quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Capítulo 6 - A saudade que o tempo não levou (Parte I)


Depois daquelas palavras, daquele desabafo, não havia uma resposta minimamente comburente e jaculatória que ela tivesse para lhe dar. Na verdade, já nada mais havia para ser dito… O discurso caminhava morosamente para o desgaste, os olhares retrucados em breve se iriam colmatar a um sôfrego pesar que nenhum estava disposto a sentir, e o sentimento que noutros tempos passados havia flectido aqueles dois corações, deixara simplesmente de ser alimentado e por conseguinte, deixara de ser real. Agora a vida de cada um tinha tomado rumos distintos, que não davam hipóteses a um possível cruzamento… Joana fora obrigada a converter os planos que já havia projectados para o seu futuro, o que levou ao seu afastamento demasiadamente prolongado e precoce, e Rúben… Bem, Rúben seguira enfrente e aprendera novamente a amar! Sim, de facto ele encontrara uma outra pessoa a quem podia chamar de amor, a todos os instantes e com quem escolhera acordar todos os restantes dias da sua vida, e era isso que dificilmente Joana se conseguira habituar… Irá ser sem dúvida custoso, dentro de breves meses voltar a reencontra-lo com uma nova aliança a decorar-lhe o dedo anelar esquerdo… A aliança e um novo estatuto, que irá ditar o fim perpétuo a um passado mal resolvido, o fim perpétuo a um amor… adormecido.

- Está na minha hora, é melhor eu ir andando! – informou Joana melancolicamente, pouco depois de voltar para o interior da casa e romper pela porta da sala de estar, onde se prostravam Rute, David e Adriana envoltos na alegoria de uma conversa bem-disposta, retorquida no largo sofá da divisão

- Já, querida? Mas ainda é tão cedo… Não queres esperar pelo teu padrinho? Ele não deve tardar em vir…! – disse-lhe Rute meigamente, mostrando o querer prolongar a estadia da sua querida afilhada, no seu lar

- Gostava de me despedir dele, mas é melhor não… Acabei por não avisar a minha avó que fiquei cá para o jantar, e não quero deixá-la preocupada! – justificou-se com um sorriso temeroso que acolheu na moradia dos seus lábios, e recolheu a mala que havia deixado pousada na poltrona

Esta era sem dúvida uma explicação plausível para a sua omissão de fuga, a que ela queria dar início, o quanto antes. Mas a verdade é que Joana estava de rastos… Não pelo cansaço fatídico que lhe combalia todos os membros depois de um dia que não queria chegar ao fim, como aquele, mas sim de rastos, pela exaustão a que os seus sentimentos desarrumados se haviam vitimizado, depois daquela inevitável conversa de jardim, que tivera há momentos com Rúben. Tudo o que queria, tudo o que o seu corpo pedia e a sua alma proclamava, era a estabilidade de um recanto só seu, onde apenas poderia encontrar em casa dos seus avós e remeter-se a umas quantas horas de um sono hiberno, que a levaria a esquecer todo o massacre de sentires a que a sua vida se predispunha, nem que fosse apenas, por alguns longos momentos.

- Então eu levo-te a casa… Também não me posso demorar muito, visto que ainda tenho pela frente, um trabalho que me vai roubar as horas de sono! – ao constatar toda a inquietação e nervosismo que abundavam na figura da sua mais recente conhecida, Adriana voluntariou-se a dar-lhe boleia, perspectivando que o facto de Joana guiar naquele estado uma mota, não seria de todo, uma boa ideia

- Agradeço-te a atenção Adriana, mas não vai ser preciso! Estou de mota…

- Ah, acho melhor cê aceitar a boleia, Joana… Deve ‘tar cansada da viagem e desse dia… E a casa dos seus avós não fica tão perto quanto isso! – pelo mesmo motivo, David apoiou de imediato a sugestão da sua amada, zelando pelo bem-estar da sua velha amiga, que naquele momento devia estar de todas as maneiras, menos estavelmente equilibrado

- Se tens mesmo que ir agora e vendo as coisas nessa perspectiva, também acho melhor em a Adriana te ir pôr a casa… Fico mais descansada assim!

Perante todas aquelas objecções, visivelmente recusáveis a uma possível rejeição da parte dela, Joana viu-se nada mais que obrigada a aceitar.

- Sendo assim… Tudo bem! – clarificou, num leve encolhimento de ombros que depois voltaram a relaxar, assim que descaíram

- E não te preocupes com a mota, que depois mando alguém lá ir levar-ta! – garantiu-lhe mais uma vez a sua madrinha, levantando-se e fazendo-lhe um leve carinho fraternal no rosto, que há tanto tempo não tinha a laicidade de tocar

- E a minha Sofia, onde está? Queria dar-lhe um beijinho antes de ir… - posicionada no mesmo ponto, com o olhar Joana lobrigou toda a sua periferia, na esperança de dar pela parecença sempre energética da sua pequena reguila, por quem o seu amor já mais se tornaria esgotável

- Fui deitá-la lá em cima… O David andou a brincar com ela e ficou cansadinha, ainda deve estar a dormir! – disse-lhe Adriana docilmente, revelando a instância de euforia que se havia facultado talvez no mesmo instante, em que viu a sua vida a andar para trás, naquela maldita discussão

- Então eu vou só espreitar ao quarto, ver como ela está… Não te importas de esperar só um pouquinho? – pediu-lhe num tom afável e sorriso  detonado em seus lábios, bocelados num pálido tom rosa e sem brilho  

- Oh, claro que não! – respondeu prontamente, deixando visível toda a sua compreensão e amabilidade, que já tão bem se conseguia caracterizar na sua personalização – Então enquanto lá vais em cima, eu vou andando para o carro… Espero-te lá!

- Está bem, prometo não demorar! – jurou numa promessa fiel, tomando rumo já na saída da sala

- Amor, encontramo-nos em casa, sim? – disse Adriana ao seu querido David, num tom apaixonado e olhar penetrante, que foi de imediato ao encontro dele

- Claro que sim, meu anjo! – sorriu-lhe abastadamente em sinal retributivo e depois despediu-se dela, com um curto mas não menos sentido, beijo nos lábios – Hum…  e o Ruben, onde anda?

Ao ouvir aquela pergunta, todo o corpo de Joana petrificou, já quando cortava a porta da sala e ainda sem saber que resposta invicta iria alegar, olhou-os com o queixo acima do ombro, numa expressão verticalista.

- Acho que está lá fora! – indagou simplesmente sem mais nada adiantar e seguiu rapidamente até ao piso superior sem voltar a olhar para trás, no receio de ser submetida a mais uma pergunta, ou ser alvo de mais um confronto que poderia ter com Ruben assim que os seus caminhos tomassem a ousadia irrevogável, de se alinharem

Assim que se aproximou da porta revestida por um branco imaculado, pertencente ao quarto dos seus padrinhos e onde a jovem Sofia repousava num sono tranquilo de uma criança feliz, o olhar da rapariga de dezanove anos recém-chegada ao abeto do seu lar, oscilou para lá da brecha… e sem conseguir resistir… entrou de mansinho!
No mesmo instante após a sua entrada um quanto infiltrada, arrependeu-se de o ter feito, pois bem ali, na sua frente mas voltado de costas, encontrava-se Ruben… Sentado à cabeceira e junto da menina, que albergava sobre um olhar protector de segundo pai.
Voltar atrás e flagelar-se daquele lugar somente para fugir a mais uma pesarosa “confraternização”, agora já seria considerado tarde demais e de certo que de uma maneira ou de outra, ele iria dar pela sua presença… talvez bem mais prestes do que Joana conseguia antever.

- O que fazes aqui? – inquiriu-a num tom sussurrante de modo a não despertar abruptamente a pequena, assim que Joana tomou coragem para se abeirar da cama… enlameados à luz regulada a pouca intensidade sobre as mesinhas de cabeceira, circundando-os num pequeno ladear de luminosidade que não era incomodativa

Um sorriso espontâneo arrebitou-lhe os cantinhos da boca, olhando a serenidade de um pequeno anjo que acolhera a sua menina, num sonho que se conseguia adivinhar muito doce, apenas pelas feições rejuvenescidas que Sofia expressava no rosto pueris, ainda de uma bebé, que lhe revelavam uma aura apazigua e intangível… Alinhando-lhe levemente com os dedos, os cachinhos perfeitamente definidos do cabelo moreno, espalhado ao acaso sobre a almofada de travesseira.

- Vim dar-lhe um beijo, antes de me ir embora! – ciciou sem tomar a coragem de o abordar nos olhos, pois se o fizesse, quase de certeza que a voz firme iria quebrar-se como uma eclosão de tiros disparados ao ar e a sua alma voltaria a tremer que nem um torpedo revoltado

- Se vais por minha causa, escusas bem… Só vim acordar a Sofia e já vamos embora! – com um fáceis taciturno, falou-lhe num tom um quanto desengonçado que lhe reflectiu o acto minimalista, de tratá-la como se fossem simples conhecidos de rua – Poupo-te ao sacrifício de andares sempre a fugir de mim…!

- Eu não ando a fugir de ti, Ruben! – vociferou desgrudada de pujança e nada gostosa da resposta espingardada dele, mas depressa voltou a diminuir o volume da sua voz assim que Sofia se remexeu ligeiramente por debaixo dos lençóis, dando falso alarme do seu despertar – Não queiras começar novamente a discutir!

- Aqui ninguém está a discutir… Estou apenas a tentar formar uma conversa!

- Conversa… - um sorriso conotado pela ironia, formou-se assim que um  breve bafejar contundente lhe pairou sobre a abertura dos lábios – Nós já nem sabemos o significado dessa palavra!

Ruben mais nada lhe disse, limitou-se a enfiar os dedos nos bolsos frontais dos seus jeans, e observar a postura lívida e serena da sua pequena afilhada. Por sua vez, Joana voou com os seus lábios até à pele moreninha da face dela, repenicando-lhe um beijo silencioso que fez eclodir o sentimento maternal que mantinha num enlace forte, com aquela menina.
 
- Até depois, meu amor… - um bulício inebriante soltou-se da boca de Joana e viajou até ao ouvido de Sofia, escondido pelas mechas mais rebeldes dos seus cabelos e depois sem mais proclamar, afastou-se, na iminência formalista de querer sair daquele quarto sem trocar mais nenhuma palavra, nem um olhar, com Ruben

- Quando é que pensas voltar para Nova Iorque?

Aquela patusca, e até mesmo absurda pergunta, fez Joana interromper a sua marcha até à saída que já se avistava curta demais, para ser barrada por novos palavreados que não queria nem estava mais disposta, a escutar.

- Desculpa? – dois vincos ondulares formaram-se na sua testa, no instante em que os sobrolhos se encresparam, tomando a atitude de rodar sobre os próprios calcanhares

- Sim… Quando é que voltas para lá? Com certeza que não vieste para Lisboa, para ficar definitivamente! – proferiu mais uma vez sordidamente, levantando-se com a máxima delicadeza do colchão e seguindo a passo ligeiro, até Joana

- Eu não vou voltar para Nova Iorque… Não definitivamente! Agora a minha vida é aqui!

- Já sabes muito bem qual é a minha posição quanto à tua permanência cá, portanto… Não me vou voltar a pronunciar quanto a isso!

- Achas mesmo que me vou embora só porque não me queres cá, não é?! – inquiriu retoricamente, sabendo não aguardar por nenhum consentimento dele – É bom que te mentalizes de uma vez por todas, que o mundo não gira à volta do teu umbigo e que por conseguinte, eu não vou a lado nenhum apenas pelo facto de te rebaixares a fazer birrinha, que nem um miúdo mimado! – rematou de primeira, sem deixar que algum remorso a impedisse de dizer aquilo que pensava e depois fez rodar a maçaneta da porta na sua mão, somente na intenção de abandonar o quarto

- Onde é que pensas que vais? - num gesto nada meigo, Ruben prendeu o braço dela entre a sua mão grande e forte que a impedia de tomar qualquer contra-ataque, e puxou-a com avareza contra o seu próprio corpo - Não penses que te vais embora e ficas com a última palavra! – murmurou num suspiro ardoroso, que embateu e afastou alguns dos cabelos que cobriam o ouvido direito de Joana

- Solta-me… Estás a magoar-me! – embora tivesse voltado a sentir a parafernália do tão explorado “efeito borboleta”, que tomou lugar na sua barriga no momento em que aquela voz enamorada timbrou junto à sua têmpora e voltou a desfrutar da proximidade dois corpos, a rapariga não pode deixar de sentir a dor acutilante que se unificou na zona do antebraço, por intermédio da força bruta que Ruben inconscientemente implantara e que com os dedos fez questão de atenuar, mas sem nunca cair no erro de a soltar – Afinal o que é que queres de mim… Hum? – a sua voz fulcral deu cedências a um choro sereno, que estava decidida a travar

- Quero que prestes bem atenção àquilo que te vou dizer, porque não me vou repetir! – iniciou o aviso que lhe iria transmitir, com a mesma prepotência de quem, naquela circunstância, assumia todo o controlo – A minha noiva está de volta dentro de alguns dias e…

- E o que é que eu tenho a ver com isso? – perquiriu de rajada, sem deixar que Ruben finalizasse o praguejo que iria trazer dissabores e conflitos interiores a Joana, deploravelmente incalculáveis

- Nada… Não tens absolutamente nada a ver com isso, mas quero que saibas desde já, qual é o teu lugar! – uma indiferença ríspida e bruscamente frívola, cabotou-lhe a voz que desde sempre fora levedada e novamente num impulso bruto, voltou a puxá-la de encosto ao seu tronco, anuindo toda a mísera distância que ainda os separava… fisicamente – Que isto fique bem claro: Nada do que poderás vir a fazer, irá apagar o que me fizeste sentir… Por isso, não tomes sequer a ousadia de te meteres entre mim e a Inês! É com ela que eu vou casar, é ela quem eu quero e é ela a mulher que eu amo!... Percebido?!

O exíguo mundo de Joana, acabara de ruir naquele instante… como uma derrocada lenta e extremamente dolorosa. Não conseguiu dizer assertivamente a mescla de sentires que lhe golpearam o peito, mas sabe que foi assustador, foi bastante assustador ter tido o perjúrio de ouvir tais palavras! A tremulosidade começou a unificar-se nas suas pernas, o que abriu caminho a uma embolia vertiginosa que apenas foi travada pela força que Ruben continuava a implementar-lhe no corpo, e que a fazia suster-se em pé. As lágrimas que lhe subiram até às pálpebras inferiores provocavam-lhe um ardor berrante, no entanto, continuou a mostrar-se invicta de postura vincada a não ser quebrada, sem deixar que a fraqueza se sobrepusesse ao seu orgulho e pudesse assim, escapar a mais uma humilhação na frente dele.

- O que te leva a pensar que eu me iria meter na tua relação com a Inês, hum? – o queixo começou a tremelicar discretamente, assinalando a corrente lacrimosa que estava prestes a quedar-se dos seus olhos, mas assim que selou os lábios fortemente um no outro, o declame pousou por momentos, sob o limite do controlável 

- E o que me leva a pensar que não o irias fazer?

- Não sei… Mas talvez o facto de não existir nenhuma ligação sentimental que me prenda a ti, fosse uma resposta coerente a esse teu devaneio!

- Não é nenhum devaneio! Eu já te sei de cor… Depois de tudo, suponho que farias qualquer coisa para me veres infeliz… Sei que isso te dá um gozo tremendo, por tanto, não foi muito difícil tirar uma conclusão desse facto! – a ironia acutilante recrutou-se visivelmente, não apenas pelo tom de voz, mas também pelas cavidades arredondadas que as suas bochechas oprimiram, assim que um sorriso hipoteticamente vingativo o fez arquear os cantinhos da boca

- Tornaste-te um homem tão diferente, Ruben! Tão diferente… - lamentou, no faculto de um trejeito desiludido com a cabeça, engolindo simultaneamente todas as lágrimas

- Diferente?! Não noto em que aspectos…

- Eu noto em bastantes! Nunca foste tão frio… Tão vingativo! Nunca te irias aproveitar duma situação destas, para me deitares abaixo, como estás a fazer agora! – recriminou, deixando pender a cabeça para o ombro direito, perscrutando todos os traços do rosto dele que tinham sofrido maduras alterações em prepotência dos últimos meses

- Pois, talvez nisso tenha mudado um pouco… Mas sabes uma coisa, Joana? Muitas coisas mudaram desde que te foste embora, e vendo as coisas dessa maneira… Então eu também mudei!

- Mudas-te para pior, portanto! – a íris rolou sobre a esclera dos seus olhos, revelando a clarividência da sua afirmação em prol dos novos comportamentos mais… presumidos, que Ruben com o passar do tempo havia aprendido a portar

- Mudei e tornei-me na pessoa que talvez, tu própria transformas-te… - pela primeira vez uma nublidade carregada de vermelhidão, abarcou sobre os seus olhos avelã, que inevitavelmente os irradiou de tanta raiva… era visível perceber-se que ainda lhe custava imenso tocar naquele assunto – O homem que está na tua frente, o mesmo homem que dizes estar diferente, talvez o esteja por ainda continuar demasiado apreendido ao passado… a tudo o que se passou!

- O que queres dizer com isso? – a sua voz perdeu intensidade e somente foi timbrada num murmúrio fugidio, tencionado a olhá-lo bem nos olhos

- Quero dizer que talvez a culpa até seja minha… Talvez seja eu o culpado pelo facto de nunca ter conseguido ultrapassar totalmente, a nossa situação! – o escárnio imposto, comandou-lhe todas as expressividades faciais que o impediram de jorrar uma lágrima que fosse, mesmo que essa fosse a maior vontade que o seu corpo apelava – Sim, porque a verdade é que já passou imenso tempo e ainda não consegui ultrapassar… Ainda não consegui esquecer!

- Porquê? – ciciou ela molestadamente, não tendo tempo para travar uma pequena lágrima que acabou por lhe rolar sobre a bochecha esquerda

- “Porquê?” Ainda perguntas, caramba?! – vociferou exaltado, mas rapidamente voltou a moderar o tom de voz assim que numa breve conjectura, observou Sofia… adormecida na figura austera de um pequeno anjo – Tu deste-me a volta à cabeça… Fiquei completamente agarrado em ti e depois desapareces-te! Pra mim, o tivemos não foi brincadeira nenhuma! – revelou em surdina e de mão livre junto do peito, sem conseguir definir o sentimento recalcado pelo tempo… que um dia, outrora, os definira – E do que é que isso hoje me vale?… Olho para ti e parece que já nem te reconheço! – os seus braços ergueram-se no ar e depois voltaram descair-se pesadamente, deixando que as mãos maçassem contra as coxas

- Não digas isso… A Joana que sempre conheceste, está aqui… Está de volta! – citou, tentado sempre reter a bonança que lhe acalentava a voz, assim como em todas as feições que continuavam contraídas na precates de lhe suster o rebentamento de um choro profundo   

- Mas eu não! O Ruben que está aqui, é um novo Ruben… Um Rúben com novos objectivos de vida, novos sonhos! Um Rúben que se habituou à tua ausência… a ter-te bem longe! Agora sou um Ruben que está definitivamente a conseguir seguir com a vida para a frente, sem esperanças de recuperar o que nunca chegou a ter! – cada palavra que acrescentava ao discurso, fê-lo esmorecer um pouco mais, mas sem nunca deixar que esse facto se chegasse a reflectir numa eventual postura derrotada

- Eu só quero que faças as escolhas certas e não te arrependas delas… Independentemente de tudo, só quero que estejas bem!

- E estou bem, acredita que agora estou bem! Demorei a compreender, e a chegar a esta conclusão… Mas cheguei! – encenou uma certa lividez de proletarização cínica, que foi suficiente para dar asno a um discurso que iria estilhaçar certamente, todo o frágil auto-controlo que ainda poderia resguardar a postura da pobre Joana

- E posso ao menos saber que conclusão é essa que tiras-te? – nesse instante foi a vez do seu órgão vital relembra-la que ainda continuava viva, propalando freneticamente dentro do peito sobrecarregado pelas fortes emoções… aguardando uma conferição que já julgava nada aprazível, vinda de Ruben   

- Finalmente apercebi-me da verdade… Começo a acreditar que não foste mais além dum meio, para que eu chegasse a este fim! Não passaste de uma fatalidade… Não passaste de um grande erro e arrependo-me todos os dias, por alguma vez me ter apaixonado por ti!... É essa verdade!

Joana estremeceu… Foi inevitável não o ter feito. Conforme uniu as pálpebras lentamente num selamento, as lágrimas jorraram-se em cascata pelas faces decaídas do seu rosto oval. Ela simplesmente não lhe disse mais nada, até porque já nem tinha como o fazer… comediu-se a sacudir a mão de Ruben, que ainda a amarrava pelo braço e num leve empurrão potencializado pela quase desprovida força, de mãos junto do peito, afastou-o a dois passos curtos e recuados, para longe do seu corpo.        
A humilhação havia sido pregada mais uma vez e nem querendo dar por conta disso, um choro potente e soluçante, rebentou do mais profundo de si. Sem mais conseguir olhá-lo, abriu a porta e saiu disparada a uma passada rápida pelo estender do corredor, acabando por descer as cruciais escadas semi-circulares de um jeito desenfreado, que a fez regressar ao rés-do-chão. De olhos encobertos pela translucidez que as lágrimas eram obrigadas a incutir-lhe, agarrou na mala que tinha abandonado sobre a mesinha do hall e semente querer dar hipóteses ao reecontro com alguém que pudesse requisita-la sobre o estado anatómico em que se encontrava, esgueirou-se fatigadamente pela porta principal, que a levou ao alpendre de entrada. Num leve varrer de olhar, fitou toda a sua perspectiva orbital, na esperança de encontrar somente uma pessoa… Adriana(!), e sim, à coordenada do seu ponto nordeste, encontrava-se ela… Numa postura evidente de quem a aguardava, de costas apoiadas à porta de pendura do seu jipe e com os braços elegantemente entrelaçados de encosto ao peito.

- Leva-me para casa, Adriana… Por favor, leva-me para casa! – implorou-lhe em ordem de súplica  logo que se acercou dela, impedida de se exprimir devidamente por locuções, devido ao entrecorte contingente do forte soluçar

- Mas o que é que…? Tem calma Joana! Porque estás assim? O que aconteceu? – perguntou-lhe em desassossego e ânsia, não fazendo a ideia mais peculiar do que tinha deixado Joana naquele estado inconsolável,  e pousando-lhe subtilmente as mãos sobre os ombros

- Foi o Ruben… Não consigo aguentar isto! Não consigo…! – afirmou em total desespero, com braços descaídos junto ao tronco e de punhos cerrados que tremeleavam inquietamente

- Oh, vem cá… - Adriana tocou-lhe delicadamente na face com a polpa dos dedos, conseguindo patentear a fusão de lágrimas que lhe ensopavam as maçãs do rosto e num leve puxão que tomou nos ombros dela como o ponto vertente, aconchegou-a num abraço de conforto, enquanto fazia deslizar a sua mão para cima e para baixo sucessivamente, de modo a conseguir harmonizar o tumulto que havia adornado a alma de Joana – Tens que ter calma… Já vai passar! 

- Vai ter que passar! – afirmou ela de prestante, tentando convencer-se a si mesma… tentando conformar-se a si mesma

- Vais ver que sim! – prometeu-lhe, quebrando pausadamente o abraço e afagando-lhe as lágrimas que não cessavam de se precipitar dos olhos

- Mas porque é que ele tem que me tratar desta maneira… Porquê?

- Acredito que o Ruben ainda esteja bastante magoado contigo Joana, e depois de ser confrontado por ti novamente e sem estar à espera de te voltar a ver… É natural que ainda não consiga assimilar tudo de uma vez naquela cabecinha… É natural que se sinta confuso quanto à maneira de como agora, terá de agir contigo!

- Eu sei Adriana, eu sei! Mas isso não lhe dá o direito de me tratar como se fosse lixo… Como se fosse um monstro e a culpa tenha sido apenas minha! – desabafou soluçante, agora num tom mais moderado na esperança de poder sentir-se mais complacente, em lucro dos sentimentos vários que se haviam despoletado em si

- Como dois adultos, vocês de uma maneira ou de outra, terão de aprender a lidar com esta situação! Eu sei que é difícil e muito provavelmente vai ser doloroso de cada vez que se cruzarem em algum lado, ou marcarem presença no mesmo espaço… Mas independentemente de tudo, têm de seguir com as vossas vidas!

- E é o que eu quero fazer… Quero seguir com a minha vida para a frente! Foi por essa razão que voltei e é por essa razão que eu vou ficar!

Não disseram mais nada, entraram no carro e sobre o relevo de um silêncio sinistro, Adriana conduziu toda a viagem até à mansão dos avós de Joana. Não encontravam pontas de fio que pudessem ligar a uma pertinente conversa… mesmo que fosse apenas de circunstância, depois daquele serão nem um pouco benigno, e se por um lado Adriana não sabia que melhores palavras lhe poderia dizer para acabar com toda a angústia, por outro, Joana sabia que nada do que lhe pudesse ser dito viria a serenar o seu estado de espírito.
Agora, por muito que lhe custa-se, teria que pelo menos tentar apagar aquele dia da sua memória… O dia em que voltou!

- Se precisares de alguma coisa, não hesites em ligar-me… Tens aí o meu número! – Adriana passou-lhe um cartãozinho rotulado com o seu primeiro e último nome e com o seu contacto, assim que estacionou o carro frente ao portão imperativo de gradeamento forjado, que resguardava a enorme mansão

- Não tinhas necessidade de fazer isto, Adriana… Obrigada! – agradeceu simplesmente, mas ainda com um sorriso triste a vincar-lhe os lábios e o olhando o pequeno cartão que já tinha tomado nas suas mãos

- Não tinha a necessidade, mas senti-me no direito de o fazer! - respondeu-lhe numa voz calma e equilibrada, mostrando-lhe toda a sua compreensibilidade e compaixão que se talhavam em contexto dos factores, anteriormente sucedidos – E já me agradeces se me prometeres ficar bem… ´

Joana quedou-se emudecida, procurando uma boa resposta para lhe dar, de modo a que não a viesse desiludir. 
Mas sim… mesmo que não fosse agora, mesmo que não fosse já, teria que encontrar a paz que precisava para que pudesse assim, ficar bem… Porém, num mundo só seu.

- Acho que vou precisar de algum tempo para me habituar a tudo isto, e depois de resolver tudo o que ainda há para ser resolvido… Sim, vou ficar bem! – reflectiu passivamente e voltou a pousar o seu olhar, sobre o piedoso de Adriana, incutindo-lhes uma breve troca de um sorriso cúmplice

- E o que pensas em vir fazer agora?

- Em relação a quê?

Nesse instante, Adriana ressentiu-se. Sabia que tinha voltado a tocar no tema proibido… Voltado a tocar no assunto que Joana queria bem morto, mas que lhe foi inevitável voltar a atear. Mordiscou o lábio inferior levemente, tentando ganhar algum alento para acabar o que tinha começado, e assim que se sentiu pronta para tal… Voltou a abordá-la numa voz suave, de veludo.

- O que vais fazer em relação ao Ruben…

- Não sei… - divagou muito reticente, não fazendo a mais pequena ideia de como teria que encarar a posição que ambos tomaram, mas que tinha de ser, inegavelmente, ultrapassável – Talvez faça como ele… Faço de conta que “nós”, nunca existiu!


***


Ela acabou finalmente por entrar em casa, com o auxílio de uma cópia da chave mestra que naquela tarde, o motorista lhe chegara a conceder e como era ainda superficialmente cedo pelas horas nada adiantadas do relógio, naturalmente a casa estava iluminada pelas luzes incandescentes que enlameavam quase todas as divisões do primeiro piso.  

- Joana, filha… já chegas-te! – evidenciou Sofia, assim que enquanto na sua postura vogas de senhora elegante, descia em passo cortês as longas e obliquais escadas forradas por uma carpete vermelha escarlate… pressagiando a presença monocarpa da neta

- Boa noite, avó! – saudou-a da forma mais amável que lhe foi possível, presenteando-a com um modesto beijo numa das faces da sua segunda mãe, assim que esta se repeliu do último degrau – Desculpe não lhe ter dito nada com antecedência, mas os meus padrinhos convidaram-me para lá jantar em casa…

- Eu já sei minha querida, a Rute ligou para cá à coisa de instantes! – perdoou-a compreensivamente, esboçando-lhe um leve rasgo de fraternidade – A Maria já preparou o teu quarto, quando quiseres ir descansar… já sabes onde é!

- Sim, acho que é mesmo isso que vou fazer! Vou subir e dormir um pouco… Amanhã levanto-me cedo para passar pela faculdade, acertar as últimas burocracias da equivalência às cadeiras!    

- Joana, espera… Olha para mim! – clamou-a, vendo-a começar a subir a escadaria, que tal como Joana desejara, a conduziria até ao quarto que desde criança lhe havia pertencido, e ao qual voltaria a dar uso

- Sim, avó… - rodou brevemente os pés, apoiando somente uma mão no corrimão de madeira jatobá preso aos balustros, pintados com uma cor caramelizada

- Aconteceu alguma coisa que me queiras contar?

- Não…! Porque pergunta?

- Anda cá! – pediu-lhe em condescendência, estendendo-lhe a mão a fim de Joana a tomar… ela voltou a descer os primeiros degraus e remontou a sua figura, bem perto da de Sofia – A expressividade do teu olhar está taciturna e as feições do teu rosto entristeceram, desde esta manhã… 

Nada lhe escapava! Sofia conhecia bem demais a sua neta, e nem os últimos anos lhe conseguiram roubar essa perspicaz qualidade… Continuou a observá-la meticulosamente, deixando à mostra algumas das rugas de sabedoria cicatrizadas em semicircular abaixo, e no vinco posterior dos olhos, assim como em redor dos lábios finos protegidos por um bálsamo hidratante, e segurando-lhe o queixo arredondado com o indicador e polegar

- Tive um longo dia, avó… Estou cansada, só isso! – omitiu desviando olhar do ocular da avó, que nem assim se deixou induzir pela piedosa preterição da neta

- Sabes que eu já tive a tua idade, meu amor… Sei o que é não conseguirmos desabafar o que nos apoquenta com os que nos são mais próximos, mas espero que um dia te sintas à vontade para o fazer comigo! – com uma delicadeza que já tão bem lhe era característica, acolheu o rosto de Joana entre a pureza das suas macias mãos de fada e fê-lo agachar-se ligeiramente no propósito de colar os lábios à testa dela, que acabará por beijar – Mas agora vai descansar… Amanhã falamos melhor!

- Obrigada… Até amanhã, minha avó! – gracejou, copiando-lhe o mesma carícia e retomando a subida vagarosa, ao primeiro andar

Rumou até ao quarto assentado por detrás da última porta ao fundo do corredor e conforme entrou, um enxurro de recordações de meninez, fizeram-na desatar uma profunda lufada de ar fresco, acompanhada por um contrafeito sorriso saudosista. A sensação de estar de volta, era boa… Muito boa!
Ao percorrer cada recanto daquela divisão com o olhar, Joana conseguia-se recordar da infância afortunada a que teve privilégio… Apenas pela decoração que se mantivera igual, tal como da última vez que pisara aquele pedaço de chão… Recordou-se da infância, também pelo cheiro adornado de jasmim que ainda adejava cada película de ar quente, que a circundava.
As suas malas de viagem estavam já arrumadas a um dos extremos, toda a sua roupa depositada em cada cabide do abastado roupeiro de molde epicamente antigo e que dava um ar deveras imperial.      
Deitou-se sobre a cama, e deixou-se permanecer de olhos pregados ao tecto imaculado que se estendia paralelamente ao seu corpo. Durante a chefia de algum tempo, andou perdida no sabor de lembranças que lhe aguçavam a saudade de outros tempos de que tanto sentia carência… E nesses outros tempos, marcava inevitavelmente comparência, Ruben(!) pronto, quase sem querer, lá voltara ela ao seu ponto de partida: Ruben, Ruben e novamente Ruben! Mas agora era um Ruben diferente… mudado!
“Mudei e tornei-me na pessoa que talvez, tu própria transformas-te…”, acusou-a ele magoado, num sussurrar difícil de esquecer… na turbulência daquela noite. 




***



Um número avolumado de dias, sucedeu-se uns atrás dos outros a uma velocidade louca, e entre a faculdade e as arrumações do apartamento que tinha arrendado e que iria chamar de nova casa, Joana pouco tempo teve para respirar. Apenas permaneceria na mansão dos avós, até às mudanças estarem definitivamente concluídas, visto que voltar para a sua antiga vivenda onde vivera a maior parte da sua puerícia com os seus progenitores, estava fora de questão. Não queria voltar a consentir o duro pesar das recordações dos momentos mais felizes da sua vida… Talvez por ter consciência que esses momentos já mais iriam voltar, e viver perpétua às memórias invejais, de certo que lhe viria a trazer dissabores que não estava mais disposta a conjecturar.
Fora tomar o café prometido com David e aproveitaram para recuperar o tempo perdido e trocar impressões das circunstâncias de que ambos tiveram, ausentes na vida um do outro… E desde o dia em que a conhecera, nunca mais perdera contacto com Adriana, que com o culminar de conversas prolongadas e saídas de convivência, estava a tornar-se uma grande e fiel amiga, que com toda a certeza ainda lhe viria a dar grandes alegrias. Já no que toca a Ruben… Nunca mais vira, ou ouvira falar dele.

Naquele dia, Joana acordou cedo pois teria pela frente uma manhã exaustiva, toda ela preenchida por aulas. Caminhou até à casa de banho onde tomou o seu habitual e imprescindível duche, que não se evitou em prolongar. Envergou um vestidinho leve e confortável, tal como a fresca época do ano quase Verona, tanto apelava. Enxugou o longo cabelo com o secador, robustecendo ainda mais o volume com umas leves passagens com o ferro. Maquilhou-se de tons leves e perfumou a pele nua do pescoço.



“De: Adriana Côrte-Real

Bom dia, flor do dia! :)
Mando mensagem para acertarmos a hora e o local do nosso almoço! Já tenho saudades tuas… Beijinho!” – assim que Joana voltou a romper pelo quarto, cravando a pequena argola dourada no nariz, o seu telemóvel vibrou sobre a mesinha de cabeceira

“Para: Adriana Côrte-Real

Bom dia, bonequinha! :)
Também já tenho saudades :3 … Tenho aulas até ao final da manhã, a partir das 13h estou livre! Onde queres ir? Beijo, beijo!”


“De: Adriana Côrte-Real

Hum… Eu estava a pensar naquela esplanada que te falei, no Chiado! Se te parecer bem, podemo-nos encontrar lá por volta das 13.30h…
Tenho tanta coisa para te contar…”


“Para: Adriana Côrte-Real

Por mim está perfeito! :)
Hum… Olha que vou querer saber tudinho! À hora combinada lá estarei!


“De: Adriana Côrte-Real

Está bem, pequenina! Então até mais logo, beijozão enormeee! ♥”


“Para: Adriana Côrte-Real

Outro bem grande para ti, gatxinhaa! Até depois! ♥”

Guardou o telemóvel na mala e saiu dispararada até ao rés-do-chão, onde se situava a cozinha.

- Bom dia, bom dia, bom dia! – saudou super animada, dando um beijo no rosto de Leonardo, Rosa – a cozinheira anafadinha e esposa de Leonardo – e Zeca – o motorista na recente casa dos trinta

- Bom dia, menina! – responderam os três, quase ao mesmo tempo

- Isso é que é boa disposição logo pela manhã, ein?! – comentou Rosa, adiantando já os preparativos para o almoço na grande mesa de mármore cálida disposta no centro da cozinha, e de onde Leonardo e Zeca desfrutavam do pequeno-almoço

- De manhã é que se começa o dia, não é verdade? – roubou uma maçã madura da fruteira e lançou-a ligeiramente ao ar enquanto se conduzia até ao lava-loiça, para passar a fruta por água antes de a abocanhar – Hoje acordei bem-disposta… Fazer o quê?  

- A Maria já foi servir o pequeno-almoço à sala de jantar, menina…!

- Não tenho tempo para tomar o pequeno-almoço, Leonardo…Não me posso demorar para ir apanhar o metro, vou só comer esta maçã!

- Não precisa ir de metro… Posso ir preparar o carro e levá-la à faculdade! – ofereceu-se Zeca, amistoso, apresentando-se sempre impecavelmente engravatado, tal como o cargo que empenhava exigia a fundear

- Hum, hum… De jeito nenhum! – recusou numa negação acompanhada pelo abano da cabeça, depois de mais uma pequena trinca dada na peça de fruta que segurava entre o dedo médio e polegar

- Mas é esse o meu trabalho, menina Joana… Não me custa nada!

- Obrigada Zequinha, mas eu desenrasco-me! – falou num jeito trocista, advertindo o motorista e pegando na pequena pilha de livros que acabou por segurar entre o braço esquerdo – Se os meus avós perguntarem por mim, digam-lhes por favor, que eu já saí… Beijinhos! – beijou as pontas dos dedos em três toques de lábios rápidos, e depois acenou-lhes num frenético agitar de mão aberta no ar, uma última vez – Fuuui! – despediu-se velozmente, sem estar minimamente preocupada em ser correspondida, e saindo pela porta da mesma maneira que tinha entrado – que nem uma bala disparada do cano de uma pistola



***


Um céu extremamente azul devoluto de nuvens, dava clemência a um sol altivo e muito agradável. Depois das aulas exaustivas na faculdade, Joana apressou-se a apanhar o autocarro que a deixaria mais próxima do local onde havia combinado encontrar-se com Adriana. Ao sair na paragem que pretendia, seguiu o resto do percurso a pé junto do passeio largo e pedonal, mas foi ao passar junto do quiosque que já tão bem conhecia, que uma capa de revista a fez afrouxar o passo e recuar meramente.
Numa intenção de tornar a leitura mais clara e livre de qualquer equívoco, arrastou os óculos de sol até ao topo da cabeça, e aproximou-se de mansinho.

- Bom dia, menina Joana… – cumprimentou o Sr. Carlos, reconhecendo-a de imediato assim que ela se acercou do estabelecimento, pois ainda não a tinha visado desde que ela chegara à capital – Bons olhos a vejam!

- Oh, bom dia, Senhor Carlos! – deslocou pela primeira vez os olhos que até ao momento estavam grudados à revista, tentando ler o adiantamento da notícia em letras pequenas e olhando o velhote simpático e extremamente educado, com quem já havia lidado bastante

- Fico contente por voltar a ver a sua cara… Seja bem-vinda de volta! – as rugas marcadas no rosto bem barbeado, franziram-se, assim que os seus lábios se corcovaram a um sorriso pentagonal 

- Obrigada… É sempre bom estar de volta! – agraciou numa voz delicada, continuando a correr um ajuntamento aglomerado de revistas, que se estendiam sobre a bancada na frente dos seus olhos

- Então e está à procura de alguma coisa em específico? Quer que a ajude?

- Na verdade, já encontrei… Levo a Activa e a Vogue! – disse, amontoando as revistas que pretendia e entregando-lhas para a mão – E ponha-me também esta… - disse agora de forma mais contida, entregando-lhe a CARAS

- Hum… Parece então, que o seu regresso faz capa e é a notícia desta semana… Não lhes escapa nada! – balbuciou guardando as revistas num saquinho e confirmando o valor a pagar – São seis euros e cinquenta e cinco, por favor!

- Pois, parece que não … - ciciou em abate, retirando o dinheiro da carteira – Aqui tem!

- E aqui tem as suas revistas e o seu troco de quarenta e cinco cêntimos! – passou-lhe o saco com as três revistas assim como a pequeno recibo com o troco – Tenha o resto de um bom dia, e venha sempre que puder! – o Sr. Carlos levantou a boina em gesto de cortesão e voltou a pousá-la na base da cabeça, que lhe tapou as longas entradas

Ela despediu-se apenas com um leve sorriso e somente depois de estar suficientemente distante do quiosque, e enquanto caminhava, tomou coragem em ler a notícia.

“Joana Freitas de Andrade de volta às origens” – pôde ler em letras gordas, o titular sobreposto à sua fotografia estampada na capa, provavelmente capturada por um paparazzi - “A retoma de um futuro em Portugal, o regresso em segredo e ainda rumores suscitados, que voltam a pairar sobre a vida privada da jovem” – nas duas páginas intermédias da revista, rematava este breve subtítulo introdutório que seguidamente dava lugar a um longo artigo, abaixo referido  

“A herdeira directa da família Freitas de Andrade, que já marcou posição no estrangeiro com uma cadeia de hotéis instalados no outro lado do Atlântico, está de volta à capital. Após uma ausência de minuciosamente dois anos e meio, a fim de ter trocado a beleza de Lisboa pelos encantos de Nova Iorque, a jovem manequim foi flagrada à saída do aeroporto na passada quinta-feira, onde sozinha, rumou à mansão dos avós onde se sabe, ainda estar instalada. Durante este período, a CARAS seguiu de perto todas as implicações onde a rapariga de 20 anos esteve envolvida e garante que, para além da faculdade, esta marcou presença em discotecas e festivais nova-iorquinos, assim como em campanhas publicitárias e desfiles de moda, que lhe deram um impulso para as luzes da ribalta. No espaço de quase meio ano depois do falecimento precoce da sua mãe, Débora Freitas de Andrade - ex-advogada empregada na América - Joana não aguentou mais tempo longe de casa e “com a morte da mãe, é perfeitamente natural que ela se tenha sentido bastante desamparada, ainda para mais longe dos amigos e da família e creio que foi a falta do aconchego de um lar que a fez voltar às suas origens revelou-nos uma fonte pertencente ao círculo de amigos da estudante do terceiro ano de Direito, que quis manter o anonimato, “no entanto, ainda outra razão pode ser a causa deste regresso não aguardado por ninguémacrescenta a mesma fonte, sem mais nada querer adiantar. A revista não se contentou com este tão pouco, e foi depois de ter andado a rever os artigos publicados nas edições de meses anteriores, que suspeita do especulado caso amoroso, que teve com uma cara bem conhecida dos portugueses. Assim que a nossa estrela internacional descolou no primeiro avião rumaria à cidade das luzes, rapidamente começaram a correr rumores entre alguns media, onde afirmavam a existência de uma paixão secreta de quase um ano, que manteve com o médio do Sport Lisboa e Benfica, Ruben Amorim. Por essa altura entrámos em contacto com o jogador, de agora 25 anos, procurando poder afirmar a notícia, mas este apenas insistiu: “Mal me relacionava com a Joana, apenas nos conhecemos porque temos amigos em comum ligados ao futebol! (…) E adiantou também que “se tenho ou não, se estou interessado ou prestes a ter uma namorada, apenas a mim me diz respeito, nunca irei falar sobre o foro da minha vida pessoal, em circunstância alguma!” Contactada também pela mesma razão, Joana Freitas de Andrade recusou-se a prestar qualquer comentário na envolvência. Hoje, quase três depois, seja ou não este, um dos principais motivos que a fez voltar… Em breve ir-se-á descobrir!”

Nunca se sentiu tão exposta. Agora tudo o que Joana sempre quis esquecer, tudo o que sempre quis apagar, estava bem ali retratado… Nas páginas presunçosas de uma revista! Respirou fundo várias vezes de modo a acalmar os ânimos assim como o nervoso miudinho que se começava a instalar de cada vez que relia cada frase.
Voltou a arrecadar a revista, e sem mais estar disposta a pensar no assunto, percorreu o restante percurso até à esplanada, onde Adriana já a esperava, na mesa coberta por um colossal guarda-sol.

- Olá, princesa! – Adriana levantou-se, acolhendo Joana num forte abraço apertado, que terminou com um beijinho carinhoso na face de cada uma – Já estavas à minha espera há muito tempo?

- Não… Cheguei mesmo há pouquinho! – voltou a tomar o seu lugar, sentando-se ela à sua frente – Então e novidades… Essas mudanças para a casa nova, como andam?

- Devagar, devagarinho… Estou em pulgas para voltar a ter uma casinha só para mim, mas por outro lado sinto-me tão bem em casa dos meus avós, que nem me apetece de lá sair! – revelou com nostalgia  e puxou até si a lista de ementa, onde há momentos o olhar de Adriana viajara

- E não tens que sair… Eles não te disseram que podias lá ficar o tempo que quisesses?

- Oh, sim, disseram… Por eles nem saía de lá, mas também não quero abusar da boa vontade deles…

- Não estás a abusar de nada, pequenina… És a neta, é natural que queiram que estejas junto deles, e isso será sempre assim… Nunca irá mudar! – elucidou-a numa voz dócil e afagada, mesmo antes do empregado chegar junto delas

- Boa tarde, já escolheram o que vão querer? – perguntou-lhes ele, pronto para apontar o pedido das meninas num pequeno bloco de notas que segurava junto ao peito

- Eu quero uma salada de delícias do mar e para beber pode ser um sumo de manga natural… - solicitou Adriana, já muito certa da sua preferência – E tu, Joaninha?

- Para mim é o mesmo, mas traga-me antes uma coca-cola com muito gelo, por favor!

- Aguardem só um instantinho que trago já o vosso pedido! Com licença... – retirou-se o empregado novato, nem gesto de extrema polidez

- E tu, minha linda… Nem te cheguei a perguntar como estavas… - foi Joana a retomar a conversa, sobrepondo os cotovelos na parte da mesa que lhe pertencia, assim como o queixo que pousou nas duas mãos encaixadas   

- Estou bem… Ainda cheia de trabalhos e em dura fase de frequências, mas bem! – esboçou um sorriso meninil, rematando os longos cabelos para trás dos ombros – Então e tu?

- Também estou bem… Quer dizer, dentro dos possíveis!

- Dentro dos possíveis?! Como assim...?

Antes que começa-se com um possível interrogatório e de modo a que não se pudesse vir a suscitar quaisquer dúvidas, Joana não hesitou em sacar a revista da mala e entregar-lha em mãos… Mostrando-lhe a razão pela qual, o seu estado de espírito não estava mais em total equilíbrio… em total plenitude.

- Vê com os teus próprios olhos, e tira as tuas conclusões…

- O que é isto? – indagou meio confusa e depois de examinar a capa, jornadeou com os seus pequenos dedos até às páginas representantes do artigo e fotografias várias – Meu Deus, mas será que já ninguém tem direito à sua privacidade? – inquiriu modo abalroada com o que acabara de ler, e ainda sem descolar os olhos das páginas intermédias

- O maior problema nem está aí, porque na verdade até já me habituei ao facto de se meterem na minha vida… Mas desconfio que se o Ruben chegar a ler isto… - pausou brevemente, antevendo mentalmente o desfecho desgostoso que aquela notícia poderia vir a incutir – Vai-me pedir uma valente justificação, como se a culpa fosse minha!

- Mas vem aqui a falar que há alguns meses ele disse que vocês eram apenas conhecidos e nada mais… Portanto, mentiu-lhes…! – constatou com perspicácia, comparando os factos expostos em mais de meia dúzia de linhas e factos reais

- Adriana, desde o início de… pronto, tu sabes, que o Ruben sempre se preocupou em salvaguardar a nossa vida pessoal, a nossa intimidade… Até mesmo depois de eu me ter ido embora!

- E esta notícia pode vir a deixar-te em maus lençóis?

- Pode vir a deixar-nos em maus lençóis… Tanto a mim, quanto a ele! – o seu indicador rodopiou lestamente no ar, supondo os certeiros dissabores que com passar do tempo, se poderiam vir a tornar ainda mais penosos -  Tenho quase a certeza que com esta notícia, vão voltar a surgir novas especulações e é isso que eu não posso permitir, percebes? Ele vai casar-se, não quero que isto lhe traga problemas!

- Pois, e por falar no casamento… - a voz de Adriana enfraqueceu e o seu olhar remontou às suas coxas, onde com as unhas mosqueadas de verniz amora, deslizavam na ganga dos jeans que elegantemente indumentava – Já sabes que a Inês voltou de Londres, não já?

- Ora aqui têm… Bom apetite! - o empregado interrompeu a conversa intimista, assim que lhes trouxe o pedido, o que provocou em ambas um silêncio sinopse que apenas foi quebrado assim que este se afastou confederadamente

- Sim, sei… O David contou-me que ela tinha chegado ontem! - confirmou sumidamente e expedindo-se depois a um silencio vácuo que dominou a sua reflexão em pensamentos, do que se iria suceder dali para a frente… talvez, quando a voltasse a encontrar cara a cara – Mas não quero acerca disso, se não te importas… 

- Desculpa… - Adriana acabou por se martirizar por, quase sem quer, calcar sobre uma ferida ainda por sarar que flagrava o mirrado coraçãozinho de Joana - Vamos mudar de assunto! – sugeriu no intuito de demolir o assunto anterior, antes de ter dado a primeira garfada na saborosa salada

- Sim… - deu um pequeno gole no copo de coca-cola botado de grandes cubos de gelo, e inclinou suavemente o corpo para o lado direito, denotando pela primeira vez um objecto significativamente grande, tombado ao lado da mesa – O que é isso que tens aí? 

- Hum… sim, já me esquecia! – passou finamente o guardanapo nas lacunas dos lábios, mostrando lance próspero que pousou na sua boca – Depois de almoçarmos tenho que ir levar este quadro a um sítio… Queres vir comigo? Não fica muito longe daqui, e não faço tenções de me demorar…

- Sim… Vou contigo, claro! – predispôs-se em proveito da simpatia de que impossivelmente se despegava, aceitando o pedido de Adriana, pois embora não lhe apetecendo vaguear por sítios que lhe eram insondados, nunca lhe iria dar uma desfeita – Posso ver?

- Sim, claro! – afastou a cadeira da mesa para se conseguir levantar e assim que tomou a avantajada tela nas suas mãos, descobriu-a do envolto de panos, permitindo que Joana a pudesse contemplar a obra, que a própria Adriana tinha trabalhado

- Uau!… Foste tu que a pintaste? – inquiriu, notavelmente surpreendia pelo esplendor retratado por inúmeras pinceladas rigorosa e impecavelmente ornadas, no correr do tecido natural de algodão cru

- Hum, hum! Eu mesma! – consentiu, estritamente orgulhosa do seu desempenho e capacidades, que lhe valeram a pena de um esforço persistente, à estudante do terceiro ano de Designer 

- Está fantástica, Adriana! Estas cores quentes, tornam a paisagem ainda mais fascinante! Devias estar num dos teus momentos altos de inspiração, quando a fizeste…

- Bem, quanto a isso… Posso dizer que tenho quem me inspire! – impeliu quase de forma automática, destinando as duas, a uma nascente de gargalhadas solenes que conquistaram todo o espaço envolvente
   
  
       
***



- Então é aqui que vens deixar a “encomenda”? – perguntou Joana em chacota, assim que ladeada por Adriana, saiu do elevador no segundo andar do Salão de Beleza onde há momentos tinham entrado e onde, mesmo sem fazer a mínima ideia, iria viver um dos momentos mais custosos da sua vida

- Sim, é, mas primeiro vou ter que encontrar a minha “cliente”… - retrucou, acompanhando-a no mesmo tom zombeteiro, enquanto deixavam que os seus saltos altos colidissem contra o pavimento cálido, deslocando-se a passadas cordiais e sincronizadas até à recepção

- Boa tarde, Adriana! – cumprimentou a simpática recepcionista posicionada do outro lado do balcão, assim que viu a presença de uma das clientes mais frequentes daquele espaço

- Oh, boa tarde, Alice! – retribuiu-lhe a expressividade alegrosa, com que fora recebida

- Então e o que a trouxe aqui hoje… Veio para alguma marcação?

- Não, hoje não…. – assentiu negativamente, deslizando as madeixas pendentes sobre as faces para o topo da cabeça, o que fez com que as suas pulseiras chocalhassem umas nas outras durante a prestação do movimento  - Hoje vim apenas para falar com a patroa… Ela está? – a petulância brincalhona que usara nas palavras, desvendou-lhe a confiança e cumplicidade que já há muito, Adriana partilhava com a representante daquele estabelecimento 

- A Dona Anabela foi só tomar um cafezinho lá fora, mas deve estar mesmo, mesmo a chegar! Se as meninas preferirem, podem sentar-se enquanto esperam! – sugeriu, olhando também o perfil de Joana, que até à altura permanecia anatómica… simplesmente como espectadora à conversa à qual não se podia incluir

- Sim, obrigada! Nós vamos esperar!

- Pois, mas então faz-me parecer que já não vai ser preciso… - num trejeito de olhar que Alice comandou e que Adriana e Joana seguiram, estacionou-se na ala esquerda da recepção, de onde uma mulher de pose faustosa e envergada por umas calças escuras de cetim contraplacadas de uma blusa regata estampada, se aproximou a passo magistral

- Adriana, querida! – percepcionou ela, enquanto se aproximava e reconhecendo imediatamente, a figura carinhosa de uma das amigas mais próximas do filho

- Tia Bela! – Adriana apressou-se a trocar dois beijinhos com ela, feliz por voltar a vê-la

Com isto tudo, Joana nem teve tempo para tomar uma reacção. Permanecia estática de pés pregados ao chão e de feições pasmas, ainda não consciente da cena que rodava diante dos seus olhos. Nunca imaginara como poderia ela voltar àquele retorno… Agora via-se confrontada com a pesarosa, mas saudosista, presença de uma mulher que se havia tornado tão importante na sua vida. Uma mulher de postura dócil e maternal com quem construíra laços fortes de amizade, amizade essa, colmatada a um valente sinal de reticências, assim que Joana partiu no primeiro avião sem a certeza de que algum dia iria voltar… Sim, é ela a mãe de Ruben.

- Que bom ver-te aqui, minha querida… Mas não te fazia cá hoje! – referiu, adoptando um sorriso majestático e sem ainda constatar a outra presença tão familiar, parte dela camuflada pelas costas de Adriana

- Vim cá deixar-lhe o quadro que me pediu, tia!

- Oh, que bom! Tenho a certeza que vai ficar deslumbrante na parede do escritório!

- Eu espero que sim… -  num mirar acima do ombro, Adriana voltou a apurar a figura de Joana, que agora se encontrava prisioneira num vasto desequilíbrio emocional, mas que para ela era imperceptível – Venha cá, tenho uma pessoa que lhe gostava de apresentar… - levemente puxou-a pela mão, desconhecendo totalmente a relação que a amiga e Anabela haviam, outrora, partilhado

Assim, pela primeira vez, o olhar atento de Anabela alcançou a última pessoa que julgava poder vir a reencontrar. A estupefácia que se apoderou de si foi de tal maneira caótica, que lhe montou uma postura de inércia, não conseguindo assimilar a barafustação de sentires, que lhe inundaram o peito e as memórias.

- Tia, esta é a…

- É a Joana… Eu sei quem ela é… - indagou num tom meigo, assim que o timbre retomou às suas cordas vocais, no instante em que os seus olhos se tornaram vítimas da saudade, formando um brilhozinho trépido, convulsionado pelas lágrimas que aos poucos se formaram atrás das pálpebras        

- Vocês já… - mais uma vez Adriana não conseguiu terminar a frase, uma vez que Joana se pronunciou, interinamente

- Sim… Já nos conhecemos! – afirmou com a tenebrosidade que lhe embalou a voz e deixando os seus olhos expressivos, rasos de lágrimas  

- Não me vens dar um abraço? – questionou abrindo os dois braços na horizontal , aguardando receber somente aquela por quem durante tanto tempo, os seus olhos perderam de vista

Naquele instante, o débil auto-controlo de Joana quebrou em dois, e esta viu-se tentada a ceder à maior vontade do coração. Num impasse nérveo abeirou-se a Anabela, quedando-se à vitalidade daquele abraço.

- Ai… - libertou um profundo suspiro estorvado, na ocasião em que os corpos se uniram, reportando-se à alçada protectora daqueles braços de mãe, e foi aí que uma lagrimazinha saudosista se despoletou do canto do seu olho

- Que saudades… Que saudades! – logo que quebrou o abraço demasiadamente prolongado, a mãe de Ruben apressou-se a desvanecer com as polpas macias dos dedos, a suave humidade que banhava a face da rapariga, aproveitando o mesmo gesto para citar cada minúcia  do rosto mais amadurecido de mulher, que Joana agora possuía… um gesto que viria a ser interrompido, por uma inconveniência inesperada

- Mãe? – um timbre melodioso governou cada alicerce do espaço, colocando um ponto final à atmosfera de clima afectuoso e derradeiro, que envolvia toda a periferia delas

Joana elevou o queixo e sobrepô-lo pausadamente ao ombro… agora sim… todo o seu cosmos foi devastado por uma das imagens mais repressivas e tortuosas, que alguma vez presenciou.
A alguns acentuados metros de distância, estava ele… o dono daquela voz, que para ela durante largos meses, se fragmentara à mudez.
Um aperto aflitivo no peito roubou-lhe a aptidão de realizar o processo de respiração, pelo que tinha bem na sua frente... Desta vez ele não vinha sozinho, trazia junto a si e bem segura pelas mãos firmes de ambos entrelaçadas, aquela que conseguiu provar-lhe um beijo e conquistado o coração…    



Antes de mais, peço desculpas pela demora mas como já expliquei no post anterior, o meu tempo livre tem sido escasso!
Aproveito também para vos agradecer todos os comentários, pois são eles
que me dão um incentivo enorme para continuar a história! 
Deixo-vos finalmente um novo capitulo, que espero que gostem
e não se esqueçam de deixar as vossas opiniões!  :) 
Beijinhos  grandes a todas, Joana 



23 comentários:

  1. Tão lindo, como sempre! Deixas-me sem palavras, rapariga. Estou ansiosíssima para ler o próximo e saber como corre o triângulo amoroso :p.
    Continua com o fantástico trabalho!
    Beijinhoos

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  2. ai tá tão lindo :)
    como é que é possível isto sair-te assim... tão espontaneamente ?!
    Está fantástico, eu AMEI !
    Obrigada por me teres dado o prazer de ler este capítulo BRUTAL :D
    Agora só espero pelo próximo que acredito ser tão ou mais espectacular que este... pelo menos este final PROMETE !

    Beijinho enorme
    Raquel

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  3. Muito a Joana vai sofrer ainda :s também quem a mandou ir embora sem dar cavaco ao rapaz LOL

    No entanto espero que ele não sei muito desagradável com ela :)

    Quero mais principalmente aquele "cheirinho" que me prometeste LOL

    Beijocas

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  4. Confesso, já tinha imensas saudades de ler um capítulo teu :D
    Está deslumbrante simplesmente, nem consigo arranjar palavras agora!
    Está totalmente perfeito :')
    Continua!
    Beijo :)

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  5. Muito lindo, querida .. :)
    Agora quero mais, mas como sei que nesta altura não é fácil, vou ter muita paciencia ..

    BjnhO

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  6. Dizer que ADOREI é pouco!
    Espero pelos próximos desenvolvimentos.

    Bjokinha
    Mariaa

    http://mariaainwonderland.blogspot.com

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  7. Oh, princesa... Eu já sabia que o capítulo ia ser perfeito, mas isto superou todas as expectativas!
    Está lindo, lindo, lindo, lindooooo! +_+
    É incrível a tua capacidade nata para a escrita, meu bem! Quanto mais leio, mais e mais quero ler... Por isso toca a preparar a continuação desta história linda, shim?

    Beijo grandalhão, meu amor!
    Txi amoooo <3

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  8. aii ADOREII ( :
    quero tanto saber o que vai acontecer a seguir (:

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  9. Ai que lindo!
    Esta fic é magnífica!
    Este capítulo dá-me tanta vontade de chorar. Porque é que ele é assim tão duro com ela?
    Fogo!
    Estou ansiosa pelo próximo...
    Beijinhos!

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  10. obrigada fofinha*
    quanto a este capítulo, digo o mesmo.. está fantástico, tal como todos os outros.
    obrigada por ter avisado!
    contínua assim joana, parabéns (:

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  11. obrigada querida :)
    e mais uma vez adorei, está lindo. escreves tão bem. espero em breve ver o próximo capítulo ;)

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  12. Opah! Magnifico! Nem sei o que dizer-te!
    Estava mesmoo com saudades de ler um capitulo daquii..
    AMO! AMO! AMO!
    Capitulo explendido!
    Historia excecional!
    Autora com talentoo enormee!

    As emoções nas tuas historias estão sempre no auge!

    :) quero mais!
    Vou morrer de curiosidade!! ^^

    Beijinnss *
    <5

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  13. Minha querida, como tinha saudades de ler os teus capítulos absolutamente arrebatadores.
    Do início ao fim, só me ocorre a palavra perfeição.
    Meu deus, como despertas as minhas emoções.
    Adoro.
    Bejiinhos

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  14. Muito lindo, perfeito! Estou ansiosissíma para o próximo! (:

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  15. Esta Joaninha ainda nos vai fazer deitar muitas lágrimas,tal vai ser o sofrimento que eu acho que a espera.
    Adorei,tá lindo, mas quem mandou ela desprezar o rapaz?Agora tá a provar do próprio veneno,e já viu que não é nada agradável.Fico à espera do próximo, continua, porque é mesmo um prazer ler o que escreves.

    Beijocas

    Fernanda

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  16. Ai que lindo! Nao podes acabar assim mulher xp tou tao curiosa para saber o que vai acontecer ai!

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  17. para quando o proximo??!

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  18. Adoro o blog e estou a seguir (:
    Música perfeita mesmo, ♥

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  19. aaaaaaaaai, ja nao aguento mais para ler um novo capítulo :)

    quando voltas a postar?

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  20. Minha querida, quando é que nos dás mais um pouquinho deste pedaço de perfeição?
    Beijinhos

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