O dia que se antecedeu trouxe
consigo a aura dourada projectada sobre a paisagem, contemplada por mais uma agradável
manhã de Verão pleno, na cidade de São Francisco.
A claridade ostentada pelo
sol que já resplandecia no céu, penetrava o quarto da suíte e transpunha o
dossel que nos envolvia, obrigando-me a acordar. Abri os olhos
intermitentemente de maneira a aclarar a minha visão ainda meio entorpecida
pela penumbra da noite, e tentar perceber onde estava. Naquele instante uma
enxurrada de bons pensamentos aflorou uma sequência de imagens oriundas da
noite anterior, que surgiu na minha mente aquando todos os meus sentidos
recorreram ao instinto de olhar o outro lado da cama, e observei o corpo
adormecido de Ruben, que ainda descansava. Sorri ao sentir a sua respiração
pesada porém profunda, todos os músculos perfeitamente relaxados, e o seu rosto
adornado por traços leves e expressão serena, que conferiam o seu total repouso
que eu pude adivinhar, tal como o meu, em todo este tempo ser realmente
tranquilo e pleno pela felicidade que retomara aos nossos corações.
Desembrenhei-me dos lençóis envoltos
pela mescla dos nossos perfumes, e levantei-me para alcançar do chão a parte
debaixo da minha roupa interior e a camisa dele, que vesti. Vi-o mexer-se
ligeiramente por baixo do lençol, talvez por ter dado conta da minha ausência,
mas deixou-se permanecer onde estava. Fui novamente até à cama e logo que
desviei um pouco o dossel, gatinhei levemente sobre o colchão, até ficar de
joelhos ao lado do corpo dele e deixei-me ficar a observá-lo um pouco, no meio
de toda aquela imensidão de um quarto que, preguiçosamente, amanhecia.
- Hum, amor… - ouviu-o rumorejar num
tom de voz praticamente sumido, logo que sentiu os meus cabelos soltos num só
ombro, deslizarem em ascendência pela sua coluna, ao passo de que os meus
lábios lhe beijavam carinhosamente todo o trilho das costas
- Bom dia, meu dorminhoco lindo! –
murmurei ao seu ouvido, deixando que um sorriso vanguardista apurasse a minha
jovialidade naquela manhã
Ele apenas soube mostrar um sorriso
igualmente lindo que nasceu em seus lábios, e não me respondeu. Sabia que depois
da nossa noite todas as energias haviam abandonado o seu corpo estafado, e para
mais um dia duro de trabalho que o aguardava, ele iria aproveitar ao máximo
todos os minutos que tinha a seu dispor para descansar, e como tal não demorou
muito até que a sua respiração denunciasse que tinha pegado no sono uma vez
mais.
Afaguei-lhe meigamente o cabelo entre
os meus dedos e dei-lhe um beijinho no rosto. Decidi deixá-lo a dormir mais um
pouco, visto que tal como os outros jogadores, ele tinha dispensa por parte dos
preparadores físicos e treinador do clube encarnado, da parte da manhã, pois à
tarde toda a comitiva iria rumar até ao estádio Home Depot Center, onde
iria ser disputado o primeiro jogo da pré-época.
Sem pressa abeirei-me das portadas
duplas de vidraça que concediam acesso ao alpendre, e abrias devagarinho para
não o acordar, permitindo que se abatesse em mim o alento de um dia imensamente
belo que convidava a sair à rua. Aproximei-me do beiral e levemente inclinada
sob o parapeito, detive-me a contemplar a vista que a altura assustadoramente
vertiginosa oferecia. Depois olhei para mim… Com as mangas arremessadas a três
quartos, a camisa de Ruben era larga e batia-me a meio das coxas, o que à
primeira vista dava a impressão de ser um vestido com as medidas mal tiradas,
mas extremamente confortável. Abracei-me a mim própria como se estivesse a
abraçar-me a ele e inalei o cheiro do seu perfume forte mergulhado em cada
pedaço de tecido. Guardava uma enorme saudade dos nossos momentos, das coisas
que sós sabíamos e que só entre nós eram partilhadas, de tudo o que só nós nos
poderíamos recordar… E ali, naquele momento e naquele espaço, nunca estivera
tão perto de voltar a tocar e voltar a viver novas recordações, como até então.
Ao fim de algum tempo, que apesar de não
saber precisar ao certo, mas que a mim me pareceu demasiadamente longo, viu-o
atravessar as portas e a juntar-se a mim na varanda, envergando no corpo
somente os boxers e ilustrando no rosto o ar sonolento do qual ainda não se
livrara por completo.
- Que carinha de sono… - não evitei
em meter-me com ele assim que uma gargalhada breve alcançou a abertura dos meus
lábios, quando apoiada ao beiral rodei levemente para olhá-lo
- Podias ter ficado agarradinha a mim
mais um bocadinho… Fiquei às voltas na cama quando dei conta que já não estavas
lá… – vi-o esfregar um olho com o punho cerrado, como fazem os miúdos pequenos
mal acordam, enquanto encurtava a distância até a mim em passadas deambulas e
eu me deixava enternecer completamente por aquela sua imagem
- Desculpa ter-me levantado assim,
mas já não tinha muito sono… - finalmente as minhas mãos puderam alcançar-lhe o
rosto e acolhê-lo num berço confortável, permitindo desta maneira ao meu corpo que
se colocasse em biquinhos dos pés para lhe beijar cada pedaço de pele
- Bom dia, amorzinho! – ouvi-o rir-se
deleitado com a minha oferta inesperada de mimos logo pela manhã, e sentiu-o
puxar-me mais para si quando as suas mãos abarcaram a minha cintura – Dormiste
bem?
- Ah… Não sei se dormir é o termo correcto
a usar, visto que passámos mais tempo acordados do que propriamente a dormir… -
Ruben riu-se do à-vontade da minha interjeição e eu acabei por acompanhá-lo,
partilhando com ele o preenchimento e felicidade que se apoderaram de nós nas
inúmeras vezes que matámos as saudades que tinhas um do outro, na noite
anterior – Mas sim, do pouco que o fiz, posso dizer que dormi muito bem até!
Então e tu, passaste bem o resto da noite?
- Passei-a do teu lado… Acho isso diz
tudo, não diz? – beijou-me repetidamente a dobra entre o meu ombro e pescoço, e
eu fiquei a deliciar-me com o seu lado mais romântico, que ele raramente
escondia de mim – Gostaste? – o seu rosto voltou a aparecer diante dos meus
olhos timidamente, mostrando-me um sorriso meio envergonhado
- Do quê? – inquiri no segundo
imediato, não calculando em primeiro pensamento ao que ele se referia
- Oh, do quê, amor!(?) Então da… Da
nossa noite! Se gostaste… Se foi bom…
Ri-me do seu jeito, era inevitável
fazê-lo… Os meus braços rodearam-lhe o pescoço e os meus olhos centralizaram-se
unicamente nos seus lábios entreabertos – Foi óptimo… e tu foste maravilhoso! –
apercebi-me que ele tinha ficado satisfeito com a minha resposta sincera, e não
nos delongamos mais entre palavras… logo que tivemos oportunidade demos um
beijo demorado e incrivelmente apaixonante na essência das nossas bocas, que
desejamos partilhar desde o início
- Já mandei vir o pequeno-almoço para
nós! – disse-me, dando-me mais um beijinho rápido nos lábios
- Hum, que bom… Estou cheia de fome!
- Cheia de fome? Estou a ver que
andamos comilonas…
- Sim, claro… Até porque tu podes
falar muito! – ironizei levemente, mas Ruben não se demorou a defender a sua
posição
- Pronto, tinha de ser, não é? Tu
realmente não perdes uma oportunidade para me chamares gordo! – ele falseou o
seu amuo repentino numa expressão teatral que eu lhe desvendei no mesmo
instante, e foi impossível não me dispersar em risadas por vê-lo adoptar o seu
jeito brincalhão que eu tanto gostava de lhe ver – Isso, isso mesmo! Ri-te aqui
do gordito, que ele não se importa!
- Oh amor, és gordito mas és o meu
gordito… – abracei-o novamente tentando acalmar o meu peito de onde eclodiam
pequenas gargalhadas, e vinculando a palavra que fazia dele uma parte de mim…
“meu” – E além disso até és um gordito lindo, e charmoso, e irresistível… Sabes
disso, não sabes?
- Mas onde é que isto já se viu? A minha
própria namorada a fazer troça de mim… - ele abanou a cabeça num claro aceno de
cepticismo encenado e aproveitou o momento para me apertar mais forte contra si
– Mas olha que não lembro de te teres queixado ontem!
- Ruben! – adverti-o imediatamente,
coloquei as minhas mãos frias sobre o seu peito e olhei-o, tomando conta de que
o meu rosto, tal como a minha voz, havia sido alvo de um véu de incredulidade,
face à extrema espontaneidade da sua afirmação
- O que foi? É mentira? Diz lá que
não fui um bom menino… - ele estava com uma clara intenção de me querer
provocar para levar a melhor de mim e roubar um novo beijo nos meus lábios, mas
eu não cedi – Vá, diz… Diz que eu não me portei à altura…
- Ruben, pára! És tão parvo… - repreendi-o
tentando trespassar um tom sério, mas não consegui parar de rir pelas cócegas
que a pontinha do seu nariz fazia ao escarafunchar a pele do meu pescoço
- E queres ver a prova, olha… - ele
rodou depois sob a planta dos pés e mostrou-me as suas costas, demarcadas pelos
inúmeros rasgos vermelhos de arranhões que, mesmo tendo sido
despropositadamente, eu mesma era culpada de ter feito – Vês?
- Pronto, pronto, vem cá… - abracei-o
por trás e comecei a dar-lhe beijinhos nas costas, tentando redimir-me ao
máximo, e foi aí que ouvimos alguém a bater à porta da suíte onde estávamos
tranquilamente hospedados naquele dia
- Deve ser o pequeno-almoço… Queres
comer aqui fora?
- Hum, hum… Pode ser! – consenti com
um sorriso meigo, depois de olhar de relance uma pequena mesa predisposta a um
canto do alpendre
- Volto já, então!
Ruben afastou-se para voltar a
enveredar pelo quarto, mas não sei antes me prender delicadamente o rosto entre
as suas mãos, e me beijar com o maior carinho e amor do mundo. Recostei-me ao
beiral de novo e fiquei à espera que ele voltasse.
Deixar tombar levemente a cabeça para
trás e de olhos fechados deixei-me inspirar com novas aventuranças, com sonhos
a gritar por serem vividos e um amor que voltara a ensinar o meu coração a bater
por uma razão… Conhecem aquela sensação de alegria que nos invade o peito num
segundo, e desejamos que permaneça em nós perpetuamente? Aqueles momentos raros
que nos assaltam a rotina, nos fazem apertar as mãos com força e nos dão a
certeza que estamos precisamente com onde deveríamos estar e com quem
deveríamos estar. Era exactamente essa a sensação que tinha, e no âmago mais
profundo de mim, eu pedia secretamente que ela nunca me abandonasse.
- Ora aqui está… - com a t-shirt já
vestida, Ruben voltou a pisar o chão da varanda, conduzindo à sua frontaria um
carrinho abastecido por duas prateleiras recheadas com todos os condimentos que
ele mesmo havia solicitado ao serviço de quartos – Ora bem, temos torradas, croissants,
panquecas recheadas, fruta, limonada, café…
- Ena, que manjar dos Deuses! – gracejei,
vendo a quantidade e o aspecto delicioso, da comida que se retinha diante dos
meus olhos aguados
- Um manjar dos Deuses para a minha
princesa… - senti os seus lábios repenicaram um beijo à minha bochecha, e com a
alma mergulhada em ternura, ajudei-o a distribuir a comida sob a mesa para
podermos dar início à primeira refeição do dia, guarnecida ao calor ameno do
sol
- Ah, é verdade, amor… Tenho uma
coisa para ti! – lembrei-me de repente, aquando já mimávamos num frente a
frente, os nossos estômagos com as mais variadas iguarias
- Uma coisa para mim?
- Sim, para ti! Ou pensavas que só tu
é que tinhas o direito a fazer surpresas? – Ruben ficou ligeiramente intrigado
mas preferiu não dizer nada, ao invés ficou a ver-me desaparecer ao entrar no
quarto e esperar que o meu regresso antecipado lhe trouxe as devidas respostas
- Toma! – pedi-lhe, quando cheguei
novamente junto da mesa e estiquei o meu braço diante de si
- O que é isso? – um sorriso
enigmático traçou-lhe o semblante, olhando primeiramente o pequeno objecto que
eu segurava na mão e depois concentrando-se nos meus olhos, já após ter dado um
sorvo do seu café fumegante, que eu sabia ele gostar de beber bem forte
- Então, isto é um cartão eletrónico
do hotel, que te vai permitir entrar na minha suíte sempre que quiseres!
- O quê… Isso é, é a sério?
- Muito a sério! – afirmei em tom
supérfluo, mantendo em mim uma pose senhorial que permitisse dissipar todas as
dúvidas
Numa acção repentina e a
qual eu não esperava minimamente, Ruben abriu um espacinho e puxou-me para o
seu colo onde me deitou, albergando-me nos seus braços fortes e extremamente
acolhedores. Encheu-me de beijos que supus lhe estarem a saber a pipocas e
algodão doce, pois ele ainda se delongou naquela troca de carinhos, que eu
julgara até não virem a ter um fim e a qual eu estava a adorar… Tinha saudades
de me sentir assim, tão amada, tão protegida, tão vital para a vida de alguém,
e naquele momento era somente esta a minha certeza: Ele estava feliz. Eu estava
feliz. Nada poderia vir a mudar isso.
- Posso fazer-te uma
pergunta, agora a falar a sério? – momentos depois de nos recompormos e
mantendo-me eu sentada no seu colo por insistência sua, Ruben falou acima do
meu ombro, enquanto me vi-a a barrar-lhe com compota frutada uma torrada que
ele me havia pedido
- Claro, amor, pergunta!
- É sobre a nossa separação…
- a entoação segura e precisa que deu à voz bem como o assunto que fez
suscitar, enquadraram em mim o formalismo da conversa que se seguia
- O que é que queres
saber? – interrompi o que estava a fazer e rodei escassamente o meu corpo sob
as suas coxas de maneira a conseguir olhá-lo nos olhos… quis mostrar-lhe que
estava tão disposta quanto possível a esclarecer-lhe tudo o que ele me pedisse para
o fazer
- A minha mãe sabia da
verdade? Ela soube do motivo da tua partida e o porquê de me teres deixado? –
os seus olhos tristonhos procuravam nos meus uma única verdade, verdade essa
que eu não pensei sequer esconder-lhe
- Sabia. – afirmei num só
sopro que desejei para mim mesma não vir a trazer quaisquer dissabores, sendo
Anabela das poucas pessoas que no passado, compactuara no secretismo de
conhecer e abençoar a nossa relação – A tua mãe esteve a par de tudo desde o
início… Cheguei até a falar com ela por diversas vezes já quando estava em Nova
Iorque!
- Ela sabia…? – foi
natural perceber o rasgo de incompreensão que lhe traçou o olhar, pois eu
conhecia de perto a relação que Ruben mantinha com a sua mãe, uma amizade que
não poderia ser paga com dinheiro nenhum, um amor e uma estima incondicional
que ele nutria por ela – A minha mãe sabia de tudo e não me disse nada? Porquê?
- Para te proteger,
talvez… Ela tinha medo que se o fizesse, se te contasse a verdade, entrarias em
pé de guerra com o teu pai! Sabes que relação entre vocês os dois se dificultou
com o divórcio dos teus pais, com certeza que ela não queria que passasses a
odiá-lo!
- Ela deu comigo a chorar
tantas vezes, ela viu-me num estado que nunca ninguém me viu, viu-me sofrer de
uma maneira como eu nunca sofri, e mesmo assim não foi capaz de me dizer nada!
Eu não compreendo… Juro por Deus que não!
- Eu tenho a certeza que
se não te contou nada, não foi por mal… Ela ama-te, Ruben, é tua mãe e é
perfeitamente natural e compreensível que te queira proteger! – elucidei passivamente,
saindo em defesa daquela por quem eu guardava um enorme carinho e sabia ser tão
especial para mim quanto eu era para ela
- Eu entendo, mas a minha
mãe nunca me escondeu nada e eu vi a mulher da minha vida abandonar-me por
causa da estupidez de um equívoco, eu pensava que te tinha perdido para sempre,
Joana! Nos primeiros tempos eu, eu sei lá… Eu só queria desaparecer! – pela
primeira vez em tanto tempo, vi uma lágrima rolar pela sua face e naquele
segundo notei a imponência de Ruben que sempre mostrava ser um homem forte,
baixar a sua guarda e dar lugar à fragilidade que sempre se impunha em esconder
- E achas que eu não sei
isso, amor? – o meu coração ritmou a um bater alarmista pela minha preocupação
em vê-lo assim, e precipitei-me em despender-lhe a linha de água que cortava
caminho sob o seu fácies – Mas peço-te que não fiques triste com ela, está bem?
Ela sempre nos apoiou, sempre esteve lá para nós… Tenta agora compreendê-la.
Não foi dito mais nada
sobre o assunto durante todo o decorrer do pequeno-almoço, que tomámos com a calma
e cumplicidade a que já nos tínhamos voltado a habituar. Por conhecê-lo tão
bem, sabia que Ruben, depois da nossa conversa, tinha ficado um tanto ou quanto
melindroso com a atitude da mãe, mas tinha também a certeza que ele conseguia
compreender a posição que ela tinha tomado, e com o tempo, talvez, se viesse a
conformar que o que a Dona Anabela fez – ou melhor – o que não fez, tenha sido
o melhor para si.
Tomámos um banho quente e
relaxante que não evitámos prolongar a nosso belo prazer, e depois regressámos
ao quarto, a fim de voltarmos a vestir a mesma roupa com que entráramos ali,
para minutos depois nos prepararmos para abandonar o nosso cantinho de sonho e
quedarmo-nos no outro lado da realidade.
- Daqui a três dias já me
vou embora… - ouvi-o dizer enquanto apertava os botões da camisa que há
momentos atrás eu trazia vestida, sentado na cama e eu junto do espelho
- Pois é… Não queria nada
ter que me separar de ti, logo agora! – desabafei com o pesar a comburir-me a
voz, pois tal como ele, eu partilhava da mesma sensação de agora que voltámos
finalmente um para o outro, não nos querermos separar
- Então vem comigo… –
através do reflexo emitido pelo espelho que se prolongava em altura até quase
aos meus pés, vi-o erguer-se e caminhar calmamente até chegar junto a mim –
Vamos no mesmo voo e voltamos juntos para Lisboa!
- Queres que eu vá
contigo? Eu tinha pensado ficar pelos mais uma semana por aqui… - eu voltei-me
e encarei os seus olhos
- Joana, eu fiquei longe
de ti quase três anos, e só eu é que sei o quanto isso me custou… Acredita que
não vou querer o mesmo nem que seja só por um dia! – no mesmo instante senti o
calor da sua mão cobrir a minha face, e juntamente com esse calor um enxurro de
clarividências que eu pretendia evitar, assaltaram-me a alma, e assim que num
compasso de tempo fechei os olhos, senti-me hesitar perante o seu pedido e
todas as novas responsabilidades que este acarretava – Então, amor, passasse
alguma coisa?
- Sabes que a partir do
momento em que voltarmos para Lisboa, muita coisa vai mudar, não sabes? – a
minha mão sobrepôs a sua e apertou-a ligeiramente, enquanto o meu polegar a
afagava – A partir do momento em que a nossa relação for assumida publicamente,
as revistas vão cair-nos em cima… Vão querer esmiuçar tudo o quanto puderem nas
páginas, e acredito que da mesma maneira que já especularam sobre nós antes,
vão revoltar o nosso passado até saberem de tudo o que há pra saber!
- E achas que eu me
importo com o que poderão vir a dizer sobre nós, as revistas ou qualquer outra
pessoa? Diz-me sinceramente… Achas mesmo? Não me vou chatear com isso, e muito
menos vou esconder o nosso namoro de alguém.
- Eu não estou a falar
apenas da imprensa, estou a falar também das nossas famílias… Do meu pai, do
teu pai! E eu… Eu não quero criar novos conflitos, entendes? – esclareci, certa
dos dissabores que o nosso namoro pudesse vir a causar às pessoas que um dia
nos provaram da infelicidade, que tivemos de ultrapassar longe um do outro
- Então fugimos!
- O quê? – ele falou de
uma maneira tão directa e espontânea, que eu mesma julguei ter interpretado mal
- Sim, vamos fugir, vamos
embora de Lisboa sem ninguém saber! Não tens casa em Nova Iorque? Podemos ir
para lá… ou pra outro sítio qualquer, sei lá!
- Espera, Ruben, espera…
Eu acho que não estás a pensar com coerência! – coloquei-lhe delicadamente as
mãos sobre o peito, e de alguma forma tentei abrandar o ritmo feroz a que os
seus pensamentos se divagavam – Porque haveríamos nós de fugir?
- Tu mesma disseste… Enquanto
estivermos juntos haverá sempre motivo para conflitos, e de maneira a acabar
com tudo isso, porque não irmos viver para outro lado, longe de todos esses
problemas e construirmos uma nova vida? – a convicção que ele usava em cada
palavra tornava-se mais impetras com o correr do seu discurso, e de certa
maneira isso começava a preocupar-me, pois sabia que aquilo em que ele
acreditava e se referia, não era a solução nem o mais saudável para nós
- Sabes que as coisas não
são bem assim, Ruben! – entoei numa lucidez que perante aquela conversa somente
eu conseguia enxergar, e afastei-me para tomar conta de uma distância
considerável entre nós, mas que no entanto ele poderia ameaçar romper a
qualquer momento – Sabes que não é a fugir dos problemas que os vamos conseguir
resolver, pelo contrário até, só iriamos criar outros ainda maiores! Eu não
posso virar costas e desistir, e tu também não… Não quero voltar a deixar a
minha família e os meus amigos, não quero nem vou fazê-lo!
- E achas que eu quero?
Seria tudo mais fácil se fossemos compreendidos por todos aqueles de quem
gostamos, mas não somos!
- Ainda é cedo, Ruben…
Ainda é muito cedo para tomarmos esta decisão!
- Mas tens dúvidas? Ainda
não sabes o que queres? – com passadas curtas mas firmes, Ruben voltou a
aproximar-se a mim, focando-me no ponto fulcral dos seus olhos avelã
- Não, eu sei perfeitamente
o que quero e já falámos sobre isso, mas ainda nem conseguimos resolver todos
os nossos problemas e tu já me estás a pedir para deixar tudo para trás e fugir
contigo… Não pode ser assim, amor! – continuei a tentar chamá-lo à razão, mas
infelizmente para mim, as suas ideias pareciam estar claras e convictas demais
para serem abalas por qualquer sopro de incertezas da minha parte
- Mas tu também te foste
embora… Foste-te embora, deixaste tudo para trás e nada te impediu de fazê-lo!
- Não tentes virar a
conversa a teu favor, muito menos quando sabes que não tens razão daquilo que
falas! Tu já sabes os motivos que me obrigaram a ir… E Lisboa é a minha cidade,
é a minha vida agora!
- Pensava que a tua vida
agora também… fosse comigo… - a sua voz esmoreceu numa só quebra e vi os seus
olhos entristecerem francamente… nesse instante bem dentro do meu peito, senti
o meu coração mingar por, sem intenção, tê-lo feito pensar erradamente que os
meus planos de vida passariam por não o englobar
- E é! Tu agora também és
a minha vida, mas percebe que os nossos erros não são tão facilmente
desculpáveis porque nós já não somos nenhuns miúdos, e como tal temos que ser
prudentes com as nossas escolhas, e temos que estar preparados para dirigir as
consequências que delas se poderão advir!
- Mas é exactamente por
já não sermos nenhuns miúdos que eu tenho a certeza do que quero, e eu quero-te
a ti, sem mais reservas, sem mais fantasmas do passado… E se tu, Joana, não
conseguires entender isso, então eu não sei o que estamos aqui a fazer! –
proferiu, dando o remate final a uma conversa que caminhara morosamente até
chegar ao seu fim
E foi com aquela sonância
de palavras que Ruben acabou por me deixar. Colocou o blazer que tinha deixado em cima da cama, sob o antebraço esquerdo,
pegou no cartão da minha suíte que eu lhe havia dado, e recorrendo ao esforço de
olhar para mim uma última vez, vi-o caminhar na direcção da porta e sair
definitivamente no momento em que a fechou.
Deixou-me ali sozinha a
olhar para o nada, aguardando esperançosamente que ele ainda voltasse atrás
para pegar alguma coisa que provavelmente se poderia ter esquecido, mas não
voltou. “Esqueceste-te de mim”, ainda
pensei, mas agora tudo era silêncio e nada mais.
***
Afagada em bem-aventurança
que me beijava o coração, pela noite anteriormente vivida, porém com um pesar
ligeiramente berrante pela forma como fora findada o início da manhã, regressei
à minha suíte no aconchego pela busca de mais um pouco de descanso.
Atravessei todo o hall de
entrada sem ter necessidade de recorrer aos inúmeros interruptores de luzes
para que estas fendessem a escuridão e me iluminassem assim um caminho que já
conhecia de cor. Jornadeei num compasso de quietude e atravessei todo o quarto,
quedando-me junto ao guarda-roupa somente para recolher um pijama e voltar-me a
entregar aos trilhos do sono que me aguardava.
- Só para que saibas… Eu
estou aqui. – sobressaltada pela voz que não esperava ouvir, embati inevitavelmente
com as costas nas portas corridas do roupeiro, quando me virei de repente e dei
com a figura inesperada do meu irmão, que me olhava
- Ai, que susto,
Salvador! – rumorejei, com a mão direita sobre o peito na intenção precativa de
acalmar as batidas rápidas do coração – O que estás aqui a fazer?
- Passei aqui a noite,
espero que não te importes… - sentado ao cabeçal da cama onde estava deitado, Salvador
esticou o braço e com um leve movimento acendeu as luzes dos candeeiros,
superiores a cada lado das cabeceiras, irrompendo desta maneira a leve
obscuridade de um quarto ainda adormecido
- Não me importo, claro…
Mas não devias estar em casa? O pai?
- O pai foi-se embora,
embarcou no avião ao início da noite para Portugal e não disse quando voltava…
- O quê? O pai viajou
para Portugal? Mas eu estive com ele ainda no outro dia e ele não me disse
nada… - enunciei numa estranheza que a mim própria não me agradava, pelas
suspeitas sob o motivo patente que o fizera embarcar numa viajem precoce e
imprevista, de volta a terras lusas – E disse-te o que ia lá fazer?
- Ver os avós e
encontrar-se com os sócios das empresas de lá… Acho que foi isso que ele me
disse!
- Hum, está bem… - apesar
daquele lance o qual acabara de ter sido posta a par me ter deixado um tanto
conturbada, fiz por varrer para longe o mau presságio que se ilustrava então na
minha mente – Ainda é cedo, piolho, se quiseres podes voltar a dormir! – disse
meigamente, pois consegui deslindar de passagem, o cansaço que ainda coabitava
o seu rosto adornado a uma feição combalida
Aproximou-se de Salvador
e beijei-lhe carinhosamente a testa, escondida pela amálgama de cachinhos
loiros que não resistiam à força da gravidade, e entrei na casa de banho onde escovei
os dentes e vesti o pijama, disposta a regressar para baixo dos lençóis e
reestabelecer um horário de sono confortável que perdi na noite passada,
reavivando em mim todas as energias que iria certamente precisar para o resto
do dia. Regressei ao quarto após uns sensíveis quinze minutos, disposta
finalmente a entregar-me a um conforto apaziguante durante as horas seguintes.
- Onde é que passaste a
noite para não vires dormir aqui? - um sussurro secreto foi novamente
pronunciado na aurora penumbrada daquele quarto, por Salvador, que esperara
pelo meu regresso efémero
- Pensava que já estavas
a dormir… - olhei-o por segundos com o mesmo sorriso que ele me havia captado
em resposta à sua pergunta, enquanto já sentada no lado vago da cama, penteava os
meus cabelos
- E eu estou… Não vês? –
num jeito brincalhão que já lhe era conhecido, ele fechou os olhos e no rosto
evidenciou uma clara expressão de gozo, que antecedeu a uma pequena brincadeira
- Hum, hum… Vejo, pois! E
também vejo que continuas com velhos hábitos… Pensava que dormir com peluches
já não era para meninos da tua idade, afinal já és um homenzinho, não és?
A uma celeridade
assustadora, a conversa desfez-se e tomou um rumo que não beneficiou nenhum dos
dois lados. Ele não me respondeu, ao invés puxou contra o peito o seu ursinho
de peluche que tinha trazido de casa e o mesmo que o acompanhava nas noites em
que se sentia mais só, e voltou-se de costas, de maneira a desligar o contacto
visual que mantinha comigo.
Vendo-o tomar uma posição
defensiva, apercebi-me que, mesmo tendo reagido sem intenção de o magoar, tinha
errado nas palavras, e ressenti-me com o jeito menos complacente com que falara
com ele. Por vezes a maneira com Salvador falava e agia, rapidamente o fazia passar
para um adulto preso a um corpo de criança, mas eram aqueles pequenos sinais
que faziam relembrar que ele não era nada mais do que um menino de dez anos. Eu
sabia que os últimos tempos não tinham sido fáceis para ele… O afastamento
precoce da família, o recomeço longe de tudo aquilo que conhecera desde
pequeno, eu sabia que não deveria ter sido nada fácil de lidar para um miúdo
daquela idade.
- Ouve, sabes que eu não
disse aquilo por mal, desculpa...
- Tudo bem. – balbuciou
simplesmente, levando-me a contrair de culpa uma vez mais
Procurei então o conforto
entre o calor das cobertas e sentei-me à cabeceira ao seu lado, que deitado eu
adivinhava ele estar a pedir interiormente para que o sono voltasse depressa,
enquanto se deixava embalar pelos afagos delicados que eu lhe oferecia aos fios
dos seus caracóis.
- Tens saudades da mãe? –
depois de mergulharmos no silêncio por uns instantes, foi Salvador a retomar a
vinda à superfície, e quando decidiu fazê-lo, a sua voz soou num murmúrio
empreendedor, voltando-se levemente para apoiar o seu desabafo no meu olhar meigo
e sempre disponível para acolher o seu
- Tenho, tenho muitas
saudades. – repuxei as cobertas e aconcheguei-nos ao reconforto do descanso
que, pelo menos eu, estava novamente a precisar de ter
- Eu também… Não gostei
de ficar sozinho quando o pai se foi embora.
- Mas tu ficaste em casa
com os empregados…
- Não é a mesma coisa!
Estou contente por estar aqui contigo. – por muito chatinho que por vezes
pudesse ser, ele era um miúdo amoroso, dócil e sem ponta de maldade a
embragar-lhe o íntimo
- Eu também, piolho! –
Salvador sorriu, satisfeito com a minha afirmação, mas não demorou em voltar a
ficar de pensamento apreensivo
- Achas que a mãe também
tem saudades nossas? Achas que ela está bem?
- Esteja ela onde
estiver, tenho a certeza que a mãe está bem e que sente muito a nossa falta,
ela está a olhar por nós…
***
Quando voltei a acordar,
reparei que Salvador não estava mais ali, e pela segunda vez naquele dia,
senti-me estranhamente ser abandonada.
Olhei o relógio e logo
pude constatar o exagerado par de horas que tinha ficado a dormir, pelas quase
quatro horas da tarde que marcavam os ponteiros. Recordei-me rapidamente do
passeio pela cidade que tinha combinado com Sara, e por isso mesmo corri com
celeridade até à casa de banho para tomar um duche frio que apetecia devido ao
calor elevado, e arranjei-me ainda assim sem grandes preocupações em ficar
pronta o quanto antes.
Realcei os olhos com um
pouco de rímel, os lábios com um batom nude e sem brilho, e sobre a pele do
pescoço dei apenas duas borrifadelas do meu novo perfume de amêndoas doces.
Voltei ao quarto para pegar a minha mala, mas detive-me quando sobre a cama o
meu telemóvel deu sinal de chamada. Apressei-me atender quando no visor vi o
nome e a fotografia da pessoa que nos últimos tempos, se tinha tornado muito
especial para mim.
- Adriana? – atendi com
um entusiasmo evidente a levitar-se na voz
- Alô, ma belle! – um
clamor leve e afável, muito natural da minha doce Adriana, soou ao meu ouvido
no segundo seguinte, e eu pude adivinhar-lhe um sorriso alegre que também se
arrastou até aos meus lábios – Finalmente que dás sinais de vida, amor!
- Oh, desculpa, mas os
últimos dias têm andado agitados por aqui, então… - num encolher de ombros
cuidado, desculpei-me honestamente pelos motivos que eu sabia que ela viria a
compreender – E o que é feito de ti? Não sou a única que tem andado desaparecida…
Como é que estás?
- Eu cá estou, como Deus
quer… Ando a aproveitar as férias e cheguei ontem a Madrid com uns amigos, vim
cá passar uns dias! – informou-me, pois a última vez que estivéramos juntas fora
na noite do desfile em Lisboa, e infelizmente não mantivéramos contacto desde então
- Hum, estou a ver… Boa
vidinha, sim senhora! – gracejei num tom amigavelmente descontraído, que julgo
ter sido o suficiente por lhe ter desvendado algumas gargalhadas
- É verdade, é verdade…
Já que não tenho cá o meu David, tenho que aproveitar estes diazinhos sem ele
de alguma maneira, não é?
- É, meu amor, e eu acho
que fazes muito bem!
- Mas então e tu,
conta-me… Como é que estão as coisas por aí? Há alguma novidade que tenhas para
me contar? – inquiriu num entusiasmo leve que lhe traçou a tona da voz, e me
fez sorrir assim que procurei pousio para me sentar ao fundo da cama
- As coisas por aqui
estão bem… Acho que muito bem, até! E sim, tenho novidades que quero muito contar-te!
- Hum… Como se eu não
soubesse já… - insinuou numa inofensiva ironia disfarçada com uma gargalhada de
troça, sinais que me fizeram querer que ela já sabia muito mais do que aquilo que
queria dizer e que eu pensava ser possível
- Já sabes o quê? –
inquiri com um arquear incompreensível da minha sobrancelha, mas pressagiando
no mais íntimo de mim o assunto patente ao qual ela se referia
- Sabes que não são só as
más notícias que correm depressa, as boas também…
- E isso quer dizer que…
- Isso quer dizer que me
têm chegado novidades pelos ventos do Atlântico… - ela usou-se de uma
brincadeirinha, que rapidamente associei pertencer-lhe à sua personalidade
jovial que eu tão bem lhe conhecia
- Oh Adrianinha, vá lá,
deixa-te de coisas… O que é que tu já sabes?
- Então… Tudo! Por esses
lados anda um passarinho rendido a amores, que me liga por várias vezes e não
resiste a abrir-me o coração…
- O Ruben(!) – calculei,
sem ter que me esforçar minimamente para dar nome ao passarinho que ela me
falara, e não evitei um sorriso tolo e apaixonado que me pintalgou os lábios no
mesmo instante
- Bingo! – um rasgo de
satisfação permeou-lhe a voz suave – E se estivesse à espera que me dissesses
alguma coisa sobre vocês, bem que podia esperar sentadinha, não é?
- Oh, não digas isso… Eu
ia contar-te, claro que sim, mas pronto…! De qualquer das maneiras, agora
também já sabes! – respondi com um novo sorriso, e num tom claro de evidência
que ela assimilou – Mas então… Ele
sempre te contou sobre nós, foi?
- Sim… Disse-me que
finalmente tinham conseguido ultrapassar a barreira do passado, que estavam
outra vez juntos e felizes!
- Muito felizes, Adriana…
Muito felizes! – acrescentei num suspiro levante de rendição, que susteve a
ideia invicta da felicidade plena que eu sabia muito bem preencher-nos o
coração, pelo amor que voltara em força para ser vivido
- Mas sabes uma coisa?
Surpreendeu-me a maneira como ele me falou de ti… - ela fez uma breve pausa,
talvez na tentativa de encontrar as palavras certas, e eu permaneci atenta a
querer ouvi-la – Não sei bem como explicar, mas sempre que a conversa remontava
sobre ti, consegui decifrar-lhe um carinho e cuidado enorme na voz, uma
protecção, um amor(!) Não me lembro, sinceramente não me lembro de em todos
estes anos que o conheço, ouvi-lo falar daquela maneira de uma mulher… Acho que
nunca o senti tão em paz, tão bem com a vida…
Ouvir aquelas palavras,
por uma pessoa que vivia a nossa relação pelo lado de fora, não deixou de criar
em mim um impacto que se fortificou mais do que eu tinha esperado. Aquela
felicidade de saber que ele tinha satisfação em falar de mim, de nós, aos
nossos amigos, é evidente que me aqueceu o coração e tocou o lado mais íntimo
do meu ser.
- Ele ama-te, Joana… Ele
ama-te de verdade! – acrescentou Adriana segundos após, completando a sua
teoria já irrepreensivelmente estruturada, em prol dos sentimentos que o seu
amigo mais próximo vivia a uma intensidade alucinante
- Eu sei. – rematei,
serena do amor do meu querido Ruben
- Fico muito feliz por
vocês, e quero que saibas que independentemente de ser amiga da Inês, eu também
sou tua amiga, e não é a tomar partido de ninguém, mas por tudo o que já vi e
ouvi, sei que és tu a única mulher capaz de fazer o Ruben verdadeiramente
feliz! – exprimiu numa voz extremamente carinhosa e prometedora, que embalou o
aconchego da minha paz interior – Vocês têm todo o meu apoio… E do David tenho
a certeza que também!
- Obrigada, obrigada por
tudo! – foi tudo o que eu soube dizer, pois o discurso dela estacou a maioria
das palavras mais sinceras que eu tinha guardadas para lhe proferir, pois estas
que não se conseguiram desprender da ponta da minha língua
- Não tens que agradecer,
meu amor… Sabes que digo e faço-o com o coração! – ditou com a maior
naturalidade, e eu adivinhei-lhe mais um sorriso pintado a pinceladas meigas e
coloridas
- Eu já ouvi a versão
dele da história, mas e tu, como é que te sentes no meio disto tudo?
- Olha sinto-me, sinto-me
radiante! Sinto o meu coração a explodir de felicidade… Afinal haverá coisa
melhor que a de podermos amar e sermos amados pelo amor da nossa vida?
- Não, claro que não há! –
respondeu-me com calma, sabendo muito bem daquilo que eu falava, pois também
ela era vitimada todos os dias pelo sentimento mais puro e genuíno que dividia
com David – Então e já tens data definida para voltares a Lisboa?
- Ainda não sei bem, o
estágio deles já acaba dentro de poucos dias e o Ruben pediu-me que regressasse
com ele, mas eu não sei… Tinha pensado em ficar mais uma semanita por causa do
meu irmão, custa-me deixá-lo agora e depois não saber quando conseguirei voltar
a estar com ele…
- Eu entendo. Deve ser
difícil com ele a viver aí e sabendo tu que depois com o regresso às aulas, a
faculdade não te irá dar tão cedo um tempo para poderes viajar…
- Pois, eu sei, vou ter
que pensar sobre isto… Se me decidir por ir, claro que me vai custar deixar o
Salvador dentro de pouquinho tempo, mas custa-me também ficar outra vez longe
do Ruben! – ditei num sopro profundo, e senti os meus ombros descaírem
pesadamente
Só eu sabia o quanto
doloroso era para mim separar-me do meu irmão, quando o tempo que nos víamos e
podíamos estar juntos, era madrasto e bastante mais inferior daquele que
gostaríamos de ter. Mas por outro lado tinha plena consciência que os primeiros
tempos do meu namoro com o Ruben, seriam os mais importantes e decisivos, não
só para podermos corromper com todas as saudades e conseguirmos reestabelecer a
normalidade à nossa rotina, como também restruturar todos os avanços para a
projecção de uma vida futura a dois.
- Tu é que sabes,
princesa, mas não te preocupes se optares por não vir com o Ruben, porque
sabendo como ele é, tenho a certeza que vai compreender! – a maneira doce e
igualmente segura com que falou, tal como o compasso de silêncio que se segui,
foi o suficiente para fazer dissipar os receios comburidos do meu órgão vital –
Mas bem, agora que já sei de ti e já matei um pouquinho as saudades, vou ter
que desligar que aqui já é noite cerrada e eu estou morta de cansaço!
- Vai então descansar,
minha linda… Eu depois ligo-te e logo falamos!
- Está bem… E se
precisares de alguma coisa, já sabes!
- Eu sei, meu anjo…
Obrigada mais uma vez! Tem uma boa noite, e um beijinho grande. Amo-te!
- Outro beijo enorme
também para ti, amor! Amo-te! – pouco depois deixei de ouvir a sua respiração
do outro lado da linha, e o silêncio alongado anunciou o fim da chamada
Um sorriso caloroso eclodiu
em meus lábios, e a minha alma sentiu-me plenamente reconfortada pelos minutos
que despendi a conversar com Adriana. Guardei então o telemóvel na minha mala e
quando verifiquei que estava tudo em ordem para puder sair, caminhei até ao
elevador e desci ao piso zero. Assim que a avistei, fui imediatamente ao
encontro de Sara que me esperava no átrio há somente uns minutos, e seguimos
depois para o passeio que havíamos planeado na tarde do dia anterior.
Vagámos por trilhos de um
longo passeio onde nos deleitamos com as mil e uma maravilhas e encantos que São
Francisco oferecia. Entre outras tantas coisas, admirámos uma exposição de arte
contemporânea em plena rua, percorremos com entusiasmo as praças emblemáticas da
periferia, e detivemo-nos por fim junto à pastelaria francesa “La
Boulange de Hayes”, onde eu
tinha estado com Salvador pouco depois de ter chegado à cidade. Desde o
pequeno-almoço que o meu estômago não acolhera uma nova refeição, e por isso
mesmo pedimos um lanchinho, e na esplanada perdurámos num ambiente de
descontracção entre conversas agradáveis e risos que nos preencheram a aura
levitada.
-
E foi ele que quis dar um tempo? – inquiri-a, tomando o cuidado de não a ferir
com a minha selecção de palavras, na conversa que tínhamos começado há minutos
- Quisemos os dois… Acho
que estamos a precisar de um tempo para pensarmos sobre o que queremos fazer à
nossa relação! – pesarosamente, o seu olhar tombou sobre a chávena de café já
vazia e nela se deixou permanecer por alguns segundos, no intendo de apaziguar
os conflitos do coração que eu imaginei Sara estar a ser alvo
- Mas tu e o Rafael já
estão juntos há tanto tempo… Porquê isto agora?
- Porque… Sei lá, Joana!
Talvez por andarmos precisamente há demasiado tempo nisto, que as coisas estão
hoje como estão! – os seus olhos voltaram a procurar os meus, esperando receber
o aconchego que eu me esforcei ao máximo por lhe conseguir dar – Ele está em
Portugal, eu em Nova Iorque e é impossível estarmos juntos com a mesma
frequência que gostaríamos… A distância e constante ausência estão a levar a
melhor de nós! – a sua voz esmoreceu e pude ver os seus olhos a encherem-se de
lágrimas
- Vá, amor, não fiques
assim… Vais ver que as coisas ainda se vão resolver! – argumentei, apesar de
saber por experiência própria, que mesmo carregadas de boas intenções, nem as
melhores palavras de conforto conseguiam amenizar os problemas de um coração apaixonado
– O Rafa ama-te… Ele é doido por ti, tu sabes!
- Sim, eu sei, e eu amo-o
a ele, mas o amor não se sustenta sozinho! É preciso alimentá-lo todos os dias,
e eu escolhi mudar-me para aqui, para os Estados Unidos, para seguir atrás dos
meus sonhos, e por muito que o ame, eu não sei se estou disposta a
sacrificá-los pelos dele…
Aquele assunto morreu ali
mesmo, pois decifrei pela sua postura abalada, mas firme ainda assim, que Sara
não estaria mais disposta a relembrar a situação complicada que travava com o
namorado. Eu apenas continuei a mostrar-lhe o meu apoio, e com a minha mão
sobreposta na mesa apertei a dela levemente assim que as uni, querendo
provar-lhe que eu estaria do seu lado acontecesse o que acontecesse, pronta a
ceder-lhe o meu ombro fosse qual o momento em que ela precisasse.
- Mas vá, chega de falar
de mim e dos meus problemas… - instantes depois vi-a recompor o seu estado de
espirito, no intento de esquecer, nem que fosse apenas por umas horas, aquilo
que a atormentava – Já sabes o que vais fazer depois das férias de Verão? Vais
voltar para Nova Iorque e completares lá o teu curso ou…?
- Hum, não, não… De
maneira nenhuma! – neguei sem hesitar, numa recusa que foi apoiada por
movimentos breves da minha cabeça – A minha decisão está tomada e eu vou ficar
em Portugal! Quando regressar estou a pensar em voltar para a casa onde morei
com os meus pais, e é lá que vou fazer a minha vidinha!
- Oh, que pergunta tola a
minha… Até posso adivinhar o porquê de quereres ficar! – disse ela revirando os
olhos num só movimento que expressou o evidente, e mostrou-me um sorriso leve
- É óbvio que o Ruben
teve um grande peso na tomada desta decisão, mas também o faço pela minha
família e pelos amigos que tenho lá!
- Olha lá, e por falar em
Ruben… Ontem à noite liguei-te milhares de vezes para te perguntar se querias
vir dar uma voltinha com o pessoal, mas não atendeste… Por acaso ele não teve
nada a ver com esse teu blackout,
pois não?
- Por acaso até teve… –
respondi pausadamente, deliberando um sorriso que apareceu na minha boca por
vontade própria, e num par de segundos onde manobrei o silêncio, deixei que um
véu enigmático cobrisse o teor da minha afirmação
- Vá, conta tudinho… –
Sara mostrou-se tão atenta quanto possível à nova conversa que julgara eu vir
iniciar, e foi-lhe inevitável esconder-me a curiosidade que tomou rapidamente
conta de si
- Não sei se há assim
tanto para contar, Sara… - indaguei, arrastando os meus óculos escuros do topo
da cabeça até à cana do nariz onde os encaixei, devido à luminosidade excessiva
do sol que me obrigada a semicerrar os olhos
- Oh, deixa-te de coisas…
Conta-me tudo, amor, vá lá! – num único movimento rematou os seus cabelos
naturalmente loiros para trás das costas, e em cima da mesa colocou os braços
cruzados, preparando-se para me ouvir
- Então, ele fez-me uma
surpresa e levou-me a jantar… Lembras-te de eu te falar desta pulseira? –
promulguei, mostrando-lhe o meu pulso esquerdo
- Sim, acho que sim… É a
pulseira que ele te ofereceu quando completaram um ano de namoro, certo?
- Hum, hum! Há uns tempos
eu perdi-a e foi ele que a encontrou e que ontem ma voltou a dar. Foi um
momento tão… - por mais que me tivesse esforçado em encontrar as palavras
certeiras ao momento que ali recordara, não consegui encontrar nenhumas que lhe
fizessem jus – Nem sei, pensei que estava a viver tudo outra vez, mas de uma
maneira melhor, entendes?
- Não, na verdade não
entendo porque nunca vivi nada assim, só te sei dizer que por tudo o que tu me tens
contado, a vossa história dava um bom bestseller,
lá é isso dava! – ela falou num jeito mais descomedido e relaxado, em contraste
com o seu estado mais abatido que revelara enquanto discutíamos a situação
anterior, e não evitámos a rir-nos levemente – E depois… A noite ficou-se por
aí?
- Não. – um novo sorriso ressurgiu
nos meus lábios aquando da minha resposta exacta – Depois fomos para uma suíte
que ele reversou para terminarmos a noite e…
- E… - não foi necessário
ouvir-me a completar a frase, pois em ápices também ela retirara a sua própria conclusão
- Ele mostrou-se tão
cuidado, tão carinhoso comigo, como eu já não me lembrava que era… E sabes, não
foi apenas uma questão de sexo, de prazer… Foi uma questão de nos voltarmos a conhecer,
de nos voltarmos a pertencer, de conseguirmos tocar o nosso amor e nos
conduzirmos aos extremos de nós!
A emoção de descrever um
dos melhores momentos que vivera até então, automatizou-se das pressões leves
do meu rosto e da minha voz, que se manteve suave. Conhecendo tão bem Sara como
conhecia, permitia-me ter com ela aquele tipo de conversas, abrir o jogo e
mostrar-lhe os sentires que me fluíam com uma intensidade desmesurada dentro do
peito.
- Bem, mas agora é que eu
vejo que tu estás mesmo apanhadinha!
- Apanhadinha?
Apanhadinha acho que é muito pouco! O Ruben é uma grande parte de mim, e este
amor que eu tenho cá dentro é tão grande e tão forte, que por vezes chego até a
temê-lo…
- Chegas a temê-lo?
Porque é que dizes isso? – bem na minha frente vi as suas sobrancelhas
contraírem e a sua testa foi demarcada por uma fina linha, que lhe definhou a
confusão de sentimentos contraditórios que eu expressei
- Não sei bem… Acho que
tenho medo de me voltar a magoar com ele. Sabes quando estão tão feliz que
chegas a recear o que estará ainda para vir? Uma coisa pior que apague por
completo essa felicidade…
- Sim, eu conheço essa
sensação, mas não acho que devias pensar dessa maneira… Deixa-te levar pelo sabor
do agora, o amanhã logo se vês! – retribuindo-me o mesmo carinho que eu lhe
oferecera de boa vontade há instantes atrás, a minha melhor amiga mostrou-me um
sorriso encorajador e foi inteligente nas palavras, que guardei no pensamento
caso viesse a precisar delas mais tarde
- Eu sei, mas por muito
que eu tente e até consiga contrariar e esconder esta sensação para não o preocupar
quando estou com ele, por vezes sinto-me insegura… - um sorriso triste surdiu
em meu rosto, ao recordar o desfecho menos benevolente do começo da minha
manhã, aquando fora deixava entre as paredes do quarto que me tinha albergado
na noite anterior – Tenho medo que esta felicidade seja apenas… Passageira…
***
- O quê? Pediu-te para
fugires com ele? – ouvi-a gargalhar ao meu lado esquerdo, ao mesmo tempo que
ingressámos pelas portas do átrio principal, continuando a conversa que tomou o
seu começo aquando já terminávamos o nosso percurso de volta ao hotel – Tens
consciência que o teu namorado é completamente doido, não tens? Apesar de achar
até que…
- Não gozes, Sara! Não
querias imaginar a cara com que eu fiquei quando ele me veio com essa conversa!
- Não digas isso, eu até
achei bem querido e romântico da parte dele… E o que é que tu lhe disseste?
- Não lhe dei nenhuma
resposta concreta, mas como é evidente fi-lo entender que isso não iria
acontecer… Não somos nenhuns adolescentes irresponsáveis para perdermos a
cabeça dessa maneira! – falei enquanto caminhávamos na direcção dos elevadores,
mas vi-me obrigada a adiar a viagem até aos andares superiores logo que me
detive no centro do átrio
- Do que é que estás à
procura? – perguntou, vendo-me remexer o interior da minha mala
- Do meu telemóvel… Não o
encontro! Mas tenho quase a certeza que o guardei num destes bolsinhos…
- Então procura melhor… Se
foi aí que o puseste, é aí que deve estar!
- Não, espera… - num
rompante um flash assaltou a minha
mente, e eu recordei-me com clareza do paradeiro do meu telemóvel – Ai, que eu
não acredito… Era só o que me faltava! Bolas!
- Joana, o que foi? – o
rasgo de uma preocupação repentina afrontou-a, logo que ouviu os meus queixumes
e me viu conduzir a mão à testa
- Deixei o telemóvel em
cima da mesa da esplanada… Como é que eu fui tão descuidada pra me esquecer lá
dele?
- Bem, se o deixaste lá,
a verdade é que agora também deve ser difícil de o recuperares, a pastelaria
ainda fica a uns bons quarteirões daqui, e a esta hora já alguém o deve ter
levado!
- Pois, claro que agora
já não vale a pena ir à procura dele porque sei que já não o vou encontrar, mas
pronto… - o meu olhar pesaroso, de que nada poderia fazer, recaiu no de Sara
que durante alguns instantes demarcados em silêncio, partilhou da mesma opinião
- Mas vá, pequenina, não
penses agora nisso, vais ver que se arranja uma solução! – ela tentou
animar-me, apesar de saber que a única solução que havia era a de comprar
outro… e o mais chato para mim não era ter de viver sem telemóvel nos próximos
dias até arranjar um novo, mas chato sim porque somente nele apontara todos os meus
projectos de moda que tinha agendados para o aquele Verão – Olha, está um
pôr-do-sol magnífico, por isso mesmo vamos lá em cima trocar de roupa, e vamos
à praia dar um mergulhinho…
Recordo-me plenamente que
naquele dia só regressei ao meu quarto quando já era noite cerrada… Antes de
cair na cama entreguei-me a um banho relaxante, comi uma peça de fruta e vesti
uns calções curtinhos e um top de alças finas, para dormir.
Quando o meu âmago já
entrava num sono leve, senti uma outra presença no quarto que aquando mais
próxima se chegava, foi denunciada pelo perfume que para mim já se tinha
tornado inolvidável, inundar o ar. Pude ficar mais sossegada por ele estar de
volta, e permaneci quietinha no meu cantinho enquanto ouvia como fundo, os
pequenos barulhos das suas acções que imaginei serem os naturais para se
preparar também para uma noite de descanso.
Senti então um leve ar
que viandou até às minhas pernas pelo lençol que tinha sido ligeiramente
levantado, e depois o peso de um corpo ocupar o lado vago que eu tinha deixado
na cama, e aí um novo calor albergou-me.
O seu peito juntou-se às
minhas costas, encolhi-me levemente quando o seu braço envolveu a minha cintura
e os nossos corpos formaram uma conchinha perfeita.
- Amor… Já estou aqui… -
um sussurro proferido pela boca do meu Ruben, viajou até ao meu ouvido, e eu
relaxei serena em seus braços, contente por ele ter dado uso ao presente
simbólico que lhe oferecera no começo daquele dia
- Chegaste bem? –
perguntei simplesmente, recorrendo ao saber da longa viagem que juntamente com
a equipa, ele fizera de Los Angeles, a fim de um confronto futebolístico, e da
qual deveriam ter chegado apenas há um par de minutos
- Sim, a viagem foi
cansativa mas correu tudo bem…
- E jogo, como foi?
- Empatámos a dois…
Estivemos bem mas não foi o suficiente, sabemos que podíamos ter feito melhor.
- Para a próxima fazem
melhor, tenho a certeza! – predisse novamente num murmúrio, transmitindo-lhe
confiança e tentando subir-lhe um pouco a autoestima, que naquele instante
deviria estar tenuemente fragilizada, e aconcheguei-me mais a ele
- Desculpa, se fui
precipitado esta manhã… - rasgando a cadência do silêncio que se abatera sobre
nós por alguns momentos, ele desabafou algo que, por conhecê-lo tão bem, pressenti
que o deveria ter andado a atormentar o dia todo – Mas eu amo-te tanto, e quero
tanto viver isto contigo, que caio no erro de o querer fazer de uma só vez…
Ao ouvi-lo, tive
necessidade de olhá-lo para também lhe falar com quanta sinceridade e reverência
o meu íntimo poderia guardar, e por isso mesmo, entre a alçada do seu corpo
rodei o meu, de maneira manter-nos juntinhos mas desta feita, de frente um para
o outro. Entre a leve escuridão que nos envolvia, fui capaz de lhe discernir os
contornos perfeitamente adornados do seu rosto de menino-homem, e senti-me ser
também observada pelos seus olhos, que abraçavam os meus com ternura.
- Noutra altura, noutras
circunstâncias, eu teria fugido contigo para qualquer parte do mundo, sem me
importar com o que fosse… Mas acho que agora só precisamos de viver a nossa
vidinha descansados, e a nossa paz podemos encontrá-la em qualquer lado desde
que estejamos juntos!
Vi-o sorrir, grato pelas
palavras que ouvira, e elevando o seu rosto ao meu, as nossas bocas
procuraram-se no instinto de provaram um beijo. Nenhuma das línguas pediu
permissão para invadirem a boca um do outro numa emboscada apaixonante, e logo
que se encontraram não se perderam em meias medidas e envolveram-se num
compasso carregado de amor, desejo e uma pitada de violência prazerosa que nos
deliciou. Senti Ruben a apertar-me mais contra si, anulando todas as hipóteses
de eu lhe escapar, e percebi que naquele gesto natural, ele escondia uma
segunda e clara intenção de não me querer perder. Rematámos aquele beijo, que a
nós nos parecera ter durado uma eternidade, com selinhos consecutivos mas
calmos, que por vontade dele não teriam terminado.
- Eu vou contigo para
Lisboa… - comuniquei-lhe num sopro de esperança, aquando as minhas pequenas
mãos tocaram as suas faces, dando-lhe a conhecer a decisão na qual andara a
matutar toda a tarde e estava mais confiante do que nunca, de que tinha sido a
certa a tomar – Eu vou contigo, amor!
Quando conseguiu
assimilar o conteúdo daquela notícia, Ruben sorriu extremamente contente com a
minha escolha e apressou-se a oscular com breves toques de lábios, todos os
pedaços da pele do meu rosto e pescoço, o que evidentemente me fez soltar suaves
risadas por aquela dose recheada de carinhos.
- Dá-me só mais um
beijinho e vamos dormir assim… Bem agarradinhos toda a noite!
- Hum, é mesmo só mais um
beijinho? – o seu ar comicamente inquisidor fez-me reformular o pedido no
segundo seguinte
- Muitos, muitos…
Rimo-nos das nossas
próprias palavras e um novo beijo surgiu… E outro, e mais outro… Partilhámos os
encantos dos nossos lábios, e foi a eles que nos entregámos por completo nos
minutos seguintes, repartindo da certeza eminente de que nos pertencíamos
profundamente.
Acabámos por adormecer
embalados no calor dos braços um do outro, com o peito inundado de uma
felicidade que só nós conhecíamos, e almas reconfortadas por um forte e
inabalável amor, que o coração tanto esperou.
Queridas leitoras, venho cá num instantinho deixar-vos com um novo capítulo!
Espero que gostem, e quero pedir-vos que me deixem os vossos comentários,
pois a vossa opinião é um incentivo enorme para a continuação da história!
:)
Beijinhos,
Joana
P.S.: Para quem ainda não
reparou, há uns dias deixei disponível na barra lateral do blogue, o meu
endereço e-mail, para quem quiser entrar em contacto comigo :)