Abri os olhos
devagarinho, de pestanejar intermitente e melindroso, obrigando-me a despertar
daquela sonolência pesada a que o meu corpo se arremetera provavelmente durante
um bom par de horas. Rodei a cabeça em algumas direcções enquanto o meu olhar
se ambientava à luz diurna e buscava por algo que me fosse familiar, levando-me
a consciencializar do lugar onde estava. Aquando eu me mantinha deitada, levei
somente alguns segundos para conseguir discerni-lo na perfeição, e quando o meu
subconsciente voltou à sua normal funcionalidade, apercebi-me que tinha sido
trazida novamente para a segurança e repouso do meu quarto de hotel.
- Le mieux que'elle se
repose dans prochaines heures. Arujourd'hui n'est pas conseillé de retourner au
travail.
- Oui, douteur. Vous avez
besoin d'autre chose? – duas vozes provindas do corredor ao meu lado direito,
estimularam toda a minha atenção, que no mesmo instante procurou por atribuir a
cada uma delas a respectiva figura dona
A algum custo, e ainda
cacetada por um abalo latejante que ecoava dentro da minha cabeça, elevei
ligeiramente o tronco apoiando os cotovelos sob o colchão, e num relance
discreto perscrutei o fundo do corredor, onde junto da porta conversavam já
numa compreensível despedida em breves trocas de palavras da língua francesa,
Pedro, e um senhor que eu não conhecia e não fazia a mínima ideia de quem era
ou o que fazia ali. Um homem provavelmente na casa dos seus sessenta anos, de barba
e cabelo grisalho, impecavelmente engravatado e portador de um pequeno malote
negro que segurava ao lado do corpo. Fiquei intrigada com aquele cenário, e por
isso mantive-me atenta esperando conseguir enxergar algo que me elucidasse.
- No… Juste vous regardez
pour elle. – sugeriu o senhor, numa contextualização que me abrangia a mim, claramente,
e pelo que ainda ouvi as minhas dúvidas não demoraram a desaparecer… ele era um
médico que havia sido chamado para me ver – Les repost est essentiel pour
s'assurer qu'elle n'a pas beaucoup d'effort au moins jusqu'à ce qu'elle se
sentait mieux.
- Ok, merci beaucoup pour
votre aide.
- Se vouz avez besoin de
quoi que ce soit d'autre, si la fièvre monte, alors appelez-moi. –
disponibilizou-se inteiramente, o que os levou a despedirem-se com um aperto vogaz de mão no
acto seguinte – Bon après-midi.
- Bon après-midi, docteur
Pierre. – Pedro abriu-lhe a porta e tal como ele, eu vi o senhor sair
educadamente, deixando-nos a sós no quarto
Vi-o então atravessar o
corredor tomando um compasso de marcha afluente até à zona da cama onde eu
repousava, e olhou-me sorridente antes de me falar, e notavelmente mais
aliviado por ver os meus estímulos despertos.
- Ei, miúda… Já acordast…
- mesmo antes de o deixar completar a exclamação que me iria fazer,
interrompi-o com o início de uma reprimenda
- Chamaste um médico?!
- Desculpa?
- Foi preciso chamares um
médico? – impondo-me a um pequeno esforço acrescido que fez uma leve tontaria
vagar uma vez mais a minha cabeça, puxei o meu corpo para trás de modo a
sentar-me à cabeceira da cama
- O quê…? Joana, é claro
que foi preciso chamar um médico…! Que conversa é essa?
- Desculpa mas eu acho
que não havia necessidade nenhuma… Que mania de dramatizares, bolas! Eu estou
bem, ou pelo menos vou ficar… - hesitei um pouco porque para ser franca, eu não
estava em perfeita condição física tal como desejava… sentia uma impressão no
estômago, a cabeça a pesar-me sob os ombros, e calafrios que me percorriam o
corpo intempestivamente – Seja o que for, isto passa!
- Estás a ouvir aquilo
que estás a dizer? Tu desmaiaste, Joana! Desmaiaste! – o seu tom de censura que
não pretendia ferir-me, mas sim trazer-me apenas para a realidade,
circunscreveu o episódio menos feliz desta manhã – Perdeste os sentidos...
Caíste redonda no chão mal voltaste a entrar no estúdio, toda a gente que
estava lá, viu… Achas mesmo que não havia motivos para "dramatizar"?
Para me preocupar contigo depois do que aconteceu?!
- Eu sei, mas…
- Mas nada… - o seu olhar
complacente cruzou-se com o meu num segundo de piedade, e a sua voz
contemporizou um volume mais moderado que suspendeu uma pequena zanga entre nós
– Caramba… Tu tens ideia do susto que me pregaste? Do susto que pregaste a
todos?
- Desculpa… - pedi num
rasgo de sinceridade, que me obrigou a descer o queixo e aprisionar o olhar às
mãos trémulas que se cruzaram sob o meu colo
- Sabes que não tens que
pedir desculpa, não tens culpa do que te tem estado a acontecer… - ele
arriscou, sem medo, uma aproximação entre nós e não hesitou em chegar-se à
minha beira e sentar-se a meu lado de frente para mim, num espacinho vago no
colchão – Eu tive que chamar um médico… Percebes porquê, não percebes?
- Sim, eu percebo… - por
instantes coloquei-me na posição dele e consegui compreender o seu lado, a sua
atitude para comigo, que não era mais do que um dever sentido por alguém que se
importa e quer cuidar
- Como é que te sentes?
- Mais ou menos… Sinto-me
cansada como se tivesse corrido uma maratona inteira, estou cheia de frio…
- É normal, ainda estás
com febre…
- O que é que o médico
disse? Ele disse o que tinha? – perguntei melindrosa a uma resposta pesada, e
somente serenei pela feição não muito preocupada de Pedro
- Não. Ele só te viu a
febre, mediu-te a tensão e viu o nível de açúcar no sangue, e digo-te já que os
níveis estavam baixíssimos… Tu tens andado a alimentar-te em condições, como
deve ser?
- Claro que me alimento
em condições! Sabes que não sou de muito alimento mas como sempre o suficiente
e o saudável. – referi, recordando os cuidados básicos de saúde que eu desde
sempre induzi à minha alimentação… nos últimos tempos, e devido também aos
desgostos da vida que tinha sofrido recentemente, tinha menos apetite, não
controlava devidamente os horários das minhas refeições o que por vezes me
levava a saltar algumas, mas nunca deixei de comer
- Bem, eu falei com o
doutor e estive a contar-lhe a tua rotina, e pelas evidências ele também notou
que devia ser do cansaço, o stress com que tens vivido…
- E não me receitou nada?
- Não. Disse que não é
aconselhável fazeres grandes esforços, tens de descansar bem e o preferível é
antes de mais nada, consultares o teu médico de família para teres a certeza do
que tens… - já podia adivinhar que iria ouvir um discurso daquele género, e
apesar de serem recomendações sinuosas, não deixavam de ser certeiras e
irrevogáveis para eu seguir – E isto não quer dizer que tenhas obrigatoriamente
alguma coisa, algo de grave, mas o melhor é fazeres uns exames…
- Sim, com isso não te
preocupes que já tratei do assunto. – informei, uniforme à conversa que travara
com a minha querida Adriana, mesmo antes do… pequeno incidente
- Já trataste do assunto?
- Sim, liguei à Adriana e
pedi-lhe que me marcasse umas análises gerais, o mais rápido possível…
- Óptimo, fizeste bem.
Fico mais descansado assim, e tu também vais ficar. – assim o esperava, não
queria ter de carregar outro peso em cima dos ombros, ter outra ferida para
sarar
- Que horas são? – apesar
de saber não ter acontecido, sentia-me como se tivesse estado a dormir durante
dois dias interiores, o que me à feito perder a noção total do tempo
- São quase horas do
jantar…
- Já?! – as minhas
sobrancelhas crisparam de espanto e os meus olhos recorreram à enorme janela de
cortinas ligeiramente abertas, predispondo o cair antecipado, e o qual eu não
dera conta de chegar, da noite – Nem dei pelo tempo passar…
- Natural… Depois de te
trazermos para o quarto, tomaste um calmante e desde então que estiveste a
dormir. – horas e horas que passara a dormir, não admirava que ainda me
sentisse tão sonolenta
- Como ficou a produção
fotográfica?
- Foi adiada… Eles não
quiseram continuar sem ti. Mas não te preocupes, amanhã, e se te sentires
melhor, concluímos tudo… - ele descansou-me, no entanto não pude deixar de me
sentir culpada por ter atrasado e comprometido aquele trabalho todo – Vai é ser
um dia bastante puxado visto que domingo já estamos de regresso a Lisboa. – a
sua mão acariciou levemente as minhas, unidas, e um sorriso tranquilizante
padeceu em seus lábios – Mas então eu vou lá em baixo num instante comer
qualquer coisa, e já mando trazer o jantar para ti…
- Não, Pedro, por favor…
Não tenho fome nenhuma. – não sei porque estupidez a minha me interpus ao seu
informado, muito bem sabendo a sua opinião quanto àquele assunto
- É que eu nem me vou dar
ao trabalho de voltar a discutir sobre isto contigo, portanto… - quando o seu
corpo se ergueu na minha frente, um novo sorriso, e desta vez conjurado por um
fel de ironia, foi desenhado no semblante dele e unicamente dirigido a mim,
expressando bem a sua opinião e vontade – Tens aí um alguidar com água fria…
Enquanto estiveste a dormir, molhei-te a cara e a testa com a toalha para
baixar a febre… Se sentires o corpo muito quente, vai fazendo o mesmo.
- Não demoras, pois não?
– a minha interrogação, camuflada pela intenção que não escondi, expôs
tenuemente a minha vontade em não querer ficar sozinha durante muito tempo… a
solidão deveria ser a minha pior inimiga quando as minhas defesas se mostravam
em baixo e toda eu me sentia peramente doente
- Não, descansa… Eu venho
já. – a sua mão afagou meigamente o meu cabelo, um carinho que já há muito
ninguém que me fazia, ou melhor, nem há tanto tempo assim... lembrei-me de
Ruben e do nosso último abraço, da sua última carícia
Uma vez mais foi o meu
olhar que acompanhou cada movimento seu e o viu chegar junto da porta, abri-la,
lançar-me uma última mirada como se certificando de que eu ficava bem e
preparou-se então para sair e deixar-me por instantes remetida ao meu próprio
isolamento… Pelo menos foi assim que eu pensei, mas acabei por ser
agradavelmente surpreendida.
- Chico? – mal rodou a
maçaneta na sua mão e abriu a porta, Pedro viu-se confrontado com a visita
inesperada do manequim com quem eu já partilhava uma recente, mas
premissa, amizade
- Nossa, Pedro, ia bater
agora mesmo… - apenas consegui ver uma parte da figura de Francisco disposto em
perfil, pois a outra parte do seu corpo permanecia escondida entre o aro da porta
- Foi um bom timing… - eles riram-se brevemente da
coincidência circunstancial e eu permaneci o mais atenta que pude àquele
cenário, que se desenrolava não muito longe da minha vista e do meu alcance
- E aí… Eu vinha dar uma
olhada, ver ela… Como ela 'tá?
- Parece-me melhorzinha,
esteve a dormir toda a tarde mas ainda tem febre… Vamos ver se com o tempo e
algum descanso ela melhora.
- Posso entrar?
- Podes, claro! – vi-o
abrir passagem para que Francisco pudesse entrar, ele acabou por fazê-lo
educadamente no instante que se seguiu – E ainda bem que apareceste… Eu vou lá
a baixo ao restaurante e era porreiro se ficasses a fazer-lhe um pouco
companhia… Não queria muito ter de deixá-la sozinha para o caso de poder vir a
precisar de alguma coisa.
- Eu cuido dela, pode ir
descansado… Sério! – exibindo um sorriso imperitamente simpático, ele
disponibilizou-se prontamente para que eu ficasse ao seu cuidado e
responsabilidade por um par de minutos
- Fico mais descansado
assim… Obrigado! Até já.
- Ora essa! Até já. –
Pedro saiu então, com o coração e a alma, adivinhei eu, mais leves e
tranquilos, por saber certamente que eu ficava em boas mãos, num momento um
quanto difícil para mim – Oi, guria… - enquanto ainda caminhava no corredor,
ele encontrou-me deitada sob a cama e não resistiu em contemplar-me com um
daqueles seus sorrisos meigos e travessos no rosto
- Oi… - copiando-lhe a
saudação aliada pelo sotaque, com um pouco mais de dificuldade, também os meus
lábios se rasgaram num sorriso sincero por voltar a vê-lo
- E aí… Como cê ‘tá?
- Estou bem… - quando ele
acentuou o seu olhar pesadamente sobre mim, perscrutando-me com toda a atenção,
achei por bem considerar por uma reposta mais verídica que me expusesse
correctamente – Mais ou menos…
- Cê que não faz ideia do
susto que pregou na gente… Nossa, todo o mundo ficou preocupado com você quando
te viu cair redondinha no chão.
- Eu sei, e peço desculpa
pelo desconforto que causei…
- Oh, larga de ser
bobinha… - ele entendeu, como evidente, que o que acontecera comigo não fora de
propósito e por isso mesmo não tinha que me auto-responsabilizar por nada
- Oh, mas mesmo assim… -
a minha teimosia, excessiva por vezes, desnudou-me um sorriso recatado
fazendo-me voltar a contrapor
- O que importa agora é
que cê melhore e recupere rapidinho. Deixa que eu te ajudo. – vendo-me pegar no
paninho molhado que tinha sob a mesinha de cabeceira, ele ocupou a vagues do
lugar ao meu lado da cama e ofereceu-me auxílio que eu não pedi, mas que os seus olhos me desvendaram no conforto
do silêncio – A Sara ficou de vir te ver daqui a pouco, foi só no restaurante e
vem logo.
- Vocês estão a dar
demasiada importância, a preocupar-se demasiado… - intervim, sentido a água calda
arrefecer-me a testa – E eu agradeço-vos, do fundo do coração, mas não é
preciso ralarem-se tanto comigo…
- Eu só perdoo você ‘tar
falando bobeira porque eu sei que ainda tem febre… - rimo-nos levemente, foi
inevitável não descartarmos uma ou duas gargalhas pela expressão de comicidade
que ele usou
Francisco continuou a
humedecer-me a cara e uma nova conversa entre nós surgiu e foi-se desenrolando
naturalmente por si. Falámos dele tocando alguns pormenores da sua vida íntima
e pessoal que tal como eu, ele tencionava a resguardar dos olhos e ouvidos de
terceiros, dos acontecimentos que esta estava a levar, das novidades que a
preenchiam… E sabia que mais tarde ou mais cedo, quando ele se silencia-se e me
transmitisse o testemunho, a minha vez de falar chegaria, e consigo chegaria
também o momento de tocar na minha ferida, aquela que ainda me doía, que
custava a sarar mais do que todas as outras que já tivera, e o meu medo em me descontrolar em emoções vinha inevitavelmente colado ao peito, e estas
prometiam reacender logo sentissem a mais pequena das ameaça assim que eu ouvisse
o nome dele.
- Eu esqueci de perguntar
pra cê… Me conta, como vão as coisas com o seu namorado…? Como é o nome dele
mesmo? – afinal mais cedo do que eu esperava, a ferida voltou a ser tocada, ardendo
em chamas e conjurando ao meu coração uma dor quase insuportável, aquando
mencionado um assunto que sinceramente eu pensei já ter sido esquecido por ele
- Ruben… - se ouvir o
nome da pessoa que ainda detinha todos os meus sentimentos, julguei vir a ser intolerável
às minhas memórias de nós, tanto as melhores que eu guardava como as menos
boas, ter de ditá-lo, ter de pronunciá-lo com os meus lábios, apenas serviu
para me desolar severamente por uma vez mais tomar a noção do que o que um dia
havia sido real, hoje não passava de meras e tristes recordações
- É isso aí… Ruben(!) Cês
resolveram aquela parada?
- Chico, se não te
importas, eu não… - não queria falar sobre o assunto, ainda custava, ainda
doía, e temia que continuasse a ser daquela maneira durante mais uns tempos
- Me desculpa… - apenas
pela minha discreta fuga à conversa, e expressividade que esmoreceu
drasticamente, ele culpabilizou-se de ter suscitado uma conversa delicada que
eu não estava preparada para voltar a ter, tal como se apercebeu que nada havia
sido resolvido com o meu agora, ex-companheiro de vida
- Não tens de pedir
desculpa, também não podias adivinhar, não é? – os meus músculos faciais
contraíram-se num sorriso que foi somente libertado para que ele não se
sentisse desconfortável – Mas se queres mesmo saber, não… Não resolvemos absolutamente
nada.
- Oiça, dá pra ver que
esse assunto mexe consigo, não tem que falar se não quiser, sério
que não… Eu entendo. – revelou compreensivelmente, ciente de que não tínhamos
aquele nível de proximidade muito grande, mas aos poucos encetávamos a
construí-lo
Estávamos sempre mais
propícios a desabafar sobre a alma, a abrirmos o nosso coração a quem mal
conhecemos, talvez por não termos medo de sermos julgados e por não nos
iludirmos em esperanças no apoio e consolo de quem não nos é nada, mas com
Francisco começava a ser diferente… Tenuemente ele mostrava ser o amigo que eu
precisava ter a meu lado, e cada vez mais ele dava provas de querer ficar comigo.
- Está tudo bem, não te
preocupes. Tem de chegar o dia em que não doa mais ao falar sobre isto… Tenho que
ultrapassar. – e talvez aquele fosse o dia… respirei profundamente esperando
reunir todo o ânimo que conseguisse, e preparei-me para lhe contar o que tinha
acontecido desde que saíra de Punta Cana e regressara a Portugal
Contei-lhe tudo… Os largos
minutos que partilhámos sorveram uma conversa íntima entre nós que confesso, em
alguns momentos tive dificuldade em dominar e levar até ao fim. Desde a
discussão exaltada que tivemos na casa dos pais da nossa afilhada, até ao
encontro destinado no Colombo e o posterior momento vivido nas garagens, mas
não tive coragem suficiente para lhe confessar a noite de amor e entrega que
partilhámos há uns tempos… Um episódio de tão bom e maravilhoso que fora, eu
queria apagar do cofre das minhas mais doces lembranças só para não recordar de
um ensejo que eu e Ruben, como aquele, não voltaríamos a partilhar.
Francisco permanecera
muito atento à minha narrativa, como se estivesse a ouvir o relato de um livro, que no futuro próximo não teria mais nada para contar, não iria
ter mais páginas para ler nem novos relatos para acrescentar… Estava morto, tão
morto como a nossa história que nunca conheceria o seu fim… pelo menos não o
mais feliz.
- E o que aconteceu
depois de ele dizer que ainda te amava? Cês se beijaram? Se acertaram? –
rematando alguns detalhes do situação mais recente que traváramos no nosso
último encontro, ele não me escondeu a sua ânsia em poder ver um novo rumo da
minha felicidade
- Não, não foi nada disso
que aconteceu… - por muito que eu tivesse desejado poder afirmar o verídico das
suas questões ao que de facto aconteceu, eu não podia mudar os factos e
escrever uma nova realidade, e evitando mais dúvidas, terminei com o desfecho daquela tarde, recordando-me de cada detalhe
****
- Ruben… - a voz despertadora de Inês, soou
a alguns metros de nós, fazendo o nosso sonho ser perfurado pela realidade
Demorarmos a responder à formalidade da sua
chegada quebrando o abraço, acentuou o clima pesado que se veio a fundar no
meio de nós e o facto de estarmos tão próximos num contacto proibido, só veio a
comprometer a nossa posição que agora estava aquém das conclusões, precipitadas
ou não, de Inês.
- Já tenho o que preciso… Vamos embora? – ela
foi fria do jeito com que falou e este foi unicamente dirigido a Ruben, que
sentiu toda a tensão apoderar-se dos seus músculos e feições
- Sim, vamos… - vi-o segurar a chave no ar
e destrancar o carro, acção que permitiu Inês precipitar-se à porta do lugar de
pendura… os seus saltos embatiam pesadamente contra o pavimento provocando um
ruído que fazia o meu coração bater mais depressa pela culpa que começava a
sentir, apesar de não ter acontecido nada na sua ausência
- Depois eu ligo-te para acertarmos então
alguns pormenores… - ao passar por nós, ela não se esqueceu de me relembrar a
ajuda que eu lhe ofereci relativamente ao casamento, e no final sorriu-me,
forçadamente como eu bem reparei, e mesmo antes de entrar no carro… algo ali a
perturbava, a ameaçava, e talvez esse algo fosse a inexplicável aproximação e
intimidade que eu e o seu noivo não escondíamos ter um para com o outro
- Eu também tenho de ir… Vemo-nos no
casamento. – quando improvisei uma despedida e tomei ritmo para sair dali,
Ruben voltou a surpreender-me
- Espera! Não nos podemos ver antes? – foi prudente
e carinhoso no tom de voz que suavizou, apesar de Inês já se encontrar dentro
do veículo, e mais uma vez o seu querer em voltar a estar comigo voltou a ser
transparecido, mas ambos sabíamos o que era verdadeiramente correcto
- Adeus, Ruben. – e ali estava o correcto…
a distância(!) dei-lhe um beijo no rosto e com o coração mutilado por um
desgosto inconsolável, fui embora com a tentação de olhar para trás, mas tive
força suficiente para não ceder a ela
****
- E não falaram mais nada
um pró outro? Cada um seguiu o seu caminho… simplesmente? – depois de me ouvir,
Francisco pareceu-me integrado como tudo tinha acabado… tão depressa e com
tanta coisa por ser esclarecida
- Não havia mais nada a
dizer, Chico… A Inês apareceu e tivemos de seguir os nossos caminhos, como se
eles não se tivessem voltado a cruzar. – um
tremelicar discreto tomou domínio dos tiques do meu queixo ao mesmo tempo que
o meu olhar enturvou pelas linhas de água que o preencheu, mas consegui não
chorar – Ele
seguiu o seu caminho ao lado da noiva, da futura mulher e provavelmente da
futura mãe dos seus filhos, e eu segui o oposto e sozinha… Tal como pretendo
cursá-lo durante os próximos tempos.
- Ah, qual é? Fala isso não… Vai ver que quando menos esperar vai tudo dar certo, a vida vai dar um
jeito!
- Não, não vai, mas é bom
pensarmos que sim… É mais reconfortante. – apesar de os tempos se mostrarem
intempestivos, eu não ia baixar as armas e deixar de lutar por mim… agora só
por mim e pela felicidade que pretendia encontrar
- Então agora para
esquecer esses problemas, eu quero ver um sorrisão nesses lábios, vá… - ele
queria apenas fazer sentir-me melhor, queria ver-me animada… mas eu não estava
com disposição nenhuma para me animar
- Francisco, não… -
molenguei na minha recusa, mas ele não desistiu
- Francisco, sim! Ué! Vá,
me mostra… Quero ver um mega sorriso! O
maior que tiver…
De tanta insistência, eu
cedi… não tinha outra escolha. Cerrei os olhos, rasguei os lábios e mostrei um
sorriso exageradamente largo e forçoso que exibia o delineo perfeitamente
correcto dos meus dentes. Fi-lo rir pelo jeito mais cómico da minha feição e
acabei por me juntar a ele, agora de uma forma natural e espontânea.
- Assim 'tá melhor. –
final e muito tenuemente comecei a sentir-me melhor, talvez fosse aquele o encerrar de um
capítulo e o começo de um novo… reservado com melhores esperanças e promessas
das quais eu não poderia abrir mão – Cê tem um sorriso lindo, não deixe nunca
ele se apagar do seu rosto.
***
- O carro já está lá em
baixo é nossa espera para irmos… Tens tudo pronto?
- Sim, podemos ir. –
afirmei, olhando em meu redor para me certificar que não deixaria nada para
trás assim que saísse daquele quarto
- Deixa que eu levo. – num
gesto de cavalheirismo que já lhe conhecia, Pedro retirou-me da mão a única
mala de viagem que eu trouxera e ele mesmo a transportou na sua, deixando-me
assumir a chefia do caminho que liderei à sua frente, até nos recolhermos no
elevador
O fim-de-semana conheceu
rapidamente o seu fim num pestanejar de olhos, e com o fim do trabalho veio a
contagem decrescente para o meu regresso a casa. Tinha melhorado significativamente,
o que graças a Deus me permitira terminar as fotografias para o catálogo
juntamente com os meus colegas. Não me sentia totalmente reestabelecida,
totalmente saudável, mas já não tinha febre e os calafrios e dores de cabeça
deixaram de ser tão constantes.
Antes do voo, Adriana
ligara-me a informar das análises gerais que havia solicitado, e estas estavam
marcadas para o início da semana bem cedo, o que me confortou visto que não
tinha mais que esperar e poder esclarecer todas as dúvidas, sem deixar arrastar
a situação por muito mais tempo. Foi então que na segunda-feira, e antes de
seguir para a minha primeira aula na faculdade, que passei pela clínica para
fazer a deliberação de mais um tormento que me tinha andado a tirar o sono,
rezando para que tudo corresse pelo melhor e que a vida não me tivesse pregado
mais uma partida.
***
- Então daqui estamos
despachadas… Temos o seu contacto, depois avisamos para poder vir levantar os
resultados. – depois de todos os testes feitos, a analista que me tirou
sangue, caminhou comigo até à recepção, mostrando a sua boa educação
e máximo profissionalismo
- E não me sabe dizer quando
é que esses resultados estão prontos…? – perguntei porque a primeira coisa que fiz
denotar mal entrara naquela sala, foi a minha urgência pelos resultados dos
testes
- Não lhe posso garantir a
máxima rapidez, mas vou fazer os possíveis para dentro de dois dias ter uma
resposta e uma consulta marcada caso seja necessário, mas para todos os casos
ligo a confirmar… Não se preocupe.
- Muito obrigada! –
restou-me agradecer-lhe por todo o cuidado e atenção que me foram despendidos,
e depois disso só me restava mesmo esperar
Quando saí da clínica a
primeira coisa que fiz foi procurar o meu telemóvel e ligar a Adriana, que
aguardava por um telefonema meu. Enquanto falávamos dirigi-me ao parque de
estacionamento e ocupei o meu carro, que não iria dirigir antes de terminar a
chamada.
- Isto não é normal, não são sintomas normais… - continuei a
desafogar com ela, colocando os meus receios sob a mesa
- O que é que estás a querer dizer com isso?
- Estou a querer dizer que eu… Eu posso estar doente! Tu sabes
o historial médico da minha família, eu já te contei… A minha avó e a minha mãe… -
antes que eu terminasse a minha mais patusca suspeita, ela apressou-se a calar-me
com meias palavras que afugentaram as minhas
- Joana, é que nem te atrevas a colocar essa hipótese, ouviste
bem? Tu estás doente coisíssima nenhuma!
- Adriana, eu tenho medo… Pronto. – ciciei sentindo uma
reviravolta no estômago pelo nervosismo, enquanto cruzava o cinto de segurança na minha frente
- Mas medo de quê? Não precisas de ter medo, vais ver que…
- Amô, cê viu onde deixei
meus ténis que me deu pelos anos? – a voz de David foi perfeitamente
audível através da linha telefónica, e foi inevitável a nossa conversa não ser
interrompida, apenas que por alguns segundos
- Deixaste-os na sala, David… Foi onde te descalçaste da última vez que
os usaste! – ela avivou-lhe a memória já um pouco olvidada e depois retomou
a nossa chamada, por instantes suspendida – Desculpa… - perdoou-se e pegou na
sua última interjeição de maneira a dar-lhe continuidade – …vais ver que estás
perfeitinha de saúde! Tudo isto não passará de um susto.
- Eu não sei… E se for
mais do que susto? Se estiver algo de errado comigo? Algum problema?
- Joana, pára de fazer
suposições inúteis, não podes estar nessa ansiedade. Talvez seja só uma virosezita…
– o seu racionalismo e a sua voz calmante, tranquilizaram-me por alguns
momentos, mas sabia que assim que desligasse a chamada e a deixasse de ouvir,
todas as dúvidas e inquietações voltariam
- E se for mais do que
uma simples virose?
- Vamos esperar pelo
resultado das análises e depois logo se vê… Não vale de nada estares a sofrer
por antecipação.
- Eu tenho medo do que possa ser, Adriana… - não perguntem
como, mas eu sentia que algo em mim não estava bem, não era algo comum, era
algo mais… mais do que eu pudesse supor, e toda eu tremia só de imaginar o que
poderia estar reservado para mim
- Amor, não tenhas… Eu estou aqui para tudo o que precisares,
qualquer coisa que seja, nós arranjamos uma solução.
Apesar de todo o carinho, de todo o alento que ela se
esforçou por me transmitir, eu não consegui ficar mais sossegada e afastar da
cabeça os mais obscuros e auto-destrutivos pensamentos. O meu medo pela minha
saúde era enorme, acho que nunca estivera tão assustada como até então… E se
ele viesse a ser confirmado?
Boa tarde, minhas queridas leitoras! :)
Antes de mais devo-vos um enorme pedido de desculpas pela demora
em deixar-vos com novidades, mas vocês já sabem os motivos que me impossibilitaram a fazê-lo.
Quero também agradecer-vos do fundo do coração todo o apoio e carinho
que tiveram para comigo, bem como a vossa compreensão,
não imaginam a força que os vossos comentários me deram... Muito obrigada!
E sem mais demoras fiquem então com o novo capítulo da história,
espero que gostem e não se esqueçam de me deixar as vossas opiniões! :)
Beijinhos,
Joana
Todos temos fases menos boas mas o que interessa é que as ultrapassamos! Espero que já esteja tudo melhor contigo...
ResponderEliminarAgora sobre o capítulo confesso que estou desejosa pelo próximo... estou tão mas tão curiosa para ler as cenas que tens reservadas para nós :P
Beijocas
O tempo de espera compensou :)
ResponderEliminarComo sempre está fantástico! Agora resta saber o que é que a Joana tem... espero que não seja nada de grave...
Cá p'ra mim nessa interrupção do David ele conseguiu ouvir um pouco da conversa e vai contar ao Ruben eheh (pelo menos assim espero... mas como tu és perita em surpresas :)).
Parabéns pelo capítulo e agora só me resta pedir por mais um se faz favor (e rapidinho se puder ser ahah).
beijinho
Catarina
Olá :)
ResponderEliminarAdorei ler mais um capítulo teu... E como sempre me surpreendes cada vez mais!
Estou ansiosa pelo próximo post !! nao demores muito
Ai que ansia que estava para ler este capitulo e agora ainda maior para o proximo pff publica muito depressa estou mesmo muito curiosa!
ResponderEliminarE espero que tudo se tenha resolvido ma melhor forma e terás sempre aqui da nossa parte, leitores, apoio.
Beijinhos,
Alexandra
opááá não queria nada que a Joana adoecesse... ela não merece :S a juntar a isto o Ruben ainda não desistiu da ideia de se casar com a sonsa da Inês...
ResponderEliminarvá quero mais outro !
beijinho
Adorei... quero mais por favor!!!
ResponderEliminarE não quero a Joana doente.
Publica rapido por favor.
Beijo
Adriana
Mais um, mais um, mais um, mais um, mais um !!!
ResponderEliminarEstou sob protesto xD
Valeu a pena a espera, mas agora tenho um problema, conseguiste deixar-me curiosa, mas afinal o que se passa com a nossa Joaninha? Ela tem medo de estar doente, o que dado o historial médico da família é perfeitamente normal que ela pense assim, mas eu sinceramente acho que ela não não tem doença nenhuma. Mas como tu adoras trocar-nos as voltas, deixo-te um desafio, surpreende-me.
ResponderEliminarAdorei, mas quero muito o próximo.
Beijocas
Fernanda
olá :)
ResponderEliminarpara quando o próximo capítulo?
Olá, querida :)
ResponderEliminarDesculpa mas ainda não tenho certezas quanto à data de publicação de um novo capítulo, tudo o que posso dizer é que estou a trabalhar nele e a fazer os possíveis para vos trazer novidades o mais brevemente que puder.
Beijinhos**
ADOREI !!!
ResponderEliminarMas não quero a Joana doentinha :s era tudo o que ela não precisava agora... ainda p'ra mais com o casamento do ruben e da inês a aproximar-se
estou ansiosa por mais um :)
publica rápido pleasee
quando voltas a publicar?
ResponderEliminarQuando voltas a publicar?
ResponderEliminarmais um, mais um, mais um!
ResponderEliminarplease :)
Catarina
Estou ansiosa pelo reencontro tão esperado :)
ResponderEliminarbeijinho
Joana claro que compreendo que é dificil publicar, mas tenho tanta vontade de ler... por isso é que também te peço para publicares ;)
ResponderEliminarBeijos
Adriana
Linda, p'ra quando o próximo?
ResponderEliminarestou na expectativa xD o que é que terá a Joana :/ tudo lhe acontece... ela já precisava de um acontecimento feliz!!
Mais um por favor!!!
ResponderEliminarbeijinho
Paula
Só agora tive tempo de comentar o capítulo :)
ResponderEliminaro que é que a joaninha tem? não pode estar doentinha :S
fico à espera do próximo!
mais um, please !
ResponderEliminarquando voltas a publicar?
ResponderEliminaradorei :) agora temos mesmo de saber o que se passa.
ResponderEliminarquando puderes volta a publicar :D
Queria mesmo saber quando é que vais voltar a publicar... podes dar uma previsão?
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