê ‘tiver nesse estado cê não vai falar com ninguém, muito menos com a Joana!

- Curioso, eu não me lembro de te ter pedido autorização… ou pedi?

- Você não vai falar com a Joana… Sou eu que tô te dizendo! – garantiu-lhe convicto, recuperando a posição soberana inicial e colocando-se novamente na frente dele 

- Mas és tu que me vais impedir, queres ver… Agora deste em guarda-costas, foi? – ripostou novamente numa carga pateticamente ironizada, mantendo o mesmo sorriso tolo e desconfortante no rosto a cada palavra que debitava

- Não seja otário, manz… Cê já viu no estado em que está? Todo o mundo aqui em casa preocupado contigo e tu te enfrascando… tem vergonha, não?

- Vergonha de quê? Agora já não posso beber uns copos, é?

- Pode, claro que pode, mas não a esse ponto… Cê tá todo borracho, mal se tem em pé!

- Eu estou óptimo, e dispenso os teus sermões…

- Não vai me dizer onde andou esse tempo todo?
           
- Mas agora deste em minha mãe? Não é da tua conta! – referiu, dando-lhe uma resposta ensaiada e olhando em simultaneamente em seu redor – Onde é que está a Joana? – voltou a repetir, expondo um evidente e alto nível de impaciência e ânsia

- Não enxergou o que eu disse? Enquanto estiver nesse estado você não vai falar com ela! Nem com ela, nem com ninguém! – David manteve-se firme e não cedeu às exigências, cada vez mais impetuosas do melhor amigo em querer ver Joana, pois estando a par de toda a situação e sob aquelas circunstâncias, sabia que um novo confronto entre eles naquele momento poderia ser fatal

- Ohhh tão querido que ele é… A proteger a amiga! – Ruben gozou-o numa feição descarada que levava já há alguns minutos, apoiando-lhe as mãos no rosto e caindo novamente em risadas que David censurou ao olhá-lo seriamente – Estás do lado dela, não estás? Eu sei que estás… Sabias que ela estava grávida e não me disseste nada, grande traidor!

- Ruben, não fala as coisas sem saber primeiro… - ele começou por dizer, apelando à calma constante, mas viu-se ser interrompido mesmo antes de completar o seu raciocínio

- Eu a pensar que eras meu amigo, mas afinal…

- E sou! Eu sou amigo dos dois, ué!

- Pelos vistos és mais amigo dela… Mas tudo bem, achas que eu me importo? Ela está à espera do bebé lá do outro palhaço, mas eu já nem quero saber, espero que sejam muito felizes! – proferiu ressentido, caindo no erro de deixar a voz abater-se e denunciar-lhe todo o ressentimento que se esforçara por mergulhar em copos de uísque durante grande parte daquela manhã e tarde, mas que pelos vistos ainda era sentido… demasiado

- Não fala bobeira, manz…

- É verdade, David! Eu não quero saber! E é só isso que lhe quero dizer… Quero dizer-lhe na cara que me estou nas tintas, ela que seja feliz com aquele palhaço de Nova-Iorque… Eu já não me importo! – disse num encolher de ombros que o efeito da bebida – e só o efeito provocado pela bebida – o fez reproduzir despreocupadamente e com um sorriso contrafeito e sobretudo desleal, a segurar-lhe as lacunas dos lábios  

- Manz, você primeiro vai tomar um duche, vai descansar um pouco e…

- Não vou nada descansar, eu vou falar com a Joana, já disse! – rezingou de novo numa introspecção impetuosa, atropelando as palavras conselheiras de David – Joanaaa! – vociferou num tom altivo que ecoou por todo o corredor, num jeito mais rápido e prático de a rever, esperando que fosse ela a ir ao seu encontro, mas David ressaltou-o a tempo e tapou-lhe imediatamente a boca, impedindo-o de provocar um escândalo na frente de todos

- Cê pirou dessa cabeça?! Se controla, pô! Quer que a Inês ou a sua mãe o vejam desse jeito? – aos poucos David começava a perder a calma com as atitudes irresponsáveis e totalmente inconscientes do melhor amigo, contudo e ainda assim, esforçava-se ao litro por conseguir mantê-la e transmiti-la a ele

- E eu quero lá saber… Eu já não quero saber de nada, mano! Entendes? Nem da porcaria deste casamento, de nada… - num jeito desesperado e completamente desistente, Ruben elevou numa perpendicular os braços ao corpo, e embateu-os fortemente nas coxas no momento em que os deixou cair

- Ruben, se controla, tô te dizendo! – David voltou a adverti-lo, incitando-lhe num só olhar, os problemas que poderiam verter para o seu lado caso aquele desabafo fosse acidentalmente escutado pelas pessoas erradas – Olha só… Se a Inês te ouve falar esse monte de besteira e te vê assim, ela te mata!

- David, quem é que está… - a conversa a dois foi furada por uma intervenção feminina que inicialmente sobressaltou o namorado de Adriana, mas que felizmente não passou disso mesmo: um susto

- Paulinhaaa… - ao dar pela presença da cunhada, Ruben precipitou-se desalmadamente na direcção dela para a abraçar, agindo como se não a visse há anos e deixando-a naturalmente confusa com aquela sua atitude que lhe era atribuída por uma só e infeliz razão

- Ruben? Mas o que é que…? – apanhada numa surpresa completa, Paula olhou David ainda amarrada naquele abraço, sentindo-se deslocada e procurando por respostas que… não demoraram a chegar

- Parece que temos aqui um problema… - referiu David, coçando a cabeça entre os caracóis da sua farta cabeleira

- Um problema? – questionou ela incrédula, enquanto examinava o rosto embriagado de Ruben – Um problemão!

- Diz-me lá uma coisa, Paulinha… Tu por acaso não sabes onde é que está a Joana, não? – inquiriu-a num sorriso aluado, apoiando-lhe o braço direito em ambos os ombros – Tens de ser tu a ajudar-me, porque este cara de cu traidor, não me quer dizer! – acrescentou, semicerrando os olhos, que por si já não se encontravam muito abertos, e lançando uma expressão ameaçadora e reprovativa ao pobre David, que até então e a muito custo se tinha esforçado para impedir que algo de pior acontecesse

- E eu acho que o David tem motivos que sobram para isso, não te parece? – a testa dela encolheu-se em duas linhas finas que a enrugaram, e repeliram Ruben no mesmo segundo

- Tu também? Vá, unam-se contra mim! Parece que todos nesta casa estão! Não devia era ter voltado…

- Oh Ru, deixa-te de coisas… Já olhaste bem para ti? Para o lindo estado em que estás? Estás completamente enfrascado! – Paula tentou ser o mais consensual possível, mas era naturalmente difícil a Ruben tomar consciência e aceitar o estado… lamentável, chamemos-lhe assim, em que se encontrava

- Já vi que não sou bem-vindo nem na minha própria casa… O melhor é voltar para onde não devia ter saído, pelo menos aí ninguém me chateava a cabeça!

- Manz, calma aí, vai… Cê não volta pra lado nenhum, nem pensar que vai voltar a pegar no carro desse jeito, sorte a sua ter retornado a casa inteirinho!

- O melhor mesmo é ele ir para o quarto antes que mais alguém o veja… - referiu Paula amigavelmente, improvisando uma solução – Ajuda-me a levá-lo, Dê.

- Não, não… Calma lá! Eu não vou a lado nenhum com vocês!

Não demorou muito até Ruben começar a fazer birra tal e qual um miúdo pequeno que se recusava escabrosamente a ir ao dentista, mas pela persistência e firmeza de David e Paula que combateram a sua casmurrice, seguraram-no em cada lado do corpo, subiram a escadaria e arrastaram-no ao seu antigo quarto que naquela semana era dividido com Inês.

- Larguem-me, já disse! – rabujou ele novamente aquando romperam quarto dentro, num repulso teimoso que o soltou dos braços dos amigos onde viera apoiado todo o caminho, e jogando-se pesadamente para cima da enorme cama de casal

- É bom que te ponhas debaixo do chuveiro para curares essa ressaca, menino Ruben! – proferiu Paula no mesmo tom de uma ordenação… que como seria de esperar, Ruben não estava disposto a obedecer

- Sim, sim… era isso e mais o quê? – respondeu asperamente numa prontidão automática, e procurando ao mesmo tempo à cabeceira da cama, um lugar onde se sentar

- Olha aí, manz… Não fala desse jeito com a Paula, ela não tem culpa das suas besteiras! – David não permitiu qualquer falta de respeito do seu melhor amigo, que naquela condição não tinha a perfeita noção de si mesmo, porém Paula desvenerou aquela atitude que ela sabia bem não lhe pertencer

- Deixa estar, Dê, eu não levo a mal porque ele está no estado em que está, mas mais logo nós os dois vamos ter uma conversinha! – comentou ela no topo da sua seriedade e olhando-o sentado refasteladamente ao centro da cama, comentário esse a que Ruben respondeu apenas com um revirar de olhos enfadado seguido de um sopro pesado – Eu tenho que ir ver o Gabriel… Ficas tu com ele? – questionou, desta feita fitando David, que permanecia a seu lado

- Claro, Paulinha, vai… Eu trato dele…

- Tratas o quê? Tratas nada… Vai-te embora também! – não demorou muito até que Ruben voltasse a barafustar, num cruzar de braços auspicioso que lhe enquadrou perfeitamente o peito – Quero ficar sozinho!

- Boa sorte! – desejou ela num sussurro a David, mesmo antes de abandonar o quarto e deixando-os aos dois apenas na companhia um do outro

- Não ouviste o que eu disse? Sai! Quero ficar sozinho! Sai…!

- Oiça uma coisa que eu te vou dizer, Ruben… - David aproximou-se furiosamente da cama, levando à sua frente o indicador apontando-o na direcção do melhor amigo que não tomava consciência da brusquidão das suas atitudes nem palavras – Ou você se controla minimamente, ou eu perco todo o respeito que tenho por você e te dou uma surra agora mesmo!

Com aquelas palavras a intenção de David nunca foi a de lhes dar uso e convertê-las para a prática, mas sim provocar-lhe um abanão na consciência e tentar chamá-lo à razão o mais possível, sem partir claro para o embuste físico, que a amizade e o carinho que lhe guardava jamais o permitiria fazer.
Ruben, por seu lado, vendo-se ser confrontado pela sinceridade daquela ameaça, e observando a pessoa de quem esta partira, sentiu um choque reproduzir uma convulsão interior que remexeu com todas as suas comoções e o deixou emocionalmente exposto e vulnerável ao momento que se seguiu. De um modo que ele próprio não conseguiu justificar, sentiu-se ser anestesiado por um soro que lhe deu de volta a consciência, efémera porém, que tinha perdido e que precisava para lidar com toda aquela situação, e foi então que a realidade dura se deixou abater sobre si após alguns minutos de silêncio. 

- Mano, eu não… Eu… Desculpa… - de todas as palavras que David imaginou ele vir a pronunciar no decorrer daquela conversa que estariam para travar, "desculpa" foi certamente a intervenção que ele nunca pensou vir a escutar da boca de Ruben, não daquele Ruben… um Ruben que naquele estado não se importava até de ferir as pessoas que mais amava com as palavras mais amargas e os actos mais imprudentes

- Manz… - a ofensiva de David recuou no mesmo segundo em que ele se apercebeu que não estava mais perante o mesmo homem a quem abrira a porta há um par de minutos atrás e o mesmo que trouxera de rastos para aquele quarto… agora perante si estava um homem profundamente fragilizado; desesperado, que não sabia mais como lidar com tanta dor que tinha acumulada dentro do peito

- Eu já não sei o que fazer com a minha vida… eu não sei… - ele falou num tom de voz tão dissipado que David teve dificuldade em ouvi-lo 

Numa questão de segundos, o seu ego e o altruísmo exageradamente elevados pelo efeito do álcool, saltaram para uma queda vertiginosa, levando-o a passar de predador a presa; de rei do mundo a um simplório zé-ninguém que já não sabia onde pertencia; de um homem com planos traçados para um futuro estável e promissor que lhe sorria ao lado da futura esposa, a alguém que se encontrava psicologicamente tão perdido que não sabia mais como poderia voltar a encontrar-se.
A euforia que residia em Ruben desde que o efeito da bebida começara a ter controlo sobre si, simplesmente desaparecera, devolvendo-lhe o vazio e declinando-o para uma melancolia derradeira que o incentivava a deixar de respirar.

- Eu sou um fraco… E eu perdi-a… eu perdi-a… - com as pálpebras cerradas num sinal claro de quem não tinha forças para continuar a lutar, ele continuou a proferir palavras desalinhadas de um contexto anteriormente definido mas que foi claro demais para David conseguir perceber, contudo ele decidiu insistir

- Ei, manz… - numa abordagem mais calma e condescendente, ele guiou-se à beira da cama onde tomou lugar ao lado do corpo imóvel de Ruben estendido sob o colchão – O que cê tá falando?

Apesar de a pergunta ter sido lançada ao ar, o silêncio remontou entre eles e Ruben não se sentiu capaz de dar uma resposta imediata. Sentiu um ardor espicaçar-lhe os olhos e no instante em que os voltou a abrir não foi capaz de segurar duas lágrimas roliças que se soltaram e desabaram pelas faces frias.   

- Porque é que eu a deixei? Como é que eu pude ser tão cobarde ao ponto de a deixar… De não lutar por ela? – ele exalou profundamente e continuou assim que se sentiu capaz – A Joana era o amor da minha vida… Ainda é! E agora… nada disto faz sentido! Está tudo errado, tudo!

Contorcendo-se de pena no lado da cama que ocupava, David permaneceu passivo a escutá-lo, pela expressividade incompleta que lhe viu, sabia que ele ainda não tinha acabado de falar, e então não quis interromper-lhe o raciocínio que nesta altura se encontrava finalmente claro na sua cabeça para poder traduzir por palavras.

- Eu ainda não consigo acreditar que ela esteja grávida… Por mais que eu tente, eu não consigo! Não era suposto ser assim…

- O que não era suposto, Ruben? – perguntou-lhe compreensivamente, pronto a ser o bom ouvinte que Ruben precisava que ele fosse, e escutar-lhe todas as inquietações que o amigo guardava só para si e que enfim teve coragem de desabafar com ele, sem temer ser julgado

- Isto tudo, mano! O meu casamento, a gravidez da Joana… - ele fez uma pausa para escolher cuidadosamente as palavras, e olhou o lado vazio do quarto quando decidiu voltar a falar – Há uns meses atrás eu tinha a minha vida sobre controlo, eu sabia exactamente o que queria fazer com ela! Eu sabia que na altura em que me casasse, a Joana ia ser a minha mulher, na altura em que ela engravidasse, o bebé ia ser meu… ia ser nosso! E olha agora… Nada está no lugar certo. Nada disto era suposto ser assim!

Ao ouvi-lo, David engoliu a seco, tentando da melhor maneira e sem levantar qualquer suspeita, suprimir a vontade fulcral que tinha em contar-lhe a verdade… Dizer-lhe que o bebé que estava a caminho era de facto seu e não fruto de uma relação que ele pensava Joana partilhar com outro homem. Porém David tinha feito um pacto de silêncio não estando em posição nem querer em quebrá-lo, sabendo que não tinha carta branca para ser ele a transmitir-lhe a verdade, apesar da enorme vontade que tinha em fazê-lo estar a corroê-lo por dentro.

- Você ‘tá com dúvidas em relação ao seu casamento? – David teve que lhe perguntar, embora tivesse uma noção da resposta, ele sentiu-se na obrigação de colocar-lhe aquela pergunta

Apesar de já ter sido confrontado pela sua mãe da mesma maneira que foi confrontado pelo melhor amigo, Ruben não sabia ao certo o que devia dizer ou o que ficava bem ser dito, e por isso decidiu contornar a pergunta após um momento de ponderação silenciosa, arrastando o olhar ainda rasado pelas lágrimas, ao entrelace e desentrelace nervoso das suas mãos que repousavam sobre as coxas.

- Eu gosto muito da Inês… Nós temos uma boa relação, ela cuida de mim e eu tento dar-lhe o máximo carinho e atenção que posso. – começou por dizer tendo depois que aclarar a garganta pela voz rouca que sustinha um choro a que ele não se queria entregar… pelo menos enquanto não estivesse sozinho entre quatro paredes – Eu sei que ela é capaz de me dar a estabilidade que eu preciso, e também sei que faz de tudo para me ver feliz, mas…

- Mas ela não é a Joana… E você não consegue amá-la do jeito que você ama a Joana. – mesmo sem se aperceber, e enquanto lhe olhava o rosto a cada segundo mais esmorecido, David completou-lhe o raciocínio num tom de voz mais elevado do que ele pretendia, elevado o suficiente para que Ruben conseguisse ouvir e em silêncio e só para si, concordar

- Eu não quero cair na normalidade nem na rotina, eu não quero ser um conformado toda a minha vida, David! – sussurrou, levantando-se ao mesmo tempo da cama para caminhar até à ampla janela do quarto, com as mãos enfiados nos bolsas das suas jeans de lavagem escura, e continuou a falar quando através da vidraça deslindou a ornamentação do jardim das traseiras – Não quero olhar para trás um dia, e ver todas as coisas que poderia ter feito e não fiz.

- E o que é que você quer, Ruben?

- O que é que eu quero? – o seu olhar afastou-se das copas dos carvalhos altivos que até então vislumbrava, e rasado em lágrimas lançou-o à figura de David que ainda permanecia sentado ao beiral da cama – Quero um amor extraordinário que mude a minha vida. E eu já o tive, e perdi-o… Para sempre. – num encolher de ombros hipotético o seu olhar voltou a mudar de direcção e desta vez foi descair sobre a biqueira dos seus ténis, aquando os lábios se aprimoravam de um sorriso triste e totalmente vazio por tudo aquilo que foi roubado do alcance dos seus braços

- Olha, manz, eu quero te dizer que… - David tentou mostrar-lhe o seu apoio e começou a falar, mas as palavras foram-lhe imediatamente cortadas mesmo antes de ele poder mostrar as suas intenções

- Eu vou tomar um duche… Vai ter com o pessoal, diz-lhes que já cheguei e que desço daqui a pouco. – a conversa tinha terminado ali, nada mais ele tinha para dizer ou queria escutar e então, vitimado ainda por uma leve neblina na visão e tonturas que viandavam pela cabeça, Ruben traçou o seu caminho até ao chuveiro que secretamente ele desejava conseguir livrar-lhe de toda a dormência assim que a água gelada tocasse no seu corpo

David deixou-se ficar exactamente onde estava a vê-lo desaparecer atrás da porta da casa de banho do quarto, que se fechou raros instantes depois de ele ter entrado e deixá-lo para trás amarrado a palavras que ficaram por dizer entre eles, porém o momento de confissão tinha chegado fim e fora Ruben a colocar-lhe um termo, tal como fora ele a tê-lo iniciado.
Angustiava-o mais do que ele julgara ser possível ver o melhor amigo sofrer daquele jeito, e odiava o facto de estar impotente perante aquela situação e não poder fazer absolutamente nada que o pudesse ajudar a sair do fundo do poço, onde ele melhor do que ninguém, sabia Ruben estar preso.



***



Assim que terminou o almoço, Joana desculpou a sua ausência na sala de estar com os amigos que entre histórias de infância que recordavam, bebericavam calmamente o seu café, subiu ao quarto apenas para recolher um casado quente que vestiu, uma pilha de quatro livros e o seu portátil, a fim de trabalhar arduamente durante as próximas horas no seu mais recente trabalho de faculdade.
Voltando a descer a escadaria, dirigiu-se à cozinha onde se localizava a porta porta dos fundos da copa, e saiu para o pátio privado da casa, mas não sem antes trocar algumas palavras agradáveis com Glória que já se encarregava da loiça do almoço. Uma vez que a chuva tinha parado e no ar se fazia sentir aquela típica temperatura cálida e o cheiro a terra que tanto a agravada, ela arriscou fazer estadia na mesa redonda do pátio que se encontrava bem resguardada e tinha uma vista privilegiada para a piscina e todo o jardim circundante que se prostrava diante si.
Apesar de ter tentado afastar esses pensamentos a fim de se poder concentrar, a inquietação que tinha sobre Ruben não a deixava descansar. Na sua cabeça viu e reviu a conversa e a pós discussão que tinham travado naquela manhã e o facto de ele se ter ido embora num jeito tão rompante e deixando todos naquela casa entregues a uma enorme preocupação… Incluindo ela, que se perguntava onde ele teria ido, onde poderia estar e o porquê de ao fim de tanto tempo, ainda não ter voltado nem ter dado qualquer tipo de notícias.
Olhou a paisagem que se estendia na frente dos seus olhos e suspirou.

- Ok, vamos a isto. – proferiu num pequeno incentivo pessoal, obrigando-se a si mesma entregar toda a sua energia e empenho às horas de estudo seguintes

Quando finalmente conseguiu arrastar para longe todas aquelas tormentas, Joana ligou o computador e derramou sobre a mesa os manuais que tinha trazido consigo e os quais eram fundamentais para a sua pesquisa.

- “No que concerne a uma investigação científica, necessariamente levar-se-ia em conta a teoria constitucional e observar-se-iam as emendas a partir dos referenciais teóricos antes nomeados. O mesmo com o sistema penal…”

Ao fim de quase duas horas a esburacar a finco entre livros e internet, Joana relia em voz alta os conceitos da mateologia do seu trabalho, pretendendo ser o mais fiel possível ao que lhe era pedido sem saltar qualquer ponto. Estava tão concentrada na tarefa que levava, que nem reparou na pessoa que sorrateiramente ameaçou invadir o seu pequeno e solitário mundo.

- Joana… - uma a voz quente e maternal desvendou-se à soleira da porta, retirando-a do seu transe académico ao qual se havia entregado por completo

- Dona Anabela… - um sorriso aconchegante apareceu em seus lábios, no instante em que os olhos se descolaram da tela do portátil e seguiram o fio condutor de onde a voz amainara
  
- A Glória disse-me que estavas aqui. – a mãe de Ruben retribuiu o sorriso logo que se aproximou da mesa com uma chávena fumegante que segurava entre as mãos – Trouxe-te um chazinho de frutos vermelhos que sei que tu gostas muito.

- Obrigada, Dona Anabela, não era preciso. – ela continuou a sorrir, aceitando a chávena nas suas mãos no instante seguinte

- Posso sentar-me aqui um pouquinho contigo ou estás muito ocupada? – perguntou-lhe, ao mesmo tempo que viandava com o olhar sobre a mesa onde encontrou uma parafernália de folhas rabiscadas e livros abertos em páginas estrategicamente seleccionadas

- Não, sente-se… De qualquer das maneiras eu estava a pensar fazer uma pausa, por isso não tem problema! – Joana permitiu sem pensar duas vezes, encerrando o computador, para depois recolher as folhas e fechar cada um dos quatro livros para se afastar um pouco e dar toda a sua atenção à mãe de Ruben

- Então vem, vamos sentar-nos ali no baloiço… - disse Anabela, afastando-se da mesa e levando-a carinhosamente consigo pelo braço, até que ambas se sentaram ladeadas no baloiço de jardim esculpido a madeira mogno  – Tens de abrandar esse ritmo, filha… Essa correria toda e esse excesso de trabalho não te faz bem a ti… nem ao bebé.

Desde o anúncio da gravidez, Anabela sentiu-se em fim capaz de abordar Joana respectivamente ao assunto, e que apesar de se mostrar ser frágil de falar, principalmente com a avó (ainda) não proclamada do seu bebé, Joana temeu pela primeira vez vacilar na frente dela e arrastar consigo os sentimentos que guardava pelo seu filho, deixando-os completamente expostos, quando durante tanto tempo se esforçara para mantê-los reservados unicamente para si.
Pela primeira vez e depois do fim do namoro dos dois, elas estavam prestes a conversar sobre o que havia sido deixado nas entrelinhas daquela incompreensiva separação, e de tudo o que não fora explicado do jeito que deveria ter sido.

- Sim, eu sei, mas como para a próxima semana tenho uma reunião com o professor que me está a supervisionar o trabalho, tenho de ter tudo pronto até lá. – ela mostrou um pequeno encolher de ombros conformado, dando dois sopros na bebida que lhe acalentava as mãos geladas

- E esse trabalho… É sobre o quê?

- É um projecto de pesquisa independente sobre gestão de crises na política. – preferiu depois de dar um curto gole no chá, referindo o tema do trabalho que tinha em mãos realizar durante o decorrer daquele semestre, do seu terceiro ano de Direito

- Hum… parece-me ser… Interessante. – a mãe de Ruben ponderou entre uma escolha de palavras antes de voltar a falar, escolhendo a que pensava que melhor se encaixava, e pela sua expressividade e maneira como a entoou, fez Joana soltar uma pequena gargalhada de desafogo que ela própria já não se lembrava de ouvir

- Eu sei que parece chato, mas eu gosto.

- Bem, e é isso que importa! – dito isto o silêncio instalou-se de mansinho entre elas, levando-as a fitar o jardim que se estendia na frontaria, e dar conta do chuvisco que então voltara a cair… Joana sabia que mais tarde ou mais cedo aquela conversa iria ser tida, e não valia de nada fugir

- E… ah… Já há alguma notícia do Ruben? – perguntou casualmente, uma questão comandada à força pela preocupação que sustinha no peito, no entanto evitando a todo o custo o contacto visual com a mãe dele, e continuou a bebericar o seu chá, que não sabia se era pelo seu sabor ou então pelo conforto da sua temperatura que contrastava com o frio lá fora, mas a verdade é que estava a saber-lhe incrivelmente bem

- Sim, ele já chegou há algum tempo… Acho que está na sala com os outros. Porque é que não vens também e terminas o teu trabalho lá? Temos a lareira acesa e sempre se lá está melhor que aqui…

- Não me leve a mal mas eu prefiro estar sozinha a trabalhar, a sala está cheia de gente, há barulho e eu distraio-me com facilidade, por isso é melhor não. – apesar de o que disse ser verdade, Joana não pôde deixar de ocultar que outra razão da sua ausência na companhia dos amigos, era Ruben, porém o instinto de Anabela não deixou de se aperceber disso

- Ele está magoado. – disse-lhe num sopro de ar angustiado pelo sentir pesado do seu filho, sem se guiar por nenhum fio conversa condutor

- Desculpe? – o seu coração parou a batida por uma milionésima de segundo, quando se aperceber que o momento tinha chegado

- O Ruben… - Anabela esclareceu, procurando-lhe o olhar que até então se havia mantido fugidio ao seu – Ele está magoado. Desde que a Adriana nos disse que estavas grávida, o comportamento dele mudou completamente, parece que já não é o mesmo desde esta manhã. Ele bem que tenta esconder na frente de todos, mas eu conheço o meu filho…

- Dona Anabela, eu… Eu não sei o que quer que eu lhe diga. – Joana encontrou-se inevitavelmente sem palavras, e a sua mão ocorreu instintivamente à sua barriga

- Não preciso que me digas nada, filha… Eu só queria que soubesses. – a mãe do seu ex-namorado apercebeu-se daquele seu gesto e acompanhou-o com o olhar, reproduzindo um pequenino e indecifrável sorriso no rosto

- Porquê? – a sua voz estava fraca, solta das cordas vocais ao fim de alguns minutos e num sussurro quase a medo

- É mesmo preciso dizer-te porquê? – os olhos de ambas voltaram a encontrar-se mas só por uma questão de segundos, pois Joana voltou a desviá-los incidindo-os desta vez sobre a chávena que ainda segurava no seu colo, receado a persuasão e a capacidade que Anabela tinha em conseguir ler-lhe os pensamentos e ver-lhe a alma – Posso fazer-te uma pergunta?

- Claro… - disponibilizou-se inteiramente, sem sequer ponderar sobre a questão, sabendo perfeitamente que entre elas não havia quaisquer tabus ou segredos que pudessem esconder uma da outra, bem… havia só um segredo

- Não leves a mal a minha indiscrição, mas… Quem é o pai do bebé?

Foi daquela maneira e num tiro certeiro que Joana se viu completamente desarmada e projectada ao chão. Durante toda a sua estadia naquela casa, aquela era provavelmente a pergunta que iria procurar evitar a todo o custo, pelas razões óbvias, e ela poderia mentir a qualquer pessoa que lhe tivesse feito a mesma questão, qualquer pessoa naquela casa ela ter-se-ia sentido capaz de mentir, mas não a Dona Anabela, não à segunda mãe que para si ela representava ser.
Um ardor áspero ateou-se em chamas na superfície do seu peito e uma súbita vontade de lacrimejar retornou à catapulta dos seus olhos claros, pelo terrível dilema onde se vira encarcerada. Joana sabia que não lhe podia contar a verdade, mas mentir-lhe com certeza que também não era opção.
O período silêncio pela falta de palavras, já ia longo, e a ânsia da mãe de Ruben pela resposta que já adivinhava e que queria ouvir, não a deixou esperar mais.

- Se não me quiseres dizer quem ele é, eu respeito… A decisão é tua e estás no teu direito, mas se assim for eu vou tirar as minhas próprias conclusões, e o teu silêncio só me faz ter cada vez mais certeza delas…  



***


- Já veio à procura das bolachas, menino Ruben? – inquiriu Glória, sorridente, assim que o viu entrar na cozinha pelo motivo que ela já julgava ser as suas famosas bolachas de chocolate caseiras, que sabia ele não conseguir resistir assim que lhes sentia o cheiro – Tirei a primeira fornada há coisa de cinco minutitos, ainda devem estar quentes mas se quiser levar uma…

- Hum… Não, Glória… Eu não tenho muita fome. – ele torceu levemente o nariz, sentindo-se ainda enjoado com a quantidade de uísque que tinha ingerido em tão poucas horas, mas não só

- Não tem fome? Nem mesmo para as bolachinhas de chocolate? – desde criança que Ruben nunca lhe havia recusado qualquer cozinhado, e especialmente as “famosas bolachas da Glória”, mas agora era diferente e especialmente naquele dia foi diferente… um enorme nó estava sedado no topo do seu estômago desde o inicio daquela manhã, e não havia mimos nem petiscos que o deslaçasse – Que carinha triste é essa, menino Ruben? Passasse alguma coisa?

- Não, Glorinha, não é nada… - mentiu, despistando-a com um beijo carinhoso no topo da cabeça, um gesto natural que em nada a surpreendeu vindo dele – Eu vinha à procura da minha mãe… Não sabes onde é que ela está?

- A Dona Anabela está lá fora no pátio… Foi levar um chazinho à menina Joana.

- A Joana está lá fora? – o simples promulgar do nome dela, fez o seu mundo tremer assim que se esforçava para sucumbir a vontade que tinha de chegar perto dela

- Está menino. – a empregada doméstica consentiu, enquanto levava ao forno a segunda rodada de bolachas – Foi há um par de horas para a mesa do jardim fazer qualquer coisa para a faculdade, e a sua mãe foi há pouco ter com ela… Devem estar as duas a conversar.

- Hum… Está bem, obrigado.

Ruben caminhou até à copa dos fundos e cuidadosamente abriu a porta para espreitar através de uma breve brecha, tendo consigo a preocupação da sua presença oculta não ser notada por nenhuma delas.
O seu olhar alcançou-as rapidamente sentadas no banco de baloiço, Joana estava deitada na posição fetal e tinha a cabeça pousada no colo da sua mãe, aqueceu-lhe o coração vê-las tão próximas e sempre adorou a cumplicidade que partilhavam uma com a outra, e do nada apercebeu-se que estava a sorrir, enquanto olhava aquela imagem… Afinal, eram elas as mulheres da sua vida.
Quando se preparou para voltar a fechar a porta e regressar à sala de estar, algo na conversa delas o fez mudar de ideias e ficar ali mais um pouco, e todo o seu ser sentiu-se quebrar no momento em que se apercebeu que Joana estava a chorar.


***



- Como é que sabia? – Joana perguntou, hesitante, frágil e deixando-se chorar no colo daquela que julgara um dia vir a ser sua sogra

- Não te sei explicar… Acho que soube e pronto. – exclamou com uma voz suave e muito pouco evasiva – Quando ficámos todos a saber da tua gravidez eu vi a maneira como olhaste o Ruben, o jeito que o olhaste acho que dizia tudo, não deu para esconder nada… Além disso ele falou-me da noite que vocês passaram juntos já depois de ter ficado noivo da Inês, então eu comecei a juntar as peças e aí eu soube… Nenhum outro homem podia ser o pai desse bebé senão o meu filho.

- Nada disto era suposto ter acontecido, Dona Anabela, foi só uma noite… Nós fomos irresponsáveis e deixámo-nos levar… - o seu soluçar intensificou-se, sacudindo-lhe o peito a cada respiração

- Eu sei que posso parecer um pouco egoísta ao dizer isto mas… Eu estou tão feliz por ter acontecido. – Anabela confessou, não escondendo o brilho que irradiou o olhar nem o sorriso orgulhoso que emergiu no seu rosto, e continuando a embalar Joana, deslizando-lhe os cabelos soltos entre os cabelos delicados

- Como é que pode estar feliz? Eu arruinei a vida do seu filho… Estou à espera de um bebé dele, um bebé que não planeámos, quando ele está prestes a casar-se com a Inês!

- Eu sei que esta não é uma situação nada fácil, para nenhum dos dois, mas talvez esteja nas tuas mãos descomplicá-la… Além disso não fizeste este bebé sozinha, não é justo seres tu a carregar toda esta responsabilidade!

- O que quer dizer com isso? – o rosto de Joana libertou-se das coxas de Anabela, e mantendo o equilíbrio do corpo apoiando as mãos no banco, ela tomou folgo para encará-la

- Joana, eu amo-te como se fosses minha filha, tu sabes disso perfeitamente. E eu sei que o Ruben já cometeu muitos erros e não estou a tentar desculpá-lo por nada, mas a verdade é que ele vai ser pai! É um momento único da vida de uma pessoa e ninguém deve ser privado desse privilégio. – ela tomou uma pausa somente para se certificar de que Joana estava a absorver cada uma das suas palavras, e depois concluiu – Tu devias contar-lhe.

- Eu quero contar-lhe, nunca foi minha intensão esconder-lhe a gravidez… Mas como é que é suposto eu fazê-lo? E o casamento?

- Não te apreendas pelo casamento! Essa não é uma preocupação tua… Esse filho que carregas na barriga é! Ele é a tua maior prioridade e deves fazer tudo o seja certo para a felicidade e para o bem dele… E o que é certo neste momento é contares ao pai. Eu não posso fazer isso por ti, ninguém pode…

- Eu tenho medo… - ela acabou por desabafar num sussurro sufocado ao fim de alguns momentos em silêncio, mal reconhecendo a própria voz

- Medo de quê, meu amor? – Anabela segurou-lhe o queixo, obrigando a um encontro de olhares… fosse o que estivesse a atormentar a cabeça da sua menina, ela iria conseguir ver… para si Joana era transparente o suficiente para que se deixasse ler quando as palavras se tornavam escassas

- Medo da reacção do Ruben quando ficar a saber… Dona Anabela, quer eu queira quer não, ele está comprometido com outra mulher, e esta gravidez vai ser uma bola de neve na vida dele, na carreira dele… - por muito que se contradissesse e desejasse que não fosse assim, aquela era a verdade, e Joana estava ciente dela desde o primeiro minuto – Eu não sei se o Ruben está preparado para esta mudança.

- Se duvidas disso porque é que não lhe perguntas tu mesma? Talvez a resposta dele te venha a surpreender. – conhecendo o filho tão bem como conhecia, sabendo o quanto ele ainda amava aquela mulher, mesmo que não o dissesse, Anabela encorajou-a a fazer aquilo que era o correcto, e oferecendo a Joana um sorriso tranquilo e ligeiro, capaz de lhe erguer a coragem e afastar todas as inseguranças – A decisão é tua, e eu só quero que me prometas uma coisa…

- Tudo o que a senhora quiser. – respondeu sem qualquer hesitação na voz ou no coração, mostrando-se eternamente grata pelo enorme apoio e cuidado que Anabela estava a mostrar ter para consigo

- Vais prometer-me que vais cuidar muito muito bem do meu netinho, pode ser? – um sorriso carregado de carinho voltou a surgir em seus lábios, ao mesmo tempo que guiava a mão à barriguinha de treze semanas de Joana, pronta a acariciá-la

- Eu prometo, claro que sim. – ela não conteve agora duas lágrimas de alegria, e finalmente pôde exalar tranquilamente, sobrepondo a sua mão à da mãe de Ruben

- Vá, pronto, chega de choro… Uma carinha tão laroca como a tua não merece mais lágrimas. Cabecita erguida e um sorriso lindo nesses lábios. – os seus dedos depressa ocorreram às faces frias de Joana, limpando-lhe cada vestígio das gotas de orvalho, completando com um beijo que lhe despoletou no primor da testa – Mas bem, arruma as tuas coisas e vem para dentro, está frio aqui fora e eu não quero que fiques doente. – Anabela levantou-se do baloiço, preparando-se para voltar à casa

- Dona Anabela? – assim que ouviu a sua invocação, ela interrompeu a sua caminhada e olhou Joana, que se preparava então para se erguer e seguir-lhe as passadas dentro de alguns minutos – Obrigada… Por tudo.

Anabela não lhe respondeu mais do com um sorriso maternal e genuíno, não eram precisas mais palavras, e então caminhou até à entrada, pronta a regressar ao conforto do interior do seu lar.
No acto natural de abrir a porta, foi surpreendida pela presença do seu filho mais novo, que se mantinha hirto junto à soleira. Pela postura que induzia ao corpo tal como pela expressividade que carregava no semblante, mostrava estar ali há mais tempo do que ela poderia imaginar… E esse facto veio a justificar-se por si só, sem sequer ter sido necessário o apelo à pergunta.

- Eu… - com um brilho intenso nos olhos esbugalhados, Ruben viu-se obrigado a clarear a voz antes de continuar – Eu vou ter um bebé? – era tudo o que ele conseguia pensar, e foi tudo o que ele conseguiu dizer numa expiração tremulante, com as lágrimas a rasarem-lhe os olhos por completo

- Tu vais ter um bebé. – Anabela não se esforçou em contornar a pergunta nem tampouco mentir-lhe, era óbvio que ele ouvira toda a sua conversa com Joana

- Eu vou ter um bebé. – com o peito a deixar-se envolver por uma procela de emoções que Ruben não sabia como lidar, enquanto a adrenalina corria de um jeito electrizante dentro das veias, ele sentiu a necessidade de interiorizar a ideia num murmúrio ao fim de alguns segundos, e foi inevitável a abundância e a vigorosidade com que as lágrimas se precipitaram às suas faces – Oh mãe… - as palavras faltavam-lhe, tal era a emoção que carregava na voz – Abrace-me…  

- Oh meu amor, vem cá… - ele precisava de sentir aquele apoio, aquela segurança que só a sua mãe era capaz de lhe transmitir, e Anabela não ponderou por um instante recusar-lhe aquele carinho

Ruben não se sentiu capaz de fazer mais nada senão chorar. Agarrou-se à mãe com força e mal teve a oportunidade de enterrar a cabeça na dobra do pescoço dela, deixou-se chorar tanto quanto precisava e se sentia capaz.
A empregada doméstica e governanta, Glória, já tinha saído da cozinha há alguns minutos para deixá-los a sós, usando o lanche que já havia preparado e servido, como pretexto para ir chamar os amigos de Ruben, convidando-os a reunirem-se na sala de jantar e mimar os estômagos com algumas especiarias caseiras que iriam deliciá-los. Sabia que aquela era uma daquelas conversas que só era para se ser tida entre mãe e filho, e ela não precisava ficar para ouvi-la.
Quando o peito dele parou de sacudir e a respiração acalmou, Ruben voltou a sentir o à-vontade de procurar os olhos da mãe, expondo-lhe as questões mais evidentes que o vulnerabilizavam.

- Mas… e agora? O que é suposto eu…? – o leve soluçar ainda era um entrave para que conseguisse falar em condições, do mesmo modo que os seus pensamentos se atropelavam pela velocidade que surgiam

- Eu imagino que te sintas perdido no meio disto tudo, e achas que não sabes o que fazer, mas tu sabes… Aí no fundo tu sabes exactamente o que tens de fazer e eu sei que a decisão que tomares vai ser a mais correcta. – ela tocou carinhosamente o lado esquerdo do seu peito e falou com uma solenidade e conforto que só uma mãe possui, como se detivesse para si todas as respostas do mundo

- Mas… Como? – ele sentia-se assustado, e isso era mais do que compreensível… nos seus olhos estava traçado o dilema em que estava envolvido
  
- Ouve o que diz o teu coração, Ruben… Lá estão todas as respostas que precisas. – ela deu-lhe um sorriso caloroso que o encheu de esperanças e o confortou um pouco, mas quando ele se preparou para voltar a falar, a súbita chegada de Joana obrigou à suspensão daquela conversa que com certeza iria ser retomada mais tarde

- Vai comer qualquer coisa, filha… A Glória já foi servir o lanche. – Anabela falou para Joana no momento em que ela parou junto a eles, não tendo coragem suficiente de olhar directamente para Ruben e refugiou-se somente na sua mãe… ele aproveitou esse facto para limpar o rosto longe do olhar dela sem lhe querer dar a perceber que estivera a chorar

- Sim, eu vou só lá em cima deixar os livros e o computador e já volto a descer… - Joana ofereceu-lhe um sorriso ainda frágil, ainda evitando o contacto com ele

- Ruben, porque é que não ajudas a Joana a levar as coisas para o quarto? – Anabela viu ali a oportunidade perfeita para antecipar uma conversa que não podia continuar a ser adiada, e por isso agarrou-a tão bem quanto pôde

- Ah… Não é preciso, eu consigo fazê-lo sozinha… - ela retraiu-se, não estava preparada para voltar a estar sozinha com ele

- Não, a minha mãe tem razão… Estás carregada com essa pilha de livros, deixa-me ajudar-te! – Ruben alinhou subtilmente na conversa da sua mãe… depois do que acabara de descobrir, não estava disposto a passar mais um minuto longe dela

- Obrigada… - Joana cedeu relutante, vendo que não tinha escolha, e olhou-o pela primeira vez nos olhos, enquanto ele lhe tirava o material de estudo dos braços e o segurava nos seus

Despediram-se temporariamente de Anabela e seguiram lado a lado todo o caminho traçado até ao andar superior. A falta de conversa deixou-a desconfortável, e foi fácil para Ruben perceber essa distância imposta por ela. Mas ao contrário do que seria de esperar, isso não o incomodou, melhor que ninguém ele sabia que a relação entre eles não estava a atravessar a melhor fase e até chegar a oportunidade de terem uma conversa progressista e definitiva, essa condição não iria mudar. E no entanto esse silêncio foi aproveitado… da melhor maneira possível. Durante todo o percurso Ruben não desviou os olhos de Joana por um segundo… nem do seu rosto angelical, nem do seu corpo e do jeito gracioso como o seu quadris balançava enquanto caminhava; não desviou o olhar da sua barriga(!) Aquela barriguinha ligeiramente saliente que gritava pela sua atenção, que pedia para ser acariciada pelas suas mãos. O seu rosto iluminava-se somente com a ideia que dentro dela crescia o seu filho, um filho só deles, e a vontade repentina que ele teve em trancá-los num quarto, beijá-la e matar todas as saudades que sentia dela, no fundo as saudades que sentida deles enquanto casal, começou a consumi-lo por dentro.
Ele não conseguia parar de olhá-la, e não se importou minimamente com a possibilidade de Joana poder apanhá-lo em flagrante a fazê-lo… Naquele momento Ruben sentia-se demasiado feliz para se importar.

- Ruben, amor! – era Inês… apanhou-os a meio do corredor, enquanto saía do quarto de solteiro do seu futuro marido – Ainda bem que aqui estás, preciso de falar contigo.

- Agora, Inês? – Ruben lançou um olhar de realce à sua noiva, que depois arrastou até Joana

- Estás ocupado? – ela apoiou o corpo na soleira da porta e ergueu-lhe prepotentemente a sobrancelha como se estivesse a desafiá-lo   

- Eu vou levar as coisas da Joana para o quarto dela… - não disse nenhuma mentira, no entanto omitiu a vontade e intenção que tinha em passar algum tempo a sós com ela

- O quarto é já ali ao fundo, eu tenho a certeza que a Joana não se importa de ser ela a levá-las… - Inês afirmou confiante, e depois falou directamente para Joana, como se tivesse sido apenas agora que tinha dado pela sua presença – Pois não?

- Não, claro que não me importo… Obrigada, Ruben. – ela agradeceu, com um sorriso sem jeito quando começou a retirar os livros dos seus braços, mas ele recuou imediatamente, impedindo-a

- Eu disse-te que te ajudava e é isso que vou acabar de fazer. – declarou seriamente olhando-a nos olhos, falando com ela e só para ela

- Amor, a Joana já disse que levava! – Inês voltou a impor-se, começando a bater ritmadamente o pé contra o soalho flutuante do chão – Eu preciso de falar contigo… Ainda há pormenores da cerimónia que temos de discutir e estamos a dois dias do casamento!

- Mas… - ele tentou arranjar uma desculpa, mas desta vez foi Joana a intrometer-se na conversa

- Vai falar com a tua noiva, eu trato disto. – ela pegou finalmente nos seus livros e portátil e Ruben sentiu-se incapaz de voltar a contra-argumentar

- Vês, amor? Acho que devias dar mais ouvidos à tua madrinha! – Inês pegou-lhe a mão e arrastou-o para o quarto, enquanto o olhar dele ficou para trás, preso ao de Joana, que somente quando o viu desaparecer atrás da porta, se sentiu capaz de voltar a dar vida aos calcanhares e caminhar na direcção oposta directa ao quarto das meninas



***



O jantar decorreu tranquila e agradavelmente em todos os momentos. Mais uma vez o casamento foi o tema principal discutido sobre a mesa e com ele juntou-se a preocupação do local da cerimónia, que havia sido marcado a decorrer nos jardins principais da vivenda, mas o temporal continuava a arrasar os céus e ameaçava estender-se até ao final da semana.
Inês não escondeu a inquietação que sentia do seu copo-de-água poder ser arruinado, ao contrário do seu noivo, que embora se esforçasse por se mostrar também consternado na frente dela e dos amigos, intimamente não podia estar a sorrir mais, por forças exteriores estarem a conspirar a seu favor. “Tens de aprender a ler os sinais… é tudo sobre os sinais.” A sua mãe sempre lhe dissera. Pessoalmente não se considerava um supersticioso, a não ser claro, dentro das quatro linhas, mas a sua opinião começava a mudar. Talvez isto até fosse bom… Se o casamento tivesse de ser adiado, ele teria mais tempo e espaço de manobra para decidir o que fazer com a sua vida: o que ele queria e precisava realmente.
O conforto da lareira voltou a reunir todos na sala ao convite de um café juntamente com um filme que passava num canal por cabo, e que todos concordaram assistir, aconchegados em mantas na comodidade dos sofás.

- Eu vou à cozinha buscar mais pipocas, alguém quer alguma coisa de lá? – Mauro aproveitou a pausa do filme que tinha entrado para o último intervalo, para voltar a encher a tigela de pipocas pela terceira vez

- Me traga uma garrafa de água, por favor, tanta pipoca dá sede gente… - David foi o único a manifestar-se, enquanto se levantava do sofá apenas para esticar as pernas que já começavam a ficar dormentes de terem estado tanto tempo na mesma posição – Ué, pera aí… Joana, essa não é você? – logo que um anúncio comercial surgiu no ecrã do enorme plasma, a atenção de todos acompanhou o comentário de David

- Oh meu Deus… É mesmo a Joana! – com um sorriso ligeiramente aberto pela surpresa, Paulinha, a esposa de Mauro, reforçou o observação de David, obrigando a atenção de todos a ser focada na televisão

O comercial do perfume Heat Blue, a nova aposta da conceituada marca Dulce&Gabbana, tinha sido finalmente liberado em Portugal, ao mesmo tempo que o produto havia sido lançado no mercado.  
Joana olhou-se na televisão na campanha pela qual ela dera a cara, e rapidamente reconheceu as paisagens e relembrou os tempos de filmagens que se sucederam na maravilhosa República Dominicana. Apesar de sentir orgulho em si mesma pelo trabalho que desempenhara, o mesmo orgulho que os seus amigos em seu redor mostraram ao vê-la brilhar, ela não pode deixar de se sentir mal, pois aquele anúncio fora em parte responsável pela sua separação de Ruben. Mas finalmente ele podia ver com os seus próprios olhos o motivo de ausência dela no avião que ele e a sua equipa embarcara em São Francisco com destino a Lisboa… Finalmente ele percebeu o motivo da ausência dela naquela semana, era mais do que evidente que não podia culpá-la mais por isso – apesar de já o deixar de ter feito –, e nunca sentiu tanta repugnância e revolta de si mesmo como naquele momento.

- Tenho tanto orgulho em ti! Estás fantástica, o anúncio está excelente! – a doce Adriana não se conteve e rapidamente correu para abraçar a amiga

- Obrigada. – Joana agradeceu-lhe com um sorriso carinhoso ao mesmo tempo que sentiu ser calorosamente abraçada por ela

Adriana despoletou-lhe um beijinho no topo da cabeça, e sentiu-se ser atraída por um olhar que a fixava. Não demorou muito a encontrá-lo. Era o de Ruben. Desde que se recusara ver Joana a ser beijada por outro homem, mesmo que fosse em televisão, ele desviara o seu olhar para procurar o dela. Nunca o encontrou, porém. Joana evitou olhá-lo, recusando perpetuar-se a qualquer contacto visual que poderia compartilhar com ele. Já se sentia mal o suficiente, o coração já lhe doía o bastante e sabia que incentivar a qualquer aproximação entre os dois, por mínima que fosse, poderia ser fatal para si.
Ruben sentia-se profundamente triste, quebrado e nunca antes quis tanto voltar atrás no tempo e remediar o erro que cometeu, como naquele momento. Adriana olhou para ele, do seu lado oposto do sofá onde também ele estava sentado, continuando a segurar Joana no seu abraço, e atirou-lhe um lance furtivo de desilusão que sentia por ele ter magoado tão profundamente e de uma maneira irreversível, a sua mais adorada amiga. Ruben entendeu a intenção da reprovação daquele olhar e imediatamente retraiu-se no seu canto do sofá. Por mais que tivesse desejado que a vida tivesse seguido um rumo diferente, agora era tarde demais para solucionar o que quer fosse.

- Bem, já é tarde, eu vou-me deitar… - anunciou Joana, afastando a manta das suas pernas para poder levantar-se

- Já? Fica mais um pouco… O filme ainda não terminou… - David insistiu com um beicinho adorável no rosto, segurando-lhe delicadamente o braço

- Estou cansada, Dê… Amanhã contas-me como acabou, pode ser? – ela brincou levemente com ele, passando-lhe os dedos pela sua farta cabeleira de caracóis afunilados, e depois despediu-se dos amigos de um modo geral, mesmo antes de sair – Boa noite a todos!

- Boa noite…

Sozinha e com o coração mais vazio que nunca, rumou ao piso superior de volta para o quarto, adivinhando já de antemão que a sobrecarga emocional que sentia não lhe daria uma noite devidamente relaxada… Tal como vinha a acontecer há vários meses. Apesar do cansaço evidente demarcado nas lacunas do seu rosto, o sono ainda não tinha chegado e sabia que mesmo que se se forçasse a adormecer, a agitação na sua cabeça fá-la-ia dar voltas e mais voltas na cama por horas a fio, se assim tivesse que ser.
Suspirou. Caminhou até à casa de banho para refrescar a cara e escovar os dentes, e quando voltou ao quarto procurou por um pijama no armário, aliviando a pressão das roupas no seu corpo que usara durante todo o dia.

- Talvez continue a ler o livro… - pensou em voz alta e olhando no topo da sua mesinha de cabeceira, O Monte dos Vendavais, um livro que trouxera consigo na mala e que tinha vindo a ler nas noites anteriores antes de ir dormir

Junto à cama que partilhava com Adriana, e pensando, ingenuamente, que estava sozinha, começou a despir-se. Libertou-se em primeiro lugar das suas skinny jeans para vestir as calças de ceda branca do seu pijama, e retirou depois a camisola de lã quente que lhe abraçava a singularidade das suas ancas.
Espreitando secretamente entre a brecha da porta, e já ali por algum tempo, estava Ruben. Havia deixado o conforto da sala de estar e seguido os passos de Joana no momento em que achara que não levantaria suspeitas entre os amigos. E agora estava ali. Escondido atrás da porta que ela deixara meramente encostada. Olhando-a. Estudando-a. Absorvendo todos os seus movimentos e tentar cravar na memória cada um deles sem excepção. Estava a tentar ganhar coragem para entrar e falar com ela, mas não sabia como fazê-lo sem assustá-la.
A sua respiração afundou dentro do peito no instante em que a viu soltar-se da camisola de lã e permanecer por alguns momentos somente resguardada pelo fino sutiã de renda preta. Contemplo-a o melhor que soube, do melhor jeito que podia. Parecia que todo o tempo tinham estado afastados o tinha feito esquecer da beleza que resguardava o corpo daquela mulher e rapidamente sentiu o sangue a aglomerar-se nas orelhas e nas maçãs do seu rosto, pelo desejo e luxúria que subitamente o atacaram. Ela era linda… Linda na maneira mais simples e encantadora de ser.
Os seus olhos percorrem-lhe o corpo: cada contorno, cada curva, cada recanto… Queria tocá-lo, senti-lo, abraçá-lo, beijá-lo e sobretudo protegê-lo. Era tudo o que ele mais queria.

- Posso? – depois de dois toques leves na porta, ele tomou finalmente iniciativa de entrar, mesmo antes de receber qualquer permissão – Estava aberta…

Num sobressalto inesperado, Joana deu automaticamente um pulo virando-se para ele. Os olhos de Ruben não tiveram qualquer autocontrolo e foram repousar na barriguinha de grávida dela, deixando-se maravilhar pelo seu volume e contorno, perfeito e cuidadoso. Ao sentir-se desconfortável ela cobriu rapidamente o peito com a camisola de pijama que ainda não tinha vestido.

- Ruben… - o tom da sua voz desceu uma oitava, e o seu olhar caiu de timidez no chão

- Desculpa, eu não te queria assustar. – ele disse com sinceridade

- O que estás aqui a fazer? Eu não quero discutir… - Joana ainda estava magoada com ele depois da discussão que travaram naquela manhã, e ao estarem de novo sozinhos, era evidente que não queria voltar a passar pelo mesmo

- Eu não vim aqui para discutir… - proferiu calmamente, ainda fixando o corpo dela, retraído na sua frente – Tu não entendes que eu me preocupo contigo, pois não? – ele foi suave na maneira como falou, avançando na direcção dela mas tomando cuidado para não invadir abruptamente o seu espaço

- Se te preocupas comigo, tens uma maneira muito estranha de o demonstrar. – ao invés de responder, Ruben preferiu ignorar aquele comentário, e por isso ela voltou a ter a oportunidade de falar – Podes virar-te, por favor? Eu estava a vestir-me…

- Estás com vergonha de mim? Até parece que nós nunca… - ele começou por dizer com um sorriso torto nos lábios, mas não chegou completar o raciocínio… o olhar dela foi o suficiente para fazê-lo mudar de ideias – Tudo bem… – contrariado, deu meia volta aos calcanhares e esperou pelo sentido de permissão para voltar a olhá-la

- É verdade, tenho uma coisa para ti… - ao fim de alguns segundos e já indumentariamente composta, Joana voltou a falar, alcançando a mesinha de cabeceira pertencente à sua cama, em quatro passadas pretensiosas e oblíquas

- Para mim? – golpeado pela curiosidade e intriga, ele voltou a procurá-la quando recebeu luz verde, deixando o corpo acompanhar o movimento dos olhos e assumir uma novo posição

No interior da gaveta a contar do topo, Joana retirou de uma caixinha azul de veludo, a pequena bracelete banhada a ouro que a acompanhava religiosamente no pulso esquerdo durante os últimos, agora quase, quatro anos.
Depois de Ruben ter seguido com a sua vida enfrente, ter tornado pública uma relação com outra mulher e a ter oficializado com um pedido de casamento, todas as esperanças de os dois poderem encontrar o caminho de volta um para o outro, haviam sido arrasadas perpetuamente. Já não fazia qualquer sentido para Joana continuar a possuir uma lembrança que apenas com uma simples inscrição mantinha gravada o início de uma história de amor real, que havia conhecido o seu fim cedo demais.

- Toma. – ela estendeu a mão na direcção dele, pronta a encerrar definitivamente o passado, qualquer recordação deixada pelo caminho que a pudesse fazê-la lembrar-se dele… ironicamente e de forma completamente contraditória, Joana carregava em seu ventre o bem mais preciso que a faria sempre recordar Ruben e a mantinha ligada a ele incondicionalmente

- Mas… - ele franziu as sobrancelhas no momento em que reconheceu a bracelete que lhe oferecera no primeiro aniversário de namoro, e depois olhou Joana, confuso – A pulseira é… Nós… Eu não posso aceitá-la de volta, é tua.

- Era nossa, e tudo que é nosso acabou… Não existe mais. – afirmou, permanecendo com braço estendido na frente dele, à espera de o ver tomar uma reacção e pegar bracelete para si

- Não. Foi o meu presente para ti e eu quero que fiques com ela, independentemente… - sem deixá-lo terminar, Joana tomou a mão dele na sua forçando-o a segurar a pulseira da qual ela se queria desfazer o mais rápido possível

- Mas eu não quero. – ela contradisse quando as suas mãos entraram contacto, fazendo um esforço em parecer firme e não deixar os olhos pestanejar em sinal de vacilação, porém o tom fraco da sua voz quase a fez quebrar na frente dele

- Eu não entendo, Joana… – num murmúrio dissipado Ruben pareceu magoado com a atitude dela, embora, e devido às circunstâncias, ele não tivesse esse direito… mas a verdade é que vê-la querer desfazer-se de algo que para eles teve tanto significado, magoou-o mais do que pudesse vir a imaginar – Porque é que estás a fazer isto?

- É o que tem de ser feito. É a coisa certa a fazer.

- E diz quem?

- Ruben… - ela sussurrou, fechando simultaneamente os olhos para tentar encontrar a calma e o alento que precisava tão urgentemente… Joana queria pôr termo àquela conversa antes que tomasse proporções que nenhum dos dois iria conseguir tomar de ânimo leve, e educadamente pediu-lhe para sair – Eu estou cansada, se não te importas…

- Importo! – Ruben não pensou duas vezes antes de lhe dar uma resposta mais consciente e adequada, ele procurou-a com a intenção de discutir a gravidez mas a vontade de senti-la perto, de tocar o seu corpo e aconchegá-lo ao seu era tão forte e esmagadora que ele não se conseguiu conter e mostrar o querer que tinha em ficar

- Ruben, isto é inapropriado… - proferiu com a voz a deixar-se tremer, enquanto o via encurtar a distância que os separava e a aproximar-se perigosamente do seu perímetro de segurança

- O que é que é inapropriado? A minha vontade de querer estar perto de ti? – um sorriso tímido ergueu a costura dos seus lábios continuando a avançar na direcção dela com a intenção de deixar o seu coração falar e unir os dois corpos que precisavam desesperadamente de voltar a sentir o calor um do outro, mas Joana depressa travou essa intenção – Não me deixas tocar-te? – ele perguntou com um olhar triste e confuso quando ela lhe negou o toque da mão na sua cintura, retraindo-se e recuando ligeiramente

- Ruben… Eu não estou a perceber o que queres… - naquele instante, e vendo-se ser arrastada para uma intimidade que já há muito tempo não partilhava com ele, o seu coração começou a bater tão forte dentro do peito que ela podia praticamente sentir as batidas ecoar em seus ouvidos

- Não há nada para perceber, Joana… - ele não desistiu de tê-la nos seus braços, e quando voltou a avançar na sua direcção marcando um passo apenas, as suas mãos grandes apertaram-lhe carinhosamente a cintura e num movimente calmo e apaixonado Ruben trouxe-a até a si, colando finalmente os corpos

- O que é que estás a fazer? – a sua voz era tão frágil que mal se conseguia ouvir

- O que já devia ter feito há muito tempo, mas fui demasiado cobarde para isso… - Joana preferiu ignorar o que ele dissera, evitando aprofundar a situação tão delicada que eles estavam a travar e fugir aos fantasmas do passado

Cravando o olhar nos lábios de cada um, e devido à proximidade a que expuseram os seus rostos, eles deixaram-se respirar solenemente um ao outro. Enquanto Joana exalava para fora dos lábios o ar que se libertava dos seus pulmões, Ruben inspirava-o por um segundo para depois expeli-lo e ser ela a repetir o processo tomado por ele anteriormente.
Apertando-a ainda mais para si para que pudesse senti-la tão perto quanto fosse possível e sentir também a proximidade com o seu filho quando a barriguinha de grávida de Joana pressionou suavemente a sua zona abdominal, as mãos de Ruben acabaram por encontrar o seu lugar quando os seus braços a enlaçaram e ele as repousou no fundo das costas, enquanto as dela, de uma forma mais tímida e hesitante, acabaram por subir e atracar no peito cinzelado do homem que ainda amava tanto.

- Diz-me… Não tens saudades minhas? – o timbre quente e embargante voltou a surgir, agora num sussurro intenso que a fez apaixonar-se ainda mais por ele, se isso ainda era possível – É porque… Eu tenho tantas saudades tuas, sinto tanto a tua falta…

Instintivamente, e de maneira a fugir a uma pergunta à qual não queria responder, Joana desviou o rosto por um segundo, deixando a linguagem corporal falar por si e demonstrar como já não conseguia lidar mais com aquela saudade, no entanto o seu corpo não se moveu, deixando-se permanecer exactamente onde devia estar.

- Joana, olha para mim… - a voz dele soou tão baixinho e tão perto dos seus lábios, quando uma mão lhe procurou o rosto para segurar e com o toque incentivá-la a olhá-lo, mas quando ao fim de alguns segundos ela não se moveu, Ruben pediu novamente num murmúrio puramente apaixonado – Olha para mim…

Joana então olhou. A força da gravidade entre eles obrigou-a a voltar a mergulhar os seus olhos nos dele e deixar-se afogar lentamente no amor que lhe sentia, aconchegada em seus braços. Os rostos refizeram o caminho anterior e voltaram a aproximar-se, mas desta vez arriscando-se a uma adjacência mais íntima e tentadora, fazendo os narizes aconchegarem-se um ao outro ao se encostarem meigamente.
O olhar de ambos permanecia desperto e fixado um no outro, mas quando não dava mais para aguentar a tensão e o desejo que sentiam, os olhos fecharam-se… os dela primeiro que os dele. As respirações começaram a ficar a cada segundo mais pesadas e tornava-se cada vez mais impossível resistir à tentação daquele amor.   
Ao fim de alguns minutos envoltos numa aura e mundo só deles, e vendo que Joana não tinha mostrado qualquer intenção de recuar, Ruben sentiu-se encorajado o suficiente para avançar e deixar o momento falar por si. Empurrando suavemente a testa na dela, ele procurou-lhe os lábios com os seus e ao encontrá-los, não resistiu a roçá-los do jeito mais ternurento que havia.
Todo o corpo de Joana estremeceu trepidamente com aquele toque singelo, mas não o recusou. Ela queria tanto aquilo quanto Ruben, queria tanto senti-lo e tocá-lo quanto ele, queria tanto entregar-se ao amor que os unia quanto fosse possível.
Foi a infelicidade do acaso que lhes roubou o momento e a oportunidade que eles tinham vindo a procurar por tanto tempo. Gargalhadas e conversas que não dava para descodificar, surgiram no corredor agregado ao quarto, obrigando Joana a afastar-se dele imediatamente mesmo antes do beijo ser consumado, e finalmente caindo em si para se aperceber do enorme erro que estava prestes a cometer se não tivessem sido interrompidos.

- Que é isso gente… Um homem no quarto de tanta mulher? – a voz animada de Brenda surgiu no instante em que enveredou pela porta do quarto, juntamente com as outras as meninas, desvendando a presença intrusa e inesperada de Ruben – Não pode ser assim, não, ué…

- Vá noivinho, toca a andar que nós estamos cansadas e queremos dormir… - a esposa de Nuno Gomes meteu-se com ele, expulsando-o em brincadeira do quarto, para que elas pudessem ter mais privacidade para trocar de roupa e poderem deitar-se no conforto das suas camas

- Ah… Sim, desculpem, eu estava já de saída. – ligeiramente envergonhado, ele não conseguiu tirar os olhos dos de Joana no momento em que proferiu as palavras, mas felizmente ninguém notara a atmosfera pesada e a química que amainava entre eles, bem, ninguém excepto Adriana, que ao olhá-los rapidamente conseguiu discernir o que estava a acontecer ali – Boa noite, durmam bem…

Com uma leve saudação Ruben despediu-se no seu jeito amigável e carinhoso de ser, já muito habitual de se lhe ver, e quando elas lhe desejaram uma boa noite de volta praticamente em uníssono, ele então deixou o quarto para regressar ao seu.
Enquanto as restantes meninas, alheias ao que tinha acontecido, se preparavam entre as suas tarefas para ir dormir, Adriana praticamente voou para junto de Joana, que então sentada ao beiral da cama que as duas partilhavam, quase se deixou abater pelo momento anteriormente vivido, e lacrimejar, quando as lágrimas lhe subiram aos olhos cansados.

- Oh pequenina… - a voz carregada de compaixão de Adriana, soou perto do seu ouvido, assim que ela tomou lugar junto a si

- Ele sabe, Adriana… - Joana deixou escapar num murmúrio e ao fim de alguns instantes de reflexão interior, arrastada para um momento de auto-hipnose quando os seus olhos fixavam nada nem lugar nenhum

- Sabe o quê? Quem é que sabe? – a namorada de David mostrou-se naturalmente confusa pelo desabafo da amiga que não seguia nenhum fio condutor de conversa

- O Ruben… - ela esclareceu, finalmente recolhendo o seu olhar do vazio para inseri-lo em Adriana, levar a mão à sua barriguinha avolumada para acariciá-la suavemente e dar o devido ênfase e sentido à sua afirmação – Ele sabe… 





Boa noite, queridas leitoras! 
Primeiro de tudo devo-vos um ENORME pedido de desculpas pela tamanha ausência. Não sei o que se passou comigo durante este tempo, uma grande crise de inspiração na escrita, penso eu. Demorei imenso tempo a concluir o capítulo porque simplesmente não conseguia escrever... Queria, tentava mas nada saía bem do jeito como queria, as ideias estavam estruturadas mas a inspiração para escrever era praticamente nenhuma. Sinto muito por vos ter feito esperar esta enormidade de tempo, mas não tive outro remédio.
Às meninas que desistiram da história, tenho muita pena e as minhas sinceras desculpas, e às que cá continuam e me vão deixando mensagens de apoio, não encontro palavras suficientes para vos agradecer. Vocês são incansáveis.
Espero que compreendam, gostem da terceira parte do capítulo, e deixem os vossos comentários.    

Um beijinho, Joana :)


17 comentários:

  1. Olá Joana:
    Nem sei o que dizer para te agradecer, eu não comecei a ler a tua fic do inicio mas quando me falaram dela e li um capitulo tive logo de começar a ler deste o primeiro. Simplesmente fantástica.
    Vim regularmente cá para saber noticias e confesso já estava a pensar em desistir porque cada vez mais achava que tu tinhas desistido, pois eu ia vendo que aceitavas os comentários mas até isso tinhas deixado de fazer e para mim cada vez mais ganhava a ideia que tinhas desistido. Mas graças a todos os santinhos :) não desististe.
    E este capitulo????!!!! Sem palavras, cada linha, cada momento é apaixonante. Não consigo contar todos os sentimentos produzidos na leitura deste capitulo...
    É um crime esta tua escrita, mata-me ;) pois estou mortinha por mais ;)
    Por favor nunca desistas.
    Cá estarei à espera do próximo.
    Beijinhos.

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  2. é impossível desistir destas história!
    mais uma vez parabéns, não imaginas como é bom ler a tua história...
    sem dúvida a melhor!
    continua!
    beijinhos

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  3. Olá

    Adorei *_*


    Beijinhos

    A.M

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  4. Olá,
    Li a tua história desde o início e nunca desisti dela. Acho que quem realmente gosta de a ler percebe porque é que não conseguiste postar.
    Hoje foi com grande surpresa que espreitei o blog e vi que havia um novo capítulo! Fez o meu dia! Muito obrigada!
    Por favor nunca desistas desta história!
    Beijinhos

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  5. Eu amo esta história! Amo mesmo, e acho que nunca vou conseguir desistir dela, por mais tempo que demores a cá vir deixar um capítulo.
    Amo o amor destes dois, gostava de ter um amor assim... Ter um Ruben destes, completamente louco e apaixonado ( mas que fizesse menos asneiras), que me amasse com a mesma força que o Ruben ama a Joana :)
    Adoro adoro adoro este casalinho *.*
    Estou tão contente que o Ruben já sabe que vai ser papá!!
    A Inês é que já começa a estar a mais! grrr
    Beijinhos, adoro o que escreves!

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  6. Ai Joana, nem sei o que te digo. Sinceramente, quando entrei no facebook e vi a sua notificação no grupo, gritei tanto, meus pais ficaram olhando pra mim como se eu tivesse vendo um ET. Foi algo realmente louco!
    NUNCA DESISTI DESSA HISTÓRIA, NEM NUNCA VOU DESISTIR!!!!!
    Estou te abraçando nesse momento, consegue sentir? skldghsdkghdkghkdfhfdhdkf é que nem palavras são suficientes para descrever um capítulo como este (ou melhor, todos os seus capítulos). Chego ao fim de todos suspirando e pensando alto "Meu Deus, como é PERFEITO!" É clichê, mas... as palavras somem, não dá pra descrever. Concordo com o primeiro comentário "É um crime esta tua escrita, mata-me ;) pois estou mortinha por mais ;)" AMO ESSE CRIME, ESTOU CADA VEZ MAIS APAIXONADA PELA HISTÓRIA! ❤❤
    Beijinhos :*

    Gabi.

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  7. Está tão, mas tão lindo.
    Gostaria também, se possível, de ver mais flashbacks desse casalinho de quando eram namorados antigamente! Ia ser mais lindo ainda.
    Bjinhos *.*

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  8. Quero mais... Tou super curiosa para ver o próximo... Quanto mais leio mais quero...

    Continua... Cada vez tá melhor...

    Fantástico como sempre...

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  9. Olá!

    Que saudades que eu tinha de ler um capitulo desta história maravilhosa, foram 8 meses de espera, de angustia, quase de desespero, por isso tá fora de questão desistir da história destes dois teimosos.
    Adorei cada momento, a bebedeira do Ruben e respetiva teimosia (qual é o bêbedo que não é teimoso?), o desabafo com o David, o escutar da conversa da mãe com a Joana (é feio ouvir atrás das portas mas desta vez foi por uma boa causa). Adorei a conversa da Joana com a D.Anabela, a esta ela não conseguiu enganar, e ainda bem.
    Foi tão bom ver o Ruben descobrir que o filho que a Joana carrega é seu, e vê-lo procurar o colinho da mamã para ouvir os seus conselhos, e que conselhos, é só seguir o coração.
    Mas o final do capitulo é que me deixou ko, eles têm uma magia tão própria que nem precisam de muitas palavras para comunicarem, só foi pena terem sido interrompidos. Agora espero que o Ruben aproveite bem os "sinais" da meteorologia e ponha um fim neste casamento, e mande a Inês dar uma curva, que ele agora vai ser pai e tem que reconquistar a confiança da mãe do seu filho, porque o amor, esse, já é dele à muito tempo.
    Joaninha amei, nunca desistas de escrever (isso sim era um crime, tu escreves maravilhosamente bem) porque eu também não desisto de ler, demores o tempo que demorares eu vou estar cá para ler, claro que preferia ter um capitulo todos os dias para ler mas sei que isso não é possível, por isso continua, porque agora que a Joana sabe que ele sabe da gravidez tou curiosa para ler o momento em que eles vão falar no assunto.
    Continua
    Beijocas

    Fernanda

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  10. Adorei tanto este capítulo. Tanto este como os outros todos.
    Tens uma escrita maravilhosa que me prende de tal forma e era impossível desistir desta história fenomenal.
    Para ti, só há elogios e mais elogios.
    Mas agora deixaste-me imensamente curiosa para saber o que vai acontecer a seguir e isso não é justo (okay, talvez só um bocadinho).
    Fico à espera do próxima e não te esqueças de continuar ;)

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  11. Espero por um Especial de Natal, sim? ♥

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  12. Adorei quero o proximo.bjs

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  13. Falta muito para um novo capítulo??
    espero ansiosa :)
    beijinhos

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  14. Kero o próximo... Tou super curiosa para o ver...

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  15. oh, falta mesmo muito? tens uma data em mente mais ou menos? beijos

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  16. Olá Joana,
    Diz-nos só que estás aí e que estás a preparar um novo capítulo. Estamos todos cheios de curiosidade para saber o que acontece a seguir...
    Aguardo uma resposta,
    Beijinhos

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  17. Muitas, muitas, muitas saudades de ler ;)
    Beijinhos.

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