quinta-feira, 21 de junho de 2012

Capítulo 8 - Um novo ponto de partida


















A manhã seguinte foi descerrada passivamente na sua maioria. Aproveitei para prolongar mais uma vez o meu horário de sono, que se encontrava já quase todo ele compensado, e também para arrumar a mala, pois no fim da mesma tarde tinha voo marcado para regressar a terras californianas.
Não vou dizer que não pensei bastante no que havia acontecido na noite anterior, pois estaria sobretudo a enganar-me a mim mesma. Pensei demasiado, até… e inevitavelmente as esperanças e todos os sonhos que tinham ficado findados numa outra vida passada, parecia que queriam voltar a raiar, a mostrar que ainda se encontravam impetuosamente presentes… mais presentes do que alguma vez haviam estado e que se achavam ali para serem ouvidos e quem sabe, realizados. 
E a imagem pertinaz e jamais olvidada de Ruben, é certo, que estava em mim mais viva do que nunca.

- Menina Joana, posso entrar? – distingui rapidamente a voz da empregada, que se fez deferir detrás da porta do meu quarto, onde acabou por plantar dois leves batuques com os vínculos das mãos

- Sim, Paula, entre… - concedi-lhe cordialmente a permissão necessária, para depois vê-la cruzar a porta e invadir um mundo só meu

- Com licença… - pediu com toda a educação que desde sempre formara na sua personalidade, mostrando-me nos braços delineadamente estendidos à sua frente, encobertos com algumas peças de roupa devidamente lavadas e engomadas – Desculpe, não sabia que ainda se estava a arranjar…

- Oh, não tem problema! Já estou quase pronta… - assenti positivamente de olhos fixos no espelho, enquanto dava os últimos retoques de maquilhagem no meu rosto, com um pouco de rímel e um rosa muito leve nos lábios, para me prontificar assim para sair


- Vim deixar-lhe os lençóis e alguma roupa lavada, que não levou para a viagem…

- Pode deixar aí sobre a cama, mais logo quando vier já arrumo tudo!

- Ora essa, nem pensar, menina… Esta é uma das tarefas que a mim me compete, por isso mesmo deixe estar! – sabia que não iria tomar vantagem sobre a imposição dela, e por essa razão não contradisse a sua vontade

- Bem, então é melhor eu ir buscar a Sofia… Ainda quero lá chegar antes que a aulinha dela termine! – com um sorriso patente e simultaneamente babado no meu rosto de madrinha orgulhosa, acabei por dar duas borrifadelas do meu perfume predilecto na pele desnudada e nutrida do meu pescoço

- E posso dizer à Rosa que pode contar consigo para o jantar?

- Não, Paula… Venho cá só mesmo para deixar o carro e recolher a mala, depois disso vou directa para o aeroporto! – anunciei quando compus a minha mala sobre a dobra do antebraço, prontificando-me para sair do quarto – Ah, é verdade… Eu sei que já lhe perguntei isto uma data de vezes, mas ainda não encontrou aquela pulseira que lhe falei, pois não?

- Não, menina… Já alertei também a Maria sobre isso e ela não encontrou nada! De todas as vezes que fiz limpeza ao seu quarto e ao resto da casa, não dei por nenhum sinal dessa pulseira!

- Hum… está bem então, obrigada! – nos meus lábios selados, um rasgo de decepção aboliu todas as esperanças de reaver o objecto que me volteara o pulso direito, possuidor de um forte e indestrutível valor sentimental que me acompanhara durante demasiado tempo para que, há quase dois meses, o ter perdido não sei onde nem como

- Mas… Menina Joana? – mais uma vez a minha saída foi interdita por uma nova invocação, e fui obrigada a olhar à minha retaguarda

- Diga, Paula…

- Se gosta tanto dela, porque não arranja outra igual? O que não deve faltar por aí são pulseiras bonitas…

- Infelizmente como aquela, nunca mais terei nenhuma, Paula! Não é apenas a questão de ser uma pulseira bonita… É o valor que ela tem pra mim, é a história que carrega que a diferencia das outras. E ao que parece, agora, ela não está mais nas minhas mãos...

Depois de mais uma breve troca de olhares compilados por um sorriso lamentoso e simultaneamente complacente, aquela conversa ficou-se por ali mesmo.
Atravessei o corredor, desci as escadas colossais que me levaram ao rés-do-chão e apressei-me a sair de casa. Declinei também as escadas de pedra do alpendre e foi quando calquei a fachada de terra batida que aparava toda a entrada e rodeava o chafariz, que observei Zeca, o motorista.

- Menina, o seu carro já está pronto! – informou-me com toda a polidez logo que me mirou no seu radar capcioso e que a uma passada cortesa, se abeirou a mim

- Óptimo! Puseste a… - mesmo sem antes de me deixar completar a interrogação, ele completou os meus pensamentos estrategicamente delineados e que eu unicamente procurava esclarecer

- … Pus a cadeirinha para a sua afilhada, no banco de trás, tal como me pediu! – ele retirou a boina formal que lhe complementava a farda para segurá-la entre as duas mãos, e foi inevitável não partilharmos uma suave gargalhada que se despoletou dos nossos âmagos unissonamente 

- Obrigada, Zequinha! – agradeci exibindo-lhe um sorriso de gratidão no rosto, e ao mesmo tempo que lhe aceitei as chaves do meu BMW X1 branco, que havia chegado do Stand naquela manhã – Até logo!

Caminhei tão avidamente quanto os saltos altos que envergava nos pés me consentiam, até conceptuar uma distância considerável, para estender as chaves à minha frente e efectuar o destranque automático do meu jipe. 
Saí da vivenda logo assim que atravessei o adjacente portão de censores automáticos e fiz-me à estrada com cerca de quarenta e cinco minutos de condução, que tiveram um único destino estigmatizado.
Um típico sol resplendoroso de Verão, brindou mais uma vez uma das tardes lisboetas, obrigando-me a proteger a visão com os meus óculos de sol que me auxiliaram numa condução um quanto morosa por intermeio do já habitual trânsito, que marcava hora de ponta sobre a ligação do Tejo. Foi no momento em que me deixei levar por uma onda latrina de descontração, saída pela rádio que envolvia toda a minha viatura com músicas comerciais e que eu tão bem sabia de cor, que no suporte junto do tablier, o meu telemóvel acendeu uma chamada que eu já esperava… Por uma fracção de segundos o meu olhar desgarrou o asfalto linear da autoestrada e o meu indicador voou até ao botão do atendedor de chamadas, onde pude assim, atender em altifalante.

- Olá, Brenda! – saudei a querida mãe da minha afilhada, num tom definhador e portador de um sorriso sincero no semblante  

- Oi, meu anjo! – o seu astral perfeitamente rejuvenescente foi transmitido pela linha telefónica e na fatalidade de uma transigência, o meu sorriso dilatou-se ainda mais – Liguei pra saber se você deu certinho com a academia…

- Hum, hum… Parece-me que sim… Estou mesmo a chegar, por sinal!

- Óptimo, a aulinha de ballet deve ‘tar a terminar, mas se cê já tá chegando, é capaz de conseguir topar o final…

- Espero que sim… Gostava de ver a minha bailarina dar uns passinhos de dança! – falei descontraidamente, accionando o pisca para fazer o último cruzamento

- Não brinca… A Sofia ficou que nem um bichinho saltitante quando lhe falei que você ia pegar ela na aula… Tá morrendo de saudades suas! – o sabor deleitante daquelas palavras, afirmando a falta bem como as saudades que a minha pequenina compunha vista em mim, durou muito pouco, pois subitamente esse sabor deu lugar a um forte e culposo aperto no peito por constatar o facto de ultimamente não ter passado com ela, todo o tempo devido

- Eu também tenho muitas saudades, Brenda, e só Deus sabe o que me custa ficar longe dela tanto tempo!

- Eu sei, meu anjo… Não se martiriza não! Ainda é só uma criança, mas sabe o quanto você gosta dela! E… O Ruben ajudou muito esses últimos tempos… - claro, o Ruben(!) o segundo pai da Sofia, aquele que esteve constantemente ao lado dela, aquele que a acolheu, que a acarinhou, que a amou incondicionalmente… quando me verguei a uma guerra que não era minha, acobardando-me a voltar costas e abandonar todos aqueles por quem daria até a minha própria vida

- Sim, eu sei… - a culpa por um erro que somente eu tinha cometido, calcetou-me imperdoavelmente o coração e esse factor foi transposto na minha voz fatigada e esmorecedora – A Sofia tem muita sorte em ter um padrinho como o Ruben, capaz de fazer tudo por ela!

- E muita sorte também de ter uma madrinha que nem você, ué! Não se menospreza desse jeito, garota… Não tem razão nenhuma pra isso!

- Talvez até tenha, Brenda… Mas creio que sejam já águas passadas!

- Exactamente! E como se costuma dizer por aí… “águas passadas não movem moinhos”, né? Não se preocupa.

Suspirei profundamente e deixei que simplesmente o meu silêncio destemperado fosse a chave para terminar com aquela conversa, que mascada mais a fundo, decerto que me arrastaria para as margens de uma sombra onde eu não queria voltar viver.
Mais à frente virei à minha esquerda para que uns metros adiante conseguir estacionar o carro no parque pertencente à Academia Dançarte.

- Já cheguei! – anunciei ao mesmo tempo que rodei a chave entre o meu polegar e indicador, repuxando também o travão-de-mão – Depois se não houver problema para ti, gostava de ainda ir dar um passeiozinho com ela, antes de a ir pôr a casa…  

- Tem problema não! Se também não der mais trabalho pra você… sei que tá de voo logo à noite e não quero que se ande empatando por causa daquela mulequinha!

- Fica descansada, vamos dar uma volta pelo Colombo e ao fim da tarde já está entregue… Quero aproveitar para matar as saudades todas! – retirei a minha mala do banco de trás e assim que uni o telemóvel ao meu ouvido, saí do carro e tranquei-o, dirigindo-me até à entrada da academia de dança

- Sendo assim, faça como achar melhor, meu anjo… Também tenho certeza que ela vai gostar de passar uma tarde inteirinha com a madrinha!

- Sim… Acho que nos vai fazer bem às duas! – afirmei, certa de que a companhia bem como todo o carinho que Sofia tinha para me oferecer, seria o meu melhor remédio de força e fé, capaz de me restituir todas as energias necessárias que com o desgaste emocional, se iam esbatendo de mim – Vou entrar agora, depois falamos, sim?

- Vai, meu bem… A gente se vê depois! Um beijo! – desejou-me docemente, com um sorriso sereno que somente pude facultar pela a minha presunção precisada, por já conhecê-la tão bem

- Outro pra ti, Brenda… Até logo! – despedi-me também com um sorriso nos lábios, e logo que voltei a arrumar o telemóvel na mala, empurrei a porta da entrada principal da academia

- Boa tarde, posso ajudá-la? – enquanto tentava encontrar um ponto de orientação num espaço que estava a conhecer pela primeira vez, uma voz feminil provinda do posto de recepção, captou todos os meus sentidos numa só chefia

- Ah… Boa tarde, pode dizer-me onde fica a sala onde está a decorrer a aula de ballet das crianças, por favor? – inquiriu educadamente, assim que me acerquei do balcão e arrastei os óculos de sol até ao topo da cabeça

- A aula de ballet já deve estar a terminar, não sei se prefere…

- A minha afilhada é aluna cá, vim buscá-la…! – esclareci rapidamente, tentando aclarar algum inconveniente que se pudesse sobrepor ao meu pedido

- Peço imensa desculpa, não fazia ideia… – a menina da recepção apressou-se a apresentar as suas desculpas de imediato, com um sorriso nervoso e denunciante de uma ligeira atrapalhação nos lábios, que rapidamente lhe consegui desvendar – Siga esse corredor e é a segunda porta à sua esquerda a contar do fundo! – coordenou com o braço disposto numa recta firme no ar, fazendo com que o meu olhar seguisse a direcção por ele indicada

- Obrigada, com licença…

Numa posse cordialmente delicada afastei-me e cursei a indicação que simpaticamente me tinha sido dada. Enveredei pelo vastado corredor, que remontava a mais um par de salas polivalentes a outras práticas, decorado pela arte actual e modelar, pincelada em alguns quadros espalhados um pouco por toda a parte, dando um ambiente carregado mas simultaneamente inspirador.
Mais à frente conseguia já ouvir a música clássica que fazia executar um novo movimento bailante, a cada acorde escutado. Singelamente aproximei-me da porta totalmente aberta e abrandei a passada, de modo a que o atrupido dos meus saltos não se sobrepusesse à ambiência calmante que se vivia dentro da enorme sala, revestida a uma só parede de espelhos colocados inteiramente de cima a baixo.

- Demi-plié, mais uma vez em baixo… 1,2,3… Demi-plié… - numa filinha perfeitamente predisposta junto a uma das barras, a professora dava os últimos exercícios de coordenação, que pelos meus doze anos de prática, já sabia conhecer – Clarinha, mantém o tronco direito… Sofia, é isso mesmo, continua!

Entrei da forma mais calma e passiva que consegui, de modo a não captar atenções e por conseguinte perturbar a concentração unicamente centralizada em cada movimento somático, que cada menina se esforçava por conseguir corporizar.
Aproximei-me da fila de bancos que era ocupada pelas mães e avós das meninas que acompanharam a aula na sua íntegra, mas não me sentei, encaixei a minha mala no fechamento da palma das minhas duas mãos e ligeiramente encostada à parede, iniciei somente com o olhar uma busca incessante pela minha pequenina, que só findou na instância a que os meus olhos se vergaram num encontro que tanto desejavam.
Ela olhou-me, inocentemente, e pela abertura dos seus lábios delgados e expressividade facial, distingui-lhe o bem-querer assim como a ansiedade que continha em correr e entregar-se nos meus braços aclamados pela saudade. Contudo não o fez, reteve-se no seu espacinho e continuou, tão atenta quanto possível, à aula que caminhava celeremente para o seu final.

- Muito bem, meninas, podem parar… Boa aula! – foi a professora que finalizou o compasso de movimentos, logo que pausou a música dispersada pela aparelhagem, permitindo que todas as meninas corressem para os braços das suas progenitoras, compartilhando a alegria de mais uma tarde que dispensaram a fazer algo que as mantinha felizes

- Mami, mami! – a minha pequenita não tardou em iniciar uma corrida desenfreada remontada numa só direcção até mim, que apenas foi travada pelo meu corpo que agachado, circundou o dela, compartilhando um abraço forte e apertado como que já há muito esperávamos    

- Oh, minha biscoitinha linda… Hum, que coisa tão boa! – deleitei-me com a sua essência de bebé que lhe aprumava toda a pele morena do pescoço, enquanto ainda a albergava num pequeno ninho de amor, apenas com ela compartido

- Senti a tua falta, mami… - confessou-me num beicinho caracterizado pela penúria de um carinho que só eu lhe sabia dar, e no instante em que aquelas duas pérolas dos seus olhos meninis foram ao encontro dos meus, senti o meu coração estilhaçar-se em duas partes fragmentadas

- Oh meu amor, eu também senti muito a tua falta! – os meus lábios ocorreram as suas bochechas rechonchudas e nelas chocalharam uma amálgama de beijinhos mimados que fez surtir uma risada deliciosa liberta da aura leviana da minha menina – Mas agora a mami já está aqui contigo, não está?

- Shim… e ainda bem!

- E então a tua vidinha, pequerrucha, como vai?

- Oh, vai bem, mami… - os seus pequenos ombros encolheram-se e o rosto descaiu levemente, escondendo a doçura de que era portador

- Amor, então… – naturalmente o cargo de que eu era portadora e que recaía em sua salvaguarda, despertou-me os pontos vincados de pura preocupação, reconhecendo que por detrás daquela figura pequena e inofensiva, havia algo que não estava bem – … que carinha é essa? Passasse alguma coisa?

- Não, mami… Não se pasha nada.

- De certeza, biscoita? – o meu indicador tocou-lhe o queixinho de raspão, fazendo com que somente os seus olhos falassem com os meus

- Shim. – não quis redobrar insistência sobre o assunto, pois conhecendo como conhecia, se algo andava a perturbar aquele seu coraçãozinho, era acabaria por procurar-me e contar, mais tarde ou mais cedo

- Hum… está bem! – a polpa do meu indicador ocorreu a pontinha do narizinho naturalmente arrebitado da pequena, dando-lhe um breve toque de modo a que a levasse descomprimir – E o que me dizes em ir trocar essa roupinha e irmos dar uma passeio só nós as duas?

- Um pasheio… Só nós… as duas? – a sua veemência ao de leve, foi sobressaindo numa folia e excitação que naturalmente ela ainda não tinha capacidade de disfarçar ou esconder

- Sim, amor… Só nós as duas! – afirmei pausadamente, fazendo com que os meus lábios que haviam no instante deixado o encosto acalentado da sua pequena testa, converteram-se num rasgo similar de ternura

Não foi preciso um consentimento categórico seu, para que lhe conseguisse adivinhar a sua vontade.
Com um rasgo enorme de divino entusiasmo – muito natural de uma menina de quase quatro anos –, Sofia tomou a minha mão na sua e de modo a que acompanhasse os seus sucintos passos – conhecedores de todos os enredos daquele espaço, deveras acolhedor para um jovem artista – guiou-me até ao balneário onde a ajudei a tomar um banhinho e onde trocou o maillot rosa assim como as collants, por um vestidinho fresco de Verão, que rapidamente a fazia assemelhar-se a uma pequena princesa.

- Upa, estica os bracitos! – pedi-lhe, de modo a facilitar a minha tarefa de lhe embeber o vestido naquele corpinho adelgaçado de medidas e adornados perfeitos

- Mami… - já quando ligeiramente agachada na sua frente, de modo a encaixar-lhe as sandálias rasteiras nos pés, ela solicitou toda a minha atenção para proletarizar uma pergunta que se tivesse antevisto, tê-la-ia contornado com toda a certeza – Posho faze’-te uma pe’gunta?

- Claro, piolha… Pergunta lá!

- Vais deixa’-me ot’a vez?

- O quê? – sem mais não, quase que pude sentir o meu corpo a ser projectado contra uma parede, por impulsão de um valente soco nos estômago, numa acusação conspirada sem aparentemente deixar um torço condutor que me levasse a ditar um discurso ensaiado

- Shim, mami… Já te foste embolha uma vez e durante muito tempo… Quelhia saber se o vais fazer ot’a vez! – ainda por mais pequena que fosse, nunca poderia subestimar a sua perspicácia, nem pelo pequeno tamanho nem pela tenra idade, pois Sofia acabara de me reavivar os dissabores das encruzilhadas de um destino só meu

- Oh piolha, é claro que não te vou deixar… Nunca mais me vou embora e fico longe de ti… Nunca! – embora as lágrimas que se começavam a assomar, teimassem em embaciar-me a visão, não temi em olhá-la bem fundo dos olhos, de modo a que ela conseguisse ler as intensões que me transbordavam na alma, sabendo também que ela era uma das pessoas – se não mesmo a única – para quem o meu coração era incapaz de pregar uma mentirinha

- Nem nunca mais vais deixalhe o papi?

- O qu… Sofia, porquê essa pergunta?

- Po’que desde que te foste embolha, que elhe nunca mais foi o mesmo… Ainda me lemb’o muito bem de como elhe ficava de todas as vezes que eu lhe pe’guntava po’ ti!

- E… Como é que ele ficava? – uma pequena pontada atingiu-me impiedosamente o  coração, ferido pelas marcas do tempo, e por mais que devesse manter-me afastada de todas as implicações que envolvessem o Ruben, parecia-me que havia sempre uma força maior que me levava a um querer saber mais, a um querer ser mais

- Elhe ‘tava semp’e a inventar desculpas p’a fugilhe ao ashunto, mas nunca me conseguia esconder a ca’inha t’iste com que ficava... Eu shei que ao pé de mim se fazia de fo’te, mas às vezes via-o a cholhalhe e quando pe’guntava à mamã, elha dizia-me que o papi ficava ashim po’que gostava muito de ti, e tu foste embolha…

Como poderia eu renunciar as palavras seguramente ditadas, vindas do serzinho mais puro e verdadeiro que alguma vez conhecera? Sofia poderia ser ainda uma criança, refinada com toques de ingenuidade, de personalidade influenciável e traços de uma inocência genuína, mas de temperamento suficientemente maduro para compreender o que as suas duas janelas para este mundo captavam, bem como os sentimentos que lhe eram expostos da maneira mais sincera e natural possível. E de uma coisa eu estava certa: não havia pessoa mais fiável para quem eu pudesse abrir o meu coração e revelar todos os segredos, nele escondidos.
Aos poucos, e quase sem me aperceber, as lágrimas começavam a tomar vantagem sobre o ânimo e vigor que eu impusera a mim mesma continuar a manter na frente dela e de maneira a contrariar isso mesmo, ergui-me levemente à sua vanguarda e distanciei-me a somente curtos passos para conseguir controlar todo o reboliço de emoções que me fluíam dentro do peito.

- Era isso que a mamã te dizia, piolha? – perguntei-lhe quase num sussurro, vislumbrando-a brevemente acima do meu ombro

- Shim… - afirmou numa resposta muito abreviada, sabendo eu que me continuava a observar – Mas po’quê… É mentira?

- Não, amor… Não é mentira! – fiz um esforço tremendo para não ceder à fadiga de comoções, mas assim que num curto pestanejar os meus olhos se cerraram, as pálpebras soltaram duas lágrimas que não demoraram em deslindar o meu rosto

- Mami? – a sua vozinha meninil voltou a ser sustida num eco auspicioso dentro daquelas quatro paredes, e mesmo sem olhá-la senti a sua sorrateira aproximação até mim, num intento precativo de desvendar as razões que me faziam estar assim, naquele instante ao pé dela… tão perto e ao mesmo tempo tão distante – ‘Tás t’iste?

- Não, pequenina… Está tudo bem! – assegurei, depois de discretamente enxugar o meu rosto até então pelas lágrimas humedecido – Isto já passa, sim?

- Fui eu num fui? É po’ minha causa que tu ‘tás ashim… Foi po’ causa do que eu dishe? – proferiu num enuncio de auto culpa, que enquanto olhava a sua pequena figura encostada às minhas pernas esguias, me fazia sentir a pior pessoa do mundo pela simples razão de ter provocado um pequeno tormento àquela criança – Desculpa, mami… Eu num quelhia que ficashes t’iste… Desculpa!

- Não, não… Nada disso, meu amor! – no dever e obrigação de sossegar aquele coraçãozinho indefeso, peguei-a ao colo cuidadosamente como se pegasse no meu próprio mundo, fazendo com que os nossos corpos ficassem coladinhos firme e seguramente – A madrinha não está assim por tua causa…

- Então ‘tás ashim po’quê?

- São coisas, piolhita… Coisas da vida!

- Que coisas, mami?

- Coisas que ainda não consegues compreender, princesa…

- Se nunca as contalhes p’a mim, também nunca as vou compreendelhe! – rematou com toda a astúcia que eu ainda não lhe conhecia, mas que era a suficiente para me erradicar respostas que nunca pensara em dar-lhe, não tão cedo como era agora

Segurando-a ainda no domínio afetuoso dos meus braços, alumiei-nos até ao banco corrido onde há instantes a vestira, desviei escassamente a sua toalha de banho e sentei-me, fazendo-a sentar-se também confortavelmente nas minhas coxas, de modo a que os nossos rostos detivessem a mesma frontaria.

- Foi po’ causa do meu papi que ficaste ashim… E num digas que não, po’que eu shei que é ve’dade! Eu bem vi que os teus olhos ficalham t’istinhos quando falei nele. – foi o timbre perfeitamente adocicado da minha pequena que nos roubou o silêncio, olhando-me veneravelmente, enquanto os seus dedinhos percorriam cada pedaço da pele do meu rosto

- Foi, amor… Foi por causa dele que fiquei assim! – acabei por dizer, sabendo que mais rodeios não nos levariam a lado nenhum

- Então conta a mim o que aconteceu! Eu julho que não digo a ninguém… Palav’a de Sofiazinha! – no fim de ditar o juramento, os seus dedinhos formaram uma pequena cruz na frente dos nossos rostos e foram beijados pelos seus lábios, como remate de uma promessa inquebrável 

Pela primeira vez no meio daquela conversa intimista, os meus lábios rasgaram-se numa amostra infindável de ternura, que embora tenha sido muito breve, não passou indiferente aos olhos de Sofia que ansiava sofregamente por uma explicação minha, e que depois de respirar profundamente de modo a ganhar algum alento para prosseguir, não tardou em ser-lhe dada.

- Sabes, quando eras ainda uma bebé de colo eu e o teu padrinho já nos conhecíamos, gostávamos muito um do outro e acabámos por nos apaixonar…

- Vocês… Vocês namolhavam? – a surpresa atingiu-a de imediato, e por entre uma pergunta exercida de rompante por ela, os seus olhinhos crisparam-se como que pedindo uma confirmação verdadeira

- Sim, meu anjo… Namorámos ainda algum tempo!

- Quanto tempo?

- O suficiente para nos amarmos muito! – proferi por entre um nó cego vincado na garganta, pois o que é certo é que ainda me custava falar no assunto, e o logo ano da minha vida que dediquei a um amor e a uma relação que eu julgara ser eterna, não se findara da minha memória nem do meu coração por muitas tentativas que tivesse feito – Mas depois…

- Depois tu foste embolha… - melhor do que eu julgara ser possível, Sofia completou a linha dos meus pensamentos sem quaisquer hesitações, e no seu rosto pude ver o sentimento de desilusão – Po’quê, mami… Po’que é que acabou?

- Porque teve que ser assim… Teve de acabar!

- Mas tu disheste que o amavas, então po’que razão o deixaste?

- Às vezes temos que fazer sacrifícios pelas pessoas que amamos, às vezes temos que libertá-las, temos que as deixar ser felizes longe de nós…

- Tenho a ce’teza que o Ruben elha mais feliz contigo do que sem ti! – rematou de primeira, fazendo-me querer por momentos que estava a falar com uma criança portadora de uma mentalidade de um ser praticamente adulto

- É como te falei, Sofia… Agora ainda és muito novinha para perceberes as minhas razões, mas um dia compreenderás que há momentos na nossa vida em que temos de abdicar de certas coisas… Não porque não as amemos, mas porque a felicidade e o bem-estar delas é mais importante para nós, do que o nosso orgulho ou amor-próprio.   

- Mas agolha já estás de volta… Podem tentar o’ta vez…

- Não, piolha… Já passou muito tempo desde então, as nossas vidas tomaram rumos diferentes, o Ruben tem outra pessoa e está feliz! – relembrei, tentando persuadir-me a mim mesma e a aceitar uma realidade que ainda me custava a crer

- A Inês num está cá, foi viajalhe e pelo que ouvi, elhes não ‘tão mais juntos… Agolha tu e o papi podem tentar o’ta vez… - ditou, numa insistência passiva que lhe desvendou um rasgo de esperança traçava num olhar trepidamente confiante, por ter presente uma possível reconciliação  

- As coisas não são assim tão simples, amor…

- São shim! Vocês os c’escidos é que têm a mania de estar semp’e a complicalhe tudo! – arguiu decididamente, desvendando toda a inocência e ingenuidade de que era portadora – Agolha vocês podem tentar ser felizes… os dois, mami… juntos!

Um temor acutilante fez tremelear a minha alma, numa fracção traçada por segundos, ao escutar a afirmação que Sofia tomou como certa na sua teoria próspera, que sozinha tinha conseguido formar em respeito a uma relação e a um amor há muito terminado.
Custou, custou-me muito ouvir tais palavras provindas de um ser tão novato e inexperiente, como era a minha pequena… Mas custou ainda mais partilhar da certeza que por muito que ela quisesse, por muito que eu quisesse que tudo voltasse a ser como era dantes, voltasse a ser como nos velhos tempos, agora nada poderia fazer para recuperar o que tive e partilhei com o Ruben, recuperar o que sempre foi nosso… até ao dia em que o deixei.     
    


***



- Onde queres ir agora, princesa? – promulguei-lhe carinhosamente, voltando a dar-lhe a mão, no instante em que saímos de sua lojinha de roupa preferida, aquando já nos encontrávamos na zona de lojas do Colombo

- Podemos ir comelhe um crepe? ‘Tá-me a apetecer um daquelhes com muito chocolate… - solicitou naquele seu jeitinho trapalhão que tão bem a caracterizava, soltando depois um risinho delicioso, facultado pela gulosice que perfeitamente lhe conhecia

- Claro que sim, amor! – por momentos perdi-me nos seus olhos refulgentemente expressivos, enquanto permeávamos o alargado corredor, e talvez por essa pequena distracção em que me deixei suadir, que um embate surpreendentemente bruto de um corpo pesado contra o meu, me fez travar a caminhada e quase ceder ao desequilíbrio – Ai!

- Desculpe… Eu, eu não a vi… Peço imensa desculpa! – disse o rapaz que por mero caso veio contra mim, perdoando-se num jeito de visível atrapalhação, ao mesmo tempo que se apressava a reunir e ordenar a parafernália de livros que trazia nas mãos

- Espere, deixe-me ajudá-lo… - afirmei, disposta a remediar um pequeno estrago que afinal de contas, também tinha sido causado por mim

- Você está bem? Magoei-a?

- Eu estou bem, não se preocupe! – na verdade tinha ficado com o ombro modestamente dorido, devido ao choque de um corpo exageradamente mais alto e forte que o meu, mas nada que não passasse, certamente – Tome… – assim que me voltei a erguer, devolvi-lhe algumas folhas que haviam ficado espalhadas no meio do chão

- Mais uma vez peço desculpa, vinha apressado para conseguir apanhar uma pessoa, que nem deu tempo… - ele travou o seu próprio esclarecimento e um sorriso conotado agora por uma mesclada de constrangimento, por nos ter proporcionado aquele momento que por si só era desnecessário, surgiu no seu rosto juvenil

- A sério, não se preocupe… Os acidentes acontecem! – afirmei seguramente, disposta a esquecer aquele inesperado episódio, e recorrendo à minha mala, que voltei a encaixar entre a dobra do braço esquerdo

- Pronto, então é… É melhor eu ir… - ainda sem arrancar o sorriso dos lábios, nem se desfazer da expressão atrapalhada que demarcava todas as feições do rapaz que nunca vira antes, ele seguiu o seu caminho, deixando-me novamente destinada a seguir o meu

- Vamos então comer o crepe, Sofi… – logo que manobrei o meu corpo na direcção onde julgara que permanecesse a figura da minha afilhada, deparei-me com um cenário que não estava de todo à espera – Sofia…? – clamei-a, esperando uma resposta imediata sua, assim como a presença que de alguma maneira que me ultrapassava, já não se encontrava mais junto a mim

Os meus olhos iniciaram então uma procura incessante para conseguir mirá-la em qualquer lado, esperando exasperadamente pelo seu aparecimento provindo de qualquer direcção, mas o panorama que se seguia mostrou-se mais funesto e aflitivo do que eu poderia alguma vez imaginar.
Bastaram dois minutos… dois minutos que deram vida à vulgaridade de um incidente, que me obrigou a soltar-lhe a mão… dois minutos! Apenas dois minutos de distração, foi o suficiente para que a perdesse de vista e sem nenhuma assistência de um sinal antecedente seu.

- Sofia? – depois de olhar em todas as direcção possíveis, pela primeira vez os meus pés ganharam alento e perceptividade suficiente para se moverem sobre o pavimento, abrindo caminho a uma busca que eu rezava ser muito breve – Sofia? – voltei a chamar por ela, desta vez num tom suficientemente mais alto e arrastado, fazendo com que os meus saltos altos se movessem da maneira mais acelerada que me era possível

Fustigava-me por entre os muitos transeuntes, que caminhavam tranquilos na direcção oposta, alheios a toda a angústia que aos poucos começava a tomar conta de mim. Mentalmente comecei a culpar-me por perder de vista a pequena pessoa que naquele dia estava ao meu total encargo e à minha inteira responsabilidade, e como tal era meu dever cuidar dela, protege-la, e nesses aspectos, infelizmente, tinha começado a falhar… E no meio daquele rebuliço todo, que se conseguira instalar com um mero estalar de dedos, apenas uma certeza predominava sobre a minha razão: se lhe acontecesse alguma coisa, eu nunca me perdoaria.

- Desculpe… Desculpe, com licença! – ia pedindo educadamente às pessoas que por vezes me barravam o trajeto totalmente indefinido, mas que eu acreditava ser o certeiro para me levar até à minha piolhita – Sofia? – voltei outra vez a proclamar o seu nome, já num visível estado de preocupação e agonia, com uma dor aflitiva cravada em meu peito, que quase me impedia de respirar - Meu Deus, mas onde raio foste tu meter-t…

Interrompi as minhas próprias divagações, quando na minha frente se prostrou um cenário, talvez, dos mais improváveis que podia antever.
No entanto, não tive autodomínio suficiente para saber controlar e destingir a mescla de sentimentos e emoções que me confundiam o pensamento… Não sabia o que era suposto sentir, ali… no meio de tudo aquilo… Se uma grande lufada de ar fresco acompanhada por um profundo suspiro de alívio ou um nervosismo inquietante que me oferecesse a vontade incontornável de sair dali… o quanto antes.




***



(Ruben)

Até me custava a acreditar nas voltas que uma vida pode dar, na fracção de um suspiro… Até à coisa de dois meses atrás, podia afirmar com toda a certeza estar a viver a vida com que sempre sonhei, a profissão que desde sempre pretendi, o apoio incondicional dos meus amigos e da minha família e a estabilidade que conseguira encontrar ao lado da pessoa que amava e que dentro de meses poderia chamar de minha mulher.
Mas de repente tudo mudou… Tudo deixou de fazer o sentido que sempre teve, deixei de saber no que acreditava e o que queria, visto que já nem nos meus próprios sentimentos podia confiar, e tudo isto, tudo isto a partir do momento em que o passado mal resolvido voltara a pregar mais uma das suas… Reavivando memórias e sentimentos que eu tinha até medo, de estar novamente a sentir.

- Da próxima vez vou querer a desforra, puto! – desafiei o David, enquanto ainda percorríamos o Funcenter onde jogámos uma partidinha de bowling juntamente com o Gustavo, só mesmo para descontrair e aproveitar a última tarde livre antes de irmos pra estágio

- Não se contenta com o segundo lugar na tabela, manz? Que mau perder, ein… - ripostou rapidamente com um sorriso triunfal nos lábios e com uma gargalhada trocista, pronta a rebentar na sua boca a qualquer momento

- Qual quê? Tiveste foi sorte, oh… Se eu estivesse num melhor dia, não te dava hipóteses!

- Típica desculpa, de um típico derrotado… - vangloriou-se ele mais uma vez, no seu humor característico de brincadeira, que foi acompanhado por leves gargalhadas minhas e do Gustavo – Ah, mas eu compreendo… Fica difícil perder contra o melhor!

- Nada convencido, né, velho? – desta vez falou o Gustavo em tom de picardia

- Cê tem a certeza que quer discutir isso? Quando se fica em último, acho que não dá pra ter voto na matéria, Guga… - ele voltou a provocar, dando-lhe um ligeiro empurrão com o ombro

- E mudando de assunto… Onde cês vão pra estágio, mesmo?

- Estados Unidos… Vá, São Francisco… mais concretamente! – respondeu David, agora num tom livre de mais brincadeiras e trocando depois um olhar sinaleiro comigo, que rapidamente consegui descodificar

- É… São Francisco(!) – reafirmei logo assim que ocorri as minhas mãos aos bolsos frontais dos meus calções de ganga, tentando afastar quaisquer pensamentos que me compelissem para as incontáveis frases terminadas com um enorme sinal de interrogação, que estavam ainda baralhadas na minha cabeça

Satírico, não é? Parecia, hum… Ironia! Sim, uma ironia do destino. Quanto mais eu tentava afastar-me e permanecer no meu canto, mas a vida me arrastava para caminhos, dos quais tive afastado durante quase três anos.

- E comé? Cê vem ‘bora agora com a gente, manz?

- Ah… Não! Ainda vou passar primeiro pela restauração pra comprar alguma coisa pro jantar. Não estou com grande paciência pra cozinhar hoje!

- A gente vai indo, então… Ainda tenho que ir deixar o Guga em casa! – afirmou, visto que o Gustavo tinha vindo de boleia com ele, e logo assim que saímos pelas portas do Funcenter – A gente se vê então amanhã, manz!

- Amanhã bem cedinho! – completei com um sorriso medrado um quanto pela ironia, relembrando mentalmente as horas matutinas que nos tínhamos que apresentar no estádio antes de seguirmos de autocarro para o aeroporto, e compartilhando com ele o nosso cumprimento habitual, num leve embate de mãos

- Tchau aí, Ruben! – igualando o simbólico gesto, despedi-me também de Gustavo que depois de uma última e rápida troca de palavras, seguiu juntamente com David até às garagens, enquanto eu me delimitei a seguir caminho até à zona de restauração… caminho esse que acabou por ser intersectado, por quem eu menos esperava ter ali

- Papi! Papi! – voltei-me celeremente do modo a mirar a detentora daquela voz que já há muito se tornara inconfundível aos meus ouvidos, e ao ver a minha afilhada correr de uma maneira desaforada na minha direcção, não tive outra reacção que não fosse a de a tomar nos meus braços   

- Oh minorquinha… - os meus lábios rapidamente domaram um sorriso rasgado, logo que beijei uma das faces de Sofia

- Não shabia que ‘tavas cá, papi… - ela olhou-me nos olhos, tomando as suas pequenas mãos como berço do meu rosto

- É… Estive com o David e com o Gustavo! – informei-a fazendo-lhe um leve afago no cabelo solto – E tu, minorca, o que andas aqui a fazer? Vieste com os papás?

- Nop! – asseverou muito segura, apoiando a sua negação com um acentuado abanar da cabeça – Vim com a mad’inha! 

- Vieste com a… madrinha? – embora tivesse ouvido o suficiente para compreende-la, ainda sem bem perceber o porquê, precisava de receber uma confirmação segura

- Shim… Ela foi-me buscalhe ao ballet e t’ouxe-me às comp’as!

- E onde é que ela está?

- Ah… - a sua cabeça rodou levemente buscando em todas as direcções um sinal da presença maternal que a levasse a distinguir Joana por entre todas as pessoas que se encontravam naquele espaço, para depois vê-la erguer o pequeno indicador numa linha recta e inquebrável no ar – … alhi!

O meu mundo parou. Parou de girar sobre si mesmo para começar a girar em torno dela, evidenciando-a, tornando-a no meu ponto fulcral… no meu centro.
Apercebi-me então que mesmo antes de a olharmos ela já nos observava, talvez apreensiva, um quanto hesitante, diria também. Quis esboçar um sorriso por tê-la ali novamente tão perto e num espaço quase redutível de tempo, mas este apressou-se a desvanecer-se por si mesmo, quando a vi tomar uma atitude e rumar até nós, numa expressão no rosto difícil de decifrar.

- Oh Sofia, o que é que te passou pela cabeça para desapareceres daquela maneira? – inquiriu-a assim que chegou junto a nós, deixando denotar em si, um visível estado de preocupação – Desculpa, Ruben… Olá! – finalmente vi o seu olhar assentar-se no meu, cumprimentando-me numa muito breve troca de palavras, que eu lhe adivinhei saírem forçadas

- Olá… – tentando ser o mais agradável possível, ainda arrisquei esboçar-lhe um sorriso, mas a situação por si só, não mo permitiu

- Não devias ter saído de ao pé de mim…

- Sais-te de ao pé da madrinha sem lhe dizeres nada? – desta vez as minhas palavras foram dirigidas ao pequeno ser que ainda ocupava os meus braços, numa maneira de conseguir perceber o que se havia passado

- Shim… Eu vi-te aqui sozinho e pensei que não havia problema… - revelou numa voz esmorecedora de fatídico arrependimento, quando o seu olhar descaiu sobre os seus pequenos dedos que tinham começado então uma dança frenética de um nervoso miudinho

- Pregaste-me um grande susto… Imagina que te tivesse acontecido alguma coisa? – o tom de voz de Joana tornou-se mais benevolente bem como o desassossego que começou levemente a libertar-se das suas expressões até à altura contraídas

- Sofia, sabes que o que fizeste foi muito feio, não sabes?

- Shei, e julho que estou muito arrependida…

- Então como uma menina crescidinha que és, pede desculpa à mami…

- Desculpa, mami! – no jeito ainda desajeitado de uma criança, Sofia copiou-me imediatamente as palavras, portadoras da sinceridade mais verdadeira do mundo

- Vem cá, piolha… - com toda a delicadeza que eu sabia desde sempre ela portar, Joana tirou-a dos meus braços e remontou-a no seu colo de forma a selar aquele tumulto – Nunca mais voltes a fazer uma coisa dessas, está bem? Fiquei muito preocupada contigo.

- Desculpa, mami… Não volta a acontecelhe.

Vi a Sofia abraçá-la fortemente, de braços voltados no pescoço e esse abraço foi retribuído exactamente da mesma forma, acompanhado por uma pequena brincadeira de narizes a chocalharem um no outro, com discretas mas deliciosas gargalhadas à mistura.
Tornei-me um mero espectador do cenário incrivelmente encantador que se prostrava bem na frente dos meus olhos, e foi num curto intervalo de tempo, que pude redescobrir todas as razões que um dia me levaram a ter certezas, de que a Joana seria a melhor mãe para os meus filhos.

- Vamos então embora?

- Papi, nós vamos comer um crepe… Não queles vir connosco?

- Sofia, o teu padrinho já deve ter compromissos… - senti um certo afastamento naquelas palavras, um afastamento que não consegui entender face à noite anterior, mas ainda assim resolvi impor-lhe a minha presença, queria saber até onde tudo aquilo nos poderia levar

- Não, por acaso não tenho nada de importante para fazer… Posso ir com vocês se não se importarem…

- Claro que não nos importamos, pois não, mami?

- Não… É claro que não! – ela olhou-me nos olhos pela primeira vez desde que chegou, no entanto com um mero impasse entre as palavras que notei de imediato



***



- Ora aqui estão… – anunciei com um sorriso na cara, assim que cheguei com um tabuleiro abastecido por três crepes e bebidas, junto da mesa redonda onde elas me esperavam

- Obrigada! – agradeceu-me Joana, logo que me sentei à sua frente e ao lado de Sofia, que aguardava impacientemente pela sua guloseima do dia

- Quelho p’ovar do teu, papi… - pedinchou, enquanto olhava o crepe de menta que havia solicitado pra mim

- Mas tu não gosta de mentol, filhota…

- Isho era dantes… Agolha já gosto! Dá-me só um bocadinho… - cedi perante tanta insistência, cortei-lhe um pedacinho e levei-lho à boca, que no mesmo instante em que o degustou, provou de um pequeno dissabor

- Então, é bom? – contive-me para não gargalhar na sua frente, vendo-a fazer uma careta engraçadamente desaprovadora, face ao desagrado que havia sentido

- Queres deitar fora, amor? – Joana apressou-se a oferecer-lhe um lenço de papel, que Sofia soube usar como um recurso necessário

- Penshei que fosse melhor… - disse ela com o seu narizinho empinado, tentando não se desfazer das suas próprias palavras para não perder assim a razão

- Pensaste, pensaste, sua espertinha… Ninguém te manda seres uma gulosa! – a minha mão foi ao encontro da sua barriga onde não ofereceu resistência a suaves cócegas que serviram para a fazer gargalhar num jeito delicioso de se ouvir, e para logo de seguida os meus lábios lhe beijarem a face com todo o carinho que suportava por ela – Deixa ver, que eu corto o teu… 

Comemos calmamente, sem grandes conversas, é verdade, mas também não nos deixámos cair no silêncio total. O facto é que me soube bem, soube-me muito bem ter aquele cenário a marcar o final de uma tarde de Verão. Já tinha saudades de estar assim… só com elas, e inevitavelmente aquele momento fez-me recordar dos bons tempos que tinham ficado lá atrás, no passado.

- Então e… Pra que cidade vais estagiar? – gelei ao ouvir aquela pergunta logo vinda dela, não sabia ao certo o que lhe responder, mas as hipóteses não eram muitas

- São Francisco… - respondi com a maior normalidade que consegui, não abonando grande importância ao assunto e cravando o olhar no prato, onde continuei a dar uso à faca para cortar mais um pedaço do meu crepe 

- São… Francisco…? – pela entoação surpresa e simultaneamente compassada, apercebi-me que talvez estivesse com receio que num destes próximos dias até nos pudéssemos vir a cruzar, mas  São Francisco era uma cidade guarnecida por dezenas de hotéis e centros de estágio, e depararmo-nos durante esse tempo um com outro por uma mera eventualidade, era algo que com toda a certeza não ira acontecer – Em que zona?

- Ah… Isso já não sei bem…

Aquele assunto findou-se por ali mesmo, sem nenhum de nós ter coragem de voltar a pegar-lhe.
Olhares retrucados seguiram-se. Joana acabou por me apanhar umas quantas vezes a olha-la e o mesmo acontecia comigo, que discretamente de quando a quando, altiva o queixo e rodava ligeiramente a cabeça apenas para varrer o espaço que nos envolvia com um curto mirar, e apanhava-a de realce a olhar-me… a olhar-me num jeito de ser que só ela sabe, que só ela tem.
E mesmo tentando afastar esse facto, começava a tornar-se desproporcional a maneira como, de certa forma, me voltava a sentir atraído por ela.

- O que foi? – perguntou-me com um pequeno sorriso tímido que lhe alumiou o olhar claro, assim que deu comigo a olhá-la fixamente

- Nada, não foi nada… - desmenti, tentando reter a nascente de gargalhadas

- Estás a rir-te na minha cara e dizes que não é nada?

- É que tens aí, ah… - fiz-lhe um comedido sinal que lhe passou despercebido e não sei como nem porquê, não consegui conter-me por mais tempo, estiquei o braço e fiz com que a minha mão voasse até ao seu rosto onde o polegar acabou por assentar nos seus lábios

Senti-a estremecer por instinto ao delinear-lhe os lábios pausadamente com o polegar. Há muito que não tomava partido de um toque tão próximo, tão ousado da minha parte e isso acabou por se reflectir num êxtase que se começou a despoletar em mim, fazendo com que o meu coração batesse mais forte.
Continuei, lentamente… Passei primeiro sobre o lábio superior, fiz o contorno e acabei retido no inferior. Ela olhava-me sem saber o que dizer nem o que fazer tão pouco, sabia que a tinha nas minhas mãos e que não iria conseguir tomar uma reacção por vontade própria.
Sorri-lhe, tentando provar-lhe de alguma maneira que a minha atitude não era adjacente a segundas intensões, e no fundo acho que ela percebeu.
Os seus lábios continuavam macios, cálidos como tão bem os conhecera e sobretudo apetecíveis, talvez mais apetecíveis do que nunca…

- Tinhas aí um pouco de canela… – desculpei-me ao cessar com aquele contacto, que de uma maneira estranha, começava a tomar outra forma sobre mim

Joana não disse nada, limitou-se a baixar a guarda do olhar, provavelmente para esconder a vergonha e o constrangimento que mesmo sem intensão, eu tinha causado entre nós.

- Papi, quelo colhinho… - foi a vozinha ensonada Sofia que quebrou o clima regelado que aos poucos se começara a formar entre nós, vi-a esticar os bracitos na minha direcção e não pensei sequer duas vezes em tomá-la novamente no conforto que os meus braços tinham para lhe oferecer

- Estás com soninho, não estás?

- Um bocadinho… – revelou num tom mais afadigado aquando acomodava o seu corpo numa postura mais aconchegada entre o meu colo, e procurando o meu peito para tomar como pousio de almofada

- Ela ainda não dormiu nada esta tarde, pois não?

- Não. Depois de a ter ido buscar ao ballet, viemos logo pra’qui…

- Está quase a pegar no sono… - denotei, com um sorriso cravado nos lábios que não conseguia tirar de maneira nenhuma enquanto olhava a figura passiva embalada nos meus braços, e suavemente para não a perturbar, desviei-lhe a franja que lhe decaía sobre as pálpebras fechadas

- Está cansadinha… - disse com um sorriso perfeitamente belo nos lábios, ao pousar os braços cruzados sobre a mesa, de forma a observar melhor a sossega que se havia apoderado do corpo adormentado da nossa afilhada – Tão pequenina e… tão frágil…

Depois disto, as palavras tornaram-se fenecíeis. Eu já não sabia o que mais havia para ser dito, e a Joana também não voltou a tomar posição para se pronunciar. Deixamo-nos então cair mais num silêncio tenebroso que nos roubou a coragem de nos continuarmos a olhar nos olhos, e por isso mesmo optamos por continuar a fitar Sofia, que já envolta numa respiração penetrante e aura levitada, se deixara embrenhar nas tramas de um sono puramente profundo e apaziguo.

- Sabes, ela sentiu a tua falta enquanto estiveste este tempo todo fora… – desabafei contundentemente, continuando a focar a pequena adormecida nos meus braços – … precisou muito de ti.

- Eu não acredito que estás novamente a fazer isto… - ciciou num sussurro decepcionado, desviando e mantendo o rosto bem longe do meu alcance – Voltamos ao mesmo, Ruben?

- Voltamos ao mesmo…? O que é que eu fiz? – perguntei com estranheza, procurando por uma explicação que eu não estava a conseguir atingir

- Já estás a arranjar fundamentos para começarmos a discutir, como de todas as outras vezes!

- O quê? Não, não é nada disso, Joana… - respondi-lhe calmamente, tomando o cuidado, tanto eu como ela, de mantermos um tom pacífico e controlado de modo a não acordar Sofia nem chamar a atenção de todos aqueles que nos rodeavam

- Eu não quero discutir, Ruben… Não quero voltar a discutir contigo, muito menos quando o assunto é o mesmo de sempre! Não quero…

- Ei, eu também não quero discutir… - falei-lhe com toda a sinceridade e o mais serenamente que consegui, tentando acalmar-lhe o coração desassossegado, por tê-la feito crer que estava a fazer ressurgir de novo, o conflito que entre nós nunca chegara a ser esclarecido

- Não queres? – aquela sua expressão de desalento que também se transferiu para a voz, entristeceu-me, no momento em que me voltou a olhar

- Não, não quero… Não quero continuar a alimentar uma guerra que não nos levará a lado nenhum! Nem continuar a alimentar o rancor e a mágoa que restou… Acabaram-se as discussões entre nós, acabou… – num acto meramente simplista mas necessário, a minha mão procurou a dela e foi sobre a mesa que, ao encontrá-la, tive a coragem de a enlaçar na minha, dando-lhe um ligeiro aperto – Acabou, Joana…

Assim ficámos nós… Sem mais justificações para dar, nem mais nada para temermos… As nossas mãos, unidas, falaram por si. A verdade é que eu não a queria soltar, não a queria deixar ir, pois se isso acontecesse não voltaria a ter certezas de a poder voltar a tocar.
Não sei dizer ao certo quanto tempo as nossas mãos estiveram unidas, acometendo-nos àquele toque tão abrasado mas suave ao mesmo tempo, mantendo-nos completamente perdidos no olhar um do outro, talvez da mesma maneira como se nos tivéssemos acabado de conhecer…

- Ah… Acho, acho que é melhor irmos andando… - mansamente, senti a sua mão escapulir-se da minha, acabando por deslizar sobre a mesa – Já se está a fazer tarde e ainda tenho que ir levar a Sofia a casa…

- Então eu vou com vocês! – impus-me de rompante, esperando poder acompanha-las até onde pudesse – Estás de carro?

- Sim, estou, mas não precisas… Se ainda quiseres ficar, não te condiciones por nossa causa!

- Não, também já não tenho mais nada pra fazer aqui… Desço com vocês às garagens e deixo logo a Sofia no teu carro… Assim escusamos de a acordar. – disse calmamente, sabendo que seria o argumento mais coerente que poderia dar, para passarmos mais tempo juntos

Felizmente que ela cedeu. Levantámo-nos e depois de amanhar ainda melhor Sofia nos meus braços, tendo sempre o cuidado de não a acordar, caminhámos passivamente ao lado um do outro, até ao elevador nos levar ao piso pretendido.


***


- É este… - disse, logo que chegámos junto do carro, indicando-mo

- Podes destrancá-lo, então?

- Ah, claro… desculpa!

Vi-a a erguer as chaves de modo a destrancar o carro, e ainda com Sofia entregue a um sono passivo no meu colo, dirigi-me às portas traseiras, abrindo aquela que se mantinha mais próxima à sua cadeirinha.
Sentei-a com todo o cuidado e fui quando já lhe laçava o corpo com o cinto de segurança da cadeira, que fui surpreendido por ela.

- Ru…? – a sua vozinha sonolenta quebrou a quietude que nos rodeava, elevando a sua pequena mão em punho cerrado, de maneira esfregar os olhos semicerrados, para poder assim aclarar  a sua visão sob o mundo real do qual voltara a fazer parte

- Oi, filhota… – proferi num tom sussurrante, desatando um lugar suficientemente espaçoso nos meus lábios, para lhe sorrir abertamente – Pensava que estavas a dormir…

- Já acordei… A mad’inha? – perguntou, procurando em alguma direcção por um sinal dela

- A madrinha está ali fora… Já te vai levar a casa, está bem?

- Oh, já? – foi perfeitamente notável o tom desvanecido que lhe condutou a voz ainda ensonada

- Tem que ser, piolhita… - a polpa do meu indicador embateu levemente contra a pontinha do seu nariz, e uma pequena gargalhada despoletou-se automaticamente da sua boca

- Gostei muito, papi… - via desabafar num suspiro saciado e totalmente preenchido pela satisfação

- Do quê, minorca?

- Da nossa tarde… De ‘tar contigo e com a mami!

- Eu também gostei…

- E shabes do que gostei mais? – avançou logo com a resposta, depois de lhe ter feito um breve sinal com a cabeça – De ver que vocês já num ralham mai’ um com o ot’o… Gostei da maneira como se olharam o tempo todo e dos sorrisos que trocaram, quando ficavam enve’gonhados…

- Andas a aprender muito depressa, tu… - insinuei, fazendo os meus dedos rodopiarem na sua barriga

- Só tô a dizelhe o que qualquer peshoa achava, se vos tivesse visto! – garantiu numa certeza puramente engraçada

Inclinei ligeiramente a cabeça e sorri num franco sinal de cedência ao seu discurso… Parecia inacreditável como uma miudinha como ela, que tinha idade até para ser minha filha, tinha a tão rápida capacidade de me deixar sem palavras, mas o que é certo e que todos ouvimos por aí, é que as crianças dizem sempre a verdade, e talvez este caso, não fosse excepção.

- Ela é linda… – foi ela que mais uma vez tomou ordem do diálogo, olhando Joana pelo vidro do para-brisas, e eu segui-lhe a trajectória do olhar

- Eu sei… – certifiquei, partilhando com ela a certeza de toda a beleza que uniformizavam o corpo e pose daquela mulher que eu voltara a conhecer

- Posho fazer-te uma pe’gunta?

- Podes, minorca…

- Tu gostas da mami, num gostas? – ela foi clara e muito expressiva em cada palavra, o que me deu viso prévio de que a minha resposta nada mais teria do que ser-lhe dada com toda a sinceridade que tinha

- Gosto, Sofia… Gosto muito dela! – declarei por fim, olhando-a bem no fundo dos olhos de maneira a que a fizesse entender que lhe estava a desvendar o segredo do meu coração… ainda hesitei por momentos, mas também acabei por lhe fazer uma pergunta sem resposta, que já há muito trazia comigo – E… Achas que ela também gosta de mim?

- Eu num acho… Eu tenho a ce’teza! – sorriu-me no seu jeito característico de menina meiga que aprendera ser, enquanto segurava o meu rosto entre as suas mãozinhas e não resisti em afagar-lhe a bochecha numa suave carícia

- Vá, agora a ver se voltas a dormir, está bem?

- Shim, mas dá-me um beijinho p’imeiro… Antes de ires embolha… – os meus lábios repenicaram o seu rosto num só instante e o mesmo gesto foi repetido por ela – Adoro-te, papi! – anunciou num múrmuro esvoaçante, enquanto mantinha o meu pescoço amarrado fortemente pelos seus braços

- Eu também te adoro, minorca… Eu também! – dei-lhe um último beijo, desta vez na testa, e depois de confirmar que estava bem e que não precisava de mais nada, voltei a fechar a porta do carro e aproximei-me de Joana, que se mantivera ligeiramente afastada, durante o tempo que eu estivera com Sofia 




***



(Joana)

Assim que o Ruben abriu a porta do meu carro para colocar Sofia na cadeirinha, deixei-me permanecer um quanto irradiada deles. Apercebi-me então que ela deveria ter acordado e ele nada mais fizera do que partilhar com ela uma troca de palavras que julgara meigas, e quando eu, aprisionada nos meus mais remotos pensamentos, fui obrigada a despertar-me no momento em que ouvi o fechar da porta, e de mãos recolhidas nos bolsos traseiros dos seus calções o vi aproximar-se a mim com o sorriso perfeito nos lábios que durante toda a tarde se impusera a manter.

- Já acordou? – inquiri-o sumidamente, um pouco depois de chegar junto a mim

- Sim, mas ainda está cansadita… Durante a viagem já volta a pegar no sono!

- Ah… Obrigada por esta tarde! – senti-me na obrigação de agradecer, pois desde que me lembre, nunca me voltara a sentir tão bem… tão preenchida como naquela tarde

- Eu é que tenho que te agradecer… Já tinha saudades de nós os três… Juntos!

- É… Talvez estivéssemos todos a precisar disto! – um sorriso padeceu circunstancialmente em meus lábios, e por momentos quase que pude sentir a vontade que os olhos dele demonstraram, em tocá-lo

- Sim, nem mais! – apercebi-me então que a conversa se findara por ali, e antes que nos deixássemos cair novamente no constrangimento que estranhamente se apoderava de nós de cada vez que não tínhamos nada para dizer, impus-me a confrontá-lo com uma pergunta que já por diversas vezes me tirara o sono

- Ruben… O que é isto? Afinal de contas, o que é que nós somos? – perguntei num rasgo de insegurança imponderada, tentado de uma vez por todas definhar, aquilo que ainda parecia manter-nos ligados

- O que é que nós somos? – o sorriso canonicamente irónico que me lançou, fez-me adivinhar que iria levar aquele assunto para caminhos menos sérios, e que de alguma maneira propositada ele insistiu em fugir ao tema – Não sei… Talvez, duas pessoas a conversarem…?

- Vá lá, estou a falar a sério… No meio disto tudo e depois de tudo, o que é que nós somos, aqui e agora, para além de duas pessoas a conversar?

- Somos… dois amigos?

- Amigos? – não pude deixar de sentir uma acutilada despedaçar todas as esperanças que em mim ainda restavam… “amigos”, também era assim tão mau quanto isso, não é? Pelo menos já podemos dar nome próprio à nossa relação que até à altura se encontrava indefinida – Era exactamente aí que eu queria chegar… Amigos!

- Concordas comigo, certo? É que depois de tudo o que passámos, acho que não faz qualquer sentido comportarmo-nos apenas como dois conhecidos, quando já fomos muito mais do que isso… – um sorriso complacente foi surgindo gradualmente no meio do seu esclarecimento, no qual se esforçou por encontrar um meio-termo que nos levasse ao equilíbrio de uma conformidade

- Sim, claro… Além de que temos a Sofia, e mais do que ninguém ela precisa que haja estabilidade entre nós e merece ver-nos unidos! – tentei disfarçar ao máximo toda a inquietação vivida dentro do meu peito, e mesmo sem darmos conta, lá estávamos nós mais uma vez… entregues às malhas da mudez

- Bem, então eu vou andando… Faz boa viagem!

- Obrigada, tu também… – desejei, nunca uma despedida nossa havia sido tão impessoal como aquela, mas depois daquela conversa nada podíamos fazer para mudar isso mesmo

Cada uma de nós seguiu direcções opostas ainda que muito escassamente. Sabia que o carro dele não estava muito longe do meu, pois num olhar de realce já o tinha visto algures, mas foi um mero esquecimento que nos ultrapassou por completo, que fez com que os nossos caminhos se voltassem a cruzar… mais cedo do que era esperado.

- Ruben? Espera… Ruben! - a minha voz impulsivamente altiva, ecoou em radar nas garagens, mas não movi mais um único músculo que fosse… permaneci exatamente na posição com que imobilizara o meu corpo, e deixei que fosse ele a vir ter comigo – O teu sushi… - ergui levemente o saco com a sua encomenda, que eu me oferecera a trazer-lhe, quando ele transportou Sofia ao colo

- Esqueci-me completamente… – vi-o tomar o passo na minha direcção, enquanto que acompanhado de um leve sorriso contrafeito, fazia os seus dedos agitarem desajeitadamente os cabelos da nuca

- Pois, deu pra ver que sim… – gargalhei levemente, tomando controlo da pequena brincadeira que eu mesma tinha começado – Mas se quiseres, eu posso ficar com ele!

- Se quiseres, podes vir jantar comigo! – propôs, logo que travou a passada bem junto do meu corpo, sem sequer ter tempo suficiente para pensar duas vezes – Se os teus gostos não mudaram, sei que adoras sushi, e há que chegue para os dois… - foi naquele momento que eu passara de predador a presa, na minha própria brincadeira que estava agora nas mãos dele

- Ruben, eu estava a brincar… – elucidei, fazendo desvanecer o meu sorriso troçado

- Mas eu não! – disse, parecendo incrivelmente convicto e não oferecendo qualquer resistência a um cedimento

- Se fazes assim tanta questão, o sushi pode ficar pra outro dia… Não te esqueças que ainda tenho que ir levar a Sofia a casa e apanhar o avião!

- Sim, eu sei… Mas olha que eu vou cobrar esse jantar, e podes ter a certeza de que não me vou esquecer! 

- Pronto, tudo bem! – sem mais ripostar, rendi-me às fortes veracidades que Ruben persistia em manter, em prol da sua vontade  – Quando voltarmos a Portugal, logo vê-mos isso! – anunciei, entregando-lhe o saco do jantar de encomenda, deixando que um sorriso nervoso me dominasse por completo

- Obrigado! – gracejou meigamente ao receber o saco em mãos

Suspirei discretamente e dei ordem aos meus calcanhares para rodaram levemente sobre os saltos. Comecei a implantar então curtas passadas sobre o pavimento na direcção do meu carro, mas sentia que alguma coisa as obstruía, que me impedia de continuar a avançar… talvez algo que deixara para trás, algo que deixara por fazer…

“Sua cobarde, o que é que estás a fazer? Volta atrás… Vai lá e despede-te dele… Vai!” – ordenava por pensamentos a mim mesma, movimentos aos quais o meu corpo não queria obedecer 

- Joana! – a sua voz… oh meu Deus, a voz  dele fez-me fraquejar, fez-me sentir vencida, mas felizmente que isso não foi o suficiente para me fazer parar – Joana, espera… – ele voltou a insistir, e pela minha percepção fiquei com a certeza de que vinha atrás de mim e isso acabou mesmo por se confirmar, quando senti o toque dele na minha mão obrigando-me a cessar definitivamente o passo… obrigando-me a deter na frente do seu corpo

- Ruben… - clamei o seu nome num sussurro oscilante, sem ter descaro de o fixar… talvez por medo ou talvez por vergonha do meu acto de cobardia

- Ias-te embora assim… sem te despedires de mim? – ainda sem me soltar a mão, fez com que me despisse do temor e o olhasse… ali, com os seus olhos bem em cima dos meus – Não tinha direito nem a um “tchauzinho”? – o tom  mimado que empregou, fez referencia a uma feição cómica já muito própria de si e não pude evitar uma pequenina gargalhada que se soltou da minha boca, quase sem eu dar conta

- Desculpa…

- Agora que até nos vamos deixar de ver por uns tempos, podíamos despedir-nos em condições… Como amigos que somos, não achas?

- Sim, tens razão! – concordei, disposta a compactuar com ele numa despedia agora modesta pela relação arredada que mantínhamos, mas que ambos merecíamos

Não sei dizer o que me passou pela cabeça para o fazer, e também não sei se posso dizer que foi algo impensado, porque o certo é que já há muito o queria fazer, e a verdade é o que o fiz, contra toda a lógica e razão. Deixei cair a mala, que até à altura segurava na mão, até tombar juntos dos meus pés e sem qualquer pressa ou urgência anulei toda a escassa distância que ainda nos separava. Ainda que fosse impossível, fiz um esforço para que os meus braços contornassem na totalidade o seu tronco e encostei a cabeça no seu peito. Queria muito voltar a ter o meu mundo novamente nos meus braços e voltar a sentir o seu coração a bater… Não sei por quem, mas naquela curta instância em que os nossos corpos se mantiveram em contacto, rezei muito que fosse por mim. Sei também que ficou surpreendido pela atitude que eu tomara, pois os seus músculos estavam tão tensos, que nem conseguiu tomar posição para corresponder àquele abraço.

- O qu… O que foi isto? – perquiriu quando o libertei da minha alçada, ameaçando mostrar-me um sorriso embelecido, que acabou por surgir muito tenuemente

- Ah… Um abraço de amizade…? – articulei numa resposta que também podia ser entendida como uma pergunta meio tonta, a qual nem tivera tempo de reformular

- Ai sim? – vi o seu sobreolho arquear-se numa prepotência falsamente desdenhosa, bem como todas as suas feições que se contraíram num só movimento, que calculei que fossem antecedentes a um momento de risota da sua parte, mas graças a Deus que ele me poupou a mais essa vergonha – Então deves ter a noção que me deixaste em dívida para contigo… É a minha vez de retribuir, e vou querer outro!

- Hum, é melhor não… Não quero que fiques demasiado convencido! – ripostei, torcendo ligeiramente o nariz que foi acompanhado pela boca, num gesto muito natural meu

- Oh, não sejas parvinha… Vem cá!

Bastou um puxão implantado na zona do antebraço para me tomar como sua. Os nossos corpos embateram pela segunda vez num choque estranhamente agradável, mas que rapidamente me cortou a linha de raciocínio. Domado por uma força bruta que lhe desconhecia totalmente, envolveu-me nos seus braços fortes e torneados pelas horas intensivas de treino, apertando-me contra si, sem me dar qualquer hipótese de fuga. Fuga? Para quê pensar nisso se o que mais queria era estar ali com ele?
Rendi-me… era inevitável não o ter feito. Elevei os braços e pousei-os nos seus trapézios modelados, enlaçando-os em torno do pescoço. Pela primeira vez senti-o mais descontraído… Os seus músculos dilataram-se e ele relaxou. Ainda assim sem deixar de se manter empenhado a apertar-me contra si, como se novamente as inseguranças de o poder voltar a deixar, o tivessem voltado a assombrar.
O seu rosto escondeu-se entre o meu ombro e pescoço e num momento fracionário, fui impiedosamente atingida por um calafrio que me arreganhou toda a pele, logo que um arrepio me ascendeu a espinha por acção da respiração folgante dele, que tabelava contra a pele despida do meu peito.
Era o nosso momento de rendição que eu teria que aproveitar de qualquer maneira, pois não sabia quanto mais iria durar… Fechei tranquilamente os olhos e fiz com que a minha mão lhe despenteasse o cabelo, assim que os meus dedos lhe deslizaram lentamente pela nuca.
Aquele abraço estava a tornar-se então num gesto demasiadamente demorado e intimista, mas como era Ruben que o dominava por completo e não tomava uma atitude para lhe colocar termo, também eu não me senti em posição de o fazer.
Todo o meu corpo tremeu nos seus braços – e sei que ele sentiu isso mesmo – quando tomou a ousadia de erguer o rosto e deslizar com ele e com aquela sua barba de meramente dois duas, na minha face, fazendo-me irremediavelmente estremecer de cima a baixo.

- Que saudades do teu cheiro… – segredou-me, mantendo os lábios bastante próximos ao meu ouvido, tanto que pude senti-los a gesticular cada palavra

Não lhe disse nada, apenas me limitei a guardar a felicidade para mim mesma, exibindo um largo sorriso que me preocupei em manter longe do seu alcance.
O rosto de Ruben voltou a descer e num ápice incalculável, pude sentir um toque extremamente quente e húmido, repenicar a pele gélida do meu pescoço. As minhas pernas perderam as forças e cambalearam naquele momento, sorte a minha de ainda o ter a agarrar-me. Calculei de imediato que tivessem sido os seus lábios os culpados por me roubarem um beijo no corpo, e ainda pus a hipótese de me afastar para comprovar isso mesmo, mas optei por não fazê-lo… Não queria desiludir-me caso aquela sensação tivesse sido apenas um fruto criado pela minha traiçoeira imaginação.

- Sabias que este foi o abraço mais longo que dei em toda a minha vida? – falei momentos depois de nos termos separado, muito suavemente

- E o melhor também… Espero eu. - ripostou, adornando o rosto com mais um dos seus sorrisos sacanas e simultaneamente brincalhões

- Sem dúvida que foi!

- Bem, pelo menos por este factor, sei que vou ficar marcado na tua vida!

- Já estás marcado na minha vida por tantos factores, Ruben… - disse em desabafo, deixando pender ligeiramente a cabeça para o lado enquanto o mirava, equacionando depois, os inconvenientes que poderia vir a sofrer por fazer ressuscitar aquele assunto entre nós

- Quais? – inquiriu de repentina, talvez numa forma de me pôr à prova

- Quais?! Vais obrigar-me a dizê-los?

- Se for preciso até vou… Mas vais dizer-me aqui, bem no meu ouvido!

- Ainda por cima és exigente… - soltei uma gargalhada breve apenas para o espicaçar – Está bem, está… - continuei, fazendo uma pequena simulação de virar costas e ir-me embora, mas ele travou imediatamente essa minha ideia quando me puxou de volta para si

- O que é que te custa? – num gesto quase a medo, desviou uma madeixa vinculadamente comprida do meu cabelo que me pendia na face, de maneira a desarmar o meu olhar

- Para que queres saber? Sabes perfeitamente o que significaste para mim!

- Pois sei, mas nunca mo disseste por palavras… Entretanto foste-te embora e sei lá, sinto que ficaram tantas coisas por dizer entre nós… - os seus braços voltaram a rodear as minhas ancas e mais uma vez ele tomou o controlo sobre a situação, não me deixando qualquer forma de escape

Fui eu que mansamente encostei os nossos corpos, ele agachou-se superficialmente como fizera há pouco para me abraçar, e para que assim eu pudesse tomar alcance do seu ouvido, quando os meus braços penderam novamente sobre o seu pescoço.

- Foste o amor da minha vida, Ruben, o meu único grande amor… - ao fim de controlar a respiração que se mostrava ofegante demais junto dele, tomei o alento necessário para dar então início ao discurso mais doloroso de pronunciar, principalmente ditá-lo para a pessoa que era e à qual voltara a entregar o meu coração – Foi a ti que me entreguei de corpo e alma, foi a ti quem eu amei sem reservas e foste tu o homem que fez de mim a mulher que ainda sou hoje…

- Pelos visto não foi suficientemente homem para te manter na minha vida… Em alguma coisa devo ter falhado! - declarou num invólucro de culpa, arrastado pelo sussurro inebriantemente tenebroso aquando os nossos rostos se voltaram a deparar

 - Foste homem suficiente para me amares e fazeres de mim a pessoa mais feliz e realizada do mundo inteiro! Entende que apenas… Que apenas não estávamos destinados a continuar a viver desse amor. – senti um véu turvo a embeber-me os olhos, provavelmente seriam lágrimas a quererem ameaçar, mas impus-me em retê-las… não poderia deixar ir-me abaixo, não na frente dele

- Foi bom enquanto durou, não foi? – o toque da sua palma da mão na minha face esquerda foi o suficiente para me queimar a pele, e as suas palavras o suficiente para me derreterem o coração

- Foi maravilhoso enquanto durou! – rectifiquei, na certeza eminente e jamais olvidada, de ter partilhado com ele os melhores momentos que poderia ter vivido, em redor de uma paixão e um amor avassalador, que nos havia consumido

- Obrigado… Era o que eu precisava de saber! – declarou num tom encovado, libertando-me cuidadosamente da supremacia dos seus braços, que me abonavam um calor e tranquilidade extremamente reconfortantes

- Bem, agora tenho mesmo de ir… – num suave movimento sobrepus o meu queixo ao ombro e olhei a minha doce afilhada, que pelo vidro da janela do carro, nos observava atentamente – A Sofia está à minha espera!

- Achas que se dissermos outra vez “Vemo-nos por aí”, nos voltamos a encontrar mais cedo do que esperamos?

- Não sei… Mas acho que isso já seria abusar da sorte! – pela primeira vez depois do nosso ‘curto momento de sinceridade’, fiz com que um sorriso ligeiro sobreluzisse na boca de ambos

- Já aconteceu uma vez… Quem nos garante que não volta a acontecer? – a sua sobrancelha arqueou-se numa curvatura perfeita, perscrutando uma nova reacção minha – Acho que vou arriscar! – garantiu, num piscar de olho promissor

- Até depois, Ruben… - consegui despedir-me com a maior simplicidade que consegui, mas fui altamente surpreendida por um beijo seu na minha testa que se prolongou bem mais tempo do que eu pensava, enquanto mantinha o meu rosto bem seguro pelas suas duas mãos grandes e reconfortantemente cálidas

- Fica bem! – desejou, oferecendo-me mais um daqueles seus sorrisos imensamente belos aos quais eu nunca conseguira ficar indiferente… virei costas e comecei a caminhar na direcção contrária à dele pronta a sair dali finalmente, mas a sua voz mais uma vez invocada, voltou adiar esse feito – Quero dizer-te só mais uma coisa, Joana… - iniciou, mostrando-me uma pose muito segura e olhar deslindado

- Sim, diz… – detive-me junto do meu carro e logo que abri a porta, disposta a ouvi-lo

- Um dia a nossa história começou, para nunca mais acabar!

Nunca uma conjugação de palavras me causara tanto pranto entre um rebuliço de pensamentos dispersos, como aquela.
Ele não dissera rigorosamente mais nada, limitou-se a resguardar as duas mãos nos bolsos, baixar o olhar e afastar-se em largas passadas onde terá desaparecido da minha vista por entre os outros carros. Permaneci estática por momentos, tentando dar uma ordem e significado ao que acabara de ouvir, sem claro, me deixar induzir por ilusões que me poderiam levar a nada. Acabei por entrar também no meu carro e logo que dei um jeitinho no retrovisor, vi que a minha pequena se deixara levar novamente nas malhas do seu cansaço ameninado. Encaixei os óculos de sol na cana do nariz e suspirei… Tinha sido um dia longo e pelos meus pressentimentos, ainda se encontrava longe de terminar. Ouvi um ruído que ecoou por toda a garagem, algo que me soou característico à derrapagem de pneus naquele tipo de pavimento, para pouco depois ver Ruben passar à minha frente com o seu carro, numa rápida fracção de segundos que deixou o meu coração a bater mais forte… somente por ele e para ele. 







Antes de mais quero pedir-vos desculpa pela enorme demora na publicação de um novo capítulo, mas com a recta final das aulas foi-me impossível fazê-lo mais cedo!
Contudo, e agora com as férias, espero ter o tempo necessário para me entregar à escrita e postar com mais assiduidade, mantendo este cantinho actualizado! 
Deixo-vos então um novo capítulo, que espero que gostem e comentem :)
Beijinhos,
Joana 

  

13 comentários:

  1. Como cumpro sempre o que digo lool passei por aqui para deixar neste cantinho tudo o que já te disse quando mostraste o capítulo... :)

    Adorei, esta aproximação deles está a deixar-me curiosa :P sabes bem aquilo que quero por isso bandeira-te a escrever...

    Esta afilhada deles... tem cá um dedinho de advinha vai lá vai lool, uma "fedelha" tão pequenina e armada em cupido LOL

    Opa já sabes que gostei... tb sabes que quero mais... por isso... já sabes o que tens a fazer :P

    Beijocas

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  2. Fantastico continua.bjs

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  3. ai as saudades que já tinha de ler um capitulo teu, é sempre tao bom e sabe sempre a pouco quando o acabo de ler!!!

    está fantastico, cada vez mais fico viciada nesta história e feliz por saber que agora, depois dos malditos exames e aulas acabaram, já podes de dedicar mais tempo aqui!!

    aguardo o proximo, nao demores muito!!

    beijinhos linda :)

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  4. ESTÁ LINDO! A sério, uma pessoa até fica parva a ler estes capitulos de tão perfeitos qe são *.*
    "Vocês os c’escidos é que têm a mania de estar semp’e a complicalhe tudo!" a pequena é qe tem razão, só complicamos! E estes dois têm é de se descomplicar, esta conversinha na garagem já foi boa :p e aqelas ultimas palavras do Ru, ai minha nossa ahah
    Espero pelo próximo!
    Beijinhoos

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  5. Lindo lindo lindo .. *.*
    E mais não consigo dizer .. :)
    Fico a espera do próximo linda ..

    Beijinho
    Diidii

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  6. " Um dia a nossa história começou, para nunca mais acabar!"

    Até a mim me tocou esta frase!! xD

    continua

    bjs

    P.s. quero o proximo rapido, sim??

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  7. AMEI *.*
    Parabéns mais uma vez, escreves muito bem :)
    CONTINUA!
    beijinhos

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  8. vou-te ser sincera, eu adoro esta história está muito criativa e o ponto onde lhe pegaste foi muito bem pensado. Não é como outras histórias que começa antes dos protagonistas se conhecerem ou mesmo quando se conhecem e isso torna-a muito interessante. Outra das razões que me fazem ler esta fic é a maneira como escreves, eu na minha mera opinião, gosto muito. Claro que com a prática podes melhorar mais , mas isto não é uma crítica, como já disse adoro a forma como te expressas através das palavras. Seria um crítica, contudo na minha opinião construtiva, se pudesses publicar com mais frequência, sei que a escola e a vida privada por vezes não permite, mas especialmente neste período de férias, se puderes concentra-te mais nesta fic que me deixa deliciada.

    beijinhos, e espero que não leves a mal.

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  9. Não, não levo a mal de todo. Quero antes agradecer-te sim, por toda a sinceridade que expressaste ao longo do comentário e agradeço também a crítica construtiva que me ofereceste e que eu vou aceitar com todo o respeito que é devido.
    Fico muito contente com tua satisfação pela minha história, e embora tenha tido estes contratempos (escola, treinos e outras prioridades) que me impossibilitaram de publicar novos capítulos com a regularidade que gostaria, prometo não vir a desiludir pois, tal como disseste, neste período de férias estou disposta a concentrar-me especialmente neste cantinho mantendo-o tão actualizado quanto me for possível.

    Beijinhos e mais uma vez obrigada :)

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  10. Fantástico! ;)
    Já sabes quando publicas o próximo?

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  11. Só hoje é que pude passar os blogues que sigo a pente fino, como se costuma dizer. Pois bem, martirizei-me logo por não ter vindo aqui logo no dia 21 de Junho. Meu Deus, minha querida como é possível que a cada capítulo me continues a surpreender?! Está, sem sombra para dúvidas, perfeito. O facto de eles estarem tão embebidos no que ficou para atrás, atraí-me. Não sei, acho que torna a história um milhão de vezes mais interessante do que já era se eles não tivessem uma história antiga.
    Isto tudo só para te confessar, que adorei com todas as letras.
    Anseio pelo próximo.
    Beijinhos

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