Um
novo dia foi descerrado pela manhã serena e passiva, que se ergueu aquando o
sol voltou a raiar, brindando a pompa de um inventário de férias para uns e o
reportório de mais um dia de trabalho a outros.
Enquanto
que Ruben despendeu o seu dia ao serviço da equipa da Luz, entre treinos e
testes médicos, Joana demarcou todo o seu tempo entre lojas, um almoço que
disfrutou na companhia de Sara e William, e um passeio trivial comandado no roteiro entre
as calçadas costeiras, onde nas quais jornadeou somente na companhia da sua
fiel máquina fotográfica, que voltou a disparar sobre a beleza de cada recanto.
Quando
chegada ao hotel, perdida nas horas que se estenderam até ao final da tarde, na
recepção foi brindada com um envelope que guarnecia um bilhete assinado por
Ruben, onde prescrevia todas as indicações ao encontro marcado para o início daquela
noite. Vestindo um sorriso inquebrável nos lábios, pela felicidade que então
decidira voltar a bater-lhe à sua porta, correu celeremente até ao seu quarto,
preparando-se para o já muito aguardado e igualmente merecido… jantar a dois.
***
Apesar
de ter tido contra si os ponteiros do relógio que o obrigaram a uma luta contra
o tempo, contra todas as espectativas Ruben conseguiu perfazer-se dos planos
que tinha idealizado para a sua noite com Joana, de maneira a fazê-los
acontecer. Reservou a mesa para o jantar no restaurante do hotel pelo qual detinha
preferência e inteirou-se da surpresa que iria oferecer à sua namorada, a qual
planejara milimétrica e cuidadosamente, para o desfecho de uma noite que tinha
tudo para que fosse perfeita.
-
Seu laço tá torto, manz… - sentado ao fundo da cama que lhe pertencia, David
opinou sinceramente, enquanto olhava a figura do melhor amigo que se preparava
na frente do espelho colossal do quarto
-
Não está nada! – desmentiu no segundo a seguir, inclinando sucintamente a
cabeça para o lado e ajeitando as pontas do laço que já fizera e desfizera umas
quantas vezes
-
Está sim… Olha aí! – Fábio, que juntamente com Javi também ocupava a suíte dos
amigos, apareceu nas costas de Ruben e apontou-lhe um lado do laço visivelmente
mais elevado que o outro – Em vez de te quereres armar em James Bond de trazer
por casa, quando alugaste o fato podias ter pedido um laço pré-elaborado!
-
Não me vou chatear mais com isto, esta porcaria nunca fica direita! –
aborrecido por não conseguir dar a volta ao problema, ele voltou a desfazer o
laço e do saco onde havia trazido o smoking
de aluguer que envergava, retirou uma fina gravata preta, que com umas
voltas habilidosas que pela experiência já se havia habituado a fazer, enfeitou
o pescoço, revelando-lhe por fim a charmosidade e elegância de um homem bonito
e puramente apaixonado
-
Nossa, que gato! Se não tivesse já companhia, eu iria querer jantar com você! –
zombando numa brincadeira que entre o grupo de amigos já era comum, David não
resistiu em comentar a aparência harmoniosamente polida do seu melhor amigo,
acompanhado pelas gargalhas descaradas de Javi e Fábio
-
Que engraçadinho, puto! A tua sorte é que eu estou com pressa, se não já
apanhavas! – referiu, utilizando-se do mesmo tom de gozo na voz e despenteando-lhe
os caracóis
- E aí... A gente pode ir com você! - sugeriu depois, erguendo-se da cama num pulo rápido
e energético
-
O quê? Não, nem pensar… Eu vou sozinho!
-
¿Qué tiene? Tu te tendrás la cena y nosotros también, aunque fuera en
restaurantes diferentes, se interpone en el camino.
-
O Javi tem razão, mano! – proferiu Fábio, aquando de braços cruzados apoiou a
sugestão do amigo – Descemos juntos, deixamos-te na ante-sala e vamos jantar a
outro lado, visto que no restaurante onde vais só aceitam jantares com
marcação. – num gesto reservado, piscou o olho a David e Javi na ocultação de
planos que somente ficariam entre os três
-
Ei, o que foi isso?! Eu vi! – contudo aquele sinal que passou por ser discreto,
não passou indiferente a Ruben, que no mesmo instante soqueou o ombro de Fábio
esforçando-se por pedir uma explicação, porém, uma explicação que acabaria por
nunca chegar
-
Larga de ser paranoico, cara… Vamo’ masé embora, que papo ainda não enche a
barriga de ninguém! – revelou com a comicidade de que era portador, deixando
tombar o seu braço direito sobre os ombros de Ruben, forçando-o a caminharem
até à saída
Envoltos
num ambiente descontraído e na animação que era costume imperar entre o grupo,
embora que agora reduzido pela falta de alguns elementos, eles desceram ao
primeiro piso, onde se prostrava a zona de restauração. Ainda que contra a sua
vontade, Ruben foi acompanhado por eles até ao último degrau do pequeno lance
de escadas, como se tivessem de se certificar antes de partirem, que o amigo
ficava em lugar seguro.
-
Onde é que vocês vão? A saída é por ali… - vendo-os adoptar caminho em direcção
ao pátio que tomava lugar no lado oposto de acesso aos elevadores, Ruben
indicou-lhes as escadas que teriam de subir para que pudessem rumar a outro
piso
-
Ah… A gente vai à volta, manz… Bom jantar e não esquenta na frescura! – ladeado
por Fábio e Javi, David ofereceu-lhe um piscar de olho e poupou-se nas palavras
de despedida, despachando-se com uma desculpa esfarrapada e que lhe surgira no
momento
Ruben
deixou-se permanecer na ante-sala do restaurante e aguardando a chegada querida
da sua amante, acabou por se tornar alheio ao lance inegavelmente cómico que
secretamente os seus amigos puseram em prática.
Os
três caminharam descontraidamente até alcançarem confortáveis metros de
distância, e logo que se certificaram que Ruben estaria distraído o suficiente
para não dar pelas suas presenças, - as quais ele julgava já omissas –, eles apoderaram-se
do sofá sugestivo de três lugares, centralizado na sala de convívio do átrio
anexado àquela zona, esperando poderem ver de perto todos os passos seguintes,
compostos por Ruben – o amigo próximo que voltara a encruzilha-se nas garras de
um amor passado, que nenhum deles esperou ver agora tão presente.
-
Olha ele todo nervosinho… Já olhou pró relógio umas dez vezes!
-
Pega leve… O Ruben já não deve tar muito acostumado a esse tipo de negócio,
ainda pra mais quando se trata da garota dele… - escondidos atrás das folhas do
jornal local, que descartaram sobre a mesinha de apoio, eles espreitavam-no
comedidamente, rindo-se por vezes do cenário circundante onde no qual Ruben se
auto-protagonizava
-
¡Mira, mira! Miren quien acaba de llegar… - ao fim de alguns minutos
delongados, o olhar atento de Javi viajou rapidamente em sentido oblíquo onde
se posicionava, e somente assentou sob a beleza e graciosidade de uma nova
presença que viera iluminar pela primeira vez aquele espaço – ¡Que hormosa!
-
Eu aposto que quando a Joana acabar de descer as escadas, ele a cumprimenta com
um beijo na boca… Simples e discreto, mas não deixará de ser um beijo na boca!
– lançando o primeiro palpite, o olhar de Fábio seguiu escrupulosamente o de
Javi, confirmando a si mesmo um panorama de encantar, assim como todo o
deslumbre pompeado por uma só mulher
-
¡Sí, yo estoy de acuerdo!
-
Ah não, não, meus camaradas, o manz se vai portar que nem um cavalheiro! Ele
vai beijar a mão dela e vai levá-la de bracinho dado até ao restaurante… É
quanto cês quiserem apostar! – garantiu sugestivamente, confiante de que a sua
premonição sai-se certeira e a sua aposta vencedora
-
Eish, foi ao lado… Mas tive mais perto de a certar do que tu, oh caracol! –
aquela discussão passiva poderia assemelhar-se à de quem assistia a um romance
no sofá de casa, pela maneira furtivamente cómica como eles especulavam um
desfecho – Mas olhem pra eles… a sério, olhem bem! Ao fim de tanto tempo separados,
estão outra vez juntos e mesmo que queram, só da maneira como se olham, não
conseguem esconder de ninguém que se amam… E afinal valeu-lhe a pena cada
minuto que ficou ali à espera dela!
-
O Ruben esperou ela durante três anos… Tenho a certeza que continuaria disposto
a esperar ela uma vida inteira, se fosse preciso. – David não pode deixar de
expressar a sua opinião inolvidável que sustinha em prol dos sentimentos do seu
melhor amigo, sustentada pelos pináculos de uma história de amor, escrita na
antecipação de um final feliz
***
Depois
de, com o olhar, seguir somente por fugitivos segundos a retirada dos amigos
rumo à direcção oposta, Ruben quedou-se na salvaguarda dos minutos seguintes,
entregando-se à espera desassossegada pela chegada de quem tanto ansiava ver
naquele dia. Caminhando de um lado para o outro, e espreitando de vez a vez as
horas marcadas no relógio que trazia religiosamente preso ao pulso esquerdo, ainda
conseguiu ver-se maravilhado pelas surpresas do reencontro…
Por
fim lá estava ela, portadora de uma calma e leveza sublime, Joana assomou-se ao
cimo da escadaria, levedada pela flamância das luzes que lhe iluminavam cada
detalhe e ornavam o brilho da sua pele despida. Envergava um comprido vestido
pérola que lhe escondia os saltos altos e lhe salientava a feminidade de cada
curva do corpo. Os ombros eram revestidos por alças finas e abrilhantadas, que
lhe suportavam um decote apertado e impecavelmente desenhado ao contorno dos
seios, apoiado pelo efeito do cabelo que era apanhado numa trança gordinha e
bagunçada, decaída sobre a frente de um ombro, moldada também pela franja
solta, penteada para um lado do rosto e discretamente volumosa. O vestido era
totalmente aberto atrás, conferindo-lhe a visão absoluta de umas costas
completa e perfeitamente nuas.
Ruben
parecia deslumbrado vendo-a caminhar subtilmente até a si, deixando-se
embriagar pela doçura daquela imagem. Aproximou-se do sopé das escadas e
esperou-a com um sorriso delicioso, enquanto atento, observava a caminhada
descendente dela sobre as escadas. Ao passo que descia, Joana disfarçava um
sorriso tímido, levantando ligeiramente o vestido nas laterais das coxas para
não tropeçar, e finalmente, quando chegou próxima o bastante, ele pegou-lhe na
mão e ajudou-a a soltar-se do último degrau.
-
Meu Deus, tu estás… estás… Deslumbrante!
Logo
que os seus lábios soltaram a face dela e mantendo-se bastante próximos, Ruben
empenhou-se o bastante para conseguir conjugar-lhe toda a beleza e encantamento
num só adjetivo, perscrutando-lhe cada saliência do corpo e sorriso do olhar.
Joana
era de facto uma mulher muito bonita, mas aos olhos dele, naquela noite, ela parecia-lhe
mais sumptuosa, mais afável e sem dúvida mais feliz.
-
Obrigada… - agradeceu num tom de voz leve, percorrendo também a figura dele num
só relance e procurando-lhe depois o conforto do olhar – Tu também estás muito
charmoso. – reconhecendo toda a impecabilidade de elegância de que Ruben era
portador, ela traduziu por palavras o encaixe harmonioso que ele fazia naquele
lugar
-
Vamos? – estendeu-lhe a mão, preparando-se para levá-la a entrar num ambiente
que sabia ela desconhecer
Joana
acenou num cordial gesto com a cabeça, e deram ambos as mãos… Não entrelaçaram
os dedos, apenas uniram e cruzaram as palmas, prendendo-as num simples encaixe.
O
restaurante estava estrategicamente posicionado na fachada vertente à praia do
hotel. Visto que se localizava no primeiro piso, era conferida uma vista
privilegiada sobre mar pela proximidade a que este se dispunha. O avantajado
alpendre anexado ao exterior, concebia a visibilidade total sob o manto
enegrecido da noite, e que noite era aquela… Um véu coberto de estrelas que se
multiplicavam num céu sem fim; a lua soberana que parecia ter crescido ao longo
daquela semana, alardeava um enorme tamanho, deixando reflectir a sua imagem
sob as águas sombreadas do mar; e a fusão de cheiros invulgares empurrados pela
brisa suave daquele lugar, arrastava consigo as recordações que haviam ficado para
Ruben e Joana, suspensas num tempo sem espaço.
No
interior do restaurante vivia-se e respirava-se um ambiente harmonizo e
equilibrado pela decoração, que embora sustentada por algum requinte, não era
de todo agressiva nem aos olhos nem aos sentidos. No centro, as mesas estavam preparas
espaçadamente com cadeiras esponjadas de um veludo vermelho, o mesmo que não
acontecia com as mesas situadas juntos às paredes e aos extremos, onde as
cadeiras eram substituídas por confortáveis sofás dispostos em “L”,
propositadamente destinadas a quem fazia uma reserva com um pedido especial. E
para completar as noites disfrutadas num lugar como aquele, estava uma pequena
orquestra, conduzida ao compasso de ritmos quentes e clássicos, que compunham a
sinfonia de corações arrebatados.
-
Good night, Sir… Miss. – após os ter visto entrar, um empregado encorpado por
uma postura cortês, dirigiu-se até eles, trazendo presa entre o braço e o peito,
a lista de reservas para aquela noite – Can I help you?
-
Good night! Ah… I was here this afternoon, I made a reservation… - começou
Ruben por dizer, gesticulando-se num inglês íntegro
- Yes, I
remember you, Sir! Let
me see here, Mr. … - recorrendo à sua lista, com um rápido deslize do
indicador, ele procurou por entre os vários nomes de quem havia efeito reserva,
aquele que havia feito a que lhe era solicitada – … Mr. Ruben Amorim… Table for
two, am I right?
-
Yeah, you’re right. – certificou, compartilhando depois um breve e afável
sorriso com Joana, que se mantinha serena junto a si, pelas duas mãos sempre
unidas
-
Please, follow me! – tomando caminho na frente deles, o empregado guiou-os até
a um recanto da sala, mostrando o cantinho vanguardista que Ruben escolhera
pessoalmente
Joana
pareceu encantada com a escolha. A mesa era revestida por uma toalha tingida de
um branco imaculado que brilhava timidamente à luz, centrada estava uma taça
cristalizada de pé alto, rodeada por pequenas velas aromáticas e enfeitada com
um simples e bonito arranjo de flores vermelhas, embebidas a uma pequena
quantidade de areia tingida à mesma cor. O serviço de loiça era
assimetricamente formoso, onde os pratos estavam não dispostos em frente um
para o outro, mas sim perpendicularmente, devido à geometria do sofá.
-
Here’s the menu. Call me if you need anything… - após acender cada uma das
velas, o empregado prestou impecavelmente a sua disponibilidade, retirando-se
educadamente logo em seguida
-
Thank you! – Joana agradeceu-lhe a simpatia, para ocupar depois o seu lugar no
sofá e Ruben que a acompanhou, despiu o blazer
e sentou-se ortogonalmente a ela – Este sítio é lindo! – correndo o espaço com
uma nova perspectiva de visão, ela contemplou cada pormenor que os rodeava
-
Gostas? – um sorriso perdidamente apaixonado aqueceu os lábios de Ruben,
aquando da pergunta que lhe fizera, permitiu que sobre a mesa a sua mão
carinhosa acolhesse a dela, afagando-a suavemente com a polpa grosseira do
polegar
-
Adoro! Adoro a maneira como tudo está embelezado, o ambiente calmo e romântico,
a música… - enumerou Joana pausadamente, portando no semblante uma expressão
serenamente feliz por poder estar ali com ele – Obrigada!
-
Hum, hum, não é obrigada… É um beijinho bem aqui, oh… - num jeito brincalhão que
já lhe era muito característico à personalidade, abeirou o rosto ao dela e já
de olhos fechados indicou-lhe os seus lábios, que Joana teria de beijar,
selando assim aquele acordo de agradecimento
Jantaram
na conformidade de um ambiente incrivelmente leve e tranquilo, e com as
condições do romancismo pleno, que surgiam escondidas por entre risos, olhares,
ou mesmo simples silêncios que demonstravam tudo o que não precisava de ser
dito por palavras.
Por
vezes Ruben não resistia e mimava-a com beijos, e apesar de estarem albergados
num cantinho só deles, não se encontravam isolados das outras mesas, apenas
eram acolhidos num pequeno recanto onde poderiam mostrar mais da sua
cumplicidade e partilhar de carinhos sem terem a preocupação de virem a
desconfortar a posição de alguém que os pudesse ver, porque o facto era que não
escondiam de ninguém que estavam juntos, porém preferiam manter alguma
discrição na revenerada relação que recomeçara mas que tinha tudo do que era
essencial para dar certo.
-
Amor, anda pra’qui para ao pé de mim… - sentindo-se sozinho a um lado da mesa,
Ruben chamou-a amorosamente para junto de si, aquando já saboreavam da
sobremesa
-
Estás tão mimadinho hoje… - Joana riu-se dele num jeito meigo e leve, mas
satisfez-lhe o pedido sem demoras, que depois de o ver ceder-lhe um espacinho a
seu lado, aconchegou os corpos ao calor ladeado um do outro
-
O que tem? Pensei que também gostasses de mim assim…
-
Devias saber que eu gosto de ti de todas as maneiras… Mimado, rabugento,
mandrião…
-
… e lindo, e romântico, e apaixonado… - ele tomou a iniciativa de a completar,
à medida que ia aproximando perigosamente os lábios dos dela, onde roubou dois
ou três beijos repenicados que emitiram aquele burburinho característico e delicioso
de se ouvir – Deixa-me provar do teu… - pediu-lhe, fazendo um sinal claro de que
fosse ela a oferecer-lhe do seu gelado cherry-bourbon, que tinha escolhido
-
Toma lá, guloso! – com colher, retirou da tacinha uma pequena porção do sorvete
embebido a pedacinhos de cereja, que levou carinhosamente à boca dele – Então,
é bom?
-
É… Queres trocar?
-
Engraçadinho! – ela fez-lhe uma careta isenta de qualquer intenção maliciosa e
deu-lhe um beijo leve na face
-
Amor… - retomando a troca de palavras que por meros instantes atrás se haviam
silenciado, para dar lugar ao som melodioso do saxofone que se escutada do
centro da sala, Ruben procurou-lhe toda a atenção para assim dar início a uma
dúvida que já devia para si estar elucidada – Quem é esse William?
-
O William? – a princípio Joana ficara confusa com aquela questão… porque
voltara Ruben a falar-lhe da pessoa de quem ela já havia comentado com ele na
noite anterior? – Tu sabes… Falei-te dele ontem! Ele é um amigo que conheci em
Nova Iorque e que está cá a passar uns dias de férias.
Ruben
não pareceu suficientemente esclarecido e satisfeito com o que ouvira. Tinha
uma sensação irrevogável de que ela não lhe contara tudo o que havia para
saber, e esse facto deixo-o inevitavelmente inseguro.
Joana
conhecia-o bem demais, e aquela expressão taciturna e quase enigmática que ele
traduzia no rosto e principalmente no olhar, que evitava então cruzar com o
dela, levou-a a procurar aclarar a neblina que repentinamente começou a pairar
em redor daquele assunto.
-
O que foi, Ru? Que cara é essa?
-
Não sei, é que quando vos vi, vocês pareceram demasiado cúmplices um com o
outro, parecia que…
-
Parecia que já tínhamos sido mais do que amigos… Era nisso que estavas a pensar?
– sem dar zinco a quaisquer rodeios, Joana foi directa ao ponto da questão que
ele não tivera coragem de pronunciar em voz alta
-
E foram? – o seu olhar procurou finalmente o dela, tal qual como procurou uma
resposta honesta que felizmente para as suas suposições, não tardou em chegar
-
Fomos. – respondeu calmamente, sabendo que não poderia dizer outra coisa que
não fosse a verdade, desde a noite anterior que as mentiras e omissões ficaram devidamente
esclarecidas, ficando elas fora do plano daquela relação, e não iria ser Joana a
alterar isso com uma resposta desonesta e que ele não merecia ouvir – Nós namorámos
durante algum tempo…
Ruben
voltou a baixar o olhar de forma intuitiva e perguntou algo que ele próprio não
equacionara – Quanto tempo?
-
Algum tempo, Ruben… Não sei dizer-te ao certo!
-
Mas gostavas dele? Quer dizer, gostavas dele a sério? Apaixonaste-te? – aquele
inquérito repentino, provindo de uma voz esmorecedora e feições taciturnas,
revelavam-lhe unicamente um estado que Joana conseguiu decifrar sem grande
esforço
-
Ciúmes… Estás outra vez com ciúmes!
-
Não são ciúmes. – afirmou simplesmente, afastou a taça da sua sobremesa que
perdera vontade de terminar, e cruzou ambos os braços protuberantes sob a mesa
-
Então é o quê? – Joana rodou ligeiramente o seu corpo sobre o sofá que dividia
ao lado de Ruben, e mostrou-se disposta a ouvi-lo tanto quanto ele estaria
disposto a falar
-
Fico inseguro, acho que é isso…
-
Inseguro? Inseguro porquê, amor? Não acho que tenhas razões para isso… Eu estou
aqui. – ela falou-lhe tranquilamente ao mesmo tempo que lhe afagava o cabelo,
articulando cada palavra precisa e cuidada na esperança de que fosse o
suficiente para fazer dissipar-lhe todas as dúvidas – Eu estou contigo, não
estou?
-
Eu sei, mas nós estivemos longe um do outro durante tanto tempo, que agora que
conseguimos resolver tudo e estamos novamente juntos, sinto que qualquer ameaça
se pode tornar o motivo de te voltar a perder… - enquanto da sua confissão, a
respiração de Ruben começou a ser dispersada atarantadamente, demostrando o
nervosismo da sua alma
-
O William não é nenhuma ameaça… Ele agora é só um grande amigo! E se queres saber,
para mim também não foi nada fácil!
-
O quê?
-
Nunca o disse a ninguém, mas a verdade é que eu nunca te consegui esquecer
totalmente, nem a ti nem ao amor que sempre guardei, e apesar de o tentar negar
a mim mesma, uma das razões que me motivaram a voltar a Portugal, foste tu…
Acho que no fundo ainda vivia agarrada à esperança de te poder voltar a ter…
-
E tinhas-me, e tens-me… – ele interrompeu-a por breves segundos, acabando por
também rodar ligeiramente o seu corpo e poder assentar-se à frontaria dela
-
Mas foi difícil, Ruben, não imaginas o quão difícil foi para mim ver-te ao lado
de outra mulher, ao lado da Inês, pronto a casar e enterrares definitivamente o
nosso passado e junto com ele todas as promessas que fizemos um ao outro!
-
Eu nunca esqueci…
-
Espera, deixa-me acabar, por favor… - pediu encarecidamente voltando a
silencia-lo, pois sabia que só dizendo tudo de uma só vez, conseguira realmente
libertar-se do pequeno pesar que tinha guardado somente para si – Foi ainda
mais difícil e doloroso ver-te naquele dia ao lado dela a provocares-me com a
vossa felicidade, fazeres-me acreditar que tinhas conseguido dar a volta por
cima e que estavas melhor sem mim! Não penses que só a ti te custa pensares em
mim com outra pessoa, quando eu vi com os meus próprios olhos…
-
Shiu, amor, pronto, pronto! Vem cá… - colmatado à dor interpretada pelo rosto
da sua pequena mulher, foi Ruben que desta vez se apressou a silencia-la e
acalmar a ansiedade abrupta que assaltou o peito de Joana naquele momento,
puxando-a para os seus braços onde a tranquilizou – Naquela altura eu ainda
estava muito magoado com o que nos tinha acontecido, e armei-me em parvo
contigo, desculpa! – os seus lábios percorreram-lhe com beijos cuidados toda a linha
do maxilar inferior e detiveram-se na boca dela, que beijou repetida e
vagarosamente – Anda, vamos até lá fora…
Ruben
ergueu-se um momento após e estendeu-lhe a mão, onde ela se apoio para também
se levantar. O ar que corria no lado de fora era quente embora da noite, porém
agradável e convidativo. O alpendre era mais extenso do que se poderia supor
vendo-o do lado do dentro do restaurante, e oferecia um enfeite extremamente
bonito e agradável, assim como uma vista contemporânea soberba.
Poucos
eram aqueles que também ali disfrutavam do crepúsculo avançado e de todo o
encantamento trazido com ele e logo assim que entraram, percorreram o chão
tabuado de madeira perfeitamente lisa e polida, e Ruben não hesitou a levá-la
consigo até a uma cadeira de verga de estrutura oval, segura por um suporte de alumínio
que a mantinha suspensa a consideráveis centímetros e toda ela almofada no seu
interior. Ele sentou-se e fê-la sentar-se carinhosamente ao seu colo na
transversal.
-
Já te disse que estás linda e que não consigo parar de olhar para ti? – os seus
braços fortes rodeavam-lhe a cintura, e Joana não evitou rir-se pelas cócegas
que sentia devido à brincadeirinha dos lábios dele com lóbulo da sua orelha
-
És um tonto, sabias? – ela deu-lhe um beijinho na ponta do nariz
-
Sim, sabia… Já mo tinham dito algumas vezes! – respondeu rapidamente, dando uso
a uma pequena encenação que mais uma vez viera a confirmar o seu jeito jovial
de ser – Ah, espera… Tenho aqui uma coisa para ti!
-
Uma coisa para mim? O que é? – mostrando-se tão curiosa como seria de esperar,
ao olhar para ele Joana esperou encontrar algo que lhe servisse de pista para a
pequena surpresa que Ruben lhe trouxera e a qual o seu pensamento estava longe
de vir enxergar
-
Primeiro vais ter que fechar os olhos… - incumbindo-lhe uma condição que ela
não hesitou em corresponder, Ruben ocorreu com a sua mão direita ao bolso das
calças que as suas pernas envergavam harmoniosamente, para assim capturar o
pequeno mas valioso objecto que guardara unicamente para si nas últimas semanas
– Já podes abrir!
Ao
vislumbrar atentamente o que a palma da mão de Ruben lhe mostrava, todas as
expressões faciais de Joana foram domadas por um misto de admiração e mais
tarde de encantamento. As suas mãos delicadas ocultaram-lhe uma parte do rosto
tal foi o seu espanto, mas foi impossível esconder a alegria que sentia por
voltar a ver uma recordação que imaginara perdida, esquecida da esperança de
poder recuperar.
-
Como é que tu…? Como é que a tens? – referindo-se à pulseira que Ruben
segurava, um objecto que eternizara o sentimento de que ambos partilhavam,
ainda assim ela não conseguiu disfarçar a intriga que tudo aquilo lhe causava
-
Lembraste daquela tarde em que nos encontrámos no salão da minha mãe, e mais
tarde discutimos no parque de estacionamento? – ele não procurava nenhuma
resposta sua, pois sabia tão bem quanto ela que Joana jamais olvidara aquela
tarde da sua memória – Sem te aperceberes caiu-te ao chão, e quando eu dei
conta dela já era tarde demais para ta devolver… Tu já tinhas ido embora!
-
Não imaginas as voltas que eu dei à procura dela… Pensava que a tinha perdido!
-
Mas não perdeste! Eu guardei-a até hoje… - um sorriso honesto tomou moradia no
repouso dos seus lábios, e um olhar expectante foi lançado ao rosto da sua eterna
amada – Queres que seja eu a pô-la?
Joana
conseguiu apenas prenunciar-se na ordem de uma breve oscilação que encenou em
leves movimentos afirmativos com a cabeça.
Estendeu
delicadamente o braço que susteve no ar, e deixou que fosse Ruben a prender-lhe
a manila em redor do pulso esquerdo, fazendo-a recordar com uma certa nostalgia
a primeira vez que ele o fizera. Na noite do primeiro aniversário que
completaram pela relação, Ruben surpreendeu-a ao oferecer-lhe uma caixinha
pomposa enfeitada com um laço vermelho, que guardava as duas lembranças que os
iriam acompanhar futuramente, na independência do percurso que pudessem seguir
dali em diante, duas braceletes banhadas a ouro e ornadas cada uma com corrente
grumê que suportava uma chapinha onde
haviam sido proscritos os nomes bem como a promessa de um amor que um dia
juraram ser eterno.
“Ruben &
Joana, 4 de Julho” – podia
ler-se a gravação na superfície da pequena chapa rectangular.
Sentia-se
ser bafejada pela sorte, não só por ter recuperado o objecto que durante tanto
tempo servira como seu amuleto nos momentos mais difíceis e o motivo que a
fazia relembrar dos melhores que alguma vez tinha vivido, mas bafejada pela
sorte também por ter finalmente a seu lado o homem que amava verdadeiramente,
com todas as suas forças. A emoção advertida daquele momento apanhou-a
completamente desprevenida, e foi fatal que algumas lágrimas não foram
impedidas de voar até à linha de água aveludada dos seus olhos claros.
-
Quatro de Julho… Quatro de Julho… - Ruben ouvia-a repetir baixinho, depois de
ter visto o olhar dela concentrado na gravura da pulseira, supondo ele que os
seus pensamentos viandassem certamente pelos dias do calendário anual – Mas
então hoje é… - arregalando instintivamente os olhos que depressa tomaram rumo
aos seus, Joana constatou as coincidências do destino que não parava de os
surpreender
-
É… Hoje é dia quatro de Julho! – foi ele a dar continuação e desfecho ao
discurso que Joana deixara a meio pela perca de palavras, e um rasgo lindo dos
lábios foi pintado no rosto de um homem que aprendera a amar perdidamente uma
mulher – Feliz aniversário, meu amor! – um sussurro inebriante foi solto junto
do ouvido dela, confirmado uma data tão especial que fora unida por eles
Apesar
de não terem tido a bem-aventurança de festejarem os últimos três anos de
aniversário enquanto casal, o certo era que se a relação não tivesse terminado
com uma separação injusta e incondicional, naquele dia completariam
precisamente quatro anos de namoro.
Agora
sim, era incontornável continuar a segurar as lágrimas… As emoções eram fortes
e mais que muitas para uma noite que revelou possuir mais de mil encantos, e os
sentimentos eclodiam furtivamente à flor da pele. Mas logo que o seu olhar
atento testemunhou o rasgo de fios de água que se arremessavam sob as faces da
sua pequena, os dedos preocupados de Ruben precipitaram-se em enxugar-lhe cada
lágrima, embora estas portassem o sentimento de alegria. Ele beijou-a então.
Pousou cuidadamente a mão direita sobre a face resfriada de Joana e tomou ordem
de comando ao compasso de uma dança quente a que o beijo se colmatou, seguindo
quase o ritmo da música de provinha do lado de dentro, para um ritmo calmo, um
ritmo só deles.
-
Ainda te lembras do dia em que nos conhecemos? A noite de comemoração do teu
aniversário? – fruindo do encosto das testas e os olhos cerrados pela partilha
do último toque de lábios, Joana aproveitou a ocasião para recordar com ele um
passado feliz… de como tudo, um dia, havia começado
-
Como não me hei-de lembrar do dia que viria a mudar a minha vida? – Ruben
utilizou-se de um tom de voz embriagante para lhe falar, inebriando o perfume
adocicado dela, enquanto lhe percorria a pele do pescoço com a pontinha do
nariz – Pelo menos o totó do David tomou uma atitude inteligente pela primeira
vez na vida!
Ela
riu-se num jeito delicioso que rapidamente poderia ser comparado ao de uma
pequena criança e afagou-lhe meigamente a polpa do cabelo – Pois foi, apesar
das nossas famílias já se conhecerem, nunca tínhamos sido apresentados antes… E
foi o David que me levou à tua festa e foi ele que nos apresentou! Nessa altura
namoravas uma rapariga… Como é que ela se chamava mesmo? Filipa?
-
Ah… Sim, acho que sim…
-
Achas que sim? – Joana notou que ele ficara um pouco desconfortável com aquela
lembrança e procurou disfarçar o riso de o ver naquele embaraço
-
E o que é que isso também interessa agora? O facto é que depois eu e ela
acabámos e a partir daí eu comecei a dar valor ao que realmente importava…
Costumava ver-te quando ias aparecendo nos jogos quando o Rui te levava, e tornou-se
inevitável começar a olhar pra ti de outra maneira…
-
… Sim, mais tarde passámos a encontrarmo-nos também depois dos jogos, tu ias
espreitar os meus treinos de vólei, raptavas-me para o teu apartamento… - ela
não demorou em completá-lo, pois partilhava do mesmo conhecimento que Ruben
-
Pois, mas no meio de tudo isso levei meio ano a conquistar-te… Meio ano! Meio
ano para que aceitasses iniciar uma relação comigo…
-
Sabes que levámos menos do que isso a tornarmo-nos mais próximos, mais íntimos,
a apaixonar-nos… E não valeu a pena cada um desses momentos?
-
Valeu… - o seu olhar serenou ao olhá-la, acompanhando a sinceridade da sua
afirmação – Valeu a pena cada dia, cada conversa, cada brincadeira, porque mais
do que uma namorada e o bem mais precioso da minha vida, naqueles meses eu
ganhei a melhor amiga que a vida me poderia ter dado! – os seus dedos
acariciaram o rosto suave dela, ao mesmo tempo que os seus olhos decoravam cada
pedaço de pele
Joana
emocionou-me uma vez mais com as palavras cuidadosamente escolhidas por ele.
Beijou-lhe o canto da testa num claro sinal de respeito e gratidão de que
partilhava, e afastou-se.
Ruben
recostou-se na cadeira e permaneceu passivo a vê-la caminhar com aquela
graciosidade de que ela era portadora, até junto do parapeito de vidro do
alpendre. Deixou-se ficar a olhá-la, foi-lhe fatal cair na tentação de fazê-lo.
Mantendo um sorriso irredutível que não conseguia apagar dos seus lábios, os
seus olhos protectores percorreram cada curva da silhueta onde era acentuada
toda a feminilidade do seu corpo, mas por detrás daquela postura aparentemente
firme e perseverante, Ruben destingiu ligeiros rasgos de insegurança.
Por
seu lado, aquando chegada ao parapeito, Joana encostou a linha abaixo do seu
peito ao gradeamento e ligeiramente debruçava ficou a contemplar a belíssima
paisagem que a vista oferecia. Vi-a o mar beijar timidamente a areia e fugir
logo depois, ouvia os sons dissipados nas ruas, o saxofone que ainda servia
como sinfonia de fundo, o brilho das luzes distribuídas um pouco por todo o
lado e sentia a brisa quente do vento, que passava sedutoramente e brincava com
algumas mechas do seu cabelo soltas da trança. Fechou os olhos ao mesmo tempo
que inspirava aquele ar, recuou no tempo e procurou a razão pela qual desistira
de Ruben ao primeiro obstáculo e não fora capaz de lutar por ele tal como tinha
a certeza que se fosse ao contrário, ele lutaria por si.
-
A pensar em quê? – Ruben surgiu nas suas costas envolvendo-a por trás,
rodeou-lhe a cintura com os braços levando ao relaxamento das suas mãos junto
da barriga, e tendo a sua voz soado junto do ouvido direito dela
-
Em ti, em mim… Em nós. – as suas mãos entrelaçaram-se às de Ruben sob a sua
barriga e a sua cabeça descaiu levemente para trás, pousando sobre o peito dele
e preparou-se para lhe fazer uma pergunta que já trazia consigo há algum tempo
– Ruben… Achas que se eu não me tivesse ido embora, se não tivéssemos separados
estes três anos, achas que havia possibilidade de ainda hoje estarmos juntos?
-
Tinha tantos planos feitos para nós… - encontrando um ponto da visão sobre o
horizonte, ele desviou-se um pouco da pergunta e deu um novo significado à
resposta
-
E que planos eram esses? – perguntou, sentindo-o beijar-lhe a nuca
-
Sairmos de Lisboa, por exemplo… Como a carreira de jogador é curta, depois eu
poderia dedicar todo o meu tempo a ti, à nossa família, podíamos talvez sair de
Lisboa e mudarmo-nos para uma casa no campo…
-
Uma casa no campo? – ela riu-se da maneira impetras e convicta com que ele
falou – Porquê?
-
Olha, porque seria mais saudável para os nossos filhos… - proferiu sinceramente,
fazendo depois uma breve interrupção para que os seus lábios percorressem um
pequeno percurso descendente, beijando-lhe a linha despida do pescoço e ombro –
Eles assim poderiam respirar do ar puro do campo, brincar sem restrições,
correr sem termos a preocupação de irem para a estrada…
Joana
rodou levemente o corpo entre os braços dele e no olhar robusto procurou-lhe a
sensatez de uma resposta – Querias mesmo ter filhos comigo?
-
Nunca te escondi isso…
-
Nessa altura éramos uns miúdos…
-
E eu amava-te ainda assim! – mantendo-a firme nos seus braços, apertou-a mais
forte para si, transmitindo-lhe entre as palavras, a segurança e as garantias das
quais sentiu ela estar a carenciar – Mas… Mas tu tens dúvidas que ainda hoje
estaríamos juntos, se não nos tivéssemos separado naquela altura?
-
Não. Pelo contrário, até… - retorquiu, sem ter a necessidade de pensar
aprofundadamente sobre a resposta – Se naquela altura me perguntassem como
imaginaria a minha vida dentro de quatro, cinco anos, eu diria que provavelmente
já estaria casada contigo e à espera do nosso primeiro filho!
Ruben
sorriu com um prazer que há muito não tinha oportunidade de tocar… como lhe
soubera bem ouvir aquelas palavras – Achas que ainda vamos a tempo?
-
Acho… Acho que ainda vamos muito a tempo!
Um
novo beijo surgiu então. Joana segurou-lhe o rosto por entre as suas mãos e
beijou-o de uma forma como se não o fizesse há imenso tempo. Ruben apertou-lhe
delicadamente a cintura e discerniu, tanto quanto sentiu, a emoção daquele
beijo. Ambas as línguas se encontraram a meio caminho entre as bocas, e foi o
instinto que as levou envolverem-se uma na outra com o fulgor que lhes era já
conhecido, retomando eles em suas memórias todo o enfeitiçamento e paixão mútua
de que compartilhavam.
-
Tenho uma surpresa para ti… - confessou ele entre pequenos selinhos nos lábios,
colocando termo ao último beijo
-
Outra? Assim vais deixar-me mal-habituada!
-
E não me importo que fiques… Daqui em diante vou começar a mimar-te muito!
-
Hum… E então que surpresa é essa?
Ele
beijou-lhe a face e tomou a mão dela na sua - Anda, vamos sair daqui…
***
Mais
tarde, caminhando de mãos entrelaçadas entre os corredores de um dos últimos
andares do topo do hotel, Ruben seguia ligeiramente à frente dela, guiando-a
num percurso que só ele conhecia e o qual estava cingido a findar-se no único
lugar predestinado a conceber o fim daquela noite.
-
Ruben, espera… Para onde é que me estás a levar? – abrandando a passada, Joana
obrigou-o a parar ao dar-lhe um pequeno aperto na mão que mantinha firmemente
unida à dele
-
Amor, sossega… Tu vais gostar, vais ver! – afirmou com suavidade, recuando uns
passos para a assegurar num leve e promissor toque de lábios
Aquando
por fim chegados junto da porta de um dos quartos, Ruben introduziu o cartão na
entrada, o que permitiu o seu destranque, mas que por iniciativa própria
manteve apenas encostada, para que Joana não pudesse ter a oportunidade, ainda,
de olhar o que o seu interior lhe guardava. Ele puxou-a para junto de si
colocando-a à sua frente, e com uma só mão, pelo braço ligeiramente elevado
sobre o ombro dela, tapou-lhe os olhos.
Foi
entrando devagarinho, pé ante pé, mergulhada na escuridão que apenas foi
apalpável pelas indicações do corpo de Ruben que atrás dela orientava, e foi
enfim quando ele fechou a porta e lhe beijou carinhosamente a orelha, retirando
ao mesmo tempo a sua mão que lhe cobria os olhos, que Joana pôde vislumbrar
toda a beleza e fascino que lhe haviam sido reservados.
-
Amor… - foi a única palavra que ela se sentiu capaz de pronunciar, aquando
todas as suas feições foram resgatadas pela surpresa do momento
Estavam
albergados numa suíte presidencial, acolhidos a todo o luxo e conforto de que
esta exigia aportar.
Joana
olhava em seu redor, lobrigando cada recanto da enorme sala que se estendia a
seus pés, dando-lhe a irrevogável sensação de ter pisado outro mundo. A
estrutura arquitetónica traçada a engenhos tradicionais da arte clássica,
fazia-os retomar rapidamente outro século e outra época… As pinturas do papel
que guarnecia as paredes, a mobília branca ornada a pormenores elaborados à
mão, o sofá e poltronas revestidos por uma imensa talham dourada, e o enorme e
celestial ramo com as mais bonitas e selectivas flores aromáticas, aprimorado
sob um dos móveis. Tudo respirava ao encantamento de um sonho que ainda se
encontrava demasiado vivo para Ruben e Joana.
-
Onde é o quarto? – foi a primeira pergunta feita por ela, logo que com um
sorriso embelecido no rosto, voltou a procurar a guaria dos olhos do seu
mais-que-tudo
Contente
com a satisfação que ela mostrara, com as mãos resguardadas nos bolsos das
calças, Ruben respondeu-lhe apenas com um acenar de cabeça que foi no mesmo
instante ao encontro das portadas duplas de carvalho vermelho, que corriam o
acesso ao quarto integral da suíte.
Ela
correu então celeremente até elas e ao abri-las num só arrombo, não conseguindo
disfarçar no rosto, o que os seus olhos testemunhavam... O quarto era enorme e
tal como a sala, era bem decorado, fazendo lembrar pequenas excentricidades dos
quartos secretos de imperadores. No ar pairava uma intensa porém adocicada
essência a canela e jasmim libertada pelo incenso que ardia, e uma cama… uma
enorme cama de casal disposta ao centro, emoldada por um dossel branco quase
transparente, caído vertiginosamente sob todos os lados em jeito de cascata e
que beijava o chão devido ao seu tamanho, dando assim à cama mais embelezamento
e proporcionando a quem nela se deitava, um conforto de maior intimidade.
Joana
suspirou. Um cenário perfeito estava composto e os dois personagens haviam
entrado em cena, remontando cada deixa e didascália na da peça das suas vidas,
que ao fim de tanto tempo poderiam novamente protagonizar.
-
Isto é… Isto é tudo para nós? – gaguejando levemente enquanto olhava em seu
redor, Joana pressentiu a presença inquestionável de Ruben, denunciada pelo
cheiro deleitante a perfume de homem que acabara por inundar o ar, assim que também ele enveredou por aquele
cantinho de paz e amor
Ele
aproximou-se das costas dela, e com um leve toque de dedos definiu-lhe o ombro
direito, para lhe responder num simples sussurro – É tudo nosso por esta noite…
Afastou-se
dela por instantes, para reduzir a intensidade das luzes artificiais suspensas
acima das mesas-de-cabeceira, no intento precativo do espaço ficar somente
iluminado pelo halo de luz quente e muito suave.
Levá-la
para um lugar como aquele, passou apenas pela intenção de a querer surpreender,
de lhe puder dar tudo o que merecia, porque aquele era de facto um dia especial
para ambos, especial para ser recordado e comemorado, e apesar de Joana somente
precisar de estar com dele para transformar qualquer lugar num bom lugar, os
planos de Ruben para aquela noite – embora tal como ela o desejar de igual
forma e já o terem referido no dia anterior –, não foram feitos no propósito de
se assentarem em segundas intenções.
-
Vem cá… - prostrando-se junto do aparador, Ruben chamou-a, enriquecendo nos
lábios o mais belo sorriso que o mundo já vira
No
aparador colocado a um canto do quarto, ele pegou na garrafa de champanhe
banhada em gelo e depois de exercer um pouco de pressão, fez a rolha
libertar-se num disparo vencido, vertendo depois a bebida para dois flutes de
pé altivo, e entregando um a Joana, logo que numa passada calma que parecia
tê-la feito flutuar, chegou junto a si.
Ela
colocou-se na sua frente, e detendo em sua mão o copo cheio a quatro dedos,
ergueu-o tenuemente no ar – Brindamos a quê?
-
Ao futuro. – indagou convicto – Que ele nos saiba trazer todas as alegrias e a
felicidade que o passado não nos pôde dar.
Fizeram
os copos tilintar num único toque apenas e deram o primeiro gole, sem caírem na
decadência de desviar o olhar um do outro por um único segundo que fosse, e
arriscaram-se a fazê-lo com uma intensidade desmedida tal, com uma paixão como
já não se lembravam, e por conseguinte Joana sentiu todo seu corpo estremecer.
Sentia que, ao olhá-la daquela maneira, Ruben a conseguia ver muito para além
do que seria imaginado possível… Sentia ver-lhe a alma, a tocá-la até, como se
nunca deixasse realmente de o ter feito.
-
Toma, amor… - pegando num morango retirado da taça, Ruben ofereceu metade a
Joana, que acabaram por abocanhar ao mesmo tempo na boca um do outro, rematando
com alguns risos e um beijinho leve
-
Morangos e champanhe… Já é cliché, amor!
-
É cliché mas ficam sempre bem nestas ocasiões…
-
Sim, tens razão… Além de que são também uma deliciosa combinação! – Joana pegou
noutro morango e levou-o à boca dele
-
Uma deliciosa combinação? – ela riu-se da expressão que Ruben utilizou enquanto
o vi-a e o sentia colar os corpos , comendo o pouco que sobrou do morango dele
– Deliciosa combinação somos nós… combinamos tão bem os dois! – sem deixar
arrastar mais um compassado de tempo numa delonga, ele voltou a beijá-la
apaixonadamente, deixando que os dedos da sua mão livre deslizassem suavemente
pelas costas perfeitamente nuas de Joana
Acarinhada
pela frescura levante que lhe osculava o coração, Joana separou momentaneamente
as bocas para lhe retirar o copo da mão, e tal como fez com ao seu, colocou-o
sob o pequeno aparador. Com Ruben a rodear-lhe a cintura com os braços, ela
segurou-lhe a gravata e puxando-o levemente, recuando sobre os seus próprios
pés, cambalearam num jeito comicamente trapalhão, que só findou quando chegaram
junto ao fundo da cama. Joana voltou a quebrar o beijo, para desenlaçar o nó da
gravata e tirar-lha posteriormente, deixando que as suas mãos voltassem a subir
ao peito dele e tocassem a fileira de botões da camisa, começando a
desabotoa-los um por um.
-
Pequenina… - ele albergou em seu rosto o sorriso mais belo que poderia acolher,
logo assim que entendeu que o desejo de Joana predestinava-se à entrega de um
momento puro de amor, que durante tanto tempo se mantivera ausente das suas
vidas aquando separados
-
Eu quero ser tua, Ruben… Quero que me faças tua… Tenho saudades! – um sussurro
foi disperso por seus lábios assim como um sorriso envergonhado foi exposto,
quando os seus olhos subiram e assentaram sob as orbitas-avelã dele, que
permanecia sereno junto a si, mas acolhendo o mesmo desejo em se entregar às
malhas de uma paixão e amor avassaladores, que a cada minuto passado os
consumia mais e mais
Muito
lentamente, e como quem já não estava habituada a tomar aqueles costumes, Joana
fez o blazer de Ruben deslizar-lhe
pelos ombros e depois pelos braços, caindo ao chão acompanhado segundos depois
pela camisa, que já totalmente desabotoada, seguiu o mesmo rumo. Nesse instante
as bocas voltaram a unir-se num acto instintivo e só se separaram por
milionésimas de segundo, quando Joana lhe puxou para fora das calças, a t-shirt
branca presa pelo cinto, e ele elevou os braços ajudando-a a recorrer à
facilidade de se soltar dela. Ia acontecer, eles sabiam, e a pesar daquele
momento estar demasiadamente ausente nas suas vidas, eles não o temeram pois
desejavam-no, e acontecesse o que acontecesse, iriam estar nos braços um do
outro.
Enquanto
se beijavam de uma maneira envolvente e desmesurada tal, de como já não tinham
memória, as suas mãos regeladas voaram até ao peito dele fazendo o percurso
descendente acabando por se deterem nos abdominais, e junto aos seus lábios,
sentiu-o acelerar a respiração. As suas mãos estavam realmente frias, ora pelos
nervos acrescidos daquele passo que davam, ora pela ânsia de voltar a ser dele,
e em contraste com o seu, o corpo de Ruben tocava temperaturas confortavelmente
elevadas.
Recusando
soltar os seus lábios dos dela, Ruben descalçou os sapatos e as meias aos
saltinhos, enquanto ela se esforçava por continuar a beijá-lo, numa tarefa
então complicada de fazer devido à figurinha cómica mas extremamente adorável
dele, que os fez soltar suaves risadas entre o beijo que não terminara naquele
instante mas que terminou no seguinte. Apoiando ambas as mãos na cintura
adelgaçada de Joana, ele fê-la rodar levemente sobre o mesmo eixo, até ao seu
tronco nu lhe conhecer as costas. Num leve embate de corpos tencionado por ele,
com o braço esquerdo a contornar-lhe a barriga, Ruben auxiliou-se da sua mão
direita para fazer pressão sobre o pequeno e discreto fecho lateral do vestido,
que fez deslizar lentamente, como se estivesse a apreciar cada momento, e
estava de facto.
Os
seus lábios adocicados apelaram à necessidade de lhe tocar cada recanto do
corpo, e começaram pelo pescoço e ombros, que acariciaram com beijos quentes e
amantes e suaves mordidas que a fazeram arrepiar. Ao sentir a cabeça de Ruben
afundar-se na dobra do seu pescoço, a qual repenicou de beijos, Joana sentiu os
seus joelhos tremerem levemente e perderem as forças, e as suas pernas não
vacilaram somente porque ele continuava a apertá-la contra si.
-
Quero-te tanto, tanto… - murmurou numa voz arrastada ao ouvido e totalmente
enfeitiçante, que deixou os lábios dela a sorrirem de felicidade plena, e
coraçãozinho a palpitar em batuques mais energéticos e apaixonantes nos quatro cantos
do seu peito
A
mão dele pousou sob a alça do vestido, fê-la descer vagarosamente e em
simultâneo com a alça que arrastava entre os dedos, a sua boca percorria com
beijinhos ritmados o trilho delinear do ombro direito dela. Despiu-lhe a outra
alça exactamente da mesma maneira e mantendo-a de costas para si, com uma
ligeira fricção que aplicou com os polegares junto às ancas, num só movimento fez
com que o vestido lhe libertasse o corpo e remontasse ao chão.
Foi
Ruben que a fez rodar novamente e quando se voltaram a fitar, na singela
escuridão que assolava o quarto, não poderiam ter partilhado da maior certeza
de que não haveria outro lugar no mundo onde quisessem estar, se não ali, nos
braços um do outro, prontos a amarem-se da maneira mais pura e humanística que pudesse
existir.
Num
breve relance com o olhar, Joana soube distinguir-lhe a pulseira – semelhante à
sua – que no pulso esquerdo também ele portava, e que desde o dia em que se
encontraram no desfile, trazia religiosamente. Sorriram com aquele pormenor. Com
apenas dois dedos ele desviou-lhe a franja que lhe cobria a zona parcial dos
olhos e voltou a procurar o encaixe perfeito naqueles lábios. Quando sentiu depois
a humidade na pele da sua testa que fora beijada por Ruben, o seu olhar baixou
e prendeu-se, tal como as suas mãos, no cinto das calças dele, que não hesitou
em desapertar… e embora colmatada pelo pequeno rasgo de nervosismo que se
apoderou dos seus dedos tremelicantes, desabotoou o botão e fez correr o fecho,
mas foi ele a livrar-se delas por completo. Ficaram então ambos em roupa
interior.
Sentindo-se
ser observada pelos olhos de Ruben que não demoraram a contemplar o seu corpo
de uma maneira ternurosa, ela adivinhou-lhe uma clara expressão de desejo… Não
era o desejo de quem iria partilhar de uma simples entrega carnal, não era uma
questão de busca pelo prazer físico, era mais do que isso… Era o desejo querer de
matar todas as saudades, de amar e de ser amado, de igual para igual, sem mais
amarras, sem mais limites.
Ele
voltou a tomar conta do pequeno distanciamento que os separava e puxando-a de
novo para si, para que as suas mãos fugazes lhe apertassem carinhosamente o quadris,
enquanto se comprazia com mais um beijo totalmente louco, que não ditara as
suas margens a um fim. Elevou-a nos seus braços obrigando-a a dobrar e prender
as pernas no seu tronco, e com uma só mão abriu as cortinas do dossel,
desviando-as escassamente para conseguir deitá-la sobre a cama, tendo o seu
corpo ficado a proteger o dela, assim que também se deitou e tomou o seu lugar.
Ruben era pesado, no entanto, apoiando um braço sobre a colcha, não se tornava
pesado o suficiente para causar algum desconforto a Joana. As línguas voltaram
a procurar-se na boca um do outro, e envolvendo-se sem qualquer pudor, saciaram
o desejo de um novo beijo. Ele beijou-lhe o pescoço, mordiscou-lhe as
clavículas e percorreu com a mão que tinha livre cada curva delinear da sua
doce menina, ouvindo-a soltar breves suspiros de rendição. O seu corpo exalava
uma temperatura cálida e extremamente agradável, a qual o dela não pôde
recusar, porém de repente Joana sentiu o peso do corpo dele desaparecer. Abriu
os olhos que até então mantivera fechados, e viu-o de joelhos ao fundo da cama,
pegando-lhe primeiramente num pé e depois no outro, para lhe desapertar e
retirar os saltos altos, que lançou ao encontro do chão. Antes de voltar para
si, Ruben não resistiu em dar seguimento a um novo momento de carícias com as
quais ela se deliciou… Segurando-lhe delicadamente a perna direita, beijou-lhe
o peito do pé e numa sequência lineal de beijos, percorreu-lhe toda a perna até
encontrar a barriga, que também não evitou acarinhar com leves toques de lábios
e com um ténue passar de língua.
-
Ru, espera… - obrigando-a a interromper a enxurrada de carinhos, a evocação
daquele pedido fê-lo elevar imediatamente a cabeça e olhá-la, aguardando por
uma resposta
-
Fiz alguma coisa de errado, amor? – a sua voz suou inevitavelmente num
sussurro, e o seu rosto contraiu-se de preocupação no momento em que supôs
poder ter-lhe causado algum desconforto
-
Não, descansa, não é isso… - Joana serenou-o no mesmo instante, fazendo
dissipar-lhe toda a preocupação que se fixara num momento repentino em seu
peito, afagando-lhe levemente o rosto ainda por barbear, com a polpa dos seus
dedos
- É o quê então? – os dedos dele palmearam a sua barriga, portando neles todo o carinho que lhe era tão bem conhecido
-
É que… Apesar de eu ainda não te ter dito, antes de mais nada quero que saibas
que eu sou completamente apaixonada por ti, sempre fui, e eu… Eu amo-te, Ruben!
– declarou solenemente, olhos nos olhos, do fundo do seu coração… finalmente
ela disse-o, não fazia sentido continuar esperar por outro momento, a esperar
pelo momento certo, porque a verdade é o momento certo era ali com ele, a
partilhar daquela felicidade, daquele amor, e soube-lhe tão bem como a vida
dizer-lho – Eu amo-te mais do que tudo, e
essa é a minha maior certeza… A certeza de te amar e de te querer para
mim!
Ao
escutá-la, Ruben pareceu completamente maravilhado… irremediavelmente embevecido…
perdidamente enamorado! Ouvi-la dizer com todas as letrinhas, o que em quase
três anos se tornara mudo aos seus ouvidos, fê-lo extasiar em alegria pelo
reconforto daquelas palavras. Um sorriso lindo surgiu em seus lábios e o sangue
foi bombeado mais rápido nas suas veias, cursando-as a uma velocidade
alucinante.
Agora,
finalmente, estavam de igual para igual, e nunca lhes soubera tão bem como até
então, voltarem a estar apaixonados.
Ruben
apressou-se a beijar-lhe cada pedaço da pele do seu rosto, ao acaso, fazendo-a
libertar gargalhadas deliciosas de se ouvir, pelas cócegas violentamente
desconcertantes que ele lhe provocava.
Depois
então livraram-se de todas as almofadas que decoravam a cabeceira, abriram a
cama arrastando a colcha até ao fundo e serviram-se apenas do lençol de linho
branco onde se aconchegaram. Envoltos em risos e palavras de amor, tal como
Joana fizera também com ele, Ruben encheu-a de beijos, acariciou-lhe cada parte
do corpo e mimou-a até mais não. Como ela tinha saudades de tudo aquilo, e que
saudades… Saudades daquele Ruben, do seu Ruben(!) Do jeito meigo que ele sempre
encontrava para reconforta-la, saudades de como cuidava dela, como a abraçava,
mas principalmente tinha saudades de como a amava, não só fisicamente mas de
todas as outras maneiras possíveis.
Enquanto
ela se mantinha sobre o seu corpo, ele que lhe arrepanhava meigamente a pele
dos ombros e beijava logo em seguida, retirou-lhe o soutien que ainda lhe
cobria o peito e depois apertou-lhe os glúteos enquanto a beijava, de um jeito
tão prazeroso como já não se lembrava de ele fazer e ela viu-se tentada a soltar
um suspiro profundo junto à sua boca. Instantes depois foi ele a voltar a tomar
a controlo, numa volta habilidosa voltou a cobrir-lhe o corpinho que agora
poderia dizer ser novamente seu, e aquando por Joana lhe foi dada a permissão,
os seus polegares detiveram-se na única peça de roupa que ela vestia e acabou
por tirá-la, e o mesmo fez com a sua, da qual se soltou num movimento rápido.
Puxou o lençol até à sua cintura, voltando a colocar-se suavemente em cima
dela, tomando em si a preocupação em não a magoar com o seu peso, e sorriu-lhe…
Sorriu-lhe ébrio de paixão e desejo, e este, não levou muito do seu tempo a
ver-se ser correspondido.
-
É agora, amor? – tremendo levemente de um curto nervosismo, Joana procurou nos
olhos de Ruben, algo que acalmasse a sua ansia, a ansia pelo momento prestes em
voltar a entregar-se ao homem que sempre fora o grande amor da sua vida
-
É, meu anjo… Relaxa… - tranquilizou-a ao ouvido, para depois oferecer-lhe
beijinhos leves no pescoço, de maneira a fazê-la libertar-se de toda a tensão
que a invadiu no momento
-
Desculpa, estou um bocadinho nervosa… - revelou, tentando ocultar no rosto um
sorriso envergonhado
-
Não é a primeira vez que estamos juntos, amor, não tens que estar nervosa…
-
Eu sei, mas é a primeira vez que estamos juntos em três anos, e já passou tanto
tempo desde a nossa última vez… Eu não te quero desiludir.
-
Não sejas tonta, é claro que isso não vai acontecer. O sentimento não mudou,
está mais forte até, e vamos voltar a ser um do outro mais uma vez… – detentor
te toda a verdade, Ruben beijou-lhe os lábios em dois toques acalmantes e
encorajadores – Eu amo-te e nada vai mudar isso! Relaxa, amor da minha vida,
somos só nós…
Por
entre palavras solenes e minguantes que a serenaram, beijou-lhe os lábios com carinho,
mas no momento em que muito vagarosamente uniu os corpos, prontos a serem
amados, tal como Joana ele não controlou o breve tremor de se voltarem a pertencer.
Já não se sentiam assim tão perto há tanto tempo, que aquela sensação de
voltarem a ser um só, impossível de ser descrita, tocou cada recanto dos seus
corações e das suas almas.
Olhando-a
nos olhos e lançando-lhe um sorriso fatal que a embeveceu, Ruben deu então
início a um ritmo calmo, suave e muito meigo, que se foi intensificando com o
passar do tempo. Joana beijou-lhe o pescoço, abocanhou-lhe os ombros e contra a
pele dele abafada leves gemidos, enquanto o sentia mover-se dentro de si a um
ritmo igualmente delicado mas cada vez mais intenso e profundo. Ruben sentia os
batimentos do seu coração acelerarem, mas nem por um segundo ponderou em
abrandar aquele vai e vem que alimentava o desejo a que estavam entregues.
Beijou-a na boca vezes incontáveis, desceu para o queixo e arrastou os seus
lábios até ao peito dela, que acariciou com a maior ternura do mundo e onde
aproveitou para ostentar a sua respiração que caminhava furiosamente para o
descontrolo.
Completamente
abafada pelo calor do corpo dele, que agora e cada vez mais se misturava com o
seu, Joana era também vitimada pela adrenalina daquela acto genuíno de amor… Os
portões do seu peito alardeavam uma respiração desmesurada, e no interior do
mais íntimo de si começava a governar uma extrema sensação de prazer que
aumentava em constante intensidade ao mesmo tempo que Ruben tomava conta do
compasso dos corpos que se movimentavam a um uníssono perfeito. Já não se
lembrava de se sentir tão completa como se sentia naquele momento, já não se
lembrava de se sentir tão amada, tão desejada, como o estava a ser por ele
naquele instante, e nada do que pudesse ainda vir poderia abalar essa condição.
Ruben
não controlava pequenos gemidos que lhe saiam em forma de sussurros e os quais
fazia dissipar no embate de cada beijo. Os corpos começaram então a ceder,
sentindo-se chegar ao limite dos esforços e finalmente aconteceu… Joana
contorceu-se levemente com a sensação tão única e maravilhosa de que foi alvo,
e apertou-o forte contra si, libertando numa descarga de energia, um gemido
desnudado de vergonha que ecoou entre vácuo do quarto, assim como o nome dele
que invocou num sopro vagabundo. Ruben manteve o seu ritmo, e segundos depois,
quando sentiu um pasmo inolvidável de prazer percorrer-lhe cada vertebra do
corpo, contraiu-se num instante e depois serenou. Joana sentiu-o somente então
pulsar dentro de si, enquanto o ouvia gemer incessantemente junto do seu ouvido,
e no momento após tudo ficou mais calmo. Arrastando a face sobre a dela, Ruben
voltou a procurar-lhe os lábios, onde mais uma vez na união das bocas, puderam
regularizar ambas as respirações. Beijaram-se de uma maneira que não lhes era
comum, como se não houvesse amanhã, onde as línguas se envolveram com uma
violência que lhes agradou e acabou por lhes preencher o conforto do momento
que tinham acabado de viver… Ruben amou-a da forma mais especial e completa que
existia, e sentia-se incrivelmente bem com isso. As suas expressões faciais
relaxaram e foi então tempo de a voltar a olhar e sorrir-lhe pela felicidade e veemência
que lhe inundava o coração.
-
Amo-te tanto, Joana… Tanto, tanto… - murmurou baixinho, no impacto de mais um
beijo assoberbado pelo amor forte e incontestável que os voltara a unir
-
E eu a ti… Não duvides disso, nunca! – confessou também, consciente de que
nunca estivera tão certa de um sentimento inigualável como era aquele
-
Nunca, amor… Nunca! – prometeu com toda a sinceridade, contornou-lhe as costas
com os braços e transferindo para eles uma parte da sua força, fazendo-a erguer
o tronco que tal como seu se colocou a agora na posição vertical, deixou Joana
ligeiramente sentada nas suas coxas
-
Ainda nem acredito que estamos aqui… a fazer amor… - proferiu ela numa voz
suave, olhando-o nos olhos e mantendo o seu peito bem colado ao dele, quando os
seus braços correram à vontade de lhe enlaçarem ao pescoço
-
Podes acreditar, é bem verdade… - um sorriso brincalhão pintalgou-lhe as
lacunas dos lábios e estes, no mesmo segundo, tocaram os dela roubando-lhe um
selinho – Ter-te aqui outra vez nos meus braços, a amar-te… Este deve ser o
momento mais feliz da minha vida!
-
Da nossa vida… - corrigiu-o com os seus lábios bem grudadinhos aos dele,
repartindo o igual sentimento de felicidade pelos dois – O momento mais feliz
da nossa vida!
Ele
olhou-a de uma maneira, com uma intensidade que fez com que ela se sentisse
algures no topo do mundo. As suas mãos subiram-lhe pelas costas lentamente
enquanto permanecia a focá-la fundo nos olhos, decorando mais uma vez cada ornamento
do rosto mais belo que algum dia vira, e se conteve em esborrachar mais o
corpinho dela contra o seu, quando lhe apertou carinhosamente os glúteos.
-
És perfeita, perfeita… - repetiu baixinho, sabendo ser essa uma das suas
maiores certezas
-
A perfeição está apenas ao alcance dos olhos de quem ama…
-
E eu amo… - afirmo num rasgo de segurança inquebrável – Eu amo perdidamente!
Nesse
mesmo instante, eles voltaram a provar do mesmo desejo acrescente que os havia
consumido momentos antes, e embrenhados nessa vontade, partilharam da certeza
de quererem ser um do outro mais uma vez.
Trazendo-os
de volta para os lençóis, os braços fortes de Ruben amarraram de novo o corpo
dela e ele voltou a deitá-la em cima da cama. Com a delicadeza e meiguice que
Joana desde sempre lhe conhecera, ele voltou a unir os corpos, e retornando a
um ritmo único e constante que só a eles pertencia e que Ruben novamente
impusera, aquela sensação indiscritível de prazer tinha regressado também. Beijaram-se
no meio de tudo aquilo, as respirações voltaram a dispersar-se com uma
ofegância desmedida e a temperatura dos corpos subiu à escala.
Ruben
podia sentir o prazer que facultava a Joana, um prazer recíproco, sem vista a
um fim e fatalmente bom! Mas mais do que isso, ele sabia que aquilo era o consumar
de tudo… Das esperas intermináveis junto ao telefone, do desespero pela falta
de notícias dela, da dor de não a poder ter… mas também o consumar de um
reencontro atribulado, da mágoa, das discussões, das birras palermas, do desejo
e esse era tão grande, da paixão, do amor… Oh, o amor! Ali, naquela cama, eles
estavam entregues e deleitavam-se com o prazer do amor físico, mental e de
todos os outros tipos.
Ruben
estava a fazer um esforço para se controlar, pois até Joana sentiu isso na própria
pele, mas ainda assim ele deu continuidade a movimentos controlados, avançando
e recuando com a intensidade que julgou ser a necessária, no entanto os corpos
pediam mais e também eles queriam mais.
-
Mais, Ruben… Quero mais… - pediu num burbúrio, querendo tudo o que havia para
sentir
-
Tenho medo de te magoar… - lamuriou enquanto lhe fixava os lábios, e abrandando
a intensidade das suas investidas
-
Não magoas, amor… - ela sorriu-lhe, deu-lhe um beijinho no nariz e isso foi o
suficiente para o serenar nos seus braços, e colocando-lhe as mãos ao fundo das
costas puxando-o mais para si
Ruben
correspondeu ao seu pedido e aumentou o ritmo, um ritmo mais rápido mas intimamente
intenso, e por conseguinte o prazer aumentava e aumentava cada vez mais.
Soltaram suspiros e disfarçaram gemidos contra o corpo um do outro, ele beijava-a
em cada pedaço de pele e ela prendia-lhe as suas mãos na nuca enquanto lhe
afagava o cabelo… Totalmente rendida a cada carinho que ele lhe oferecia.
-
Não pares agora, amor… Não pares… - sussurrou numa voz cada vez mais esforçada,
enquanto ele movia os corpos num unânime irrepreensível, a um ritmo loucamente
prazeroso
-
Relaxa, amor, eu não vou parar, não vou… - garantiu-lhe com a sua testa colada
à dela, e já ambas ligeiramente suadas pelo esforço, beijando-lhe seguidamente
os lábios uma única vez pois a respiração descontrolada não permitia muito mais
O
prazer fulgurante estava a chegar ao seu limite… As mãos de Joana percorriam as
costas dele desorientadamente, a sua boca fazia-lhe pequenos chupões no pescoço
e as suas unhas cravavam-lhe a pele a cada onda de calor interior que a abarcava,
quando os corações latejantes encontraram um novo ritmo e começaram a bater
como um só. Disseram que se amavam de todas as muitas vezes que as bocas se
procuravam num instinto de se beijar, e chamaram pelo nome do outro vezes sem
conta.
Os
gemidos outrora suprimidos, tornaram-se mais indiscretos e aumentaram aquando
todo o esforço começava a ser recompensado. Ela agarrou-se a Ruben com uma
força descomunal, cravou-lhe uma vez mais nas costas as suas unhas, e
arrastou-as, assim que ao mesmo tempo que o dele, o seu corpo se retraiu e
encolheu levemente as pernas apertando-o mais contra si. Tinham alcançado o
auge em uníssono e gemeram sem qualquer constrangimento, enquanto reagiam à
sensação das ondas de prazer que lhes viandava pelos corpos, levando Ruben a
pulsar-se dentro de si. Sorriram de corações abastados de felicidade e beijaram-se
apaixonadamente pelo culminar de uma nova entrega.
Os
corpos estavam esgotados e Joana sentiu-o retirar-se suavemente dentro de si e
cair, estafado, sobre a cama ao seu lado esquerdo. Pouco depois Ruben sentiu novamente
o conforto de um outro aninhar-se ao seu e cabeça dela repousar sobre o seu
peito, depois de se voltarem a tapar com o lençol.
-
Amo-te muito, muito… - um sussurro perfeitinho foi proferido por Joana enquanto
ele sentia a quentura dos lábios dela contra o seu peito
-
Eu amo-te mais! – respondeu sem pensar duas vezes, deixando que as duas mãos se
entrelaçassem no ar
Joana
deu um jeitinho ao seu corpo impulsionando-se mais para cima, e olhou-o por
entre a quase inexistente luminosidade instalada, na esperança de que ele lhe
sossegasse o coração.
-
Vamos ficar juntos e desta vez é para sempre, não é? E mesmo naqueles dias difíceis
em que eu não te dê toda a atenção que mereces, tu vais ter paciência comigo,
não vais? – ele não disse nada no primeiro instante, e apreciou o momento
babando-se com o que ouviria e com bela imagem que vi-a
-
Eu prometo que agora é para sempre, prometo cuidar de ti e ter contigo toda a
paciência e perseverança que o amor exige.
Ruben
segurou-lhe o rosto entre as suas mãos grandes e cálidas, e beijou-a…
Primeiramente nos lábios, até se deixaram levar por algo maior. As línguas envolveram-se
num fulgor que os fez tremer naquele abraço, e o amor que sentiam,
fortificou-se desmesuradamente. Naquele beijo totalmente louco, totalmente
sentido e apaixonante, eles anteciparam a certeza de que aquela noite não se
findava por ali, pois novos momentos de entrega à sensualidade nua do amor, os
aguardava, dispostos a extinguir perpetuamente todas as saudades que se
deixaram arrastar com o tempo e os corroera lentamente.
E
eles estavam felizes assim… A viver e a respirar do amor inabalável que sentiam
pelo outro, partilhando do saber na parte mais profunda das suas almas, que não
importava os desafios que os viessem a separar, eles sempre encontrariam um caminho
que os trouxesse de volta aos braços um do outro.
Boa noite, meninas! :)
Desculpem toda a demora, mas vocês já sabem como é...
são aulas, os testes e trabalhos, e por vezes o tempo torna-se realmente escasso!
são aulas, os testes e trabalhos, e por vezes o tempo torna-se realmente escasso!
Deixo-vos aqui com um novo capítulo, espero que gostem e deixem os vossos comentários, pois são muito importantes para mim enquanto escritora!
Um beijinho,
Joana :)