domingo, 27 de janeiro de 2013

Capítulo 11 - A sensualidade do amor...

Um novo dia foi descerrado pela manhã serena e passiva, que se ergueu aquando o sol voltou a raiar, brindando a pompa de um inventário de férias para uns e o reportório de mais um dia de trabalho a outros.
Enquanto que Ruben despendeu o seu dia ao serviço da equipa da Luz, entre treinos e testes médicos, Joana demarcou todo o seu tempo entre lojas, um almoço que disfrutou na companhia de Sara e William, e um passeio trivial comandado no roteiro entre as calçadas costeiras, onde nas quais jornadeou somente na companhia da sua fiel máquina fotográfica, que voltou a disparar sobre a beleza de cada recanto.
Quando chegada ao hotel, perdida nas horas que se estenderam até ao final da tarde, na recepção foi brindada com um envelope que guarnecia um bilhete assinado por Ruben, onde prescrevia todas as indicações ao encontro marcado para o início daquela noite. Vestindo um sorriso inquebrável nos lábios, pela felicidade que então decidira voltar a bater-lhe à sua porta, correu celeremente até ao seu quarto, preparando-se para o já muito aguardado e igualmente merecido… jantar a dois.



***


Apesar de ter tido contra si os ponteiros do relógio que o obrigaram a uma luta contra o tempo, contra todas as espectativas Ruben conseguiu perfazer-se dos planos que tinha idealizado para a sua noite com Joana, de maneira a fazê-los acontecer. Reservou a mesa para o jantar no restaurante do hotel pelo qual detinha preferência e inteirou-se da surpresa que iria oferecer à sua namorada, a qual planejara milimétrica e cuidadosamente, para o desfecho de uma noite que tinha tudo para que fosse perfeita.   

- Seu laço tá torto, manz… - sentado ao fundo da cama que lhe pertencia, David opinou sinceramente, enquanto olhava a figura do melhor amigo que se preparava na frente do espelho colossal do quarto

- Não está nada! – desmentiu no segundo a seguir, inclinando sucintamente a cabeça para o lado e ajeitando as pontas do laço que já fizera e desfizera umas quantas vezes

- Está sim… Olha aí! – Fábio, que juntamente com Javi também ocupava a suíte dos amigos, apareceu nas costas de Ruben e apontou-lhe um lado do laço visivelmente mais elevado que o outro – Em vez de te quereres armar em James Bond de trazer por casa, quando alugaste o fato podias ter pedido um laço pré-elaborado!

- Não me vou chatear mais com isto, esta porcaria nunca fica direita! – aborrecido por não conseguir dar a volta ao problema, ele voltou a desfazer o laço e do saco onde havia trazido o smoking de aluguer que envergava, retirou uma fina gravata preta, que com umas voltas habilidosas que pela experiência já se havia habituado a fazer, enfeitou o pescoço, revelando-lhe por fim a charmosidade e elegância de um homem bonito e puramente apaixonado

- Nossa, que gato! Se não tivesse já companhia, eu iria querer jantar com você! – zombando numa brincadeira que entre o grupo de amigos já era comum, David não resistiu em comentar a aparência harmoniosamente polida do seu melhor amigo, acompanhado pelas gargalhas descaradas de Javi e Fábio

- Que engraçadinho, puto! A tua sorte é que eu estou com pressa, se não já apanhavas! – referiu, utilizando-se do mesmo tom de gozo na voz e despenteando-lhe os caracóis

- E aí... A gente pode ir com você! - sugeriu depois, erguendo-se da cama num pulo rápido e energético

- O quê? Não, nem pensar… Eu vou sozinho!

- ¿Qué tiene? Tu te tendrás la cena y nosotros también, aunque fuera en restaurantes diferentes, se interpone en el camino.

- O Javi tem razão, mano! – proferiu Fábio, aquando de braços cruzados apoiou a sugestão do amigo – Descemos juntos, deixamos-te na ante-sala e vamos jantar a outro lado, visto que no restaurante onde vais só aceitam jantares com marcação. – num gesto reservado, piscou o olho a David e Javi na ocultação de planos que somente ficariam entre os três

- Ei, o que foi isso?! Eu vi! – contudo aquele sinal que passou por ser discreto, não passou indiferente a Ruben, que no mesmo instante soqueou o ombro de Fábio esforçando-se por pedir uma explicação, porém, uma explicação que acabaria por nunca chegar

- Larga de ser paranoico, cara… Vamo’ masé embora, que papo ainda não enche a barriga de ninguém! – revelou com a comicidade de que era portador, deixando tombar o seu braço direito sobre os ombros de Ruben, forçando-o a caminharem até à saída

Envoltos num ambiente descontraído e na animação que era costume imperar entre o grupo, embora que agora reduzido pela falta de alguns elementos, eles desceram ao primeiro piso, onde se prostrava a zona de restauração. Ainda que contra a sua vontade, Ruben foi acompanhado por eles até ao último degrau do pequeno lance de escadas, como se tivessem de se certificar antes de partirem, que o amigo ficava em lugar seguro.

- Onde é que vocês vão? A saída é por ali… - vendo-os adoptar caminho em direcção ao pátio que tomava lugar no lado oposto de acesso aos elevadores, Ruben indicou-lhes as escadas que teriam de subir para que pudessem rumar a outro piso

- Ah… A gente vai à volta, manz… Bom jantar e não esquenta na frescura! – ladeado por Fábio e Javi, David ofereceu-lhe um piscar de olho e poupou-se nas palavras de despedida, despachando-se com uma desculpa esfarrapada e que lhe surgira no momento

Ruben deixou-se permanecer na ante-sala do restaurante e aguardando a chegada querida da sua amante, acabou por se tornar alheio ao lance inegavelmente cómico que secretamente os seus amigos puseram em prática.
Os três caminharam descontraidamente até alcançarem confortáveis metros de distância, e logo que se certificaram que Ruben estaria distraído o suficiente para não dar pelas suas presenças, - as quais ele julgava já omissas –, eles apoderaram-se do sofá sugestivo de três lugares, centralizado na sala de convívio do átrio anexado àquela zona, esperando poderem ver de perto todos os passos seguintes, compostos por Ruben – o amigo próximo que voltara a encruzilha-se nas garras de um amor passado, que nenhum deles esperou ver agora tão presente.

- Olha ele todo nervosinho… Já olhou pró relógio umas dez vezes!

- Pega leve… O Ruben já não deve tar muito acostumado a esse tipo de negócio, ainda pra mais quando se trata da garota dele… - escondidos atrás das folhas do jornal local, que descartaram sobre a mesinha de apoio, eles espreitavam-no comedidamente, rindo-se por vezes do cenário circundante onde no qual Ruben se auto-protagonizava

- ¡Mira, mira! Miren quien acaba de llegar… - ao fim de alguns minutos delongados, o olhar atento de Javi viajou rapidamente em sentido oblíquo onde se posicionava, e somente assentou sob a beleza e graciosidade de uma nova presença que viera iluminar pela primeira vez aquele espaço – ¡Que hormosa!

- Eu aposto que quando a Joana acabar de descer as escadas, ele a cumprimenta com um beijo na boca… Simples e discreto, mas não deixará de ser um beijo na boca! – lançando o primeiro palpite, o olhar de Fábio seguiu escrupulosamente o de Javi, confirmando a si mesmo um panorama de encantar, assim como todo o deslumbre pompeado por uma só mulher

- ¡Sí, yo estoy de acuerdo!

- Ah não, não, meus camaradas, o manz se vai portar que nem um cavalheiro! Ele vai beijar a mão dela e vai levá-la de bracinho dado até ao restaurante… É quanto cês quiserem apostar! – garantiu sugestivamente, confiante de que a sua premonição sai-se certeira e a sua aposta vencedora

- Eish, foi ao lado… Mas tive mais perto de a certar do que tu, oh caracol! – aquela discussão passiva poderia assemelhar-se à de quem assistia a um romance no sofá de casa, pela maneira furtivamente cómica como eles especulavam um desfecho – Mas olhem pra eles… a sério, olhem bem! Ao fim de tanto tempo separados, estão outra vez juntos e mesmo que queram, só da maneira como se olham, não conseguem esconder de ninguém que se amam… E afinal valeu-lhe a pena cada minuto que ficou ali à espera dela!

- O Ruben esperou ela durante três anos… Tenho a certeza que continuaria disposto a esperar ela uma vida inteira, se fosse preciso. – David não pode deixar de expressar a sua opinião inolvidável que sustinha em prol dos sentimentos do seu melhor amigo, sustentada pelos pináculos de uma história de amor, escrita na antecipação de um final feliz



***



Depois de, com o olhar, seguir somente por fugitivos segundos a retirada dos amigos rumo à direcção oposta, Ruben quedou-se na salvaguarda dos minutos seguintes, entregando-se à espera desassossegada pela chegada de quem tanto ansiava ver naquele dia. Caminhando de um lado para o outro, e espreitando de vez a vez as horas marcadas no relógio que trazia religiosamente preso ao pulso esquerdo, ainda conseguiu ver-se maravilhado pelas surpresas do reencontro…
Por fim lá estava ela, portadora de uma calma e leveza sublime, Joana assomou-se ao cimo da escadaria, levedada pela flamância das luzes que lhe iluminavam cada detalhe e ornavam o brilho da sua pele despida. Envergava um comprido vestido pérola que lhe escondia os saltos altos e lhe salientava a feminidade de cada curva do corpo. Os ombros eram revestidos por alças finas e abrilhantadas, que lhe suportavam um decote apertado e impecavelmente desenhado ao contorno dos seios, apoiado pelo efeito do cabelo que era apanhado numa trança gordinha e bagunçada, decaída sobre a frente de um ombro, moldada também pela franja solta, penteada para um lado do rosto e discretamente volumosa. O vestido era totalmente aberto atrás, conferindo-lhe a visão absoluta de umas costas completa e perfeitamente nuas.
Ruben parecia deslumbrado vendo-a caminhar subtilmente até a si, deixando-se embriagar pela doçura daquela imagem. Aproximou-se do sopé das escadas e esperou-a com um sorriso delicioso, enquanto atento, observava a caminhada descendente dela sobre as escadas. Ao passo que descia, Joana disfarçava um sorriso tímido, levantando ligeiramente o vestido nas laterais das coxas para não tropeçar, e finalmente, quando chegou próxima o bastante, ele pegou-lhe na mão e ajudou-a a soltar-se do último degrau.

- Meu Deus, tu estás… estás… Deslumbrante!

Logo que os seus lábios soltaram a face dela e mantendo-se bastante próximos, Ruben empenhou-se o bastante para conseguir conjugar-lhe toda a beleza e encantamento num só adjetivo, perscrutando-lhe cada saliência do corpo e sorriso do olhar.
Joana era de facto uma mulher muito bonita, mas aos olhos dele, naquela noite, ela parecia-lhe mais sumptuosa, mais afável e sem dúvida mais feliz.

- Obrigada… - agradeceu num tom de voz leve, percorrendo também a figura dele num só relance e procurando-lhe depois o conforto do olhar – Tu também estás muito charmoso. – reconhecendo toda a impecabilidade de elegância de que Ruben era portador, ela traduziu por palavras o encaixe harmonioso que ele fazia naquele lugar

- Vamos? – estendeu-lhe a mão, preparando-se para levá-la a entrar num ambiente que sabia ela desconhecer

Joana acenou num cordial gesto com a cabeça, e deram ambos as mãos… Não entrelaçaram os dedos, apenas uniram e cruzaram as palmas, prendendo-as num simples encaixe. 
O restaurante estava estrategicamente posicionado na fachada vertente à praia do hotel. Visto que se localizava no primeiro piso, era conferida uma vista privilegiada sobre mar pela proximidade a que este se dispunha. O avantajado alpendre anexado ao exterior, concebia a visibilidade total sob o manto enegrecido da noite, e que noite era aquela… Um véu coberto de estrelas que se multiplicavam num céu sem fim; a lua soberana que parecia ter crescido ao longo daquela semana, alardeava um enorme tamanho, deixando reflectir a sua imagem sob as águas sombreadas do mar; e a fusão de cheiros invulgares empurrados pela brisa suave daquele lugar, arrastava consigo as recordações que haviam ficado para Ruben e Joana, suspensas num tempo sem espaço.   
No interior do restaurante vivia-se e respirava-se um ambiente harmonizo e equilibrado pela decoração, que embora sustentada por algum requinte, não era de todo agressiva nem aos olhos nem aos sentidos. No centro, as mesas estavam preparas espaçadamente com cadeiras esponjadas de um veludo vermelho, o mesmo que não acontecia com as mesas situadas juntos às paredes e aos extremos, onde as cadeiras eram substituídas por confortáveis sofás dispostos em “L”, propositadamente destinadas a quem fazia uma reserva com um pedido especial. E para completar as noites disfrutadas num lugar como aquele, estava uma pequena orquestra, conduzida ao compasso de ritmos quentes e clássicos, que compunham a sinfonia de corações arrebatados.

- Good night, Sir… Miss. – após os ter visto entrar, um empregado encorpado por uma postura cortês, dirigiu-se até eles, trazendo presa entre o braço e o peito, a lista de reservas para aquela noite – Can I help you?

- Good night! Ah… I was here this afternoon, I made a reservation… - começou Ruben por dizer, gesticulando-se num inglês íntegro 

- Yes, I remember you, Sir! Let me see here, Mr. … - recorrendo à sua lista, com um rápido deslize do indicador, ele procurou por entre os vários nomes de quem havia efeito reserva, aquele que havia feito a que lhe era solicitada – … Mr. Ruben Amorim… Table for two, am I right?

- Yeah, you’re right. – certificou, compartilhando depois um breve e afável sorriso com Joana, que se mantinha serena junto a si, pelas duas mãos sempre unidas

- Please, follow me! – tomando caminho na frente deles, o empregado guiou-os até a um recanto da sala, mostrando o cantinho vanguardista que Ruben escolhera pessoalmente

Joana pareceu encantada com a escolha. A mesa era revestida por uma toalha tingida de um branco imaculado que brilhava timidamente à luz, centrada estava uma taça cristalizada de pé alto, rodeada por pequenas velas aromáticas e enfeitada com um simples e bonito arranjo de flores vermelhas, embebidas a uma pequena quantidade de areia tingida à mesma cor. O serviço de loiça era assimetricamente formoso, onde os pratos estavam não dispostos em frente um para o outro, mas sim perpendicularmente, devido à geometria do sofá.

- Here’s the menu. Call me if you need anything… - após acender cada uma das velas, o empregado prestou impecavelmente a sua disponibilidade, retirando-se educadamente logo em seguida

- Thank you! – Joana agradeceu-lhe a simpatia, para ocupar depois o seu lugar no sofá e Ruben que a acompanhou, despiu o blazer e sentou-se ortogonalmente a ela – Este sítio é lindo! – correndo o espaço com uma nova perspectiva de visão, ela contemplou cada pormenor que os rodeava

- Gostas? – um sorriso perdidamente apaixonado aqueceu os lábios de Ruben, aquando da pergunta que lhe fizera, permitiu que sobre a mesa a sua mão carinhosa acolhesse a dela, afagando-a suavemente com a polpa grosseira do polegar

- Adoro! Adoro a maneira como tudo está embelezado, o ambiente calmo e romântico, a música… - enumerou Joana pausadamente, portando no semblante uma expressão serenamente feliz por poder estar ali com ele – Obrigada!

- Hum, hum, não é obrigada… É um beijinho bem aqui, oh… - num jeito brincalhão que já lhe era muito característico à personalidade, abeirou o rosto ao dela e já de olhos fechados indicou-lhe os seus lábios, que Joana teria de beijar, selando assim aquele acordo de agradecimento

Jantaram na conformidade de um ambiente incrivelmente leve e tranquilo, e com as condições do romancismo pleno, que surgiam escondidas por entre risos, olhares, ou mesmo simples silêncios que demonstravam tudo o que não precisava de ser dito por palavras.
Por vezes Ruben não resistia e mimava-a com beijos, e apesar de estarem albergados num cantinho só deles, não se encontravam isolados das outras mesas, apenas eram acolhidos num pequeno recanto onde poderiam mostrar mais da sua cumplicidade e partilhar de carinhos sem terem a preocupação de virem a desconfortar a posição de alguém que os pudesse ver, porque o facto era que não escondiam de ninguém que estavam juntos, porém preferiam manter alguma discrição na revenerada relação que recomeçara mas que tinha tudo do que era essencial para dar certo.

- Amor, anda pra’qui para ao pé de mim… - sentindo-se sozinho a um lado da mesa, Ruben chamou-a amorosamente para junto de si, aquando já saboreavam da sobremesa

- Estás tão mimadinho hoje… - Joana riu-se dele num jeito meigo e leve, mas satisfez-lhe o pedido sem demoras, que depois de o ver ceder-lhe um espacinho a seu lado, aconchegou os corpos ao calor ladeado um do outro

- O que tem? Pensei que também gostasses de mim assim…

- Devias saber que eu gosto de ti de todas as maneiras… Mimado, rabugento, mandrião…

- … e lindo, e romântico, e apaixonado… - ele tomou a iniciativa de a completar, à medida que ia aproximando perigosamente os lábios dos dela, onde roubou dois ou três beijos repenicados que emitiram aquele burburinho característico e delicioso de se ouvir – Deixa-me provar do teu… - pediu-lhe, fazendo um sinal claro de que fosse ela a oferecer-lhe do seu gelado cherry-bourbon, que tinha escolhido

- Toma lá, guloso! – com colher, retirou da tacinha uma pequena porção do sorvete embebido a pedacinhos de cereja, que levou carinhosamente à boca dele – Então, é bom?

- É… Queres trocar?

- Engraçadinho! – ela fez-lhe uma careta isenta de qualquer intenção maliciosa e deu-lhe um beijo leve na face

- Amor… - retomando a troca de palavras que por meros instantes atrás se haviam silenciado, para dar lugar ao som melodioso do saxofone que se escutada do centro da sala, Ruben procurou-lhe toda a atenção para assim dar início a uma dúvida que já devia para si estar elucidada – Quem é esse William?

- O William? – a princípio Joana ficara confusa com aquela questão… porque voltara Ruben a falar-lhe da pessoa de quem ela já havia comentado com ele na noite anterior? – Tu sabes… Falei-te dele ontem! Ele é um amigo que conheci em Nova Iorque e que está cá a passar uns dias de férias.

Ruben não pareceu suficientemente esclarecido e satisfeito com o que ouvira. Tinha uma sensação irrevogável de que ela não lhe contara tudo o que havia para saber, e esse facto deixo-o inevitavelmente inseguro.
Joana conhecia-o bem demais, e aquela expressão taciturna e quase enigmática que ele traduzia no rosto e principalmente no olhar, que evitava então cruzar com o dela, levou-a a procurar aclarar a neblina que repentinamente começou a pairar em redor daquele assunto.

- O que foi, Ru? Que cara é essa?

- Não sei, é que quando vos vi, vocês pareceram demasiado cúmplices um com o outro, parecia que…

- Parecia que já tínhamos sido mais do que amigos… Era nisso que estavas a pensar? – sem dar zinco a quaisquer rodeios, Joana foi directa ao ponto da questão que ele não tivera coragem de pronunciar em voz alta

- E foram? – o seu olhar procurou finalmente o dela, tal qual como procurou uma resposta honesta que felizmente para as suas suposições, não tardou em chegar

- Fomos. – respondeu calmamente, sabendo que não poderia dizer outra coisa que não fosse a verdade, desde a noite anterior que as mentiras e omissões ficaram devidamente esclarecidas, ficando elas fora do plano daquela relação, e não iria ser Joana a alterar isso com uma resposta desonesta e que ele não merecia ouvir – Nós namorámos durante algum tempo…

Ruben voltou a baixar o olhar de forma intuitiva e perguntou algo que ele próprio não equacionara – Quanto tempo?

- Algum tempo, Ruben… Não sei dizer-te ao certo!

- Mas gostavas dele? Quer dizer, gostavas dele a sério? Apaixonaste-te? – aquele inquérito repentino, provindo de uma voz esmorecedora e feições taciturnas, revelavam-lhe unicamente um estado que Joana conseguiu decifrar sem grande esforço

- Ciúmes… Estás outra vez com ciúmes!

- Não são ciúmes. – afirmou simplesmente, afastou a taça da sua sobremesa que perdera vontade de terminar, e cruzou ambos os braços protuberantes sob a mesa

- Então é o quê? – Joana rodou ligeiramente o seu corpo sobre o sofá que dividia ao lado de Ruben, e mostrou-se disposta a ouvi-lo tanto quanto ele estaria disposto a falar

- Fico inseguro, acho que é isso…

- Inseguro? Inseguro porquê, amor? Não acho que tenhas razões para isso… Eu estou aqui. – ela falou-lhe tranquilamente ao mesmo tempo que lhe afagava o cabelo, articulando cada palavra precisa e cuidada na esperança de que fosse o suficiente para fazer dissipar-lhe todas as dúvidas – Eu estou contigo, não estou?

- Eu sei, mas nós estivemos longe um do outro durante tanto tempo, que agora que conseguimos resolver tudo e estamos novamente juntos, sinto que qualquer ameaça se pode tornar o motivo de te voltar a perder… - enquanto da sua confissão, a respiração de Ruben começou a ser dispersada atarantadamente, demostrando o nervosismo da sua alma

- O William não é nenhuma ameaça… Ele agora é só um grande amigo! E se queres saber, para mim também não foi nada fácil!

- O quê?

- Nunca o disse a ninguém, mas a verdade é que eu nunca te consegui esquecer totalmente, nem a ti nem ao amor que sempre guardei, e apesar de o tentar negar a mim mesma, uma das razões que me motivaram a voltar a Portugal, foste tu… Acho que no fundo ainda vivia agarrada à esperança de te poder voltar a ter…

- E tinhas-me, e tens-me… – ele interrompeu-a por breves segundos, acabando por também rodar ligeiramente o seu corpo e poder assentar-se à frontaria dela

- Mas foi difícil, Ruben, não imaginas o quão difícil foi para mim ver-te ao lado de outra mulher, ao lado da Inês, pronto a casar e enterrares definitivamente o nosso passado e junto com ele todas as promessas que fizemos um ao outro!

- Eu nunca esqueci…

- Espera, deixa-me acabar, por favor… - pediu encarecidamente voltando a silencia-lo, pois sabia que só dizendo tudo de uma só vez, conseguira realmente libertar-se do pequeno pesar que tinha guardado somente para si – Foi ainda mais difícil e doloroso ver-te naquele dia ao lado dela a provocares-me com a vossa felicidade, fazeres-me acreditar que tinhas conseguido dar a volta por cima e que estavas melhor sem mim! Não penses que só a ti te custa pensares em mim com outra pessoa, quando eu vi com os meus próprios olhos…

- Shiu, amor, pronto, pronto! Vem cá… - colmatado à dor interpretada pelo rosto da sua pequena mulher, foi Ruben que desta vez se apressou a silencia-la e acalmar a ansiedade abrupta que assaltou o peito de Joana naquele momento, puxando-a para os seus braços onde a tranquilizou – Naquela altura eu ainda estava muito magoado com o que nos tinha acontecido, e armei-me em parvo contigo, desculpa! – os seus lábios percorreram-lhe com beijos cuidados toda a linha do maxilar inferior e detiveram-se na boca dela, que beijou repetida e vagarosamente – Anda, vamos até lá fora…

Ruben ergueu-se um momento após e estendeu-lhe a mão, onde ela se apoio para também se levantar. O ar que corria no lado de fora era quente embora da noite, porém agradável e convidativo. O alpendre era mais extenso do que se poderia supor vendo-o do lado do dentro do restaurante, e oferecia um enfeite extremamente bonito e agradável, assim como uma vista contemporânea soberba.
Poucos eram aqueles que também ali disfrutavam do crepúsculo avançado e de todo o encantamento trazido com ele e logo assim que entraram, percorreram o chão tabuado de madeira perfeitamente lisa e polida, e Ruben não hesitou a levá-la consigo até a uma cadeira de verga de estrutura oval, segura por um suporte de alumínio que a mantinha suspensa a consideráveis centímetros e toda ela almofada no seu interior. Ele sentou-se e fê-la sentar-se carinhosamente ao seu colo na transversal.

- Já te disse que estás linda e que não consigo parar de olhar para ti? – os seus braços fortes rodeavam-lhe a cintura, e Joana não evitou rir-se pelas cócegas que sentia devido à brincadeirinha dos lábios dele com lóbulo da sua orelha

- És um tonto, sabias? – ela deu-lhe um beijinho na ponta do nariz

- Sim, sabia… Já mo tinham dito algumas vezes! – respondeu rapidamente, dando uso a uma pequena encenação que mais uma vez viera a confirmar o seu jeito jovial de ser – Ah, espera… Tenho aqui uma coisa para ti!

- Uma coisa para mim? O que é? – mostrando-se tão curiosa como seria de esperar, ao olhar para ele Joana esperou encontrar algo que lhe servisse de pista para a pequena surpresa que Ruben lhe trouxera e a qual o seu pensamento estava longe de vir enxergar

- Primeiro vais ter que fechar os olhos… - incumbindo-lhe uma condição que ela não hesitou em corresponder, Ruben ocorreu com a sua mão direita ao bolso das calças que as suas pernas envergavam harmoniosamente, para assim capturar o pequeno mas valioso objecto que guardara unicamente para si nas últimas semanas – Já podes abrir!

Ao vislumbrar atentamente o que a palma da mão de Ruben lhe mostrava, todas as expressões faciais de Joana foram domadas por um misto de admiração e mais tarde de encantamento. As suas mãos delicadas ocultaram-lhe uma parte do rosto tal foi o seu espanto, mas foi impossível esconder a alegria que sentia por voltar a ver uma recordação que imaginara perdida, esquecida da esperança de poder recuperar.

- Como é que tu…? Como é que a tens? – referindo-se à pulseira que Ruben segurava, um objecto que eternizara o sentimento de que ambos partilhavam, ainda assim ela não conseguiu disfarçar a intriga que tudo aquilo lhe causava

- Lembraste daquela tarde em que nos encontrámos no salão da minha mãe, e mais tarde discutimos no parque de estacionamento? – ele não procurava nenhuma resposta sua, pois sabia tão bem quanto ela que Joana jamais olvidara aquela tarde da sua memória – Sem te aperceberes caiu-te ao chão, e quando eu dei conta dela já era tarde demais para ta devolver… Tu já tinhas ido embora!

- Não imaginas as voltas que eu dei à procura dela… Pensava que a tinha perdido!

- Mas não perdeste! Eu guardei-a até hoje… - um sorriso honesto tomou moradia no repouso dos seus lábios, e um olhar expectante foi lançado ao rosto da sua eterna amada – Queres que seja eu a pô-la?

Joana conseguiu apenas prenunciar-se na ordem de uma breve oscilação que encenou em leves movimentos afirmativos com a cabeça.
Estendeu delicadamente o braço que susteve no ar, e deixou que fosse Ruben a prender-lhe a manila em redor do pulso esquerdo, fazendo-a recordar com uma certa nostalgia a primeira vez que ele o fizera. Na noite do primeiro aniversário que completaram pela relação, Ruben surpreendeu-a ao oferecer-lhe uma caixinha pomposa enfeitada com um laço vermelho, que guardava as duas lembranças que os iriam acompanhar futuramente, na independência do percurso que pudessem seguir dali em diante, duas braceletes banhadas a ouro e ornadas cada uma com corrente grumê que suportava uma chapinha onde haviam sido proscritos os nomes bem como a promessa de um amor que um dia juraram ser eterno.
“Ruben & Joana, 4 de Julho” – podia ler-se a gravação na superfície da pequena chapa rectangular.
Sentia-se ser bafejada pela sorte, não só por ter recuperado o objecto que durante tanto tempo servira como seu amuleto nos momentos mais difíceis e o motivo que a fazia relembrar dos melhores que alguma vez tinha vivido, mas bafejada pela sorte também por ter finalmente a seu lado o homem que amava verdadeiramente, com todas as suas forças. A emoção advertida daquele momento apanhou-a completamente desprevenida, e foi fatal que algumas lágrimas não foram impedidas de voar até à linha de água aveludada dos seus olhos claros.

- Quatro de Julho… Quatro de Julho… - Ruben ouvia-a repetir baixinho, depois de ter visto o olhar dela concentrado na gravura da pulseira, supondo ele que os seus pensamentos viandassem certamente pelos dias do calendário anual – Mas então hoje é… - arregalando instintivamente os olhos que depressa tomaram rumo aos seus, Joana constatou as coincidências do destino que não parava de os surpreender

- É… Hoje é dia quatro de Julho! – foi ele a dar continuação e desfecho ao discurso que Joana deixara a meio pela perca de palavras, e um rasgo lindo dos lábios foi pintado no rosto de um homem que aprendera a amar perdidamente uma mulher – Feliz aniversário, meu amor! – um sussurro inebriante foi solto junto do ouvido dela, confirmado uma data tão especial que fora unida por eles

Apesar de não terem tido a bem-aventurança de festejarem os últimos três anos de aniversário enquanto casal, o certo era que se a relação não tivesse terminado com uma separação injusta e incondicional, naquele dia completariam precisamente quatro anos de namoro.   
Agora sim, era incontornável continuar a segurar as lágrimas… As emoções eram fortes e mais que muitas para uma noite que revelou possuir mais de mil encantos, e os sentimentos eclodiam furtivamente à flor da pele. Mas logo que o seu olhar atento testemunhou o rasgo de fios de água que se arremessavam sob as faces da sua pequena, os dedos preocupados de Ruben precipitaram-se em enxugar-lhe cada lágrima, embora estas portassem o sentimento de alegria. Ele beijou-a então. Pousou cuidadamente a mão direita sobre a face resfriada de Joana e tomou ordem de comando ao compasso de uma dança quente a que o beijo se colmatou, seguindo quase o ritmo da música de provinha do lado de dentro, para um ritmo calmo, um ritmo só deles.

- Ainda te lembras do dia em que nos conhecemos? A noite de comemoração do teu aniversário? – fruindo do encosto das testas e os olhos cerrados pela partilha do último toque de lábios, Joana aproveitou a ocasião para recordar com ele um passado feliz… de como tudo, um dia, havia começado

- Como não me hei-de lembrar do dia que viria a mudar a minha vida? – Ruben utilizou-se de um tom de voz embriagante para lhe falar, inebriando o perfume adocicado dela, enquanto lhe percorria a pele do pescoço com a pontinha do nariz – Pelo menos o totó do David tomou uma atitude inteligente pela primeira vez na vida!

Ela riu-se num jeito delicioso que rapidamente poderia ser comparado ao de uma pequena criança e afagou-lhe meigamente a polpa do cabelo – Pois foi, apesar das nossas famílias já se conhecerem, nunca tínhamos sido apresentados antes… E foi o David que me levou à tua festa e foi ele que nos apresentou! Nessa altura namoravas uma rapariga… Como é que ela se chamava mesmo? Filipa?

- Ah… Sim, acho que sim…

- Achas que sim? – Joana notou que ele ficara um pouco desconfortável com aquela lembrança e procurou disfarçar o riso de o ver naquele embaraço

- E o que é que isso também interessa agora? O facto é que depois eu e ela acabámos e a partir daí eu comecei a dar valor ao que realmente importava… Costumava ver-te quando ias aparecendo nos jogos quando o Rui te levava, e tornou-se inevitável começar a olhar pra ti de outra maneira…

- … Sim, mais tarde passámos a encontrarmo-nos também depois dos jogos, tu ias espreitar os meus treinos de vólei, raptavas-me para o teu apartamento… - ela não demorou em completá-lo, pois partilhava do mesmo conhecimento que Ruben

- Pois, mas no meio de tudo isso levei meio ano a conquistar-te… Meio ano! Meio ano para que aceitasses iniciar uma relação comigo…

- Sabes que levámos menos do que isso a tornarmo-nos mais próximos, mais íntimos, a apaixonar-nos… E não valeu a pena cada um desses momentos?

- Valeu… - o seu olhar serenou ao olhá-la, acompanhando a sinceridade da sua afirmação – Valeu a pena cada dia, cada conversa, cada brincadeira, porque mais do que uma namorada e o bem mais precioso da minha vida, naqueles meses eu ganhei a melhor amiga que a vida me poderia ter dado! – os seus dedos acariciaram o rosto suave dela, ao mesmo tempo que os seus olhos decoravam cada pedaço de pele

Joana emocionou-me uma vez mais com as palavras cuidadosamente escolhidas por ele. Beijou-lhe o canto da testa num claro sinal de respeito e gratidão de que partilhava, e afastou-se.
Ruben recostou-se na cadeira e permaneceu passivo a vê-la caminhar com aquela graciosidade de que ela era portadora, até junto do parapeito de vidro do alpendre. Deixou-se ficar a olhá-la, foi-lhe fatal cair na tentação de fazê-lo. Mantendo um sorriso irredutível que não conseguia apagar dos seus lábios, os seus olhos protectores percorreram cada curva da silhueta onde era acentuada toda a feminilidade do seu corpo, mas por detrás daquela postura aparentemente firme e perseverante, Ruben destingiu ligeiros rasgos de insegurança. 
Por seu lado, aquando chegada ao parapeito, Joana encostou a linha abaixo do seu peito ao gradeamento e ligeiramente debruçava ficou a contemplar a belíssima paisagem que a vista oferecia. Vi-a o mar beijar timidamente a areia e fugir logo depois, ouvia os sons dissipados nas ruas, o saxofone que ainda servia como sinfonia de fundo, o brilho das luzes distribuídas um pouco por todo o lado e sentia a brisa quente do vento, que passava sedutoramente e brincava com algumas mechas do seu cabelo soltas da trança. Fechou os olhos ao mesmo tempo que inspirava aquele ar, recuou no tempo e procurou a razão pela qual desistira de Ruben ao primeiro obstáculo e não fora capaz de lutar por ele tal como tinha a certeza que se fosse ao contrário, ele lutaria por si.

- A pensar em quê? – Ruben surgiu nas suas costas envolvendo-a por trás, rodeou-lhe a cintura com os braços levando ao relaxamento das suas mãos junto da barriga, e tendo a sua voz soado junto do ouvido direito dela

- Em ti, em mim… Em nós. – as suas mãos entrelaçaram-se às de Ruben sob a sua barriga e a sua cabeça descaiu levemente para trás, pousando sobre o peito dele e preparou-se para lhe fazer uma pergunta que já trazia consigo há algum tempo – Ruben… Achas que se eu não me tivesse ido embora, se não tivéssemos separados estes três anos, achas que havia possibilidade de ainda hoje estarmos juntos?

- Tinha tantos planos feitos para nós… - encontrando um ponto da visão sobre o horizonte, ele desviou-se um pouco da pergunta e deu um novo significado à resposta

- E que planos eram esses? – perguntou, sentindo-o beijar-lhe a nuca

- Sairmos de Lisboa, por exemplo… Como a carreira de jogador é curta, depois eu poderia dedicar todo o meu tempo a ti, à nossa família, podíamos talvez sair de Lisboa e mudarmo-nos para uma casa no campo…

- Uma casa no campo? – ela riu-se da maneira impetras e convicta com que ele falou – Porquê?

- Olha, porque seria mais saudável para os nossos filhos… - proferiu sinceramente, fazendo depois uma breve interrupção para que os seus lábios percorressem um pequeno percurso descendente, beijando-lhe a linha despida do pescoço e ombro – Eles assim poderiam respirar do ar puro do campo, brincar sem restrições, correr sem termos a preocupação de irem para a estrada…

Joana rodou levemente o corpo entre os braços dele e no olhar robusto procurou-lhe a sensatez de uma resposta – Querias mesmo ter filhos comigo?

- Nunca te escondi isso…

- Nessa altura éramos uns miúdos…

- E eu amava-te ainda assim! – mantendo-a firme nos seus braços, apertou-a mais forte para si, transmitindo-lhe entre as palavras, a segurança e as garantias das quais sentiu ela estar a carenciar – Mas… Mas tu tens dúvidas que ainda hoje estaríamos juntos, se não nos tivéssemos separado naquela altura?

- Não. Pelo contrário, até… - retorquiu, sem ter a necessidade de pensar aprofundadamente sobre a resposta – Se naquela altura me perguntassem como imaginaria a minha vida dentro de quatro, cinco anos, eu diria que provavelmente já estaria casada contigo e à espera do nosso primeiro filho! 

Ruben sorriu com um prazer que há muito não tinha oportunidade de tocar… como lhe soubera bem ouvir aquelas palavras – Achas que ainda vamos a tempo?

- Acho… Acho que ainda vamos muito a tempo!

Um novo beijo surgiu então. Joana segurou-lhe o rosto por entre as suas mãos e beijou-o de uma forma como se não o fizesse há imenso tempo. Ruben apertou-lhe delicadamente a cintura e discerniu, tanto quanto sentiu, a emoção daquele beijo. Ambas as línguas se encontraram a meio caminho entre as bocas, e foi o instinto que as levou envolverem-se uma na outra com o fulgor que lhes era já conhecido, retomando eles em suas memórias todo o enfeitiçamento e paixão mútua de que compartilhavam.

- Tenho uma surpresa para ti… - confessou ele entre pequenos selinhos nos lábios, colocando termo ao último beijo

- Outra? Assim vais deixar-me mal-habituada!

- E não me importo que fiques… Daqui em diante vou começar a mimar-te muito!

- Hum… E então que surpresa é essa?

Ele beijou-lhe a face e tomou a mão dela na sua - Anda, vamos sair daqui…



***



Mais tarde, caminhando de mãos entrelaçadas entre os corredores de um dos últimos andares do topo do hotel, Ruben seguia ligeiramente à frente dela, guiando-a num percurso que só ele conhecia e o qual estava cingido a findar-se no único lugar predestinado a conceber o fim daquela noite.

- Ruben, espera… Para onde é que me estás a levar? – abrandando a passada, Joana obrigou-o a parar ao dar-lhe um pequeno aperto na mão que mantinha firmemente unida à dele  

- Amor, sossega… Tu vais gostar, vais ver! – afirmou com suavidade, recuando uns passos para a assegurar num leve e promissor toque de lábios

Aquando por fim chegados junto da porta de um dos quartos, Ruben introduziu o cartão na entrada, o que permitiu o seu destranque, mas que por iniciativa própria manteve apenas encostada, para que Joana não pudesse ter a oportunidade, ainda, de olhar o que o seu interior lhe guardava. Ele puxou-a para junto de si colocando-a à sua frente, e com uma só mão, pelo braço ligeiramente elevado sobre o ombro dela, tapou-lhe os olhos.
Foi entrando devagarinho, pé ante pé, mergulhada na escuridão que apenas foi apalpável pelas indicações do corpo de Ruben que atrás dela orientava, e foi enfim quando ele fechou a porta e lhe beijou carinhosamente a orelha, retirando ao mesmo tempo a sua mão que lhe cobria os olhos, que Joana pôde vislumbrar toda a beleza e fascino que lhe haviam sido reservados.

- Amor… - foi a única palavra que ela se sentiu capaz de pronunciar, aquando todas as suas feições foram resgatadas pela surpresa do momento

Estavam albergados numa suíte presidencial, acolhidos a todo o luxo e conforto de que esta exigia aportar.
Joana olhava em seu redor, lobrigando cada recanto da enorme sala que se estendia a seus pés, dando-lhe a irrevogável sensação de ter pisado outro mundo. A estrutura arquitetónica traçada a engenhos tradicionais da arte clássica, fazia-os retomar rapidamente outro século e outra época… As pinturas do papel que guarnecia as paredes, a mobília branca ornada a pormenores elaborados à mão, o sofá e poltronas revestidos por uma imensa talham dourada, e o enorme e celestial ramo com as mais bonitas e selectivas flores aromáticas, aprimorado sob um dos móveis. Tudo respirava ao encantamento de um sonho que ainda se encontrava demasiado vivo para Ruben e Joana.

- Onde é o quarto? – foi a primeira pergunta feita por ela, logo que com um sorriso embelecido no rosto, voltou a procurar a guaria dos olhos do seu mais-que-tudo

Contente com a satisfação que ela mostrara, com as mãos resguardadas nos bolsos das calças, Ruben respondeu-lhe apenas com um acenar de cabeça que foi no mesmo instante ao encontro das portadas duplas de carvalho vermelho, que corriam o acesso ao quarto integral da suíte. 
Ela correu então celeremente até elas e ao abri-las num só arrombo, não conseguindo disfarçar no rosto, o que os seus olhos testemunhavam... O quarto era enorme e tal como a sala, era bem decorado, fazendo lembrar pequenas excentricidades dos quartos secretos de imperadores. No ar pairava uma intensa porém adocicada essência a canela e jasmim libertada pelo incenso que ardia, e uma cama… uma enorme cama de casal disposta ao centro, emoldada por um dossel branco quase transparente, caído vertiginosamente sob todos os lados em jeito de cascata e que beijava o chão devido ao seu tamanho, dando assim à cama mais embelezamento e proporcionando a quem nela se deitava, um conforto de maior intimidade.
Joana suspirou. Um cenário perfeito estava composto e os dois personagens haviam entrado em cena, remontando cada deixa e didascália na da peça das suas vidas, que ao fim de tanto tempo poderiam novamente protagonizar.

- Isto é… Isto é tudo para nós? – gaguejando levemente enquanto olhava em seu redor, Joana pressentiu a presença inquestionável de Ruben, denunciada pelo cheiro deleitante a perfume de homem que acabara por inundar o ar,  assim que também ele enveredou por aquele cantinho de paz e amor

Ele aproximou-se das costas dela, e com um leve toque de dedos definiu-lhe o ombro direito, para lhe responder num simples sussurro – É tudo nosso por esta noite…

Afastou-se dela por instantes, para reduzir a intensidade das luzes artificiais suspensas acima das mesas-de-cabeceira, no intento precativo do espaço ficar somente iluminado pelo halo de luz quente e muito suave.
Levá-la para um lugar como aquele, passou apenas pela intenção de a querer surpreender, de lhe puder dar tudo o que merecia, porque aquele era de facto um dia especial para ambos, especial para ser recordado e comemorado, e apesar de Joana somente precisar de estar com dele para transformar qualquer lugar num bom lugar, os planos de Ruben para aquela noite – embora tal como ela o desejar de igual forma e já o terem referido no dia anterior –, não foram feitos no propósito de se assentarem em segundas intenções.

- Vem cá… - prostrando-se junto do aparador, Ruben chamou-a, enriquecendo nos lábios o mais belo sorriso que o mundo já vira

No aparador colocado a um canto do quarto, ele pegou na garrafa de champanhe banhada em gelo e depois de exercer um pouco de pressão, fez a rolha libertar-se num disparo vencido, vertendo depois a bebida para dois flutes de pé altivo, e entregando um a Joana, logo que numa passada calma que parecia tê-la feito flutuar, chegou junto a si.

Ela colocou-se na sua frente, e detendo em sua mão o copo cheio a quatro dedos, ergueu-o tenuemente no ar – Brindamos a quê?

- Ao futuro. – indagou convicto – Que ele nos saiba trazer todas as alegrias e a felicidade que o passado não nos pôde dar.

Fizeram os copos tilintar num único toque apenas e deram o primeiro gole, sem caírem na decadência de desviar o olhar um do outro por um único segundo que fosse, e arriscaram-se a fazê-lo com uma intensidade desmedida tal, com uma paixão como já não se lembravam, e por conseguinte Joana sentiu todo seu corpo estremecer. Sentia que, ao olhá-la daquela maneira, Ruben a conseguia ver muito para além do que seria imaginado possível… Sentia ver-lhe a alma, a tocá-la até, como se nunca deixasse realmente de o ter feito.

- Toma, amor… - pegando num morango retirado da taça, Ruben ofereceu metade a Joana, que acabaram por abocanhar ao mesmo tempo na boca um do outro, rematando com alguns risos e um beijinho leve

- Morangos e champanhe… Já é cliché, amor!

- É cliché mas ficam sempre bem nestas ocasiões…

- Sim, tens razão… Além de que são também uma deliciosa combinação! – Joana pegou noutro morango e levou-o à boca dele

- Uma deliciosa combinação? – ela riu-se da expressão que Ruben utilizou enquanto o vi-a e o sentia colar os corpos , comendo o pouco que sobrou do morango dele – Deliciosa combinação somos nós… combinamos tão bem os dois! – sem deixar arrastar mais um compassado de tempo numa delonga, ele voltou a beijá-la apaixonadamente, deixando que os dedos da sua mão livre deslizassem suavemente pelas costas perfeitamente nuas de Joana

Acarinhada pela frescura levante que lhe osculava o coração, Joana separou momentaneamente as bocas para lhe retirar o copo da mão, e tal como fez com ao seu, colocou-o sob o pequeno aparador. Com Ruben a rodear-lhe a cintura com os braços, ela segurou-lhe a gravata e puxando-o levemente, recuando sobre os seus próprios pés, cambalearam num jeito comicamente trapalhão, que só findou quando chegaram junto ao fundo da cama. Joana voltou a quebrar o beijo, para desenlaçar o nó da gravata e tirar-lha posteriormente, deixando que as suas mãos voltassem a subir ao peito dele e tocassem a fileira de botões da camisa, começando a desabotoa-los um por um.

- Pequenina… - ele albergou em seu rosto o sorriso mais belo que poderia acolher, logo assim que entendeu que o desejo de Joana predestinava-se à entrega de um momento puro de amor, que durante tanto tempo se mantivera ausente das suas vidas aquando separados

- Eu quero ser tua, Ruben… Quero que me faças tua… Tenho saudades! – um sussurro foi disperso por seus lábios assim como um sorriso envergonhado foi exposto, quando os seus olhos subiram e assentaram sob as orbitas-avelã dele, que permanecia sereno junto a si, mas acolhendo o mesmo desejo em se entregar às malhas de uma paixão e amor avassaladores, que a cada minuto passado os consumia mais e mais

Muito lentamente, e como quem já não estava habituada a tomar aqueles costumes, Joana fez o blazer de Ruben deslizar-lhe pelos ombros e depois pelos braços, caindo ao chão acompanhado segundos depois pela camisa, que já totalmente desabotoada, seguiu o mesmo rumo. Nesse instante as bocas voltaram a unir-se num acto instintivo e só se separaram por milionésimas de segundo, quando Joana lhe puxou para fora das calças, a t-shirt branca presa pelo cinto, e ele elevou os braços ajudando-a a recorrer à facilidade de se soltar dela. Ia acontecer, eles sabiam, e a pesar daquele momento estar demasiadamente ausente nas suas vidas, eles não o temeram pois desejavam-no, e acontecesse o que acontecesse, iriam estar nos braços um do outro.
Enquanto se beijavam de uma maneira envolvente e desmesurada tal, de como já não tinham memória, as suas mãos regeladas voaram até ao peito dele fazendo o percurso descendente acabando por se deterem nos abdominais, e junto aos seus lábios, sentiu-o acelerar a respiração. As suas mãos estavam realmente frias, ora pelos nervos acrescidos daquele passo que davam, ora pela ânsia de voltar a ser dele, e em contraste com o seu, o corpo de Ruben tocava temperaturas confortavelmente elevadas.
Recusando soltar os seus lábios dos dela, Ruben descalçou os sapatos e as meias aos saltinhos, enquanto ela se esforçava por continuar a beijá-lo, numa tarefa então complicada de fazer devido à figurinha cómica mas extremamente adorável dele, que os fez soltar suaves risadas entre o beijo que não terminara naquele instante mas que terminou no seguinte. Apoiando ambas as mãos na cintura adelgaçada de Joana, ele fê-la rodar levemente sobre o mesmo eixo, até ao seu tronco nu lhe conhecer as costas. Num leve embate de corpos tencionado por ele, com o braço esquerdo a contornar-lhe a barriga, Ruben auxiliou-se da sua mão direita para fazer pressão sobre o pequeno e discreto fecho lateral do vestido, que fez deslizar lentamente, como se estivesse a apreciar cada momento, e estava de facto.
Os seus lábios adocicados apelaram à necessidade de lhe tocar cada recanto do corpo, e começaram pelo pescoço e ombros, que acariciaram com beijos quentes e amantes e suaves mordidas que a fazeram arrepiar. Ao sentir a cabeça de Ruben afundar-se na dobra do seu pescoço, a qual repenicou de beijos, Joana sentiu os seus joelhos tremerem levemente e perderem as forças, e as suas pernas não vacilaram somente porque ele continuava a apertá-la contra si.

- Quero-te tanto, tanto… - murmurou numa voz arrastada ao ouvido e totalmente enfeitiçante, que deixou os lábios dela a sorrirem de felicidade plena, e coraçãozinho a palpitar em batuques mais energéticos e apaixonantes nos quatro cantos do seu peito

A mão dele pousou sob a alça do vestido, fê-la descer vagarosamente e em simultâneo com a alça que arrastava entre os dedos, a sua boca percorria com beijinhos ritmados o trilho delinear do ombro direito dela. Despiu-lhe a outra alça exactamente da mesma maneira e mantendo-a de costas para si, com uma ligeira fricção que aplicou com os polegares junto às ancas, num só movimento fez com que o vestido lhe libertasse o corpo e remontasse ao chão.
Foi Ruben que a fez rodar novamente e quando se voltaram a fitar, na singela escuridão que assolava o quarto, não poderiam ter partilhado da maior certeza de que não haveria outro lugar no mundo onde quisessem estar, se não ali, nos braços um do outro, prontos a amarem-se da maneira mais pura e humanística que pudesse existir.
Num breve relance com o olhar, Joana soube distinguir-lhe a pulseira – semelhante à sua – que no pulso esquerdo também ele portava, e que desde o dia em que se encontraram no desfile, trazia religiosamente. Sorriram com aquele pormenor. Com apenas dois dedos ele desviou-lhe a franja que lhe cobria a zona parcial dos olhos e voltou a procurar o encaixe perfeito naqueles lábios. Quando sentiu depois a humidade na pele da sua testa que fora beijada por Ruben, o seu olhar baixou e prendeu-se, tal como as suas mãos, no cinto das calças dele, que não hesitou em desapertar… e embora colmatada pelo pequeno rasgo de nervosismo que se apoderou dos seus dedos tremelicantes, desabotoou o botão e fez correr o fecho, mas foi ele a livrar-se delas por completo. Ficaram então ambos em roupa interior.
Sentindo-se ser observada pelos olhos de Ruben que não demoraram a contemplar o seu corpo de uma maneira ternurosa, ela adivinhou-lhe uma clara expressão de desejo… Não era o desejo de quem iria partilhar de uma simples entrega carnal, não era uma questão de busca pelo prazer físico, era mais do que isso… Era o desejo querer de matar todas as saudades, de amar e de ser amado, de igual para igual, sem mais amarras, sem mais limites.
Ele voltou a tomar conta do pequeno distanciamento que os separava e puxando-a de novo para si, para que as suas mãos fugazes lhe apertassem carinhosamente o quadris, enquanto se comprazia com mais um beijo totalmente louco, que não ditara as suas margens a um fim. Elevou-a nos seus braços obrigando-a a dobrar e prender as pernas no seu tronco, e com uma só mão abriu as cortinas do dossel, desviando-as escassamente para conseguir deitá-la sobre a cama, tendo o seu corpo ficado a proteger o dela, assim que também se deitou e tomou o seu lugar. Ruben era pesado, no entanto, apoiando um braço sobre a colcha, não se tornava pesado o suficiente para causar algum desconforto a Joana. As línguas voltaram a procurar-se na boca um do outro, e envolvendo-se sem qualquer pudor, saciaram o desejo de um novo beijo. Ele beijou-lhe o pescoço, mordiscou-lhe as clavículas e percorreu com a mão que tinha livre cada curva delinear da sua doce menina, ouvindo-a soltar breves suspiros de rendição. O seu corpo exalava uma temperatura cálida e extremamente agradável, a qual o dela não pôde recusar, porém de repente Joana sentiu o peso do corpo dele desaparecer. Abriu os olhos que até então mantivera fechados, e viu-o de joelhos ao fundo da cama, pegando-lhe primeiramente num pé e depois no outro, para lhe desapertar e retirar os saltos altos, que lançou ao encontro do chão. Antes de voltar para si, Ruben não resistiu em dar seguimento a um novo momento de carícias com as quais ela se deliciou… Segurando-lhe delicadamente a perna direita, beijou-lhe o peito do pé e numa sequência lineal de beijos, percorreu-lhe toda a perna até encontrar a barriga, que também não evitou acarinhar com leves toques de lábios e com um ténue passar de língua.

- Ru, espera… - obrigando-a a interromper a enxurrada de carinhos, a evocação daquele pedido fê-lo elevar imediatamente a cabeça e olhá-la, aguardando por uma resposta

- Fiz alguma coisa de errado, amor? – a sua voz suou inevitavelmente num sussurro, e o seu rosto contraiu-se de preocupação no momento em que supôs poder ter-lhe causado algum desconforto

- Não, descansa, não é isso… - Joana serenou-o no mesmo instante, fazendo dissipar-lhe toda a preocupação que se fixara num momento repentino em seu peito, afagando-lhe levemente o rosto ainda por barbear, com a polpa dos seus dedos

- É o quê então? – os dedos dele palmearam a sua barriga, portando neles todo o carinho que lhe era tão bem conhecido

- É que… Apesar de eu ainda não te ter dito, antes de mais nada quero que saibas que eu sou completamente apaixonada por ti, sempre fui, e eu… Eu amo-te, Ruben! – declarou solenemente, olhos nos olhos, do fundo do seu coração… finalmente ela disse-o, não fazia sentido continuar esperar por outro momento, a esperar pelo momento certo, porque a verdade é o momento certo era ali com ele, a partilhar daquela felicidade, daquele amor, e soube-lhe tão bem como a vida dizer-lho – Eu amo-te mais do que tudo, e  essa é a minha maior certeza… A certeza de te amar e de te querer para mim! 

Ao escutá-la, Ruben pareceu completamente maravilhado… irremediavelmente embevecido… perdidamente enamorado! Ouvi-la dizer com todas as letrinhas, o que em quase três anos se tornara mudo aos seus ouvidos, fê-lo extasiar em alegria pelo reconforto daquelas palavras. Um sorriso lindo surgiu em seus lábios e o sangue foi bombeado mais rápido nas suas veias, cursando-as a uma velocidade alucinante.
Agora, finalmente, estavam de igual para igual, e nunca lhes soubera tão bem como até então, voltarem a estar apaixonados.
Ruben apressou-se a beijar-lhe cada pedaço da pele do seu rosto, ao acaso, fazendo-a libertar gargalhadas deliciosas de se ouvir, pelas cócegas violentamente desconcertantes que ele lhe provocava.
Depois então livraram-se de todas as almofadas que decoravam a cabeceira, abriram a cama arrastando a colcha até ao fundo e serviram-se apenas do lençol de linho branco onde se aconchegaram. Envoltos em risos e palavras de amor, tal como Joana fizera também com ele, Ruben encheu-a de beijos, acariciou-lhe cada parte do corpo e mimou-a até mais não. Como ela tinha saudades de tudo aquilo, e que saudades… Saudades daquele Ruben, do seu Ruben(!) Do jeito meigo que ele sempre encontrava para reconforta-la, saudades de como cuidava dela, como a abraçava, mas principalmente tinha saudades de como a amava, não só fisicamente mas de todas as outras maneiras possíveis.
Enquanto ela se mantinha sobre o seu corpo, ele que lhe arrepanhava meigamente a pele dos ombros e beijava logo em seguida, retirou-lhe o soutien que ainda lhe cobria o peito e depois apertou-lhe os glúteos enquanto a beijava, de um jeito tão prazeroso como já não se lembrava de ele fazer e ela viu-se tentada a soltar um suspiro profundo junto à sua boca. Instantes depois foi ele a voltar a tomar a controlo, numa volta habilidosa voltou a cobrir-lhe o corpinho que agora poderia dizer ser novamente seu, e aquando por Joana lhe foi dada a permissão, os seus polegares detiveram-se na única peça de roupa que ela vestia e acabou por tirá-la, e o mesmo fez com a sua, da qual se soltou num movimento rápido. Puxou o lençol até à sua cintura, voltando a colocar-se suavemente em cima dela, tomando em si a preocupação em não a magoar com o seu peso, e sorriu-lhe… Sorriu-lhe ébrio de paixão e desejo, e este, não levou muito do seu tempo a ver-se ser correspondido.

- É agora, amor? – tremendo levemente de um curto nervosismo, Joana procurou nos olhos de Ruben, algo que acalmasse a sua ansia, a ansia pelo momento prestes em voltar a entregar-se ao homem que sempre fora o grande amor da sua vida   

- É, meu anjo… Relaxa… - tranquilizou-a ao ouvido, para depois oferecer-lhe beijinhos leves no pescoço, de maneira a fazê-la libertar-se de toda a tensão que a invadiu no momento

- Desculpa, estou um bocadinho nervosa… - revelou, tentando ocultar no rosto um sorriso envergonhado

- Não é a primeira vez que estamos juntos, amor, não tens que estar nervosa…

- Eu sei, mas é a primeira vez que estamos juntos em três anos, e já passou tanto tempo desde a nossa última vez… Eu não te quero desiludir.

- Não sejas tonta, é claro que isso não vai acontecer. O sentimento não mudou, está mais forte até, e vamos voltar a ser um do outro mais uma vez… – detentor te toda a verdade, Ruben beijou-lhe os lábios em dois toques acalmantes e encorajadores – Eu amo-te e nada vai mudar isso! Relaxa, amor da minha vida, somos só nós…

Por entre palavras solenes e minguantes que a serenaram, beijou-lhe os lábios com carinho, mas no momento em que muito vagarosamente uniu os corpos, prontos a serem amados, tal como Joana ele não controlou o breve tremor de se voltarem a pertencer. Já não se sentiam assim tão perto há tanto tempo, que aquela sensação de voltarem a ser um só, impossível de ser descrita, tocou cada recanto dos seus corações e das suas almas.
Olhando-a nos olhos e lançando-lhe um sorriso fatal que a embeveceu, Ruben deu então início a um ritmo calmo, suave e muito meigo, que se foi intensificando com o passar do tempo. Joana beijou-lhe o pescoço, abocanhou-lhe os ombros e contra a pele dele abafada leves gemidos, enquanto o sentia mover-se dentro de si a um ritmo igualmente delicado mas cada vez mais intenso e profundo. Ruben sentia os batimentos do seu coração acelerarem, mas nem por um segundo ponderou em abrandar aquele vai e vem que alimentava o desejo a que estavam entregues. Beijou-a na boca vezes incontáveis, desceu para o queixo e arrastou os seus lábios até ao peito dela, que acariciou com a maior ternura do mundo e onde aproveitou para ostentar a sua respiração que caminhava furiosamente para o descontrolo.
Completamente abafada pelo calor do corpo dele, que agora e cada vez mais se misturava com o seu, Joana era também vitimada pela adrenalina daquela acto genuíno de amor… Os portões do seu peito alardeavam uma respiração desmesurada, e no interior do mais íntimo de si começava a governar uma extrema sensação de prazer que aumentava em constante intensidade ao mesmo tempo que Ruben tomava conta do compasso dos corpos que se movimentavam a um uníssono perfeito. Já não se lembrava de se sentir tão completa como se sentia naquele momento, já não se lembrava de se sentir tão amada, tão desejada, como o estava a ser por ele naquele instante, e nada do que pudesse ainda vir poderia abalar essa condição.
Ruben não controlava pequenos gemidos que lhe saiam em forma de sussurros e os quais fazia dissipar no embate de cada beijo. Os corpos começaram então a ceder, sentindo-se chegar ao limite dos esforços e finalmente aconteceu… Joana contorceu-se levemente com a sensação tão única e maravilhosa de que foi alvo, e apertou-o forte contra si, libertando numa descarga de energia, um gemido desnudado de vergonha que ecoou entre vácuo do quarto, assim como o nome dele que invocou num sopro vagabundo. Ruben manteve o seu ritmo, e segundos depois, quando sentiu um pasmo inolvidável de prazer percorrer-lhe cada vertebra do corpo, contraiu-se num instante e depois serenou. Joana sentiu-o somente então pulsar dentro de si, enquanto o ouvia gemer incessantemente junto do seu ouvido, e no momento após tudo ficou mais calmo. Arrastando a face sobre a dela, Ruben voltou a procurar-lhe os lábios, onde mais uma vez na união das bocas, puderam regularizar ambas as respirações. Beijaram-se de uma maneira que não lhes era comum, como se não houvesse amanhã, onde as línguas se envolveram com uma violência que lhes agradou e acabou por lhes preencher o conforto do momento que tinham acabado de viver… Ruben amou-a da forma mais especial e completa que existia, e sentia-se incrivelmente bem com isso. As suas expressões faciais relaxaram e foi então tempo de a voltar a olhar e sorrir-lhe pela felicidade e veemência que lhe inundava o coração.

- Amo-te tanto, Joana… Tanto, tanto… - murmurou baixinho, no impacto de mais um beijo assoberbado pelo amor forte e incontestável que os voltara a unir

- E eu a ti… Não duvides disso, nunca! – confessou também, consciente de que nunca estivera tão certa de um sentimento inigualável como era aquele

- Nunca, amor… Nunca! – prometeu com toda a sinceridade, contornou-lhe as costas com os braços e transferindo para eles uma parte da sua força, fazendo-a erguer o tronco que tal como seu se colocou a agora na posição vertical, deixou Joana ligeiramente sentada nas suas coxas

- Ainda nem acredito que estamos aqui… a fazer amor… - proferiu ela numa voz suave, olhando-o nos olhos e mantendo o seu peito bem colado ao dele, quando os seus braços correram à vontade de lhe enlaçarem ao pescoço

- Podes acreditar, é bem verdade… - um sorriso brincalhão pintalgou-lhe as lacunas dos lábios e estes, no mesmo segundo, tocaram os dela roubando-lhe um selinho – Ter-te aqui outra vez nos meus braços, a amar-te… Este deve ser o momento mais feliz da minha vida!  

- Da nossa vida… - corrigiu-o com os seus lábios bem grudadinhos aos dele, repartindo o igual sentimento de felicidade pelos dois – O momento mais feliz da nossa vida!

Ele olhou-a de uma maneira, com uma intensidade que fez com que ela se sentisse algures no topo do mundo. As suas mãos subiram-lhe pelas costas lentamente enquanto permanecia a focá-la fundo nos olhos, decorando mais uma vez cada ornamento do rosto mais belo que algum dia vira, e se conteve em esborrachar mais o corpinho dela contra o seu, quando lhe apertou carinhosamente os glúteos.

- És perfeita, perfeita… - repetiu baixinho, sabendo ser essa uma das suas maiores certezas

- A perfeição está apenas ao alcance dos olhos de quem ama…
  
- E eu amo… - afirmo num rasgo de segurança inquebrável – Eu amo perdidamente!

Nesse mesmo instante, eles voltaram a provar do mesmo desejo acrescente que os havia consumido momentos antes, e embrenhados nessa vontade, partilharam da certeza de quererem ser um do outro mais uma vez.
Trazendo-os de volta para os lençóis, os braços fortes de Ruben amarraram de novo o corpo dela e ele voltou a deitá-la em cima da cama. Com a delicadeza e meiguice que Joana desde sempre lhe conhecera, ele voltou a unir os corpos, e retornando a um ritmo único e constante que só a eles pertencia e que Ruben novamente impusera, aquela sensação indiscritível de prazer tinha regressado também. Beijaram-se no meio de tudo aquilo, as respirações voltaram a dispersar-se com uma ofegância desmedida e a temperatura dos corpos subiu à escala.
Ruben podia sentir o prazer que facultava a Joana, um prazer recíproco, sem vista a um fim e fatalmente bom! Mas mais do que isso, ele sabia que aquilo era o consumar de tudo… Das esperas intermináveis junto ao telefone, do desespero pela falta de notícias dela, da dor de não a poder ter… mas também o consumar de um reencontro atribulado, da mágoa, das discussões, das birras palermas, do desejo e esse era tão grande, da paixão, do amor… Oh, o amor! Ali, naquela cama, eles estavam entregues e deleitavam-se com o prazer do amor físico, mental e de todos os outros tipos.
Ruben estava a fazer um esforço para se controlar, pois até Joana sentiu isso na própria pele, mas ainda assim ele deu continuidade a movimentos controlados, avançando e recuando com a intensidade que julgou ser a necessária, no entanto os corpos pediam mais e também eles queriam mais.

- Mais, Ruben… Quero mais… - pediu num burbúrio, querendo tudo o que havia para sentir

- Tenho medo de te magoar… - lamuriou enquanto lhe fixava os lábios, e abrandando a intensidade das suas investidas

- Não magoas, amor… - ela sorriu-lhe, deu-lhe um beijinho no nariz e isso foi o suficiente para o serenar nos seus braços, e colocando-lhe as mãos ao fundo das costas puxando-o mais para si

Ruben correspondeu ao seu pedido e aumentou o ritmo, um ritmo mais rápido mas intimamente intenso, e por conseguinte o prazer aumentava e aumentava cada vez mais. Soltaram suspiros e disfarçaram gemidos contra o corpo um do outro, ele beijava-a em cada pedaço de pele e ela prendia-lhe as suas mãos na nuca enquanto lhe afagava o cabelo… Totalmente rendida a cada carinho que ele lhe oferecia.

- Não pares agora, amor… Não pares… - sussurrou numa voz cada vez mais esforçada, enquanto ele movia os corpos num unânime irrepreensível, a um ritmo loucamente prazeroso

- Relaxa, amor, eu não vou parar, não vou… - garantiu-lhe com a sua testa colada à dela, e já ambas ligeiramente suadas pelo esforço, beijando-lhe seguidamente os lábios uma única vez pois a respiração descontrolada não permitia muito mais

O prazer fulgurante estava a chegar ao seu limite… As mãos de Joana percorriam as costas dele desorientadamente, a sua boca fazia-lhe pequenos chupões no pescoço e as suas unhas cravavam-lhe a pele a cada onda de calor interior que a abarcava, quando os corações latejantes encontraram um novo ritmo e começaram a bater como um só. Disseram que se amavam de todas as muitas vezes que as bocas se procuravam num instinto de se beijar, e chamaram pelo nome do outro vezes sem conta.     
Os gemidos outrora suprimidos, tornaram-se mais indiscretos e aumentaram aquando todo o esforço começava a ser recompensado. Ela agarrou-se a Ruben com uma força descomunal, cravou-lhe uma vez mais nas costas as suas unhas, e arrastou-as, assim que ao mesmo tempo que o dele, o seu corpo se retraiu e encolheu levemente as pernas apertando-o mais contra si. Tinham alcançado o auge em uníssono e gemeram sem qualquer constrangimento, enquanto reagiam à sensação das ondas de prazer que lhes viandava pelos corpos, levando Ruben a pulsar-se dentro de si. Sorriram de corações abastados de felicidade e beijaram-se apaixonadamente pelo culminar de uma nova entrega.
Os corpos estavam esgotados e Joana sentiu-o retirar-se suavemente dentro de si e cair, estafado, sobre a cama ao seu lado esquerdo. Pouco depois Ruben sentiu novamente o conforto de um outro aninhar-se ao seu e cabeça dela repousar sobre o seu peito, depois de se voltarem a tapar com o lençol.

- Amo-te muito, muito… - um sussurro perfeitinho foi proferido por Joana enquanto ele sentia a quentura dos lábios dela contra o seu peito

- Eu amo-te mais! – respondeu sem pensar duas vezes, deixando que as duas mãos se entrelaçassem no ar

Joana deu um jeitinho ao seu corpo impulsionando-se mais para cima, e olhou-o por entre a quase inexistente luminosidade instalada, na esperança de que ele lhe sossegasse o coração.

- Vamos ficar juntos e desta vez é para sempre, não é? E mesmo naqueles dias difíceis em que eu não te dê toda a atenção que mereces, tu vais ter paciência comigo, não vais? – ele não disse nada no primeiro instante, e apreciou o momento babando-se com o que ouviria e com bela imagem que vi-a

- Eu prometo que agora é para sempre, prometo cuidar de ti e ter contigo toda a paciência e perseverança que o amor exige. 

Ruben segurou-lhe o rosto entre as suas mãos grandes e cálidas, e beijou-a… Primeiramente nos lábios, até se deixaram levar por algo maior. As línguas envolveram-se num fulgor que os fez tremer naquele abraço, e o amor que sentiam, fortificou-se desmesuradamente. Naquele beijo totalmente louco, totalmente sentido e apaixonante, eles anteciparam a certeza de que aquela noite não se findava por ali, pois novos momentos de entrega à sensualidade nua do amor, os aguardava, dispostos a extinguir perpetuamente todas as saudades que se deixaram arrastar com o tempo e os corroera lentamente.
E eles estavam felizes assim… A viver e a respirar do amor inabalável que sentiam pelo outro, partilhando do saber na parte mais profunda das suas almas, que não importava os desafios que os viessem a separar, eles sempre encontrariam um caminho que os trouxesse de volta aos braços um do outro. 




Boa noite, meninas! :) 
Desculpem toda a demora, mas vocês já sabem como é... 
são aulas, os testes e trabalhos, e por vezes o tempo torna-se realmente escasso! 
Deixo-vos aqui com um novo capítulo, espero que gostem e deixem os vossos comentários, pois são muito importantes para mim enquanto escritora!
Um beijinho,
Joana :)

8 comentários:

  1. Minha linda... como já te disse fiquei *.* quando li, pode parecer exagero mas para mim está simplesmente BRUTAL!

    Não é novidade nenhuma que escreves divinamente mas confesso que desta vez conseguiste deixar-me sem palavras, a forma como escreves todo o capítulo é linda, todo o cuidado que ambos tiveram para que a noite corresse bem...

    Mas onde fiquei mesmo fascinada foi na parte final, confesso que estava curiosa para ver como irias descrever a cena, talvez por saber que gostas de descrever tudo ao pormenor e até posso dizer que tive algum receio que não o conseguisses fazer por isso mesmo, por descreveres tanto os momento mas conseguiste SURPREENDER-ME pela forma e palavras que escolheste, deste-lhe um toque "real" sem recorreres as palavras banais e foi isso que cativou :D

    Bem... vou ficar por aqui porque já me alonguei demasiado :P despeço-me só com um pedido

    NUNCA MAS MESMO NUNCA DEIXES DE ESCREVER para mim és das que tens mais talento, continua sempre assim e a dar-nos momentos de prazer no que toca à leitura!!!

    Beijocas

    Mari

    ResponderEliminar
  2. Sempre surpreendendo mesmo. Escreve mesmo muitíssimo bem!!! MAGNIFICO! xD

    ResponderEliminar
  3. Boa Noite Joana,

    PARABÉNS por este capítulo! Está estonteante, muito bem escrito e acima de tudo cativante e realista. É incrível a forma caracterizadora que fazes do Rúben, bem como do amor deles.
    Assim que possas diz-me qual o email que deve utilizar para te contactar.

    Obrigada e não deixes de escrever, é um prazer acompanhar-te.

    ResponderEliminar
  4. eu li o capitulo no dia 27, mas só hoje consegui comentar pq no dia fiquei sem palavras...pq simplesmente nao ha palavras para descrever este capitulo! quero te dar os meus sinceros parabéns, sem duvida és a melhor! POR FAVOR CONTINUA! nunca tinha chorado tanto :pp AMEIIII *.*

    ResponderEliminar
  5. AMEIIIII *.*
    simplesmente único! continua!

    ResponderEliminar
  6. Estou de acordo com o anônimo acima, o li no dia 28 mas também não encontrei as palavras certas ao terminar. Ou melhor, fiquei completamente sem elas. É incrível essa sua capacidade, nos deixa realmente inerte. Maravilhoso. Perfeito. Lindo. Acho que nem elas são o suficiente, mas são as primeiras a surgirem. Tens um talento magnifico. Parabéns e continue xD

    ResponderEliminar
  7. Boa noite, Mary

    Antes de mais quero agradecer-te sinceramente o teu comentário, e tal como pediste, deixo-te aqui o email para que me possas contactar:
    jo.someonelikeyou@gmail.com

    Beijinho :)

    ResponderEliminar
  8. Magnífico, maravilhoso, meu Deus, depois de actualizar os capitulos que tinha em atraso já posso dar a minha mais sincera opinião. Adoro a forma como escreves e descreves cada capitulo,de ti espero sempre algo muito bom, mas este, juro que me surpreedeste, surpreendes-me sempre mas este tá fantástico, a descrição perfeita do momento deles torna-a de tal forma real, é mesmo de ficar sem palavras. No meio de tanto amor e sedução ainda tiveste tempo para um momento engraçado, quando imagino o Javi o David e o Fábio Coentrão armados em espiões tenho que me rir, foi demais.
    Adorei cada bocadinho, só espero que estes dois finalmente consigam ter alguma paz, e muito, muito amor à mistura.
    Continua a escrever assim, maravilhosamente bem, fico à espera do próximo.

    Beijocas

    Fernanda

    ResponderEliminar