sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Capítulo 6 - A saudade que o tempo não levou (Parte II)




Por intermédio de uma complacência pacífica, Joana arredou-se levemente dos braços maternais de Anabela, que no sabor de escassos instantes lhe souberam provar a afectuosidade e doçura de um porto de abrigo, que nem os anos foram capazes de lhe roubar. Olhou pausadamente Adriana e esta apenas lhe mostrou brandura, num olhar acometido de culpa, por ver a amiga a ser certamente coagida, a ter que enfrentar um momento fatigante que já se adivinhada advir.
Joana continuou a observá-los enquanto se esforçava a engolir cada lágrima que já lhe traçava as pálpebras e amenar o aperto que lhe supria o alma. De facto, era tormentoso ver que o destino lhe voltara a colmatar uma grande rasteira, sem cessar quaisquer remorsos...

- Oh, que bom que já chegaram! – Anabela tentou disfarçar ao máximo o embaraço que a circunstâncias impunham, mas não era fácil dissimular a opressão no peito por antever que um passado mal resolvido, nunca estivera tão perto de si como agora

A poucos metros distanciados das portas do elevador onde haviam há instantes acabado de sair e entremeados à ombreira da recepção, encontravam-se aqueles que Joana menos queria ter na sua frente… Não naquele lugar, não naquelas circunstâncias e muito menos depois de tudo o que tinha acontecido, num pretérito difícil de esquecer da memória, e apagar do coração.
Ruben, o homem que já não podia chamar mais de seu, vinha acompanhado pela figura célebre e já saudosa da sua namorada e noiva Inês, que recolhera a noite interior no desembarque do aeroporto da capital. O pobre coraçã dela movia-se atabalhoadamente e de forma desconcertada, louco para poder fugir daquele tormento onde o haviam aprisionado.

- Que saudades, tia! – a melíflua voz de Inês, foi a primeira a saudar Anabela, assim que se libertou do entrelace de mão que a unia a Ruben, caminhando a passo ilustre, tanto quanto os saltos altos a contemplavam – Como está?

- Oh minha querida… - gracejou acometida por um abraço saudoso que lhe roubara, sendo ela a quebrá-lo instantes após – Eu estou bem, e vejo que tu não poderias estar melhor… Continuas linda! – acariciou-lhe levemente as faces retocadas por uma camada regulada de blush, e aproveitou para atender a beleza pueril da futura nora, que não via há pouco mais de dois meses – Como correu a viagem? 

- Correu bem… Deu para descansar um bocadinho! – sorriu aprazivelmente sem cair no erro de olhar a amiga que em tempos lhe fora tão próxima, e rematou uma mecha loira do seu cabelo vincadamente liso a cima do ombro, para trás da orelha – Depois do Ruben me ter ido buscar ao aeroporto, ainda pensámos em passar pela sua casa, mas como já era um pouco tarde…

- O que importa é que já cá estás! – rematou com um simbólico sorriso encorajador nos lábios, constatando o remonte da família, agora completa

- Inês… - Adriana aproximou-se ligeiramente, e abriu os braços com um rasgo nos lábios, esperando receber a amiga que já não via desde que esta partira para Terras de sua Majestade      

- Oh miúda, que saudades! – disse, entregando-se a um forte abraço suficientemente reduto, para olvidar a sua ausência e simultaneamente recordar os tempos em que ambas eram inseparáveis – Que é feito de ti? Sempre pensei que fosses a Londres fazer-me uma visita…

- Desculpa, mas nestes últimos meses a faculdade não me deixou grande tempo para viajar, então… - num hábil encolher de ombros, Adriana torceu o nariz para o lado, patenteando o motivo que justificava a falta de notícias à amiga

- Não te preocupes, eu compreendo! – referenciou amável, e num olhar contundente, presenciou a pessoa que se alinhava ao lado de Adriana – Joana…

- Olá, Inês… – saudou simplesmente sem mais nada ter para dizer, de mirar doloroso e sorriso falsamente alegre, que lhe camuflou a aura negra

- Fico contente por teres voltado! Espero que estejas bem… - não houve qualquer contacto físico entre elas, pois Inês não o possibilitara… Continuava magoada com a atitude da velha amiga, ainda por ser explicada, e qualquer demonstração de afecto poderia vir a suscitar falsas especulações de que todo o ressentimento desaparecera… o que não era de todo uma verdade     

- Sim, estou óptima… Obrigada! – consentiu em adversidade a tudo o que a impedia de manter uma vida estável e liberta de preocupações como tanto desejava, mas que por consequência de contrapartidas que cismavam em entrepor-se no seu caminho, ainda não tivera a levante sensação da lufada de ar fresco, a abater-se sobre si

Finalmente Ruben aproximou-se. De mãos recolhidas nos bolsos de ganga e cingido a uma postura tão tranquila e despojada de inseguranças, tanto quanto os últimos meses o ensinaram a importar - e talvez, até a fingir -, que a passos firmados da irreverência de uma celebridade, se juntou ao pequeno grupo de meninas formado apenas há meros ápices. Claro que por dentro, a sua posição de homem sofredor e extremamente magoado, não havia sofrido quaisquer alterações, mas tendo em conta o regresso que nunca aguardara de Joana, essa sua feição pudesse ter aumentado ligeiramente… No fundo, sim, lá bem no fundo ela sabia que a doçura, o seu jeito amável de ser, e até mesmo os sorrisos perfeitamente legítimos que desde sempre o caracterizavam, continuavam lá… escondidos de qualquer outra ameaça que os pudesse vir a destruir novamente, e como isso, ela também sabia que tão depressa não voltaria a testemunhar um comportamento mais dulcificado, da parte dele. No entanto, nenhum dos dois recusou a inevitável troca de olhares que se deu, já quando ele se instalou ao lado de Inês. Os seus olhos assentaram nos dela, e os ela nos dele… As palavras poderiam não fluir com intensidade pela garganta e escaparem pela abertura dos lábios, mas elas estavam lá e aqueles simples olhares retrucados, conseguiam traduzi-las…          

- Bem, e nós vamos andando… Espero que tenha gostado do quadro, tia! – foi a voz concilia de Adriana, que se predispôs a por um fim àquele tormento que calculou de prestante, os amigos estarem a contra-atacar no seu interior. Entrelaçou o braço ao de Joana, pronta para finalmente abandonar o local de recepção e posteriormente o salão

- Oh, já vão…? Não querem vir tomar café connosco? – Ruben interveio pela primeira na conversa, ausentado por uma voz depreciativa, e passando com o seu braço direito sobre os ombros da noiva, fazendo questão de manter os corpos sempre bem juntos

- É melhor não, Ruben… Fica para a próxima!

- Oh… Vá lá, Adriana…! Tenho tanta coisa que te quero contar! – Inês reforçou o convite numa voz piedosa e incrivelmente manipuladora, que não dava lugar a mais nenhuma recusa

Adriana mostrou-se vacilante por alguns momentos, queria aceitar sem mostrar mais hesitações, mas por outro lado não queria induzir Joana àquela brutalidade. Olhou-a com vitalismo, como pedindo um consentimento mudo, que irrevogavelmente acabou por ser compreendido. Não havia como fugir à eventualidade ou pelo menos evitá-la… porque o destino, assim o queria.

- Vão vocês tomar café, meus queridos… Eu tomei o meu há pouco, e está na minha hora de voltar ao trabalho! – devido a razões de maior, Anabela aprontou-se a anunciar a sua falta de comparência ao convite do filho, o que não invalidou a ausência de um sorriso honesto e educado em seus lábios parecidos a um suave bege-nude

- Então, venha ao menos fazer-nos companhia!

- Tenho pena, mas não vai dar mesmo, Inês! Ainda tenho que preparar uma reunião, para daqui a uma hora…

- Não te preocupes, amor… Tempo não nos irá faltar para estarmos com a minha mãe! – os lábios vivazes de Ruben, foram de imediato ao encontro da testa da mulher com quem já tinha futuro traçado, mantendo-a firme debaixo da sua alçada protectora  

- Então se é assim, fica para uma próxima… Ainda temos muito que falar sobre o casamento, mas sem o melga do seu filho por perto! – relembrou notoriamente feliz, e arrancando leves gargalhadas aos envolvidos na interlocução, exceptuando claro, a pobre Joana, que se mantinha reservada e apaticamente esmorecida 

- Claro que sim, querida! Logo combinamos um lanchinho, para tratarmos de pormenores! – prometeu num juramento fiel, e incapaz de ser quebrado

- Então vamos andando até ao bar lá em baixo! – sugeriu ele, sempre sorridente, aquando já mentalmente se preparava para a mais doce vingança

Assim que todos se despediram de Anabela, por auxílio do elevador oscilante, deslocaram-se todo o tempo em mudez até ao rés-do-chão, onde se situava o mini-bar do Salão de Beleza. As amigas aproveitaram o figurativo afastamento de Ruben e Inês que seguiam à frente delas, para colmatar um breve diálogo entre ambas, num sucinto sussurrar.

- Juro que não sei o que ele pretende com isto… Não me queria afastada? Porque é que quer que estejamos todos juntos?! – percutiu evidentemente confusa perante tal perjúrio que vira Ruben cometer, e temendo um desfecho menos bom que poderia vir a ser sucedido, naquele café combinado aos empurrões 

- Se calhar está mais calmo… Chegou à conclusão que comportar-se como um miúdo mimado, contigo, não o levaria a lado nenhum! – Adriana procurou um termo suficientemente convincente, que desse para aplacar a angústia que sabia ela estar e sentir, mas nem as suas próprias palavras a convenceram a si mesma    

- O Ruben não é o tipo de pessoa que muda de opinião do dia para a noite… Ele está estranho, consigo ver isso na postura e nos olhos dele! – confessou certeira às especulações que mais a atormentavam e contava que não fossem verdadeiras – Mas também pode ser só impressão minha…

- Desculpa, Joana, eu juro que não queria que nada disto acontecesse… - perdoou-se discretamente, mostrando a sua incapacidade de poupar a amiga a mais um desgosto – Mas por favor fica calma, se não quiseres não ficamos muito tempo… Vai tudo correr bem!

- Ei, não peças desculpa, não sabias que isto pudesse vir acontecer! E tal como agora disseste… Vai correr tudo bem… - para sossegar o coração de Adriana, assoberbado pela culpa que não lhe pertencia, induzindo-se a si mesma à mentira, em que ela própria acreditava  
  
Ruben e Inês preocuparam-se em mostrar o quão apaixonados estavam, e a firmeza do amor que subsistiu a dois meses de afastamento entre casal, mantendo-se juntos durante todo o percurso a pé, e o mesmo se verificou quando chegaram à lugar pretendido… sentando-se lado a lado na pequena mesa de quatro lugares, disposta em losango.

- São quatro cafés curtos e dois copos de água, por favor! – solicitou Adriana à empregada, que se apressou a atender o grupo, assim que este se instalou

- Com certeza! Trago já… Com licença! – de sorriso rotulado nos lábios, respondeu devidamente educada e em paço cortês, caminhou de volta ao balcão

Assim que a emprega se retirou, o silêncio de rompante se instalou na mesa e os olhares reciprocados aqui e ali entre os quatro, sustentou a hesitação de um tema de conversa que se manteve a pairar no velamento de ar. Joana mantinha-se bem na frente de Ruben e evitava ao máximo cair no erro funesto de o olhar nos olhos, assim como iria tomar o cuidado de se manter afastada das conversas que mais tarde ou mais cedo iriam surgir à sua vanguarda, e foi Adriana, quem se assumiu a remontar a primeira troca de palavras.

- Mas então, conta-me… Como foi Londres? Como correu o fim de curso? – perguntou ela num laivo conciso de curiosidade, de como haviam sido traçados os últimos meses na vida da amiga, numa cidade que ainda não tivera oportunidade de conhecer

- Foi maravilhoso… Conheci e trabalhei com pessoas fantásticas, a cidade é linda e o resultado final do curso, foi muito além das minhas expectativas… Não poderia ter sido melhor! – Inês não se conteve em mostrar o seu rasgo enorme de felicidade, que embora pelas saudades que à tido da família, não poderia ter valido mais a pena – E já tenho tirocínio marcado de duas semanas em Milão!

- Tirocínio em Milão? – inquiriu Ruben apanhado de surpresa, pois ainda não havia sido informado em antecedência, da nova marcação na agenda da noiva

- Sim… - afirmou simplesmente, recordando o pequeno deslize de não o ter posto a par em manchete, do futuro projecto que já tinha em mãos

- Quando?

- Daqui a um mês, mais ou menos…

- E pensas ir assim? Isso é quase em cima do nosso casamento, Inês…! – exprimiu com algum desânimo embutido na sua voz grave e extremosa, temendo que a recolha dos últimos preparativos não concordassem com tempo já estritamente predefinido pelos muitos que preparavam a cerimónia, que já se aproximava a passadas largas

- Eh, Ruben, que exagerado... Relaxa! Não é tão em cima do casamento quanto isso… Ainda têm o Verão todo pela frente, e além disso, também sei pelo David que vocês estão de estágio marcado para os Estados Unidos, por volta dessa altura! – rememorou Adriana, fazendo com que a polpa do indicador girasse no ar e arrematando o suscitar ao tema, do último estágio da época dos encarnados, no outro lado do Atlântico

- Ora aqui têm os vossos cafés, e as águas que pediram… - o diálogo foi por instantes interrompido, pela chegada do pedido que há momentos atrás haviam solicitado à mesma empregada, enquanto esta distribuía os cafés e os dois copos de água, sobre a baixinha mesa central – Se precisarem de mais alguma coisa, é só chamar!

- Obrigada… - foi Joana a única a agradecer numa voz suave e graciosa, de quem se manteve apenas como mera espectadora, a todo o inicio do desenrolar da conversa facultada em seu redor, e que por sua vontade, assim desse mesmo jeito iria continuar a permanecer

- Com licença… - a empregada voltou a retirar-se, a passo ligeiro e sorriso acotiado nos lábios, deixando novamente em inconcluso, a retoma do assunto-rei entre os elementos

- Não tens de te preocupar… O casamento está a ser bem encaminhado, e sabes perfeitamente que está em óptimas mãos! – Inês não se evitou procurar acalmar o temor dele, apresentando-lhe as razões para que ambos permanecessem descansados durante as suas ausências, e enquanto discretamente compunha os seus cabelos de loiro natural, perfeitamente lisos, um pouco acima dos ombros – Pela altura em que formos os dois em estágio, estará tudo estradado para quando voltarmos!

- Sim, eu sei… Só queria que me tivesses dito antes, para já estar a contar com isso…

- Isso já é tudo saudades, mesmo antes de me ir embora? – brincou ela encostando o seu corpo levemente ao dele, assim como os lábios que se aproximaram ligeiramente do ouvido – Ainda temos muito para recuperar, o que andámos a perder nestes últimos tempos… - embora tenha proferido num tom baixo de voz, Joana não conseguiu deixar de ouvir o comentário mais provocatório e ousado de uma mulher atraente, bem ali na sua frente, e para agravar ainda mais a situação, Ruben sorriu abertamente na sua cara, agradado pelo que ouvira

- Bem, e mudando de assunto… Conta-nos lá, minorca, como têm sido os primeiros dias em casa do David? Ele não é propriamente a fada do lar que imaginas-te, mas pronto… - zoou Ruben numa pequena gargalhada, assim que ajeitou o corpo na cadeira e sobrepondo a sua mão à de Inês pousada nos largos apoios das cadeiras de ambos, encostadas, relembrando a situação do casal amigo que partilhava casa à meia dúzia de dias

- Sempre tão engraçado, tu… - saracoteou num careta carregada de ironia, fazendo deslizar bolinhas de papel na direcção dele – O David, pelo menos, desenrasca-se bem na cozinha … Mas isso já não toca a todos, não é?

- Olha aí oh…! – fungou ligeiramente amuado, vitima da sua própria ratoeira – Eu sei… cozinhar! Nada de muito elaborado, mas… mas sei!

- Hum, hum… Morde aqui, a ver se eu deixo… Morde! – desafiou-o em tom trocista, rematando o indicador no ar disposto numa recta inquebrável, e o que surtiu numa pequena brincadeira entre dois irmãos que Adriana e Ruben, mostravam ser

- Vocês realmente, não se cansam de andar sempre em picardia, pois não? – inquiriu-os Inês divertida, testemunha da forte ligação quase parental, que os unia

- Esta meia-leca é que tem de aprender em não se meter com o maninho mais velho!

- Sim, até parece… Se virmos bem, quem dos dois tem mais juizinho e responsabilidade, sou eu, oh… “maninho”!

- Está masé caladinha… Aqui quem vai casar sou eu! – em argumento altamente propositado, Ruben voltou a rememorar o ponto já traçado da sua linha futura, o que mais uma vez, serviu de soco no estômago a Joana

- Andas mesmo cheio de vontade… Não falas de outra coisa! – referiu com a sua habitual astúcia perspicaz, depois de ter sorvido o último trago amargo do seu café – Mais daqui pouco já queres arranjar uma nova casa e isso tudo… Típico de um verdadeiro maridão!

- Bingo!... Nem mais, cara Adriana! – ao contrário do que seria de esperar, e mesmo sem querer, Adriana conseguiu acertar em cheio nos planos delineamentos dos amigos – Eu e a Inês decidimos que assim que arranjarmos um tempinho de disponibilidade compatível, vamos começar a procurar uma casa nova!

- Uma casa nova? Mas o teu apartamento é enorme, Ruben…

- Não é enorme o suficiente para a chegada de bebés… Para uma família grande!

- O quê? Não me digam que estão a pensar em… – com um sorriso recatado no rosto, Adriana arriscou-se a pressagiar o que já se podia supor ser o acréscimo de elementos ao clã Amorim, mas que rapidamente Inês se aprontou a desmentir

- Não, Adriana! Pelo menos não para já… Aqui o Ruben é que anda com estas ideias ultimamente! – suavizou com um rasgo embelecido nos lábios enquanto o olhava de realce, acomodada pela bem querença de Ruben –   Acho que nestes últimos dias, não houve uma única vez que tenhamos conversado ao telefone, e ele não tenha falado no seu apetite repentino, em querer ser pai!

- E quero mesmo! Já te disse o quanto gostava de te ver entrar pela porta do fundo da igreja, já com a barriguinha a notar-se por debaixo do vestido… - aquele seu comentário não foi mandado ao acaso, e como seria de esperar, tinha um destinatário certeiro… foi nesse instante que o seu olhar fixou o de Joana como ponto vertente, e na instância de avarentos segundos silenciosos, ambos puderem desgostar o amargo sabor de tudo aquilo que os separava… mesmo estando tão próximos

- E eu já te disse que isso não vai acontecer, Ruben… Lembra-te que decidimos que vamos esperar pelo momento certo!

- E quando é que será esse momento certo?

- Não vamos discutir este assunto aqui, está bem? – pediu-lhe com mansidão, facetando a privacidade daquele tema, que apenas pertencia ao casal e deveria ser dissertado pelas duas partes, num momento privativo

- Desculpa, amor… Tens razão! – apressou-se a perdoar-se do golpe, que ele próprio suscitara àquela mesa e que acabara por ferir quem mais queria… discretamente libertou um sorriso quase doentio, que lhe elevou apenas uma lacuna dos lábios, aquando o seu olhar o obrigava a manter os olhos pousados na mulher que lhe virara o mundo do avesso, enquanto ela se mantinha delimitada à sua própria dor, remexendo as borras retidas do café no fundo da chávena, com a pequena colher a deambular entre os seus dedos – Então e tu, Joana, estás aí tão caladinha… Quando é que nos apresentas o teu namorado?

- Ruben… - alertou-o quase imperceptivelmente, Adriana, que lhe lançou um olhar retrospectivo de repreensão, tentando elucidá-lo que fosse qual fosse a resposta que Joana lhe pudesse dar, e mesmo sabendo ambos perfeitamente qual seria a mesma, aquele era um assunto que faz tempo que não voltara a fazer parte da sua conta 

- Que foi? Fiz-lhe uma pergunta simples, que não tem mal nenhum… – procurou livrar-se de todas as acusações que ainda pudessem ser suscitadas, num tom de veludo cinismo, o ideal e perfeito a camuflar toda a mágoa que ainda residia no seu interior, sem temer ou ressentir-se a olha-la nos olhos e quase sem querer, um acessório que Joana trajava no pulso direito ressaltou-lhe à vista e por instantes travou a sua alegação, mirando-o com mais atenção… era um objecto que de certo reconheceria em qualquer lugar e que nunca se olvidara da sua memória, um pequeno símbolo que acabara por eternizar um sentimento recalcado pelo tempo  

- Eu… Eu não tenho namorado!

- Hum, não acredito… Uma mulher como tu, e ainda por cima chegada de Nova Iorque, depois de tanto tempo(!)… sem namorado?

- Acaba com essa conversa… - desta feita foi Inês que tentou colocar um ponto final a uma conversa que não chegaria a lado absolutamente nenhum – pelo menos, a nenhum que fosse agradável -, dando-lhe um pequeno aperto na mão que ainda mantinha unida à dele

- Lembrei-me agora que… Vou lá fora, tenho uma chamada urgente para fazer…! – decidida a não continuar arrematada àquele suplício, Joana levantou-se da cadeira de verga e segurou a mala, não na certeza de ir fazer o que dissera, mas na esperança de revitalizar o alma, logo que saísse daquele lugar o mais rápido possível

- Joana, por favor… - a voz amena de Adriana, conseguiu barrar-lhe apenas por concisos instantes a escapatória temporária, com um olhar avassalado de pena e receando ser conjecturada com uma viável fuga da amiga
 
- Das duas, uma: estás a mentir ou então deixaste-o plantado em Nova Iorque, sem lhe prestares cavaco, assim que vieste para cá! Mas claro… Nada que não estejas já, habituada a fazer! – jogou assim para o ar, sem mais nem menos, nada importado em continuar a manter a sua postura invicta e a máscara, que acabou por lhe cair 

- Já chega, Ruben! – Adriana voltou a confrontá-lo desta vez num ultimato agilmente vociferado, aborrecida pela atitude vergonhosa e desnecessária de Ruben, que acabara de queimar mais alguns cartuxos de uma história de quase três anos, inacabada 

- Eu volto já… - consentiu segura, de voz facilmente decifrada a ser quebrada a qualquer momento, continuando a olhá-la, num jeito irrevogável de súplica – … prometo!

Soltou-se levemente da mão que Adriana empregou em mantê-la travada pelo antebraço, e encaixou a mala nessa mesma zona. Sem mais olhar para quem quer que fosse, afastou-se a passo inquietante de mulher humilhada e assolada pelo coração, fazendo com que os saltos altos colidissem no pavimento de forma fatigável, mas compassada.  
Enquanto se cruzava com os poucos de transeuntes que vagueavam pela entrada principal do espaço, manteve-se firme em não se deixar vencer pelas lágrimas que já lhe rasavam as pálpebras e que se tornavam mais ameaçadoras à medida que a angustia aumentada em factor do tempo.
Saiu sem findar pela porta giratória que dava acesso directo ao exterior, e logo que tomou contacto instantâneo com a liberdade do lado de fora, o seu corpo foi abalado por uma suave vaga de calor primaveril, que lhe acalorou as maçãs do rosto e lhe provocou uma sensação de extrema quentura, que lhe arrepiou toda a pele descoberta.
Caminhou até às traseiras do edifício onde se situava o parque de estacionamento, e mal avistou o jipe branco e avolumado de Adriana, - que talvez por ordem do acaso, se encontrava lado a lado do BMW que reconheceria em qualquer lugar - tombou subtilmente o corpo e deixou-se repousar junto do capô. Procurou o maço dentro da mala, e logo após alcançar o primeiro cigarro que pegou aleatoriamente, prendeu-o entre os lábios e acendeu-o – num gesto já habitual em referência aos últimos dias – com a pequena chama zincada pelo isqueiro, e repuxando pelo filtro o primeiro trago intenso.
Embora o estado de clemência em que se predispunha quando fumava, e que simultaneamente lhe provocava um estado de serenidade aclamada, naquele momento os seus nervos ainda se encontravam à flor da pele. As lágrimas não tinham tardado em declinar-se dos olhos resguardados pelos óculos de sol, que lhe cobria a façanha inconsolável, mas no entanto não era um choro briguento, pelo contrário, era controlado e silencioso, e de certo que iria cessar dentro dos instantes que remontasse uma postura infrangível, e se decidisse a voltar para dentro.
Deu vagarosamente uso do seu cigarro até ao fim, e depois de o calcar no chão com a ponta do pé, areou todos os vestígios de desistência que ainda lhe banhavam o rosto, respirou bem fundo o ar pueril que a envolvia e preparou-se para enfrentar o que ainda a esperava… Talvez até mais cedo do que previra.

- Não consegues acabar com esse teu hábito de fugir de mim, pois não? – não foi necessário recorrer à confirmação pela procura da feição dona daquela voz, que surgiu nas suas costas… Estava marcado mais um confronto de um para um, de igual para igual, de um coração perdido para uma busca de respostas



***



- Podes explicar-me o que acabou de acontecer aqui? – perguntou a Ruben, logo que Joana trespassou a saída, e tentando manter-se calma na busca por uma explicação minimamente coerente, face ao inesperado sucedido que se instalou perante os seus olhos

- Não aconteceu nada, Inês… – murmurou em surdina deleitosa e de olhar arrematado ao chão, ainda não consciencioso dos estragos que os seus actos anteriormente impensados, pediram vir a causar

- Não aconteceu nada? Tu literalmente chamas-te o vosso passado à minha frente, como se mais nada importasse… Como se mais ninguém estivesse aqui, e dizes-me que não aconteceu nada?!

- Desculpa, está bem? Não medi bem as minhas palavras… Não queria que isto tivesse sido assim!

- Não querias que tivesse sido assim, mas então poderia ser de outra maneira? 

- Inês, por favor…

- Por favor digo-te eu, Ruben… - ditou, nunca alcançando os extremos nem o tom alto de voz, assumindo uma atitude naturalmente compreensível e que já seria de esperar – Não, mas tudo bem… Não quero mais tocar neste assunto, acho que é melhor ele ficar por aqui! – disse por fim, disposta a passar ao lado do que ouvira anteriormente, colocando uma pedra finita nas especulações que não queria ressuscitar e lentamente, acabou por se erguer da cadeira

- Onde vais? – perguntou ele lamentoso, assim que elevou o queixo e a viu caminhar na direcção abrangida ao seu desconhecimento  

- Apanhar ar…! – ripostou num argumento notoriamente sarcástico, retirando-se a alguns momentos que preferia passar a sós, e deixando Adriana e Ruben, acometidos unicamente à presença um do outro

- Mais contente, agora? Estás satisfeito com o que fizeste?

- Não comeces, Adriana… Poupa-me aos teus moralismos! – resmungou, mostrando-se indisposto a ouvir o certo raspanete que Adriana lhe iria pregar – A culpa é toda dela, se não estivesse constantemente a intrometer-se no meu caminho, nada disto teria acontecido!

- A culpa é toda da Joana? Oh Ruben, pelo amor de Deus… - não lhe mostrou um pingo de complacência nem tão pouco de compreensão, pois sabia que o que ele estava a dizer, poderia ser comparado à descarga de desculpas de um miúdo de dez anos – Comportaste-te que nem um autêntico puto mimado!

- Não sabes do que falas…

- Não sei do que falo? Tu agiste como se ainda vivesses agarrado ao passado… Falaste para a Joana como se ainda te importasses com tudo o que vos uniu e principalmente com tudo o que vos separou!

- Estás errada… - disse numa afirmação mostrada com pouca segurança, levantando-se seguidamente

- Não, não estou… E tu sabes isso ainda melhor que eu, aliás, a tua atitude de há pouco provou isso mesmo: Por mais que tentes negá-lo e não querias demonstrá-lo, a verdade é que tu ainda te importas!

- Vamos acabar com a conversa, está bem?… - inquiriu num pedido ligeiramente irritado pela redundância da conversa, tentando acalmar-se a si mesmo nos instantes seguintes - Vou lá fora, já volto!

- Diz-me que não vais  a ter com ela… Mais conflitos não, por favor!

- Vou só ao carro, buscar o telemóvel que me esqueci… – esperançoso de ter conseguido ter tapado os olhos de Adriana, celagem à questão da sua piedosa e nada elabora, mentira, mas assim que ele implantou as primeiras seis ou sete passadas na direcção da saída, a voz astuta da rapariga, travou-o por um mero contra-tempo

- O teu telemóvel está aqui em cima da mesa…!

Ele apenas se limitou a olha-la de soslaio, ligeiramente acima do ombro esquerdo, e sem desperdiçar mais algum pedaço do seu tempo com palavras gastas que não seriam compreendidas, com justificações que não serão relembradas… Ruben tinha de fazer aquilo que já tinha esboçado em mente… Tinha e precisava de fazê-lo, e naquela troca muda de dois olhares cúmplices, Adriana permaneceu com a certeza de que nada do que pudesse mais dizer ou fazer, o iria demover.
Acabou por seguir o seu caminho e de palpite acertado que o guiou ao fundo das traseiras, acabou por encontrar quem mais queria, disposta na frontaria da tentação de um só contemplar.  

- Não consegues acabar com esse teu hábito de fugir de mim, pois não? – surpreendentemente a voz dele surgiu calma e apazigua, dando a entender que já não restava memória do momento circunstancialmente inoportuno, a que ele mesmo dera relevo à instantes atrás

- Ruben… - proferiu baixinho, deixando-se estar exactamente na mesma posição, sem mexer um único músculo mas não conseguindo evitar o abatimento do seu auto-controlo, que por dentro se quebrou em mil e um pedaços irreparáveis  

- Sabes o quão complicado é, quereres seguir com a tua vida para a frente e acordares todos os dias com a certeza que há sempre alguém que está lá… a impedir-te? – a pergunta íngreme disparada sem qualquer ponto antevisto, patenteou-lhe um estado de espírito mais condescendente, de quem não queria provocar uma outra guerra de maior… mas infelizmente essa intenção, acabou por ser invertida pelos sentimentos eclodidos à flor da pele – De cada vez que eu tento seguir enfrente, tu estás lá…

- Quanto a isso não tens mais com que te preocupar… Estou mesmo de saída! – de tom conformável e decidido a ditar um fim á conversa que se poderia prolongar mais do que devia, e até mesmo ser levada a extremos que ela não estava mais disposta a arcar, pegou na mala que tinha deixado esquecida sobre o capô e rodou solenemente o sentido dos calcanhares, na frontaria da pessoa que mais receava encarar

- Fiz-te assim tanto mal? - insinuou num suspiro fastidioso, com as mãos recolhidas nos bolsos frontais dos jeans que perfeitamente envergava, no momento simultâneo que Joana cruzava caminho a seu lado esquerdo na direcção oposta, determinada a voltar para dentro e posteriormente abandonar aquele lugar

- Desculpa? A que propósito vem essa pergunta? – inquiriu surpresa por tal inequívoca pergunta, travando a sua marcha e torneando o corpo na ordem do dele

- É uma pergunta propicia… Fiz-te assim tanto mal, para andares constantemente a fugir de mim? É que só consigo ver essa justificação!

- Não quero discutir contigo, Ruben… Aliás, estou apenas a fazer o que me pediste: sair da tua vida! – após alguns momentos em que se quedou ao silêncio imposto por Ruben, na conformidade de dar continuação ao embuste, ela aprontou-se para dar a retoma a novas passadas fugidias, mas estas mais uma vez acabaram por ser barradas pelas palavras mais penosas

- Acho que nunca deverias ter entrado nela! – esfuziou num censurar boémio, cruzando os braços maçudos e obstinados na frente do seu peito embrutecido 

- Relembro-te que erro não foi só meu…  

- Foi um erro pelo qual ainda hoje estou a pagar! – recriminou numa ressonância pouco apreciativa, onde vinculara bem o seu ponto de vista na sua tertúlia de ressentimento e de mágoa, que se haviam arrastado até aos dia de hoje

- Desculpa, mas eu não vou deixar que me humilhes outra vez… Não vou! – vociferou, visivelmente afadigada de todos os conflitos que Ruben impusera entre ambos, desde o momento que voltara a pisar a capital portuguesa

- Não precisas que eu o faça por ti… Tu mesma te deste a esse trabalho no dia em que me deixas-te! – ripostou, mantendo uma calma surpreendentemente invejável, enquanto olhava pausadamente através dos seus óculos wayfarer negros – que lhe compunham um fáceis de inegável seduzismo e misteriosidade – o lugar devoluto em que permanecia e que era somente ocupado por ambos

- E isso é o quê? Estás outra vez a julgar-me? – ela continuou hirta bem na frente do corpo dele, desproporcionalmente bem mais altivo que o seu, ateando o pavio com uma simples interrogação, o que levaria ao juízo final na returca de acusações-bomba – Não tens o direito de o fazer!

- Não tenho o direito de o fazer? – um sorriso assoberbado de ironia, provou o quanto aquilatara surreal, as palavras que ouvira – Depois de tudo o que me fizeste passar, tenho todo o direito, Joana…! Todo o direito! – ditou por fim num tom de voz intimista e alterado, que aquando passos enfurecidos que implantara no solo, remeteu à encruzilhada que facultara ao corpo dela, encurralando-o entre o seu e a porta do jipe

- Mas afinal, o que é que tu ainda queres de mim? Estás a deixar-me louca, com estas tuas atitudes que ninguém compreende! – naquele circunstancial instante, o estado dela estava enfaticamente apavorado, como nunca antes tivera na frente do homem que sempre julgara portador do seu coração, e isso foi visível a Ruben, que de imediato lhe descodificou a voz exasperada e duas inequívocas lágrimas que lhe quedaram abruptamente pelo rosto

- E é isso mesmo que eu quero que fiques: Louca! Tal como me deixas-te louco a mim, quando naquela manhã olhei para o meu lado da cama e não te vi lá… Quando procurei as tuas roupas junto das minhas e elas tinham desaparecido… Quando li aquele e-mail profundamente egoísta a dizer aquelas disparidades de merda, e me percebi que tu tinhas desistido de mim, que me tinhas deixado! – ele continuou a apertar-lhe o cerco, tal quando apertou com as suas duas mãos hipoteticamente resistentes a cintura delgada dela, obrigando-a a manter-se imóvel e completamente indefesa

- Pára com isto, Ruben… Por favor! – pedinchou em suplicia desesperante, de quem não poderia ser ouvida por mais ninguém, visto que estavam completamente sozinhos no meio da amplitude daquele espaço, e não lhe restando mais forças para continuar a lutar contra quem lhe parecia invencível… ele.

- Não vou parar! Não vou parar até te decidires a dar-me uma boa justificação que explique as causas do que nos fizeste há dois anos e tal! Juro que não vou parar enquanto não me disseres o porquê… - o seu rosto estava consideravelmente mais contíguo e a expiração pesada e carregada de frustração que também lhe prensava sobre os ombros, embatiam contra os lábios de Joana, que cada vez se encontrava mais aterrada, mas que no entanto não deixou de sentir o desejo eminente de sentir tocar a boca dele na sua

- Porque é que insistes em falar sempre no nosso passado? – inquiriu-o sumidamente, na esperança de obter uma resposta mais amena

- Porque preciso de esclarecer tudo! Porque não podemos sonhar com um futuro só nosso, e as recordações sempre deixam marca… Sempre ficam…

- Mas algumas recordações também ferem e magoam!

- E é por isso que vamos acabar com elas, no momento em que me contares toda a verdade! Quero que me digas porque é que te foste embora e acabaste connosco, quando tínhamos tudo para dar certo… - disse num tom firme impossível de ser contrariado, e por meras instâncias liberou apenas uma mão que havia aprisionado o corpo dela, para que calmamente retirasse os óculos que lhe cobriam um olhar que revelavam toda a incandescência que lhe abarcava o coração puro e genuíno, fixando-os no segundo botão do topo da camisa abotoada – Mas vais dizê-lo aqui… Bem nos meus olhos!

- Aconteceu tudo muito depressa… Foi todo um conjunto de factores que me fez ir embora! Os meus pais separaram-se, a minha mãe recebeu a proposta de trabalho em Nova Iorque, eu… Eu não pude ficar!

- Mas eu era o teu namorado, caramba! Merecia uma explicação… Nem que fosse um adeus, uma despedida…

- As despedidas doem sempre mais, Ruben…

- Comparada à dor de ter perdido, uma despedida não era nada! – a rispidez que anteriormente lhe adornou a voz, deu espaço ao embalo da mágoa que lhe compassou um timbre mais controlado e tomou conta de todas as suas expressividades faciais

- Já passou… Tu reconstruíste a tua vida, e eu estou a tentar fazer o mesmo com a minha, e além disso… - ela voltou a olhá-lo no fundo os olhos, que estavam praticamente em cima dos seus, de maneira a que não lhe escapasse minimamente nada, que nem a visão ardilosa de um predador… contudo, a conclusão de uma mentira cruel, mas necessária, estava prestes a ser expelida pela jovem Joana 

- Além disso… - incentivou-a a continuar, numa dúvida e impertinência constante, que captaram todos os seus cinco sentidos em redor de todas as explicações que ainda pudesse ouvir

- Já não havia encantamento, nem fascinação entre nós…

- Não digas isso, Joana… Isso é mentira! – negou prontamente, sem ter a necessidade de reflectir uma única vez sobre a mentira impiedosa que escutava

- É verdade… Pelo menos da minha parte! – arrogou assertivamente à sua única vontade desmedida de  o continuar a proteger, nem que fosse na pregação da mentira mais dolorosa que alguma vez ditara na sua vida, e sem mais rodeios, concluiu o enredo aclamatório que a obrigava a suster uma figura austera e fictícia – Não havia mais nada que me deixasse ligada a ti… Já não havia paixão!

- Já não havia paixão? – a interrogativa estrangulada pela radiação de um olhar prestes a provar o sabor salgado das lágrimas, denunciou-lhe todo o espanto pelo que julgara ter alucinado ouvir – Como é que podes sequer, dizer uma coisa dessas? Como? – o seu punho cerrado foi de imediato ao encontro da porta do carro, que numa eclosão estremada atemorizou a figura frágil e insegura de Joana, que ainda continuava submetida à prisão e encurralamento do corpo dele ao seu – Não mintas!… Eu consigo ler os teus olhos, e eles dizem-me que estás a mentir com quantos dentes tens na boca!

- Não tornes as coisas ainda mais difíceis do que elas já estão, por favor… - implorou educadamente, disposta a encerrar definitivamente um passado que não iria de todo ser mudado, e já na cedência de um vale de lágrimas, que sorrateiramente se crispava dos olhos raiados pela culpa de todo aquele sofrimento

- Recuso-me a acreditar que o que tivemos não passou de um erro! – contra-atacou num mais elevado tom, enquanto a sua caixa torácica aumentava e diminuía de corpulência dentro do peito, de maneira totalmente descoordenada, como facturada pela loucura – O jeito que me olhavas, como me beijavas… A maneira como fazias amor comigo… Não, não! Isso não foi uma mentira!

- Tu pediste-me uma justificação, e eu dei-ta… - uma por uma, deglutiu dolorosamente as lágrimas que ficaram retidas no aperto estrangulado pelo nó que se havia formado na sua garganta… nunca sentira aquele mal-estar que se opunha a toda a educação que recebera, mas que para aquela situação teve que por bem de parte, pois a mulher que se postava lealmente do lado da verdade, naquele momento deixara simplesmente de existir

- Eu continuo a não acreditar no que dizes… Mas então é assim que queres, não é? Tu dizes-me que foi tudo um engano, e ficamos por aqui…? – mais arrasado do que nunca por ser confrontado pelas palavras que o atiraram de rastos a asfalto, Ruben sentia-se ridiculamente magoado, e até mais que isso... sentia-se apanhado à traição, por quem mais amou

- Sim… Ficamos por aqui! – assentiu, não mais disposta a voltar com a sua palavra irredutível atrás, ciente em impelir o passado de ambos que parecera ter chegado a um fim afligido, para trás das costas, sem mais nada a acrescentar – Agora deixa-me ir embora…

Ruben dissimulou não ouvir o pedido e deixou-se ficar exactamente na mesma posição… De mãos travadas junto do carro e de cada lado do corpo dela, impedindo-lhe a fuga mais que aguardada.
Perdurou algum tempo a olhá-la nos olhos, esperançoso de ouvir uma contradição de discurso e um novo fundamento de resposta, mas Joana continuava decidida em manter a sua inicial posição.
Foi obrigado a ceder pelos factos e evidencias, que aparentemente estavam contra si… no fundo contra eles, e em jeito de forçada desistência, afastou-se, dando-lhe a liberdade que ela lhe pedira.

-Felicidades para os dois! – proferiu num desejo carregado de suplício, enquanto a passo ligeiro recuava, mas sempre fitando-o na orbita central de um mundo agora só seu, e desceu os óculos de sol até assentarem na cana do nariz, pois não tardava e um choro soluçante iria tomar conta de si durante as próximas horas – …TÁXI! – gritou, instantes depois de ter virado costas e atravessando a rua apressadamente, erguendo o braço aprimorado no ar, procurando o meio mais rápido e que inegavelmente lhe havia caído do céu para sair dali o quanto antes

- Burro, burro…! – censurou-se num rosnar enraivecido, consciencioso de que encerrara da forma mais drástica o último capítulo de uma história que embora tendo mais folhas para ser continuada, o desfecho era incontornável

Permaneceu hirto a vê-la partir no táxi que a levara para longe sobre o asfalto que se desvanecia pelo horizonte.
Num movimento habitual e instintivo, de olhar para o chão aquando plantara o primeiro passo adiante para regressar ao interior do edifício, o reflexo de uma luz fulgurante, apelou toda a sua atenção. Agachou-se movido pela curiosidade, e logo que tomou o pequeno objecto de ouro e metal nas suas mãos, a memória encarregou-se de lhe afortunar as mais profundas recordações. Talvez tivesse caído no meio da discussão, sem Joana ter dado por isso, mas que agora indiscutivelmente, estava bem firme na palma da sua mão. E quiçá, nem tudo estivesse perdido… Talvez o futuro tivesse reservado algumas surpresas inesperadas, capazes de acarretar mais umas quantas reviravoltas naquelas duas vidas… Talvez até aquele objecto fosse a chave para um caminho nunca mais percorrido…



***   



Joana regressou a casa consideráveis minutos depois, ainda lavada em lágrimas que despojara silenciosamente durante toda a viagem de táxi, e que agora a sua alma se impusera a reter-lhe. Entrou discretamente para que não fosse abordada por ninguém, mas ainda abastada na entrada principal, o seu anseio acabara por não se verificar.

- Boa tarde, menina Joana! – saudou-a o seu querido mordomo ao cruzar-lhe o caminho, no seu tom amistoso habitual

- Olá, Leonardo… - proferiu melancolicamente, não travando o seu marchar direccionado ao seu quarto no piso superior, e arrancando um sorrisinho triste que acabou por ser reflectido pelos seus lábios

- Está tudo bem, menina? – inquiriu-a do fundo das escadas meio confuso, notando-a evidentemente cabisbaixa, e olhando-a já no topo de toda aquela escadaria

- Sim, está… - omitiu-lhe na salvaguarda de mais justificações, e travando o corpo pela primeira vez de modo a olhá-lo – Se ligarem… Se perguntarem por mim, diz que eu não estou… Não quero ver ninguém!

- Mas porquê, menina? Passasse alguma coisa de errado?

- Eu só quero ficar algum tempo sozinha, Leonardo… Não me faças mais perguntas, por favor! – sem lhe dizer o que ainda fosse, retomou o seu caminho que apenas foi findado assim que se clausulou entre as quatro paredes que somente a si pertenciam

Depois de pouco tempo estendida sobre a cama, ergueu o tronco do colchão e lembrou-se de algo que reservara ali, naquele seu mundo, durante todo o tempo que estivera fora. Levantou-se e acercou-se do roupeiro… “se não mexeram nem mudaram as coisas de sítio, ainda deve estar onde a deixei!” equacionou ela mentalmente. Abriu a última porta da sua esquerda e vasculhou, por debaixo dos lençóis perfumados a lavanda e num espacinho mínimo, lá se encontrava intocável a caixinha de música que o seu avô lhe oferecera quando teve a sua primeira aula de ballet, com apenas cinco anos de idade. Rodou a pequena chave e abriu-a com todo o cuidado, como se de uma peça de porcelana se tratasse. A bailarina presa penas por um pé em ponta, girava sobre o seu eixo à delicadeza de cada acorde da melodia acústica que soava e embalava o coraçãozinho apertado, de Joana.
Sentou-se à beira da cama e num canto da caixa bem dobradinha a quatro voltas, estava aquilo que pretendia encontrar: a única fotografia que tinha ao lado de Rúben, enquanto casal. Ela sorria com extrema felicidade para a objectiva, enquanto ele lhe beijava a bochecha com toda a delicadeza do mundo… Sem dúvida que fora aquele um dos dias mais memoráveis a que a sua vida já se expusera. Voltou a deitar-se e a encurvar-se sobre o próprio corpo, quanto com a fotografia escondida abaixo da almofada de cabeceira, deixavam impelir lágrimas silenciosas de um choro miúdo e veridicamente controlado.

- Menina Joana… - os dois toques com os nós das mãos do mordomo na porta, arrancaram-na abruptamente da estabilidade das relembranças mais longínquas – Menina…

- Eu disse que não queria ver ninguém, Leonardo… – relembrou numa expiração pesada, mas que acabou por ser contradita, ao lhe aceder permissão assim que enxugou as últimas lágrimas que lhe rasgaram o rosto como lâminas, e colocando o seu corpo numa postura mais recomposta e senhoril – … mas entra!

- Com licença! – pediu com a extrema educação que desde sempre portara e encostando a porta atrás de si, logo que entrou – Trouxe-lhe um chá, pensei que pudesse fazer bem… Não repara corações, mas pelo menos aquece-nos a alma.

- Oh, não era preciso teres-te dado a esse trabalho, mas obrigada… – num simplório trejeito que direccionou com o braço, apontou para a mesinha de cabeceira, onde ele acabou por pousar o tabuleiro com o bule, o pequeno açucareiro e uma chávena – E como é que tu…?

- Não precisa de me dizer quando está triste e mais em baixo… Consigo aperceber-me disso, só de olhar os seus olhos! – sorriu compreensivamente, como aquele que a conhecia melhor que ninguém – Vai precisar de mais alguma coisa?

- Não, querido Leonardo… Fico bem assim, obrigada! – agradeceu-lhe num sorriso de meninice, vertendo uma pequena porção de chá que ela preferia tomar sem qualquer adoçante – Hoje sais mais cedo, já passa da tua hora…

- Sim, eu sei…! Vim apenas trazer-lhe o chá e ver como estava! A minha Rosa deixou o jantar adiantado para que mais daqui pouco a Maria o sirva, e a sua avó já me deu condescendimento para me ir embora…

- Então do que estás à espera? – indagou por entre os breves sopros que expelia contra a bebida escaldada e fumegante, que segurava entre as mãos – Vai para casa descansar… Vai para junto da tua mulher!

Ele mais nada fez, do que lhe sorrir amavelmente e olhá-la embelecido! Era esta a menina que desde bebé ajudara a criar, uma menina doce, extremamente afável e de palavras delicadas… Uma menina que se havia tornado uma mulher de atitudes e valores, e por sua vez uma mulher que por fora lhe parecia tão inatacável, mas por dentro – e numa perspectiva transparente - tão temerosa e frágil.

- Primeiro ainda tenho que saber como a menina está… Como lhe correu o dia? – afirmou numa ignorância impertinente, que era imposta em todo o não saber, do dia intransigente e doloroso que tinha vitimado a sua pequena Joana

- Eu estou bem… E o meu dia, hum… Correu normalmente! – respondeu-lhe hesitante num molestado encolher de ombros, sem sequer pensar no erro fulcral a que se impingira e que a denunciava como um rápido pestanejar, quando encolheu os ombros e fitou outro ponto que não fosse a pessoa em questão para quem estaria a falar… era sempre este o jeito que Joana desde cedo se habituara a utilizar, sempre que queria fugir a algum assunto que não lhe convinha

- Hum, hum! – deambulou a cabeça vagarosamente de modo afirmativo, de mãos cruzadas atrás das costas, exibindo assim toda a farda negra formal, que elegante e charmosamente, lhe assentava – Desta vez, mas só desta vez… Vou fingir que acredito naquilo que está a dizer!

- Oh… Que queres que te diga, Leonardo? Apenas me limitei a responder-te sinceramente, àquilo que querias saber! – contrapôs rapidamente, tentando demolir todas as ideias que se podiam estar a formar na cabeça do seu querido mordomo… o seu eterno confidente 

Leonardo decifrou-lhe a efervescência que domava todos os pequenos jeitos que o corpo dela reproduzia… Desde ao olhar tumultuário que tomara o interior da chávena ainda cheia pelo chá, onde tomou pousio… Desde a perna entrelaçada acima da outra que balouçava de modo irrequieto, e do silêncio que acabara por adoptá-la.
Estava disposto a acarretar o pedido de Joana, ir embora e deixá-la sozinha… Deixá-la sossegada no seu canto a debater-se interiormente, mas foi quando já pronto para a abandonar, que ao olhar acima do seu ombro direito, as suas ideias se inverteram totalmente.

- Foi ele, não foi? – perquiriu  num assalto de voz benevolente e olhar aplaco, direccionado à postura amortecida dela

- Não percebi… - vergou miseramente a cabeça para o lado, tentando deslindar a impropera que Leonardo demandou de laçada, não lhe dando a ponta de um fio condutor à conversa

- É por causa do menino Ruben que está assim… Esteve com ele hoje, não esteve? – declarou com a sagacidade de quem desde o início esteve a par de tudo entre o ex-casal, pois Joana desde sempre lhe confiara a vida, e este era um segredo que teve a pujança de partilhar apenas com ele 

- Como… Como é que sabes? – ficou abismada com a perspicuidade que o seu mordomo acolhera, ao lhe ter adivinhado o fundamento causador de tanto distúrbio e exaustão em que estava irremediavelmente enovelada          

- A vossa fotografia… Tem-na aí debaixo da almofada! – voltou-se e apontou para a fotografia, desvendada por apenas um pedaço, com um leve aceno de olhar que desenredou o motivo da sua pergunta inicial – As saudades apertaram…

- Ai, Leonardo! – praguejou em tom trémulo, levantando-se num pulo habilidoso e dirigindo-se até à porta do quarto voltando-lhe as costas, no intuito de esconder o seu rosto desalentado e manter os dois corpos confortavelmente distanciados – Não existe saudade nenhuma!

- Quem foi que falou agora?… A razão, ou o seu coração? – aquela afectuosidade e bem conhecer que impunha no seu discurso, foram suficientemente abruptas para tocarem a alma trépida dela, a fazê-la latejar duas lágrimas anafadas que ao percorrerem todo o propenso do rosto, lhe dissiparam na brecha dos lábios selados – Disse o que sentiu, ou o que acha que é certo sentir?

- Eu já não acho nada… Eu já não sei nada! – bradou em timbre controlado, revelado pelo desespero e impasse que a cada minuto passeante do relógio a perpetuava – E não quero falar mais sobre esse assunto!

- Lembre-se que eu lhe cheguei a mudar muitas fraldas, que a conheço desde que nasceu… Pode cair no equívoco de se tentar enganar a si mesma, mas não tente enganar-me a mim! – a genuinidade com que ditou cada palavra saiu-lhe ainda mais serena com a postura paternal que naquele instante o governou

- Ai… - soltou num suspiro intenso, remetendo-se à escuridão que as pálpebras dos seus olhos cerraram num descaimento de pura desistência – Ainda só há uma dúzia de dias voltei e parece que o meu mundo já virou ponta de cabeceira… Como o David costuma dizer!

- Venha cá, sente-se aqui… - pediu-lhe docilmente, tentando fazê-la deslocar-se até ao beiral da cama – Agora com calma, fale comigo… Diga-me o que aconteceu…

- Aconteceu tudo o que não poderia ter acontecido… Tudo o que rezei para que nunca viesse acontecer! – desabafou tomando o lugar vago junto de Leonardo, que exasperava por uma resposta mais condescendente e clareada dela – Estivemos juntos no Salão de Beleza da Dona Anabela e… Ele tratou-me mal, fez-me sentir mal… Está muito ressentido comigo!

- Mas isso é natural… Passou-se muito tempo desde então, é compreensível que o menino Ruben reaja menos bem ao seu regresso, quando pensava que nunca mais a voltaria a ver! – a acentuada experiência dos seus cinquenta e poucos anos, permitiu-lhe expor as evidências dos actos soturnos que Ruben, tomara naquela tarde – Vai ter que lhe dar tempo…

- Eu compreendo-o, juro que o compreendo! Mas mesmo assim, ele não tinha o direito de me julgar pelo que fosse, quando não tinha em mãos verdadeiros motivos para o fazer!

- Não tem motivo, porque a menina nunca lho chegou a dar!

- Nunca lho dei porque não o pude fazer, Leonardo! Ainda para mais, menti-lhe… Disse que me tinha ido embora porque o sentimento tinha desaparecido entre nós… – desabafou em ânimo pesar, conectando a malvadez do seu acto insensivelmente injusto mas necessário – Sei que fui incorrecta, mas não havia outra maneira de pôr um ponto final em tudo!

- Há sempre uma outra maneira, um outro jeito de esclarecermos os mal-entendidos… É aquele de optarmos pelo caminho da verdade!

- Não, Leonardo! Temo que neste caso não seja tão simples assim… Por mais que queira, não lhe posso contar porque razão me fui embora e o deixei…

- Porquê? Tenho a certeza que se lhe explicar tudo com calma, ele vai compreender os seus motivos… – tornou a insistir, vendo-a deitar-se na cama e encolhendo o corpo, tomando as coxas dele, como moradia de travesseiro para pousar a cabeça… tal como fazia em pequena, quando costumava desabafar o que lhe ia na alma, com ele

- O passado é de pedra e por mais que o queiramos demover… Já mais iremos conseguir mudá-lo! – ressentiu-se em sacrilégio às próprias falhas que terá cometido no pretérito, deixando que os dedos grosseiros do mordomo lhe acalentassem os canudos mais rebeldes, do cabelo solto – Ele agora vai casar… Tenho a certeza que está feliz!

- E a menina… Está feliz?

- Não sei… Acho que ainda não! Mas espero em vir a tornar-me!

- O que é que sentiu, quando o voltou a ver? – voltou ele à maré de frases terminadas com um enorme ponto de interrogação, apenas na esperança de conseguir vir esclarecer as impetuosas dúvidas que abraçavam a insegurança de Joana – Não sentiu aquele friozinho na barriga?

Aquele comentário fê-la soltar que gargalhadinha suave… Sim, de facto até sentiu bem mais que um simples friozinho na barriga! Sentiu a nostalgia a levitar-lhe a alma… Sentiu as maçãs do rosto em brasa e o pequeno coração a estilhaçar o degelo que o envolvia e a aquecer de novo… Muito solenemente. Mas o sentimento que aprendera a apagar ao longo dos últimos meses, estava de novo atabalhoado… impreciso e naquele momento, nunca Joana se sentira tão desamparada, tão confusa e tão sem norte… Mas desse por onde desse, teria que dissecar tudo o que ainda pudesse restar daquele… Amor sem jeito.

- Como tu disseste, passou muito tempo! Quando o vejo, já não é suposto sentir nada, não é?

- Não sei… A isso é a menina que tem de responder, mais ninguém! – não conseguiu ficar indiferente à magistralidade daquelas palavras saídas dos lábios dela, e que tinham mais para revelar, do que pudessem parecer… e isso reflectiu-se num sorriso encantador que lhe corcovou cada quina da boca  

- Tenho medo, Leonardo… Nunca pensei em vir dizer isto, mas a verdade é tenho muito medo!… - devaneou após alguns ápices em integral silêncio, erguendo a cabeça das pernas do seu querido mordomo, apoiando-se com as duas mãos sobre o colchão e procurando-lhe a carência do olhar

- Medo de quê?… - informou-se com afinidade, arrastando as madeixas longas do cabelo que lhe escondiam um meio do rosto, para trás da orelha

- Tudo o que há no Ruben me faz apaixonar… De novo! E é disso que eu tenho medo… Medo de voltar a amá-lo ainda mais, do que alguma vez o amei… - desabafou num véu de nostalgia a embrenhar-lhe cada palavra, que custava tanto a ser ditada, como a ser entendida

- E o que é que sentiu, ao vê-lo ao lado de outra mulher?

- Não sei bem… Mas foi estranho! Ainda para mais, essa mulher é a Inês… a Inês que desde sempre esteve a meu lado em todos os momentos, que me apoio e que eu traí, assim que parti no primeiro voo!

- E isso não muda nada?

- Pelo contrário… Acho que muda tudo! – afirmou num rasgo de incerteza praticamente dissipada, enquanto levemente alçava o corpo e o colocava na mesma posição do de Leonardo, sentado fielmente a seu lado – Foi tão estranho e embaraçoso ao mesmo tempo, vê-lo agarrado a ela, trata-la com nomes que um dia me apelidou e discutiram projectos futuros como o casamento e a chegada de filhos! Senti-me tão mal, Leonardo, como se fosse “a outra”

- Sabia que esse tipo de sensações de que a menina foi alvo, nesses momentos, pode significar uma coisa…? – insinuou com a sapiência sensata, da testemunha fidedigna aquele amor proibido, que ele mesmo um dia representara 

- Que é o quê? – perguntou, num alento bafejado pela fé de um dia poder vir encontrar todas as respostas necessárias, àquele dilema que teimava em assombrar a sua vida

- Por tudo isso que sentiu, é provável que o sentimento que a unia a ele, não tenha desaparecido na totalidade… Talvez até esteja aí num cantinho bem recatado do seu coração! – um sorriso fraternal e altamente sincero foi esboçado nos seus lábios, ao instante em que os seus olhos abrigavam os dela nas palavras que já ambos conheciam – Talvez o vosso amor não tenha tido tempo nem de olhar para desaparecer… Ele pode estar apenas… adormecido!




Boa noite, queridas leitoras! :)
Antes demais, quero desculpar-me pela imensa demora em deixar-vos com mais um capítulo, mas como já tinha referido no post anterior, o tempo não é muito e agora com a escola, temo que a situação não venha a melhorar! :(
No entanto, aqui fica um novo capítulo que espero que gostem, e não se esqueçam de deixar os vossos comentários!:)
 Logo assim que puder, prometo deixar-vos com novas notícias!
Beijinhos a todas,
Joana 

   
  

12 comentários:

  1. Que saudades qe tinha de mais um capitulo teu! Está maravilhoso, como já nos habituaste :). Cheira-me que irá haver em breve problemas com o casalito, bem há que lutar pelo amor :p
    Beijinhoos

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  2. Olha lá... mas afinal o que é que o Ruben encontrou no chão??? Fiquei curiosa LOL

    Não sei como nem quando mas vais ter que dar uma volta a esta questão... não quero cá o Ruben casado com a outra... pois até um burro cegueta lol vê que é da Joana que ele gosta LOL

    Continua

    Beijocas

    S.M. http://redescobriroamor.blogspot.com/

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  3. ADORO tudo o que escreves!
    Mas por favor manda a Inês para Milão com bilhete só de ida!!
    E assim que poderes deixa-nos mais um capitulo teu.

    Bjokinhas
    Mariaa
    http://mariaainwonderland.blogspot.com

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  4. fantastico...

    quero mais... tou super curiosa para ver o proximo capitulo e para saber o que é que o Ruben encontrou no chao...

    continua...

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  5. Woow, adorei mesmo! Está lindo, aquele momento entre o Rúben e a Joana está mesmo uau!
    Continua!
    Beijo! :D

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  6. Que saudades que eu tinha de ler um capítulo teu.
    Mas porque é que ela não lhe conta a verdade,a ela e a nós, sim porque eu quero saber a verdadeira razão de ela ter ido para Nova Iorque.
    Sábias palavras as do Leonardo, e a Joana não vai voltar a gostar do Ruben porque ela ainda gosta do Ruben, e o Ruben continua perdidamente apaixonado pela Joana, por isso não faz qualquer sentido ele casar com a Inês.Concordo com a Maria manda a Inês para Milão e com bilhete só de ida.
    Adorei, mas gostaria de não esperar tanto tempo pelo próximo, mas se tiver que ser, paciência.
    Continua,

    Beijos

    Fernanda

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  7. Está simplesmente fantástico, como já nos tens vindo a habituar. Espero (e acho) que o que o Rúben encontrou e as palavras completamente verdadeiras do Leonardo contribuem para que os dois fiquem juntos.
    Espero atenciosamente por mais um capítulo maravilhoso que sei que vai chegar e espero ser breve. Parabéns pela tua excelentes escrita que me deixa completamente embasbacada, pois a tua capacidade para transmitir os sentimentos é única.
    Posta por favor o mais rapidamente possível, Cumprimentos :)

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  8. Oh meu deus, está tão perfeito.Que saudades que eu tinha de ler um capítulo teu.Porque é que ela não lhe conta a verdade,a ela e a nós, sim porque eu quero saber a verdadeira razão de ela ter ido para Nova Iorque.
    Adorei, beijinhos

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  9. querido/a seguidor/a, mudei o link do meu blog, e por esse motivo passei por cá para o deixar.
    agradecia que continuasses a seguir, beijinho*

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